terça-feira, 30 de julho de 2013

30.- EDIÇÃO DE 7º ANIVERSÁRIO

ANO
8
Fundado em
30 de julho de 2006
EDIÇÃO
2510

Redijo esta edição, recém chegado de uma sumarenta estreia. Dei a primeira aula do semestre 2013/2 para um grupo de 36 alunos, que em sua maioria começavam o curso de licenciatura em Música. A maior parte deles músicos profissionais que agora vem à Universidade para aprender a ensinar aquilo que já têm expertise. Neste semestre, a cada noite de segunda-feira, nos encontraremos para falar de Teorias do Desenvolvimento Humano. Vibrei com nossa primeira aula. Sonho que cada um dos próximos 17 encontro se repitam as emoções de hoje.
Mas há para esta edição outro mote. Hoje este blogue completa sete anos. É o primeiro dia do ano oito.
Devo dizer que ao recordar as seis celebrações que fiz a cada 30 de julho pretérito, esta me parece a mais desenxabida. Não sabia que este adjetivo de minha infância (que pronunciávamos: desenxavido) fosse dicionarizado. O prestimoso Priberam registra definições bem adequadas para o sentimento que atribuo a este sétimo aniversário: 1. Insípido. 2. [Figurado] Sem graça.
O último mês de maio sabia a reflexões. Estas convidavam mais a travar do que acelerar. Tinha naquele mês dez palestras que exigiam oito viagens, quase todas de ônibus. No dia 13, tomo uma decisão que se fazia com perdas. Depois de 6,8 anos de blogares diários, opto, então, por edições semanais. A abstinência tem gosto amargo, mas traz liberdades fugazes. É uma abolição como fora aquela do ocaso do Império, em um mesmo 13 de maio.
No anúncio de então escrevi: “A proposta feita desde 30 de julho de 2006, de publicar um blogue diário, gerou 2476 edições, sem faltar um dia [até 13 de maio]. Fiz blogares neste período em mais de uma centena de cidades da maioria dos Estados do Brasil, e em 16 países (Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, México, Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido, Holanda, Bulgária, Croácia, Eslovênia, Dinamarca, Suécia e Rússia). Para cada um destes lugares levei um pouco meus leitores”.
Recebi a compreensão e a solidariedade de muitos. Um, há muito comentarista diário, escreveu: “Sua companhia em nossa mesa do café da manhã, continuará presente, afinal o seu hebdomadário certamente será tão rico em conhecimento quanto é o diário. Um conselho do pupilo que já não é tão jovem, dê prioridade à saúde. Abraços, Antonio Jorge”.
Dentre a dezena de manifestações de afeto recebidas não faltou o cotidiano limerique do Jair Lopes:
Após bloguear em muitas cidades
O mestre está cansado de verdade
A página que era diária
Agora é hebdomadária
Entretanto com a mesma qualidade.
A gripe que me amarrotava quando da decisão se esvaiu. Talvez, isso tenha coadjuvado a transgredir a abstinência. Assim em junho houve 9 edições e esta já é 21ª de julho. Credito isso ao fato deste mês não ter tido viagens nem aulas. A partir de agosto, certamente serei mais fiel à proposta de edições semanais às quintas-feiras.
Assim registro, aqui, minha gratidão aos meus leitores. Até maio eram cerca de 400 acessos diários. Agora são 300. É esta parceria que me faz continuar a fazer nestes blogares alfabetização científica. Obrigado.

