sexta-feira, 9 de agosto de 2013

09.- TEMPUS FUGIT


ANO
8
Livraria Virtual em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
2513

Em mais de uma oportunidade escrevi neste blogue o quanto o tempo parece cada vez mais fugidio. Catalisa a blogada desta sexta-feira um texto que Peter Catapano escreveu no The New York Times e foi transcrito pela Folha de S. Paulo, no último dia 6, terça-feira. Eis  excertos de abertura do mesmo:
Quando completou 80 anos, no mês passado, o neurologista e escritor Oliver Sacks escreveu no "New York Times": "Oitenta anos! Mal consigo acreditar. Muitas vezes, sinto que a vida está apenas começando, mas então me dou conta de que ela quase acabou." Ele foi o caçula entre meus irmãos e também em sua sala na escola secundária, escreveu, "e conservei esta sensação de ser o mais jovem, apesar de eu hoje ser quase a pessoa mais velha que conheço".
Fica claro que há muitas pessoas que Sacks não conhece: apenas nos EUA, há mais de 10 milhões de pessoas com mais de 80 anos. As estatísticas nos dizem que os humanos estão vivendo mais tempo graças a avanços na medicina, na saúde e na qualidade de vida em países como Japão, Estados Unidos e em quase toda a Europa. Nas oito décadas passadas, desde que Sacks nasceu, a expectativa média de vida dos homens britânicos ou estadunidenses passou de cerca de 60 anos para quase 80.
Na referência a Sacks teço dois comentários. Um acerca de um escritor que admiro; outro no partilhamento de emoções pessoais.
O primeiro: Sacks é dos autores que me encanta. Não posso trazer comentários de todos os seus livros que sãopresença na minha biblioteca. Destaco um: “Tio Tungstênio” — dica de leitura deste blogue em 24MAR2012. Nele o neurologista mostra-nos, com relatos emocionados, uma história familiar marcada por um convívio muito íntimo com a Ciência. Filho de pais médicos e convivendo com tios e primos que tinham ligações muito próximas com aplicações das mais recentes descobertas da Física e da Química, tem uma infância e uma adolescência marcada pela curiosidade e pela investigação. Há uma figura instigante: tio Dave, que fabricava lâmpadas de tungstênio. O tio exerce uma influência na infância de Sacks, prenhe de experimentações e descobertas. As evocações que traz de sua família são saborosas, como quando conta que sua avó, quando oferecia um jantar, propositalmente virava uma taça de vinho na toalha alvíssima, para evitar constrangimento futuro, de algum conviva que viesse macular a toalha. Aos aficionados por livros de memória renovo a sugestão de leitura.
O segundo: presunçosamente me comparo a Sacks, no que se refere a sensação de idade, especialmente na relação do fazer profissional. Comecei a dar aula jovem. Parece, quando estou em sala de aula que ainda sou aquele que, por exemplo, em um colégio onde era professor foi tirado de elevador, pois este não era para alunos. Claro que agora, de vez em vez, tenho que me corrigir, ao referir-me há tempos de minha juventude dizendo ‘quando os avós de vocês tinham a idade de vocês’. Hoje é usual dizer em uma classe de alunos, mesmo na pós-graduação, ‘vocês não eram nascidos e eu já era professor’.
É uma sensação muito estranha estar em um grupo e saber-se o mais velho. O mesmo ocorre ao receber lugar para sentar em um trem apinhado ou estar no fim de uma fila e ser conduzido ao primeiro lugar. Sinceramente, preferia viajar em pé. Fico orgulhoso quando estou sentado e posso oferecer meu lugar para uma grávida ou pessoa com criança.
Encerro com reflexão de Oliver Sacks,  sobre sua vida que está no texto referido: "Não penso na velhice como um tempo cada vez mais sofrido que temos que suportar e de alguma maneira procurar encarar, mas como um tempo de lazer e liberdade, liberto das urgências falsas dos tempos anteriores, livre para explorar o que eu quiser e para reunir os pensamentos e sentimentos de uma vida inteira."
Concurso para Educação em Química  A Universidade Federal de Juiz de Fora informa que até o dia 12 de agosto de 2013 estarão abertas as inscrições para concurso visando o provimento de 2 (duas) vagas para professor na área de Educação em Química. Sendo uma vaga para o Departamento de Química e outra para o Departamento de Educação.  O edital completo do concurso está disponível em www.ufjf.br/concurso

6 comentários:

