domingo, 30 de junho de 2013

30.-GRAFOTERAPIA


ANO
7
Livraria virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
EDIÇÃO
2489

Encerro junho/o primeiro semestre com uma edição extra para presentear a prováveis visitantes dominicais deste blogue. Já escrevi em outros momentos aqui o quanto o escrever para mim é terapêutico. Nesta grafoterapia o escrever sobre si mesmo é significativo (e problemático).
Dentro desta dimensão trago uma entrevista realizada com Ruy Castro por Luiza Piffero que foi publicada no Segundo Caderno de Zero Hora, desta sexta-feira, dia 28JUN13. Vale fruí-la.
O jornalista Ruy Castro contabiliza 65 anos vividos com intensidade: escritor e biógrafo reconhecido, três casamentos, experiências com drogas, internação por alcoolismo, câncer. Esses temas são explorados com humor no livro Morrer de Prazer: Crônicas da Vida por um Fio.
 A obra vem se somar a uma bibliografia que inclui títulos sobre Garrincha, Nelson Rodrigues e a Bossa Nova. Embora Castro abomine autobiografias, encontrou nas crônicas a saída para um livro confessional. O material, 59 textos curtos, foi selecionado a partir de escritos publicados por Castro no jornal Folha de S.Paulo desde 2007. Confira a entrevista concedida por e-mail.
Zero Hora – Tanto na hora de escrever como de selecionar as crônicas que foram para o livro Morrer de Prazer: Crônicas da Vida por um Fio, você tentou manter um distanciamento crítico com relação às suas próprias experiências?
Ruy Castro – Na biografia, o autor não existe. Ele não tem o direito de presumir, deduzir, calcular, adivinhar e muito menos inventar nada sobre a vida do seu personagem – ou tem as informações, ou não pode escrever. A primeira pessoa não existe. Já na crônica de jornal é diferente. O cronista se sente convidado a se sentar na mesa do café da manhã com o leitor e bater um papo com ele. Nesse sentido, pode falar eventualmente de si próprio. Os textos de Morrer de Prazer foram selecionados em função do interesse que podem ter para o leitor, e foram bastante reescritos.
ZH – Você já afirmou que pode ser bastante problemático fazer biografias de pessoas vivas. Como foi a negociação que você precisou travar com você mesmo para decidir o que entrava e o que não entrava no livro?
Castro – (Risos) Boa pergunta. A verdade é que, assim como os biografados vivos não são confiáveis – mentem pra burro e obrigam seus amigos a mentir por ele –, o cronista (ou memorialista) também não é. As autobiografias, então, costumam ser uma antologia de meias-verdades. Mas, como já disse, o cronista não tem a pretensão de estar definindo o mundo, mas apenas batendo um papo com o leitor. Não quer dizer que não esteja tentando dizer a verdade sobre si mesmo. Pelo menos, esse é o meu caso.
ZH – Esse mergulho na sua própria vida funcionou como uma espécie de terapia? Teve alguma epifania?

Castro – Não, quem me desperta epifanias é a própria vida. Escrever é uma reflexão sobre elas. Claro que, nessa reflexão, descubro coisas que não sabia a meu próprio respeito.
ZH – Como foi a experiência de escrever sobre momentos dolorosos como o seu embate com o câncer e o problema com o alcoolismo?
Castro – Não tenho nenhuma vergonha disso e acho que escrever a respeito é apenas minha obrigação. Como todo mundo, eu era profundamente ignorante sobre esses assuntos. Depois que passei por eles, espero ter aprendido bastante – e a forma de retribuir é espalhando esse aprendizado.
ZH – Qual o seu próximo projeto? Já tem um novo biografado em vista?
Castro – Biografado, não. Mas estou preparando para o ano que vem um livro que tem a ver com... biografias.
ZH – Você tem acompanhado a polêmica em torno da Lei das Biografias. Qual a avaliação que você faz dela?
Castro – O projeto de lei que as liberava tinha passado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e só faltava passar pelo Congresso, onde seria aprovado. Mas, aí, um deputado safado devolveu o projeto para o plenário da Câmara, a fim de melá-lo de novo – o que conseguiu. Mas parece que, em breve, teremos boas notícias numa outra frente da luta, que é a que define a obrigação da autorização como inconstitucional.

3 comentários:

  1. Quem já não ouviu a frase; "minha vida daria um livro" ? Uma irrefutável verdade, o diferencial seria, para qual leitor? Nossas experiências, nossos momentos, tem nuances mágicos que a priori só interessam para quem as vive. O real escritor tem a fórmula de envolver o leitor e cativá-lo com uma boa narrativa. Fernando de Morais ao invés de nos presentear com uma continuação de "A Ilha" conseguiu talvez um feito muito surpreendente com a biografia "O Mago", que a meu ver, criou um ícone dando mais têmpero que a iguaria possui.

    Abraços
    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    A quem interessa minha vida vã?
    Seja ela corpo sadio e mente sã?
    O porquê sou assim
    Interessa só a mim
    O resto é sonho de vaga manhã.

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  3. Limerique

    Era uma vez uma vida sem sal
    Neutro exemplo de bem ou de mal
    Para que biografia
    Se ninguém a leria?
    Quem quer saber de vida tão banal?

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