domingo, 28 de julho de 2013

28.- EM QUE CREEM OS QUE NÃO CREEM

ANO
7
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EDIÇÃO
2509

Depois de uma semana muito fria, hoje é um domingo ensolarado e de temperatura agradável aqui em Porto Alegre.  Foi uma semana de muito papa. Não vou contabilizar o número de minhas horas que vi o papa na televisão. Ele é 10*** na missão que o trouxe ao Brasil.
Claro que tive outros lazeres além da bonita ópera popular que foi a encenação da “Via Sacra” com censura vaticana, que a Gelsa e eu assistimos na sexta-feira na lareira com outro argentino: um malbec. Ontem, por exemplo, vimos a pré-estreia do excelente filme “Hannah Arendt”, o qual deducarei uma blogada.
Mas hoje esta edição se faz fora de seu horário habitual, para apresentar um texto acerca da visita do papa ao Brasil, publicado no caderno Cultura de Zero Hora deste sábado. Ele nos convida a reflexões. Reservo, para evitar preconceitos, autoria e créditos para o final.
Sua Santidade, Marco Bergoglio Como a vinda do papa revela a facilidade com que o Estado brasileiro viola sua laicidade constitucional
Simultaneamente à chegada do papa ao Palácio da Guanabara, na segunda-feira, manifestantes em seis cidades do país exigiram seu direito de não serem tratados como cidadãos de segunda classe do Estado brasileiro. No Brasil, algumas pessoas podem ter seus eventos religiosos promovidos com dinheiro público; outras, não. Alguns têm as viagens dos líderes de suas religiões promovidas com dinheiro público; outros, não.
Podemos até custear a segurança do papa, mas não é de interesse público torrar R$ 850 mil de impostos em sua recepção, ou usar aviões da FAB para trazer os veículos papais ao Brasil. Pelo mesmo motivo não se pode utilizar as Forças Armadas para transportar ícones religiosos, criar feriado municipal em quatro dias, nem transferir para o Estado os gastos em saúde que cabem aos organizadores de qualquer evento, segundo entendimento do próprio Ministério Público do Rio de Janeiro. E esses são apenas alguns exemplos. Levantamentos apontam cerca de R$ 120 milhões em gastos públicos – e o Estado se recusa a dar transparência a esses números, divulgando as cifras exatas.
Apelidamos de “desbatismo” a forma encontrada para protestar contra o uso da coisa pública pela religião. Com o desbatismo, afirmamos que ninguém tem direito de nos impingir uma religião: nem a nós, pessoalmente, nem ao dinheiro dos nossos impostos, nem ao Estado brasileiro. Afinal de contas, o uso de dinheiro público em eventos católicos nos torna, todos, católicos à força. Essa influência é não apenas injusta como também ilegal, pois contraria a laicidade constitucional do Estado brasileiro e nossa liberdade de consciência e crença, excluindo todos aqueles que não são católicos. E, segundo as últimas pesquisas, os eleitores não católicos são 43%.
Com o desbatismo, estamos dizendo: não somos menores, somos iguais. E não queremos que o Estado ceda seu poder ou seu dinheiro a qualquer crença ou descrença. O financiamento público de viagens de chefes de Estado só é justo quando elas se devem a assuntos de Estado, não a fins religiosos. Nenhuma norma ou prática pode contrariar princípio constitucional como a laicidade.
Convém lembrar que nem entre os católicos há muitas pessoas que levam a sério a mensagem da sua igreja. No Brasil, as pessoas se divorciam. Muito. E livremente. Elas usam pílula e camisinha, fazem sexo fora do casamento, fazem ou se beneficiam de pesquisas com células-tronco e reprodução assistida. Brasileiros dão direitos aos homossexuais, fazem aborto de anencéfalos e em caso de estupro. E todas essas coisas podem acontecer aqui, não graças a qualquer deus, mas apesar do catolicismo, apesar do papa, e graças à laicidade do Estado que teimam em violar.
Desde a fundação da República as autoridades tratam a laicidade com descaso. E as violações ocorrem de maneira perversa, porque o Estado já não tem influência nenhuma sobre a religião, mas a religião continua utilizando o Estado para ganhar dinheiro e influência. Isso precisa parar.
A ascensão de Marco Feliciano à presidência da comissão de direitos humanos da Câmara dos Deputados causou uma onda de indignação ao país, e reacendeu discussões sobre a necessidade de manter a laicidade do Estado. Mas ninguém se lembrou de apontar que o pau que bate em Chico, também bate em Francisco – mesmo que ele seja o papa. O TJ gaúcho já fez a sua parte, retirando os crucifixos das salas de audiência, mas no restante do país, as repartições públicas continuam recheadas de símbolos religiosos, assim como nosso dinheiro. Laicidade é para salvaguardar o Estado de todas as religiões, não só da religião alheia. Não é possível trabalhar pela retirada do Estado se o objetivo for tirar só a religião dos outros.
Em outras palavras, o avanço evangélico sobre o Estado brasileiro era uma tragédia anunciada. Um país que não sabe levar sua laicidade a sério, e não se constrange em convidar padres para dar bênçãos em inaugurações de prédios públicos, ou em impor bíblias e sua leitura no ritual do legislativo, não pode reclamar das consequências quando os muitos Felicianos do país tomam as rédeas do poder. O remédio é simples: levar a separação entre Estado e religião a sério. Sempre. Em todos os lugares e instâncias. Só isso fará do Brasil um país justo e igualitário em termos religiosos.
Verdade seja dita: a crucificação de Feliciano (ops...) foi uma enorme injustiça. É verdade, ele é homofóbico de carteirinha, camiseta e diploma, tem posições claramente contrárias aos direitos humanos, deseja interferir nas políticas de saúde pública e quer fazer todos os brasileiros rezarem por sua cartilha religiosa. Quer dizer: é igualzinho ao papa. Feliciano é até mais liberal: apoia o ordenamento de mulheres e o casamento de sacerdotes. A diferença é que ele não torrou centenas de milhões de reais de dinheiro dos contribuintes, nem usa vestido em público.
Por isso, entendam: nenhuma crença ou descrença pode ser privilegiada pelo Estado. Sem exceções. São os fiéis de uma religião que devem sustentar as atividades dela e de seus líderes. Não importa quantos adeptos tenha. A igualdade não está sujeita à maioria e não depende de voto: é um princípio inegociável de uma República democrática e justa.
Daniel Sottomaior |Presidente da Associação Brasileira De Ateus e Agnósticos (ATEA)

