sábado, 19 de janeiro de 2013

19.- O ESTATUTO DO HOMEM por THIAGO DE MELLO


Ano 7***www.professorchassot.pro.br***Edição 2362
Ainda estou em ‘estado de graça’ com meu encontro com Tiago de Mello, que foi narrativa, ontem aqui. Assim, o tema não poderia ser outro neste dia de sugestões sabáticas de leitura: O Estatuto do Homem.
Ele contou-me que o poema já foi publicado em mais de trinta idiomas. O poema nasceu no Chile, tão logo Thiago leu o primeiro ato institucional do golpe militar de 1964: "Escrevi esse poema pensando no meu povo, sobretudo no destino do homem".
De imediato, pediu sua renúncia de Adido Cultural. Enquanto não chegava a resposta, "eu infrigia as instruções da embaixada, recebendo todo brasileiro perseguido pela ditadura". Chegando ao Brasil, foi preso, porque declarou à imprensa chilena: "Voltarei ao meu País para lutar junto aos meus irmãos, pela liberdade". Foi exilado e seu poema tornou-se um lema em favor da dignidade, da liberdade, não só dos brasileiros, mas daqueles que vivem sob a batuta da ditadura.
No relato que ouvi embevecido na madrugada de quinta-feira, contou-me que na Índia, que seu poema foi declamado (no idioma hindu) para uma multidão de 100 mil pessoas; a cada fragmento demonstrava clamor emocionado, durante o primeiro Encontro de Paz, realizado naquele país. "Notei no clamor dos meus irmãos a compreensão da minha mensagem", diz o poeta.
Neste sábado, além de trazer o poema na integra, presenteio o poema na voz de Thiago, compartindo o privilégio que ti em ouvi-lo recitando estrofes em diferentes idiomas.
Artigo I 
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
 Artigo II 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo. 
Artigo III  
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança. 
Artigo IV 
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu. 
        Parágrafo único:  
        O homem, confiará no homem
        como um menino confia em outro menino. 
Artigo V  
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa. 
Artigo VI  
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. 
Artigo VII  
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo. 
Artigo VIII   
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor. 
Artigo IX 
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor. 
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura. 
Artigo X  
Fica permitido a qualquer  pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco. 
Artigo XI 
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã. 
Artigo XII   
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela. 
        Parágrafo único:
        Só uma coisa fica proibida:
        amar sem amor. 
Artigo XIII 
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou. 
Artigo Final.   
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

5 comentários:

  1. O poeta Thiago de Mello descreve o imaginário do que poderia ser, o que deveria ser, em um apelo a razão e ao bom senso. O filósofo Attico Chassot descreve a realidade das coisas, os "porquês. Duas vertentes aparentemente antagônicas, mas na realidade buscam o mesmo resultado, um homem melhor.

    Abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Thiago instituiu a liberdade
    Para que o povo ao vento brade
    Em letras decreta
    Que como poeta
    Deve chamar o homem de confrade.

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  3. Conheci o poema nos idos anos 80 com mais ou menos 16 anos, não sabia dessa ao mesmo tempo bela/triste e rica história. Aproveitarei para repassar para minhas filhas via facebook.
    Abraços ao Meste Chassot e ao Poeta Thiago.
    Jorge Hamilton

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  4. Conheci o poema nos idos anos 80 com mais ou menos 16 anos, não sabia dessa ao mesmo tempo bela/triste e rica história. Aproveitarei para repassar para minhas filhas via facebook.
    Abraços ao Meste Chassot e ao Poeta Thiago.
    Jorge Hamilton

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