domingo, 6 de outubro de 2013

06.— ESTUPEFATO

ANO
 8
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2553

O tema não é para um domingo. Ele é nojento e indigesto. Mas já quase no final da tarde de ontem recebi a estocada final.
Na quinta-feira, ao conhecer noticiário acerca da ‘dança das cadeiras’ soube que a senadora do Tocantins trocara ‘a pedido da Presidente da República’ o PSDB pelo PMDB, para reforçar a base aliada.
Eu fizera, de maneira sistemática campanha por eleições de Lula desde 1989 até 2002, quando emocionado festejei sua eleição, em uma quarta tentativa. Devido a certas alianças, não repeti isso em 2006, quando de sua reeleição e muito menos fiz campanha para Dilma em 2010. Em 2014 minha bandeira do PT, há muito rota, não será desovada.
Eis o tiro de misericórdia recebido: A Folha de S. Paulo deste sábado publicou o artigo semanal da presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Dona Kátia Abreu, que a cada sábado bate em indígenas e em movimentos de pequenos agricultores, não muda o tom de seu discurso agressivo e reacionário.
Ela não merece, mas como posso parecer implicante com aquela que agora é impingida como companheira, transcrevo do texto torpe de ontem, que me fez estupefato.
Doutrinação e demonização
                                                                                                   Kátia Abreu
Nas escolas, produtor rural é explorador do trabalhador que produz para exportar e deixa povo passar fome
O marxismo e suas variações constituem as principais ferramentas conceituais que os alunos brasileiros aprendem nas escolas de todo o país. O domínio cultural é tão expressivo que mesmo os professores não identificados com essa corrente ideológica --e até aqueles que lhe são contrários-- acabam, sem perceber, utilizando interpretações tributárias dela.
Quando o ferramental marxista não dá conta de uma questão, quando dados questionam ou refutam a tese geral, a questão e os dados simplesmente desaparecem. E é por isso que muitos autores são desconhecidos no Brasil.
Nada pode romper a harmoniosa narrativa maniqueísta. Assim, a velha luta do bem contra o mal ganha novas roupagens: o país explorador e o explorado, o patrão e o trabalhador, o rico e o pobre, o agronegócio e a agricultura familiar.
Nessa narrativa, o produtor rural é apresentado fundamentalmente como um latifundiário que explora os trabalhadores --em alguns casos em regime de escravidão-- e que produz alimentos para exportação deixando o povo passar fome.
O pequeno agricultor, chamado de campesino quando visto com bons olhos, é apenas uma vítima em potencial, dizem, pois logo venderá sua propriedade para o cultivo da monocultura.
Com a causa ambiental absorvida pelo marxismo cultural, o inimigo do presentetambém inviabiliza o futuro. O agricultor é a versão rural da elite urbana.
Essa imagem não aparece de modo claro, direto, mas emerge do emaranhado de afirmações, insinuações e lacunas que devem ser preenchidas pelos alunos.
Se o estudante procurar "MST" no Brasil Escola, um dos mais famosos sites de conteúdo educacional, ele encontrará o seguinte trecho em um artigo: "E o que dizer da bancada ruralista no Congresso, lutando com unhas e dentes para defender seus afilhados? Por acaso este não é um comportamento antiético e imoral, vindo de que vem?".
O site Brasil Escola figura entre os 300 mais acessados no Brasil, de acordo com a Alexa (serviço de medição de acessos).
A absurda frase do Brasil Escola não é exceção. Na coleção de livros didáticos "Nova História Crítica", a mais vendida do país --só o MEC comprou mais de 10 milhões de livros--, o autor Mario Schmidt escreveu o seguinte: "Desde a colonização, quase todas as terras estão nas mãos de uma minoria de latifundiários, latifúndio-monocultor e escravista... Os latifundiários reagem com brutalidade às invasões. Contratam capangas que em várias ocasiões já perderam o controle e mandaram bala nos sem-terra".
O geógrafo e professor José William Vesentini escreveu que "a produtividade agrícola só aumenta nas culturas de exportação, ocasionando fome". Tal frase contraria fatos e dados elementares, mas é a síntese do autor de "Brasil Sociedade e Espaço", o renomado livro didático de geografia.
Vesentini argumenta que a modernização da agricultura só ocorre em setores exportadores, o que, a seu ver, diminui a produção dos principais itens que compõem a alimentação dos brasileiros como feijão, arroz, milho, batata e mandioca. O autor entende que disso surgiria o seguinte paradoxo: o Brasil vive abundância produtiva e fome quase generalizada. Consequência, segundo o autor, da concentração fundiária.
Infelizmente Vesentini e Schmidt retratam, com precisão, um conjunto de ideias dominante que aparece, inclusive, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia e direciona os alunas.
Em uma questão do Enem, por exemplo, o estudante deveria interpretar a "fala" de um "ruralista" imaginado pelo proponente: "A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala". Mais claro impossível.
Eis a mentalidade que está sendo gestada no país, inculcando preconceito e ignorância nos nossos jovens. E tudo com dinheiro público, dos contribuintes. É essa a educação que queremos?
KÁTIA ABREU, 51, senadora (PMDB/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados nesta coluna.