  1. Talvez esse seja uma das mais novas realidades nossas, somos um país que envelhece. E nesse país que envelhece a sociedade capitalista, como bem colocou recentemente nosso simpático papa Chico, relega aos velhos a exclusão, afinal nada mais produzem; ledo engano. O prata no cabelo é ouro no conhecimento. Nos povos indígenas o orgão mais respeitado é o conselho dos anciões. Em contrapartida a sociedade moderna recorre aos hediondos asilos, verdadeiros matadouros onde o ancião é esquecido e posto a esperar simplesmente a hora de partir. Tenho em casa minha mãe, psicóloga, advogada, procuradora federal que aos 92 anos é o maior exemplo de lucidez e salutar companhia. Transcrevo abaixo uma parte do texto do médico psicanalista Dr. Luis Alberto Py que vale a pena ser refletido:
    "Conta-se que a ave mais longeva é uma águia americana capaz de viver setenta anos... Mas, para chegar lá, aos quarenta anos ela tem que tomar uma série de difíceis providências. Nessa idade, ela está com as unhas compridas e flexíveis e não consegue mais agarrar as presas, das quais se alimenta. O bico alongado e pontiagudo se curva. As asas estão apontadas contra o peito, envelhecidas e pesadas em função da grossura das penas, e voar se torna difícil. Para não morrer, a águia deve passar por uma dolorosa renovação que demora cinco meses.

    Esse processo consiste em preparar um refúgio na montanha de onde ela não necessite sair. Lá, a águia bate com o bico na pedra até arrancá-lo. Então, espera nascer um novo bico, com o qual arranca suas unhas. Quando surgem as novas unhas, ela as usa para arrancar as velhas penas. Após meses em jejum, nesse doloroso processo, a águia está pronta para viver mais trinta anos"

    Abraços
    Antonio Jorge

    ResponderExcluir
  2. perdão corrigam "Esse seja" para "Essa seja" para uma boa concordância.

    ResponderExcluir
  3. Limerique

    Há evento que me aborrece
    Porque não sei o que acontece
    Quanto mais aniversário
    Mais passa o calendário
    E imagem no espelho envelhece.

    ResponderExcluir
  4. Muito atento Antônio Jorge,
    tua mãe — e adito na comparação minha sogra com a mesma idade tua mãe — têm práticas como as águias estadunidenses com as quais ilustras teu apreciado comentário. Eis um destes fazeres para não envelhecer. A Liba, leitora deste blogue, em domingo passado, convidou a Gelsa para ir a sua casa para ensinar-lhe a redigir e enviar ‘torpedos’ em seu novo smartphone. Hoje somos brindados com produto de seu mais recente aprendizado.
    Esta manhã eu era o mais velho na Academia. Sentia-me, todavia, com um guri, percorrendo 3,6 km em 33 minutos.
    O importante não é parecer velho, mas NÃO sentir-se velho.
    Obrigado por tuas cotidianas pílulas de sabedoria,
    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Mestre, agradeço as referências ao meu comentário, e particularmente fico lisongeado por tão nobre origem. Compartilho, verbo tão na moda ultimamente, suas experiências na Academia, pois em minha sala na universidade sou conhecido como "O decano". Não me sinto velho, me sinto talvez como aquela máquina na qual as peças pelo desgate já se amoldaram e funcionam com mais maciez.
      Abraços

      Excluir
  5. Querido mestre! No 18 de agosto próximo completo 40 anos. Feliz! A experiência da maturidade é maravilhosa. Para mim, a juventude é um estado de espírito e não tem relação direta com a idade. Conheço crianças e adolescentes extremamente ranzinzas. O que os salva é que, contrariando uma visão estritamente cronológica, podemos rejuvenescer com o passar do tempo, não acha? Talvez cronos devore apenas os filhos ranzinzas e aqueles que se recusam a mudar... Com o passar do tempo, podemos nos tornar mais compreensivos, menos egoístas (ou mais, dependendo da necessidade), menos controladores, menos envergonhados, mais generosos... o que o outro diz ou pensa já não é mais decisivo, aprendemos a escolher nossas batalhas, enfim, vamos aprendendo a viver, não é mesmo? Lembro que nos meus 20 anos eu era extremamente controladora.Como coordenadora pedagógica de uma pequena escola particular, achava que somente eu sabia lecionar, que eu conhecia a melhor maneira, aquela correta, e queria impor aos outros de qualquer maneira. Passou. Mudei. E hoje quando vejo alguém agir assim, tento lembrar que também já fui dessa forma. Tem um poema, texto, carta, não sei, atribuído a Charles Chaplin, onde o autor fala que deveríamos nascer velhos, e então ir rejuvenescendo. Acredito que as coisas são bem assim - apenas o corpo físico não acompanha, não é mesmo? Um forte abraço, permeado de saudades! E muito obrigada pela divulgação do concurso!

    ResponderExcluir