sexta-feira, 26 de julho de 2013

26.- E... ¿SE O EXEMPLO FRUTIFICAR?


ANO
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EDIÇÃO
2508

Abro mais uma blogada extra — quinta-feira é o dia da edição hebdômada — no bojo do mês de aniversário deste blogue. Faço a tessitura da edição de hoje com excertos do texto Colombo ficou a ver navios que Sylvia Colombo escreveu na Ilustríssima da Folha de S. Paulo deste domingo, dia 21.
A sua leitura antecipo uma questão: E se o exemplo frutificar. Eis a matéria:
Cristina Kirchner saca o genovês do pedestal Depois de quase um mês de novela, o governo da presidente Cristina Kirchner venceu. Numa manhã do fim de junho, as TVs transmitiram ao vivo o capítulo derradeiro: a remoção da estátua do navegante genovês Cristóvão Colombo (1451-1506) do alto do monumento doado a Buenos Aires pela colônia italiana, em 1910 (na foto).
Cristina começou a travar uma guerra contra o navegante italiano quando propôs que sua imagem, segundo ela a de um conquistador vil, fosse substituída pela de Juana Azurduy (1780-1862), heroína boliviana da Independência argentina — um presente de Evo Morales.
O país acompanhou a disputa pelos ícones como se fosse um folhetim. De um lado, a presidente e seu discurso anti-imperialista. De outro, o prefeito de Buenos Aires e a comunidade italiana, inconformados, defendendo a monumental estátua de pedra. Por ora, ganhou Cristina, e o marinheiro permanecerá alijado do pedestal, à espera de restauração e traslado para um porto mais discreto.
Ilustro esta edição com o Monumento a Colombo (foto maior) que tive o privilégio de conhecer entre uma das mais famosas estátuas da cidade de Barcelona, na Espanha. Está erguida na praça do Portal da Paz (em catalão Portal de la Pau), em frente ao Porto de Barcelona.
O monumento foi construído para a Exposição Universal de Barcelona de 1888. 





A estátua de Colombo (no detalhe), de sete metros de altura, está situada no alto de uma coluna de ferro.
 A estátua faz parte de conjunto mede uma total de 60 metros de altura (a partir da base em outro detalhe).