11 comentários:

  1. Meu Caro Chassot! Me solidarizo contigo neste repudio à Senadora do Agronegocio. Eu tambem fiquei estupefato outro dia quando assisti um video no You Tube denominado O VENENO ESTÁ NA MESA, onde a Senadora justifica com argumentos incrivelmente inimaginados o uso de agrotóxicos nas nossas plantações. JB

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  2. Limerique

    Energúmena essa Kátia Abreu
    Empurra brasa para assado seu
    É cega que não quer ver
    Interessa-lhe só o poder
    Uma besta que do bando se perdeu.

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  3. É isso aí... Sonhos de um "outro Brasil" que se esboroam de vez...
    Gelsa Knijnik

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  4. Mestre Chassot,
    agora uma das mais sórdidas políticas, Dona Kátia do Latifúndio, está na base aliada.
    Há algo podre na Republica pela qual fizemos bandeiradas e nos emocionamos um dia.
    PT, nunca mais,
    Rosa Moro

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  5. Limerique

    Vou estar plantando um minifúndio
    Enquanto escrevendo no gerúndio
    Então dona Kátia Abreu:
    "Este Basil é todo meu!"
    "Minha sesmaria, meu latifúndio!"

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  6. Sua decepção e tristeza fazem eco em meus pensamentos mestre Chassot. Também sonhei o sonho de um outro país que pensei que um dia seria possível com a chegada do partido dos trabalhadores ao governo, o que, infelizmente, por percalços e alianças não aconteceu e está cada vez mais longe de acontecer embora muitas conquistas se sucederam. Muito me entristece o resultado de uma luta por um país que realmente pensasse na qualidade de vida do nosso povo e nos acessos aos que jamais souberam o que era uma chance ou possibilidade. Decididamente, a transformação não acontece, nem acontecerá jamais pela máquina pública, pois ela está viciada demais e minada de outros que pelos mais diferentes propósitos estão também lá, agarrados, como carrapatos, disseminando suas ideologias demoníacas, exploratórias e discriminatórias no limite. Mas vamos em frente, a vida nas bases segue e nós, inconformados com as mazelas que se cristalizam cada vez mais, ao certo continuaremos defendendo nossas lutas por mais acesso e qualidade de vida para o nosso povo.

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  7. Meu caro Chassot,
    respeitosamente divirjo hoje do mestre.
    Patroa dos latifundiários, a ultra direitista Kátia Abreu, foi xingada aqui em prosa e verso. Há equívocos nestes ‘elogios’ mesmo que merecido.
    Li o texto que ela escreveu. Nota 10. Não há uma virgula mudar, A pústula argumenta como sempre muito bem. Ninguém massacra indígenas e o MST como ela. Ela passou para a base aliada (que saco de gatos é esse?) e continua coerente. Ela não mudou seu discurso. Continua na defesa dos ricos.
    O PMDB agora tem a vestal da bancada ruralista.
    Quem merece a ira sua e de seus leitores é a Presidente Dilma e a cúpula do governo.
    Há dois mais que precisam arigimentar: Caiado e Bolsonaro.
    Mas concordo com o senhor.
    Não dá para expor mais aquela bandeira vermelha com a estrela amarela e o PT em preto. Nem mais naftalina coloco nela.
    Que as traças devorem aquilo que foi meu orgulho.
    MdeS

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  8. Limerique

    Eles todos querem mamar na teta
    Me alio a você desde que prometa
    Que tenho dez por cento
    Sempre a todo momento
    Sendo assim me ligo até ao capeta.

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  9. Mestre Chassot: "Vergonha Nacional"estou enojada com essa política , onde todos são oportunistas e só querem se dar bem,prá mim são todos dissimulados e como tal essa Senadora Kátia Abreu não fica de fora arrogante e prepotente.Nas próximas eleições vamos votar nele! o Sr. Nulo. Um forte abraço Ley

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  10. Estimadas Gelsa, Rosa, Mbell e Ley.
    Obrigado a vocês por colaborarem na edição do blogue deste domingo. São parceiras no esboroar de sonhos; refiro-as na edição desta segunda-feira;
    Transcrevo na edição de amanhã o comentário de Mirian de Salônica que mostra o equivoco das críticas feitas a Kátia Abreu, mostrando, com picardia, a coerência da Patroa do Latifúndio.
    Sou grato também ao pertinente comentário do Jairo.
    Dos três limeriques do Jair, elegi um como sobremesa da blogada de amanhã.
    attico chassot

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  11. No apagar das luzes adito meu comentário lembrando aqui a opinião do meu saudoso amigo médico Dr. Carlos de Carvalho que dizia assim : "Quer ver a esquerda virar direita com todas as sua mazelas e injustiças? Dá o poder na mão dela!". Palavras proféticas, se vivo fosse lhe daria os parabéns por sua visão futurista.
    ps: o comentário se deu em meio a uma conversa sobre o PT da época (na eleição do Collor)

    abraços

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