quarta-feira, 26 de junho de 2013

26.-IMITAÇÃO OU INDIGNAÇÃO

ANO
7
Livraria virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
EDIÇÃO
2487
Por abrigar-me na grafoterapia, nestes dias turbulentos cabe a segunda edição extra nesta semana. Refugio-me neste fantástico binômio: escrita leitura.
Na noite desta segunda-feira recebia uma pessoa muito querida, que desde o sábado anterior estivera no exterior em lides acadêmicas. Disse-lhe — e ela ratificou — que o Brasil que ela reencontrava depois de nove dias não era mais o mesmo. O país que há não pouco era embalado por fátuas marolas agora é agitado por gás lacrimogênio e se faz cruento com balas de borracha.
Não há como fazer profundas análises de “manifestações” havidas nestes últimos dias. Minha tese de que a imitação supera a indignação se robustece.
Permito-me trazer uma evidência empírica. Nesta segunda-feira a BR-116 — nevrálgica ligação para chegar a Porto Alegre — foi fechada por quase 5 horas. A mesma rodovia foi interditada também em São Leopoldo e em Novo Hamburgo. Os manifestantes da pacata Estrela, depois de desfilarem pela cidade, fecharam a BR-386, a rodovia que escoa a produção gaúcha de todo o norte do Estado. Esta ‘originalidade’ repetiu-se em dezenas de outras rodovias.
Mas quero trazer algo mais nesta blogada. Endosso as criticas as bilionárias despesas com a construção das arenas. Agora, todavia, elas são tardias.
Há mais de 1,5 ano — quando para muitos arena ainda era sinônimo de praça de touros —, publicava aqui uma blogada, da qual agora trago excerto. As ilustrações são fragmentos da palestra ‘Para formar jardineiros para cuidar do Planeta’ proferida em diferentes Estados brasileiros.
29.- ¿A Copa é nossa ou da FIFA?
 Ano 6 ***  PORTO ALEGRE 29NOV2011
  *** Edição 1944


[...]
Lembro, que de vez em vez, já me manifestei aqui acerca da importunidade de o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014. Já antes da escolha do país sede eu torcia pela nossa não escolha. Primeiro algo lateral, que mostra hegemonias: a natural que esteja falando de futebol e de um campeonato masculino.
Há dias, respondendo a um questionário: Em qual cidade do Brasil você gostaria de assistir a Copa em 2014? Nenhuma, de preferência no exterior. Assim estou me habilitando a um escambo de aluguel.
Mas não sou o único no contra fluxo! Neste sábado, no aeroporto de Curitiba, adquiri o número de novembro da edição brasileira do Le monde diplomatique. Fiquei ainda mais surpreso com a já conhecida intromissão da Fifa em nossa soberania.
Primeiro algo da fonte dos que trago a seguir. Publicado desde 1954 na França, Le Monde Diplomatique, tem 71 edições internacionais produzidas em 25 línguas e conta com uma tiragem mensal de 2,4 milhões de exemplares em todo o mundo. No Brasil a última edição é a do Ano 5, número 52.
No número 52 há quatro substanciosos artigos. Que cada um deles poderiam nos convencer que a pergunta: ¿A copa é nossa? Tem como resposta um sonoro NÃO.
#1.- Estamos sofrendo uma manipulação brutal onde Luís Brasilino entrevista Carlos Vainer, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, denuncia a manipulação do amor dos brasileiros por sua cidade e pelo futebol como forma de conquistar apoio para a realização da Copa do Mundo. Ele alerta: é um grande negócio para as grandes empresas, não vão sobrar migalhas.