Volto à questão E se o exemplo frutificar. Gostaria que cada uma e cada um de meus leitores a respondesse em termos de seu lócus vivendi. Aqui em Porto Alegre, de onde se edita este blogue, uma das mais importantes e extensas avenidas — a Cristóvão Colombo — teria que mudar de nome.
A esta pergunta deve se aditar outra: é salutar se restaurar uma inquisição cinco séculos depois e fazer julgamentos? Ou realmente devemos retificar a História? Confesso: tenho dúvidas acerca das respostas. Quem opina?

quinta-feira, 25 de julho de 2013

25.- EM UMA DATA COMEMORATIVA

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2507

Hoje é feriado em alguns munícipios do Rio Grande do Sul. 25 de julho é uma data muito cara às tradições que formaram a gente desta terra. A data é conhecida como dia do imigrante ou dia do colono.
O governo brasileiro, recém independente de Portugal, convencido dos benefícios da imigração, enviou em 1822 à Europa emissários para de recrutar interessados em emigrarem para o sul do Brasil. Primeiramente em Hamburgo, na Alemanha houve negociações para estabelecer contrato para iniciar a imigração.
Para convencer os interessados, o governo brasileiro acenou com uma série de vantagens:
1) Passagem à custa do governo;
2) Concessão gratuita de um lote de terra de 78 hectares;
3) Subsidio diário de um franco ou 160 réis a cada colono no primeiro ano e metade no segundo;
4) Certa quantidade de bois, vacas, cavalos, porcos e galinhas, na porção do número de pessoas de cada família.
Os primeiros colonos alemães chegaram a São Leopoldo em 25 de Julho de 1824, eram 39 pessoas que se estabeleceram na antiga Real Feitoria do Linho-Cânhamo. Estes imigrantes eram oriundos de Hunsrück, Saxônia, Württemberg e Coburgo (Baviera). A colônia abrangia uma região que se estendia dos hoje municípios de Sapucaia até Caxias do Sul e de Taquara até Montenegro. Pintura retratando a chegada dos primeiros imigrantes alemães (Fonte: Wikipédia).
O primeiro período da imigração ocorreu de 1824 a 1830, quando entraram na colônia 4.856 pessoas. A imigração ficou interrompida de 1830 a 1844, inicialmente devido à falta de verba, depois por causa da Revolução Farroupilha (1835-1845).
Este breve registro, asséptico em análises, é uma homenagem a todas as diferentes etnias que cruzaram mares e juntaram-se às que aqui já estavam para formarem brasileiros.
Pessoalmente, minha ancestralidade tem suas raízes em colonos alemães (na linhagem materna) e suíços (na paterna). Na evocação de muitas histórias, onde o 25 de julho de 1824 era marco, lembro aquelas e aqueles que com trabalho árduo colaboraram para construir a brasilidade. 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

