domingo, 20 de janeiro de 2013

20.- AMOR: UM FILME DOLOROSAMENTE LINDO



Ano 7***www.professorchassot.pro.br***Edição 2363
Esta edição dominical descumpre pelo menos uma das características das domingueiras. Há mais de seis anos estas sabem ser curtas e leves.
Ontem, nas companhias queridas de minha mulher e de minha sogra, armei-me de destemor e fui assistir Amor. As resenhas que havia lido deixavam-me apreensivo. Recordo o quanto fui mexido com o duplo suicídio do filósofo André Gorz, em 2007, aos 84 anos, e Dorine, sua esposa, que estava condenada à morte por uma doença incurável.
AMOR (Amour) - Georges e Anne formam um casal de professores de música aposentados. O casal vive uma rotina pacata e afetuosa em seu apartamento em Paris até o dia em que Anne tem um problema de saúde e entra em um acelerado processo de decadência física e mental, levando Georges a dedicar-se integralmente à saúde da companheira.
Em um dado momento, Georges e Anne chegam a um impasse: ela quer morrer, ele quer que ela viva. Poucas vezes o cinema de ficção fez um retrato tão duro e tão seco da velhice — aqui, não cabem eufemismos como "melhor idade". E, justamente por pintá-la com tintas tão realistas, cada ato dos personagens — um passo ou uma colherada — se torna mais excruciante e comovente.
DIREÇÃO: Michael Haneke
PRODUÇÃO: França/ Alemanha / Áustria, 2012
DURAÇÃO: 2h 7min‎‎ -  CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
GÊNERO: Drama‎‎ - Legendado    AVALIAÇÃO: ótimo
Entre as muitas críticas publicadas na mídia nacional e internacional, escolhi transcrever excertos dos comentários do diretor de Amor, o consagrado Michael Haneke, e dos atores Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant, personagens centrais do filme, extraídos de: http://www.bemparana.com.br/noticia/243481/filme-amor-enfoca-desafios-da-velhice
 O filme comove o mundo ao dar vida a uma idosa que sofre e divide a decadência da velhice com o marido. “Para mim, foi uma grande honra filmar com Michael. Não importam os prêmios, importa que é impossível recusar um convite dele. E que fizemos tudo que era possível para contar esta história com dignidade e amor”, disse a atriz, em conversa com a reportagem, em Cannes, logo após o longa receber a Palma de Ouro.
O júri de Cannes não deu a Palma a Emmanuelle, mas não ignorou sua contribuição ao filme. “Determinante para a vitória de Amor foi a contribuição dos atores. São eles que dão vida a este drama tão duro e terno ao mesmo tempo", declarou Nanni Moretti, presidente do júri ao anunciar o prêmio. Haneke concordou e dedicou o prêmio a seus atores, “sem os quais o filme não seria possível”, e à sua mulher. Quando questionado se oferecer a Palma à esposa seria mais uma forma de afirmar o valor dado à união entre duas pessoas, a mesma que se revela em seu filme, respondeu: “Não foi uma dedicatória exatamente. Foi o cumprimento de uma promessa entre duas pessoas. E também a promessa de não fugir à essência do filme. A história que eu conto é uma forma estética de ver esta promessa de amor”, afirmou o diretor. “Para mim, este é um filme amor, seja qual a forma em que ele se manifesta”, continuou Haneke. Esta forma é, no mínimo, controversa. Assim como o amor também pode ser violento. “Você é tão doce. E é um monstro, às vezes”, diz Anne, a personagem de Emmanuelle, em determinado momento ao marido Georges (Trintignant). “É esta dualidade, esta humanidade entre os dois, que está em todos nós, que seduz nesta história. É sobre um drama que todos nós vivemos ou vamos viver. Todos temos um mal, uma doença, uma fragilidade. Como lidamos com elas é que nos faz diferentes”, declarou a atriz. É esta liberdade de ação dos personagens, e de interpretação por parte do espectador, a maior força de Amor. “E é assim que tem de ser. Livre. Na vida e no cinema.
Fiz o filme de forma muito aberta, para que o espectador tivesse a opção de interpretá-lo. Se dou a minha opinião, limito o público”, completou Haneke. A interpretação surge quando o espectador se vê participando da rotina desse casal de idosos parisiense, em que o marido tem de passar a cuidar quase como de uma criança da mulher, após ela sofrer um AVC e ter parte dos movimentos paralisada. “Ela, que sempre foi uma pianista elegante e fleumática, apesar de carinhosa e mãe atenciosa, vê-se diante da decadência, do medo de sujar a reputação e a imagem do marido ao se revelar tão frágil e dependente. Há drama mais íntimo e, ao mesmo tempo, maior que este?”, comentou Emmanuelle. Estrela de clássicos como Hiroshima mon Amour, que Alain Resnais filmou em 1959, a atriz diz saber de cátedra que a juventude é efêmera. “Acho que devemos encarar a velhice, e a presença da morte que ela traz muitas vezes, com alegria e não com tristeza. Eu, que vivo meus 86 anos, me pergunto sobre como lidar com a perda da dignidade, a dependência de outro, as dores. E como viver o amor nessas condições?” Diz o ditado que não existe amor, apenas provas de amor. E é isso que Jean-Louis Trintignant oferece neste belo filme. “Devemos dar o exemplo. Ele é duro, e cuidadoso. É humano”, disse o ator. Para Trintignant, este é um filme poético. “Mas é a poesia em seu estado mais simples. É também como um romance contado de uma forma nova. Não há considerações psicológicas muito complexas sobre os personagens, mas sim uma história contada com honestidade, como ela de fato foi”, afirmou. “Não é a idade dos personagens que importa, mas como vivem o drama. Envelhecer, e por vezes adoecer, faz parte da vida. Cabe a nós escolher como vamos encarar a experiência. Temos de tentar ser felizes. Nem que seja só para servir de exemplo.”
Eu achei o filme dolorosamente lindo. Fiquei muito mexido, tanto que faço aqui algo pouco usual neste blogue: falar de filmes, até porque desta dita sétima arte há excelentes blogues especializados. A Gelsa — que queridamente fez a seleção dos excertos acima —, se comoveu e aplaudiu aquele que em breve disputará o Oscar de melhor filme estrangeiro. A Liba, que com seus 91 anos tem expertise em cinema, foi entre nós a que mais se encantou com esta produção de Michael Haneke, de quem há muito é entusiasmada apreciadora. 

5 comentários:

  1. O amor, alimento inesgotável dos poetas, nutre o imaginário e certamente sempre será o ingrediente necessário para obras de sucesso. A terceira idade inspira compaixão. A mistura disso tudo com certeza deve ter culminado em uma obra imperdível.

    abraços

    Antonio Jorge

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  2. Adorei a indicação, professor!
    Vou procurar pra assistir.Abraços,
    Marilisa

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  3. Limerique

    Um dia quando chega a velhice
    Sem que o indivíduo sentisse
    A vida não é pior
    Tampouco o é o amor
    Só desaparece a pieguice.

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  4. Limerique

    Porque um dia alguém me disse
    Que quando despontar a velhice
    A vida perde a cor
    Desaparece o amor
    Mas na verdade isso é estultice.

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  5. Prezado Professor,

    Acabei de conseguir o vídeo, certamente a sua dica se mostrará interessante, isso já conteceu diversas vezes comigo.Obrigado.

    Geziel Moura

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