ANO
7
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Livraria
virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR |
EDIÇÃO
2488
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A edição desta quinta-feira —
antecedida de edições extras no domingo e na quarta-feira — se tece com o
relato de algo ocorrido no último domingo. Pode parecer trivial. A narrativa seria inimaginável em um passado nada remoto.
Fui até um pequeno supermercado
de uma grande rede multinacional. Fiz algumas compras pensando nas necessidades
de um almoço. Comprei poucas coisas (claro, que não fugi ao senso comum: nunca compramos apenas o que está na lista
que levamos), pois fora a pé e não queria carregar muito peso.
Ao chegar em casa vi que
faltavam três itens. Voltei, não pelo valor em si — mesmo que reconheça que o
WalMart é muito mais rico que eu — mas porque precisava daquilo que não viera
(e eu pagara).
Não tinha a nota de compras. O
caixa que me atendera estava em intervalo de almoço. O empacotador
reconheceu-me, mas não lembrava se ficara alguma sacola. Tudo parecia conspirar
contra mim.
Surgiu uma solução que não
sabia existir. “Vamos ver as imagens de sua compra!” disse a gerente.
Minutos depois: “Vimos o senhor
apanhando a sacola que trouxe e mais duas sacolas do supermercado. Uma quarta
pequena sacola, foi deixada, pois o empacotador a colocara na lateral oposta a
suas compras. Ela posteriormente foi apanhada pelo cliente seguinte (conhecido
dos funcionários)!” Recebi os três itens.
Por que um fato insólito se faz
blogada? Talvez porque não acreditemos no imperativo cada vez mais presente cotidiano:
“Sorria, você está sendo filmado!” Está
ordem seria mais honesta se transmitisse, numa versão gaudéria, o que ela
realmente quer ordenar: “Te cuida, tchê!”
ou “Nós estamos te controlando!”
Tenho dito que esta recomendação
(“Sorria, você está sendo filmado!”)
é uma versão pós-moderna de uma frase encontradiça em todas as dependências da
escola marista onde cursei o ginasial: “Deus
me vê!” Imaginem esta admoestação presente em todos espaços escolares.
Certamente os banheiros eram o lócus de maior eficiência do estratégico aviso.
Quantos pecados contra o sexto mandamento
não se consumaram por isso.
As ficções de George Orwell em ‘1984’
foram há muito superadas. Não são apenas os brothers confinados nas casas
televisivas que são objetos de deleite daqueles ávidos de intimidades. Em mais
de um hotel, ao perguntar se poderia deixar o notebook no quarto ao sair, ouvi
respostas como ‘Não tem problema, todas as nossas dependências são filmadas!’.
Comportemo-nos até em nossas intimidades.
O juízo próprio de reprovação de cada um sempre foi uma problemática de validade bem elástica. Bentham ao criar o sistema do panopticon acreditou ter criado "o ovo de Colombo", pois "vigiar" sempre envolve mistério e poder.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Meu caro Antônio Jorge,
Excluiro Panóptico tem mais um poder: vigiar.
É essa a meta dos avisos do ‘Sorria, você esta sendo filmado!’
Foucault no ensino isso no antológico “Vigiar e Punir”,
Obrigado por adensares a reflexão acerca de uma experiência cotidiana.
attico chassot
Chassot,
ResponderExcluirJá que o assunto é invasão de privacidade, leia o que escrevi há algum tempo:
O GRANDE IRMÃO
Na oportunidade que a rede Globo importa um programa consagrado em outros países, com o fito de impor-se em audiência na frente de outras emissoras, é interessante lembrar que o Big Brother original foi concebido por George Orwell, escritor inglês de esquerda, desiludido com os rumos que tomava a revolução bolchevique na Rússia. No magistral romance futurista “1984”, levado às telas por Hollywood, Orwell descreve uma sociedade oprimida por um governo totalitário na qual os cidadãos são bisbilhotados e fiscalizados em todos os momentos e em todos os lugares por milhares de câmeras de TV, controladas por uma organização central do Estado. Este onipresente Grande Irmão, assim chamado, imiscui-se nos mais íntimos recônditos da vida de cada cidadão, suprime a privacidade das pessoas tornando-as meras peças substituíveis da máquina do Estado; verdadeiros andróides, peças sem vontade e sem iniciativa próprias. Resta-lhes apenas pensar. O pensamento é a única forma “livre” de contestar, ainda que forma solitária, já que ao expressar o que pensa o cidadão é, fatalmente, identificado e corre o risco imediato de ser enviado para “reeducação” em campos criados para esse fim. O Grande Irmão exerce a mais perfeita forma de supressão da liberdade. Descontada a inexistência de um órgão central controlador, algo semelhante ocorre na nossa moderna sociedade. Literalmente não há local algum nas cidades atuais em que não estejamos sendo observados por câmeras, ocultas ou não. “Sorria, você está sendo filmado” aparece em lojas, oficinas, mercados, barbearias, hotéis, elevadores, biroscas, bancas de revistas, padarias, cinemas, escritórios, corredores, portarias e até em banheiros públicos. O que quer que façamos, onde quer que estejamos a qualquer hora do dia ou da noite estamos sendo observados, filmados, registrados, monitorados. Parece haver um olho eletrônico para cada cidadão do planeta. Em nome de uma suposta segurança, ou por uma inexplicável paranóia global uns invadem a privacidade dos outros, devassam nossa intimidade e reduzem-nos a imagens e sons a serem arquivados em fitas e discos magnéticos. Todos observam todos. A comunidade em que vivemos tornou-se abelhuda. Vivemos, trabalhamos, descansamos, estudamos, dormimos, fazemos compras como espécimes sob o atento olho do cientista ao microscópio. Somos obrigados a nos policiar vinte e quatro para que não sejamos pegos em atitude suspeita ou apenas distraídos quando deveríamos estar atentos. O Grande Irmão tem o dom da ubiqüidade, está em toda parte. Encontra-se me observando, apesar das paredes, enquanto escrevo. SOCORRO! JAIR, Floripa, 11/12/04.
O professor me fez lembrar a frase do astucioso Cacrinha: na televisao nada se cria tudo se copia!
ExcluirPs; perdoem-me a falta de alguns acentos estou levando uma surra para escrever em um celular (que inveja de muita crianca de 8 anos!)
Antonio Jorge
perdao: chacrinha
ExcluirLimerique
ResponderExcluirAndando tenhamos muito cuidado
O mundo de câmaras está povoado
Tal inseto debaixo de lente
É como o cidadão se sente
"Sorria, você está sendo filmado"
Em um futuro não tão distante, os seres humanos poderão ser chipados no nascimento e cada passo de sua vida será então armazenado... e vigiado.
ResponderExcluirAo Mestre Chassot: Vivemos mesmos em um reality elas são nossas amigas ou inimigas? uma coisa tenho certeza o sorriso é um remédio que mexe com vários músculos do rosto e produz endorfina, provocando uma sensação de bem estar. um Abraço.
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