24.- PAPA FRANCISCO...O SUPERSTAR

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EDIÇÃO
2506

Vivemos dias papais. Nesta semana gélida aqui no sul do país já consumi algumas horas no acompanhar a visita. Já foi possível ver momentos curiosos.
Não foi o papa vítima de um engarrafamento a que mais me impressionou. Mesmo tendo me chamado a atenção, durante o ‘beija-mão’, a grosseria do Presidente do STF não cumprimentando a Presidenta da República, para mim o grande lance está na cena em que o papa sobe no avião em Roma levando sua bagagem.
Para mim este momento superou o jogar para a torcida até o lance — este parecia imbatível —, da volta ao hotel para pagar a conta no dia imediato à eleição. Convençamo-nos, o homem é um superstar.
Complemento esta blogada pontifícia com algo exótico: Terra de Franciscos: A presença do papa Francisco no Brasil faz aflorar curiosidades que traduzem a religiosidade, e particularmente o afeto franciscano dos brasileiros. Estes sintonizam com a escolha que fez o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio (nascido em dezembro de 1936), quando em 13 de março deste ano, foi escolhido como o 266º papa da instituição mais longeva do Ocidente.
A Folha de S. Paulo, na sua edição do último domingo, mostrou que a devoção aparece nos números. Segundo levantamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), enquanto os Franciscos e Franciscas são 2,8% do eleitorado brasileiro, no sertão de Canindé, no Ceará, a porcentagem salta para 21%.
No cadastro nacional único de dezembro de 2011, usado para o Bolsa Família (cerca de 40% da população brasileira), 30,7% dos homens inscritos em Canindé se chamam Francisco, recorde entre as cidades do país.
O nome do santo em Canindé também está em lojas e escolas desde a fundação da cidade cearense, no século 18. É dessa época o relato de um dos pedreiros que construía a primeira igreja para são Francisco. Ele contou que, quando estava prestes a morrer por cair do alto da obra, chamou pelo santo e acabou salvo.
Segundo a tradição, foi essa a história que se espalhou pela região e fez surgir a peregrinação, que hoje leva milhares à estatua de são Francisco. Inaugurada em 2005, ela mede cerca de 30 m, praticamente o mesmo que o Cristo Redentor, no Rio (descontado o pedestal, de 8 m).
Moradores da cidade, visitantes, chefes religiosos e políticos sonham que Canindé ganhe um minuto da atenção do papa em sua visita ao Rio.
Vários Franciscos participam do esforço de tentar informar o papa sobre a romaria que atrai mais de meio milhão de pessoas à cidade entre setembro e outubro — a maioria deles muito pobres.
"Nossa romaria ainda não é um fenômeno nacional. Vem mais gente do Rio Grande do Norte, do Piauí", diz o secretário de Cultura da Canindé, Francisco Jander da Silva, que acredita que uma referência do papa ajudaria a tornar a cidade conhecida nacionalmente. Coincidência ou não, os números mostram que nos Estados citados a média de Franciscos inscritos no Bolsa Família supera de longe a média nacional. No Ceará, são 17,5%; no Piauí, 11,5%; no Rio Grande do Norte, 10%. Já a média no Brasil é de 3,8%.
Ao lado de Francisco Jander, o prefeito Francisco Celso Crisóstomo (PT), que é da ordem secular dos franciscanos, diz estar empolgado com a possibilidade de o papa colocar Canindé em evidência.
Os romeiros têm uma devoção fortíssima. Agora que o papa escolheu o nome Francisco, ele poderia em uma das falas fazer uma referência à Canindé e projetar a romaria da cidade. A indicação está feita. Agora, é rezar e esperar o milagre.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