#2.-A Lei Geral dos interesses particulares por Leandro Franklin Gorsdorf (da Faculdade de Direito da UFPR) & Thiago A. P. Hoshino (Assessor jurídico da organização Terra de Direito e membro do Comitê Popularda Copa de Curitiba) que mostram como autoridades brasileiras parecem admitir que a recepção de um megaevento autoriza também megaviolações de direitos, megaendividamento público e megairregularidades. É preciso questionar este tipo de relação de vassalagem política que endossa um bloco de negócios privados gerador de considerável ônus público.
#3.- Desrespeito e exploração dos trabalhadores dos jogos por Ramon Szermeta (Coordenador da Campanha Play-Fair Brasil” Para que os trabalhadores saiam ganhando) que apresenta a tese de que é raro encontrar no debate na imprensa tradicional discussões sobre ou com os principais personagens que, ao fim e ao cabo, são os últimos responsáveis pela realização da Copa no Brasil ou em qualquer outra parte do Globo: os trabalhadores das diversas categorias profissionais que se esforçaram, dia após dia, para que tudo realmente aconteça.
#4.- África do Sul 2010: legado no bolso da Fifa e seus parceiros por Alexandre Praça (jornalista) fica evidenciado como os sul-africanos acreditaram nas promessas de mais empregos, turistas e investimentos bilionários que viriam com a Copa. Mas, segundo Eddie Cottle, autor do livro Copa do mundo da África do Sul: um legado para quem?, nada disso se materializou. Estariam os brasileiros caindo na mesma armadilha?
Este blogue, pretende – de vez em vez – trazer esta usurpação cometida pela Fifa em outras edições. Aguardem. 

5 comentários:

  1. Mestre!
    Ainda bem que tem umas edicoes extra...estava carente de ideias sobre as manifestacoes...o que esta acontecendo?
    Hoje temos a continuacao das eleicoes do sindicato dos professores de Santa Catarina. Me pergunto?

    O que estamos fazendo como classe pensante que somos? Parece que tudo foge do nosso alcance. Mas vou me conformando os dando alguns passos cada dia, tentando fazer a diferenca onde estou....continuada admiracao...e carinho para o mestre Chassot
    Elzira








    c




    s

    ResponderExcluir
  2. Limerique

    Torcedores vibram de costa a costa
    Porque de futebol todo mundo gosta
    Contudo tem um porém
    Que não agrada ninguém
    Roubalheira na copa é uma bosta.

    ResponderExcluir
  3. Acho muito interessante como as mesmas pessoas que estava feliz da vida quando foi decidia sede da copa são as mesmas nas ruas hoje. Concordo com o professor sobre a "naturalidade" das manifestações, são no mínimo suspeitas.

    ResponderExcluir
  4. Mestre Chassot, irrefutáveis suas considerações acerca das questionáveis consequencias dos atos de protesto. Fechar vias, colocar em risco o escoamento de nossa produção agrícola é como se diz na gíria "dar um tiro no pé". Porém clamo por outro enfoque do problema. O povo, como num todo, ainda é ingênuo, não sabe a força que tem, e como ainda tem em sua genética uma índole pacífica procura manifestar-se fazendo mais alarde do que estrago. Falta-nos líderes!
    abraços
    Antonio Jorge

    ResponderExcluir
  5. Prezado Professor Chassot

    Parabéns pelo lúcido posicionamento, pois, no mínimo as autoridades brasileiras foram omissas em não ouvir a opinião do povo brasileiro com relação a sermos anfitriões da Copa.
    Na verdade assim fizeram, pois esse é o hábito (nocivo) dos nossos dirigentes desde sempre, pois para ouvir seria necessário programar uma discussão prévia, em tempo hábil, com os prós e contras de sediar evento tão caro aos cofres públicos. Pensam (os nossos governantes) de forma oportunista e interesseira, pra que discutir se podemos decidir sem consulta?
    Esse o grande mal (dos governantes) e que precisa ser cortado.
    Nada a ver com a proposta intempestiva da Presidenta Dilma com relação ao plebiscito. Como se tivéssemos que decidir questões vitais para o aperfeiçoamento da nossa imatura democracia no afogadilho. Uma pena, sempre (os governantes) metendo os pés pelas mãos.
    Abraço
    Ronaldo

    ResponderExcluir