22.- ACERCA DO REBANHO DE FRANCISCO

ANO
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EDIÇÃO
2505

Vivemos dias de papa de manhã, papa de tarde e papa de noite. Religiosos ou não, vivemos num mundo religioso.
Quando tudo parece evidenciar uma hegemonia do rebanho de Francisco vale ver alguns números. Estes mostram que o papa Francisco encontrará um Brasil em que a presença católica continua em declínio, com fiéis relativamente distantes da Igreja nas missas, no dízimo e na convicção sobre assuntos polêmicos, como casamento gay e adoção por casais do mesmo sexo.
As conclusões vêm de pesquisa do Datafolha realizada nos dias 6 e 7 de junho, com 3.758 entrevistados em 180 municípios do país. A margem de erro dos resultados é de dois pontos percentuais.
Segundo o levantamento, 57% dos brasileiros com mais de 16 anos se declaram católicos, patamar mais baixo da história do país. Em 2007, pesquisa semelhante feita pelo Datafolha apontou 64%. Em 1994, eles eram 75%.
O segundo maior bloco religioso do Brasil é o de evangélicos pentecostais (membros de igrejas como a Assembleia de Deus), com 19%. Em seguida estão os evangélicos não pentecostais (de igrejas protestantes com séculos de existência, como os metodistas e os batistas), com 9%.
O engajamento religioso de evangélicos, tanto pentecostais como neopentecostais, é superior ao de católicos quando se observam índices como a frequência nos cultos ou as contribuições financeiras.
A maioria dos evangélicos (63% dos pentecostais e 51% dos não pentecostais) diz frequentar cultos mais de uma vez por semana, contra 17% dos católicos. Dos membros da Igreja Católica, 28% afirmam participar de cerimônias uma vez por semana, enquanto 21% o fazem uma vez por mês. O mínimo exigido pela igreja é o comparecimento à missa de domingo.
Os números são parecidos quando se trata de contribuir financeiramente. Dos católicos, 34% afirmam fazer isso sempre, contra cerca de 50% dos evangélicos. Quase um terço dos católicos diz não dar dinheiro algum para a Igreja, contra pouco mais de 10% dos evangélicos.
A própria comparação entre valores médios de contribuições mensais deixa clara a diferença entre os grupos cristãos. O valor se aproxima dos R$ 70 por mês para os evangélicos pentecostais, vai para quase R$ 86 no caso dos não pentecostais, mas é de apenas R$ 23 entre católicos.
Embora o valor absoluto de contribuição dos pentecostais seja menor do que o dos não pentecostais, eles provavelmente destinam uma parte maior de sua renda familiar, já que são mais numerosos entre as famílias que ganham até dois salários mínimos.
A pesquisa também confirma a ideia de que, entre as igrejas cristãs, os católicos tendem a ser mais liberais em matéria de costumes, mesmo quando isso contraria a orientação da hierarquia católica.
Só uma minoria deles se diz contra a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo (36%) e contra a adoção de crianças por casais homossexuais (42%), índices inferiores ao que pensa a média da população e muito abaixo do registrado entre evangélicos (em torno de 65% e 70%, respectivamente).
Apenas espíritas e umbandistas são mais liberais a respeito desses temas. Mas membros de todas as igrejas cristãs pensam de forma muito parecida sobre o aborto: entre 65% a 70% dizem que a mulher que praticar aborto deve ser processada e presa.
Apesar da polêmica despertada por iniciativas ligadas a grupos religiosos, como o projeto da "cura gay" e o que aumenta garantias para fetos, a maioria dos brasileiros, em especial os católicos, afirma não votar em candidatos indicados pelas igrejas.
Somente 8% dos ouvidos pelo Datafolha declararam já ter escolhido candidatos apoiados por suas igrejas, índice que cai para 5% entre católicos e sobe para 18% entre evangélicos pentecostais.
Do mesmo modo, apenas 11% dos católicos afirmam que a opinião dos líderes religiosos é importante na hora de escolher em quem votar (21% dos evangélicos pentecostais têm essa opinião).
Os dados são mais ambíguos, porém, quando o Datafolha pergunta sobre o apoio à ideia de que líderes religiosos se candidatem a cargos políticos. Um quarto dos católicos concorda com a ideia, número que sobe para cerca de 40% entre evangélicos e é relativamente forte mesmo entre espíritas (26%).

domingo, 21 de julho de 2013

21.- UMA DOMINGUEIRA INDISCIPLINAR

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EDIÇÃO
2504

Nesta edição dominical complemento, com um quarto segmento Um prelúdio para outro Ensino Médio que compus para o livro Reestruturação do Ensino Médio: pressupostos teóricos e desafios da prática lançado nesta sexta-feira antes da sessão de encerramento do Seminário Internacional “Concepções e Sentidos da Educação, quando os autores e eu devemos ter superado nossos recordes de autógrafos em uma mesma sessão; pelo no meu caso. Na foto do meu colega e amigo Guy B. Barcellos uma amostra do delicioso prazer de autografar.
Em termos pessoais, cabe-me fazer um reconhecimento agradecido às referências muito fraternas que o Professor Dr. José Clovis de Azevedo, secretário de Educação do Rio Grande do Sul, obsequiou-me na sua fala de encerramento do Seminário. Credito ao Zé Clovis por ter me induzido a um pecadilho de orgulho.
O excerto trazido hoje se junta àqueles publicados nas três edições anteriores. O de hoje, antecede ao de encerramento publicado na quinta-feira e sucede àquele publicado ontem.
Que educação é preciso para outro Ensino Médio? Não defendemos que professoras e professores sejam empacotados à tecnologia, isto é, formatados por ela. Todavia não desconhecemos que não devamos apenas espiar esse mundo novo que aí está. É preciso adentrar nele. Aqui talvez a proposta mais radical: e, vou me repetir: devemos ensinar menos. Se educar é fazer transformações, não é com transmissão de informação que chegaremos lá.
Esse novo Ensino Médio poderia experimentar ser cada vez menos disciplinar. Ao transgredir fronteiras estaremos assumindo posturas transdisciplinares. E, numa etapa mais audaciosa – mas mais realista –, assumiremos uma Escola indisciplinar. Nesta Escola o prefixo in pode ser entendido:
#1.- No sentido de incluir, a partir da própria disciplina, outras disciplinas; são as ações que vamos fazer para colocar nossas especificidades em outras matérias.
#2.- Seguindo o mesmo sentido de direção, trata-se de incorporar elementos, métodos e conhecimento de outras disciplinas; aqui parece mais evidente quanto temos de buscar nas outras disciplinas, não nos bastando o “mundo” pequeno ou específico de nossa.
#3.- Como negação; trata-se de negar a disciplina no sentido etimológico do termo. Aqui a proposta parece ser mais radical ou inovadora: trata-se de rebelar-nos à coerção feita pelas disciplinas que, como um látego, nos vergastam a submissão.
Assim, parece que vale experimentar ser indisciplinado.

sábado, 20 de julho de 2013

20.- A HORA E A VEZ DO ENSINO MÉDIO

ANO
7
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EDIÇÃO
2503
Nesta edição sabatina retorno ao destaque que dei aqui na quinta e sexta feira à realização do Seminário Internacional “Concepções e Sentidos da Educação: pensamentos para uma nova prática social cidadã”. Neste evento, foi lançado na noite de ontem o livro Reestruturação do Ensino Médio: pressupostos teóricos e desafios da prática. Também contei que escrevi para o referido livro o prefácio. Deste, nas duas últimas edições trouxe as partes final e inicial. Para hoje e amanhã anuncio a publicação de partes intermediárias.
Antes relatar que os autores do livro e eu autografamos centenas de exemplares em um lindo cerimonial. Foi uma oportunidade de encontrarmos leitores. Agora, os parágrafos que se sucedem à edição de ontem.  
Parece que — de novo — chegou a hora e vez do ensino médio. Lembro que, quando em 1957, terminei o ginásio1 havia que se realizar uma opção definida por uma futura escolha profissional: científico ou clássico. Aquele, para os que depois de três anos desejassem cursar Engenharia e Medicina (e profissões afins) e este, para Direito e profissões correlatas. No primeiro a ênfase era a Matemática e Ciências da Natureza e no segundo, Latim e Literatura. Isso então implicava, quase necessariamente, a deslocar-se para a Capital, pois na maioria das cidades do interior (do Rio Grande do Sul) as alternativas de ensino médio eram duas opções profissionalizantes, marcadas por uma segmentação de gênero: curso normal (magistério) para mulheres e técnico em contabilidade, para homens.
Depois houve a reforma do ensino (referida na nota anterior) gestada e implantada no período da ditadura que concebeu um ‘ensino médio’ para formar mão de obra para um cenário pintado como desenvolvimentista. Conhecemos seu insucesso.
Hoje a oferta de ensino médio não só se faz de maneira muito ampla e sem esta segmentação. Todavia ele ainda é ferreteado por uma marca: ele é abarrotado de conteúdos.
Coincidente no dia que escrevo este prefácio, um dos jornais2 da rede que de comunicação que é hegemônica na região Sul e se arvora com campanhas imbecis a dizer como deve ser a educação3 por estas plagas, traz uma alentadora manchete de capa: “Temos que sair deste currículo enciclopédico”, diz o Ministro de Educação. Há quase um quarto de século já me antecipava ao Ministro.
Na minha tese de doutorado4, parte da qual se fez livro5 mostrei que a maioria dos conteúdos de química que ensinamos antes da universidade não serve para nada. Concordemos que essa é uma dolorosa conclusão para quem consumiu parte de sua vida ensinando esta disciplina.
Neste livro defendo que temos selecionar uns poucos conteúdos e construir com os mesmos saberes. Permito-me exemplificar com algo da área das Ciências da Natureza: podemos organizar uma atividade para um extenso período apenas com discussões acerca da combustão e da fotossíntese.
Passados mais de 20 anos, recebo, ainda nos dias atuais, interrogações sobre a proposta de minimizar os conteúdos para aumentar o conhecimento da realidade ainda parece válida. Minha resposta é um radical sim6. Em mais de uma palestra — destas que se é convidado para falar ao corpo docente de uma escola, no começo de um ano letivo —, recomendo a professoras e professores: “Aventuro-me a sugerir um bom propósito para esse novo ano: ensinar menos!” Claro que os coordenadores pedagógicos das diferentes áreas usualmente me olham com descrédito.
Este ensinar menos deve estar na busca de um equilíbrio, talvez pudéssemos pensar em deixar as informações, para ser passadas pelo Professor Google Sabe-Tudo e para a preciosa Wikipédia. A Escola, com umas poucas informações, trabalharia conhecimentos e saberes. Parece que então teríamos espaço para exercitar a transdisciplinaridade, isto é, transgredir as fronteiras que engessam as disciplinas.
Então, cabe a pergunta — permito-me ilustrar com a área do conhecimento em que me fiz especialista — : por que ensinamos ciência no Ensino Médio? E, muito provavelmente, não se faz isso para que tenhamos homens e mulheres que saibam, com os conhecimentos de ciências que têm, ler melhor o mundo em que vivem. Ainda é preciso ir além: o ensino das ciências precisa ajudar que as transformações que se fazem nesse mundo sejam para que um maior número de pessoas tenham uma vida mais digna. É para isso que se busca hoje fazer uma alfabetização científica. Nossos alunos e alunas, assim, não precisam aprender, por exemplo, o que são isótonos ou a classificação taxionômica de um vegetal ou definições do número um, quase incompreensíveis para os mais expertos algebristas.
Já perguntei, em mais de uma oportunidade, em auditório onde os presentes eram eminentes pesquisadores da área da Química (e faço aqui e agora, para qualquer leitor deste livro) quem já precisou um dia saber o que são isótonos, salvo para responder a alguma pergunta dessas que testam conhecimentos inúteis em vestibular. Não sem certo mal-estar, constatou-se que ninguém jamais precisou saber (e todos sabiam!) o que são isótonos. Mas os alunas e alunos de escolas do ensino fundamental do interior deste Brasil sabem... Esse é um dos muitos exemplos de conhecimentos desnecessários que poderíamos amealhar com facilidade.

[1] Até a reforma do ensino que ocorreu com a Lei 5692/71 que alterou o ensino anterior a Universidade, os atuais nove anos de ensino fundamental, eram divididos em dois ciclos: cinco anos de ensino primário e quatro de ensino ginasial. O acesso ao ginásio se dava através do “exame de admissão” que era realizado independente (que poderia ser em outra escola) da situação de se estar aprovado ou não no 5º ano primário.
[2] Zero Hora, 16JUNHO2013
[3] A referência é a campanha dos ‘Monstrinhos’, lançada em junho de 2013 pela RBS com a proposta de, segundo a empresa, “estimular o debate e dar visibilidade a soluções que elevem a qualidade da Educação Básica no país, em especial no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”.
[4] Para que(m) é útil o nosso ensino de química? Tese (Doutorado em Educação). Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS, 1994
[5] Para que(m) é útil o ensino? (1 ed 1995). Canoas: Editora Ulbra, 2004.
[6] Discuto essa proposta mais extensamente em: Dialogo de aprendentes, in MALDANER, Otavio Aloisio (Organizador); SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos (Organizador). p. 23-50 Ijuí: Ensino de Química em Foco Editora Unijuí, 2010, 368 p. ISBN 978-85-7429-888-7