Esta é a
última de oito postagens desde a Amazônia. Deixo Manaus depois das 23h, de
quarta-feira, quando pelo horário de Brasília já é mais de 01h de quinta-feira.
Devo chegar a Porto Alegre, quase 10h.
Ontem pela
manhã teve o encerramento dos cinco encontros da disciplina Bases
Epistemológicas para o Ensino de Ciências e Matemática, os doutorandos prosseguem por mais duas
semanas com a Profa. Maria Clara Silva-Forsberg. A despedida não foi sem
emoção. Liguei-me densamente com o grupo.
Um dos mestrandos fez um texto metaforizando minhas aulas. Essa edição se
faz com essa produção mergulhada as águas dos rios Negro e Solimões formando o Amazonas, no encontro das águas,
mostrado na ilustração. Assim, a seguir a produção de José Ivanildo de
Lima, Doutorando REAMEC e Professor do Depto. de Matemática/ UFRR.
À
leveza do Mestre-Rio Chassot
Ou
(Como
o rio forma futuros formadores de professores?)
Primeira vez
que sou motivado a olhar com “olhos de estudante” para alguns problemas da
História das Ciências. Como sou aluno de doutorado, poderia me definir como
pesquisador, mas o fato, é que pesquiso outro campo de conhecimento e não me
vejo como pesquisador desta área. O que quero é apenas registrar esse momento
que me fez buscar compreender sobre alguns problemas da História das Ciências.
Como estamos à
margem esquerda do Rio Amazonas, aqui em Manaus, lanço mão do que vou chamar de
“a metáfora do rio”, para ilustrar o que acontece quando somos imersos em
situações de aprendizagem (e, portanto de ensino quando é formal) quando
devemos apreender determinado conceito, ideia ou teoria.
Suponhamos que
a fluidez das águas do rio seja a dinâmica das informações que hoje nos
circunda. Como estamos tratando do querer aprender sobre os problemas da
História das ciências, o termo motivação surge como propulsor da atenção ao
querer aprender. Dessa forma, vamos definir que as margens do rio, representam
as válvulas de escape quando a motivação a mergulhar no conhecimento, não é por
nós a desejada, isto é, quando não queremos que esse conhecimento torne-se
parte das nossas interpretações e explicações sobre o mundo. Como falamos em
conhecimento, vamos defini-lo como espaço que toma sentindo quando submergimos
a partir da flor da agua e passamos a enxergar o que as águas ali escondem.
Quanto mais profundo no rio, mais temos noção sobre o que existe lá, e talvez
seja por isso que às vezes nos pegamos dizendo: tenho que aprofundar o
conhecimento sobre tal coisa.
Mas é bem no
fundo, lá no leito que podemos entender com mais detalhes o que acontece
ambientalmente com os seres que ali vivem. É contextual os saberes ali
envolvidos! Quando conseguimos compreender a riqueza dos mais variados
conhecimentos existentes e o seu entrelaçamento (não vou usar as expressões
rede ou malha para não danificar as vidas ali existentes) com aquele ambiente,
percebemos que é um mundo novo, e que tudo que ali existe tem sentido e
significado.
Uns rios são
mais mansos, outros são mais agitados e cheios de obstáculos. Naturalmente
mergulhar em rios mais mansos, que se mostram mais límpidos, nos remete a
compreender e apreender os saberes ali existentes porque são transparentes,
puros, serenos, viçosos, polidos e até ingênuos. Não me refiro a claro ou
escuro. Aliás, rios claros, barrentos ou escuros são ambientes distintos com
mesmo grau de importância, os quais podem formar um novo rio com outra
natureza. Basta lembrar a grandiosidade do Rio Amazonas formado pelos rios Negro
e Solimões. Mistura perfeita para abrigar nele, uma complexidade fantástica de
ambientes, e portanto, saberes.
Mesmo os rios
agitados, turbulentos e cheios de obstáculos possuem essa gama de saberes. Mas
são mais difíceis de permitir e nos deixar mergulhar neles, para apreendê-los.
São mais trabalhosos, mas não menos interessantes, nos guardam desafios
radicais. Alguns geram lembranças marcantes e boas, outras, dolorosas.
Geralmente esses rios costumam nos sacudir de encontro às margens, ou fazem com
que retornemos à flor d’água. Temos que lembrar que sacudir às margens pode ser
realmente nos colocar “às margens” empurrando-nos para a desmotivação.
Talvez o educador
seja como um rio em toda sua complexidade, dotado de todas as características
aqui descritas. Uns mais mansos e outros mais agitados. Geralmente os mais
mansos são aqueles que deixam marcas boas e sinceras sobre os saberes que
emanam. Mostra sempre em suas ações, a postura ética que lhe é peculiar. Tem
compromisso com o mergulhador, abrindo as cortinas sempre que é solicitado,
deixando o mergulho acontecer. É tolerante com os métodos de mergulho... Às
vezes até se deixam magoar, para fazer com que o mergulhador consiga enxergar
seus próprios erros, necessitando estes, sempre que isso ocorra, voltar à flor
d’água e respirar... O mestre-rio nunca deixa o mergulhador ultrapassar margem
a fora. Sabe o momento de colaborar em sua retomada e mostra com segurança
quando o mergulho também seguro deve ser retomado. O mergulhador em sintonia e
harmoniosamente, quase que em simbiose, consegue ler e sentir as águas do rio
como se fosse a seiva que alimenta a “árvore do conhecimento”.
Esse é o
momento que o educador Mestre-Rio se mostra sereno, com toda sua leveza,
deixando que o mergulho seja para sempre uma vivência emancipadora.
Parabens ao Jose Ivanildo pela metafora do Mestre-Rio. Demonstra ele o conhecimento mais aprofundado de um dos maiores recursos naturais da região, dentre tantos ali existentes. Realmente o verdadeiro mestre é como o rio, abrindo suas cortinas quando o mergulho ocorre, tolerante com os métodos do mergulhador. Meus votos de uma grande trajetória neste percurso doutoral.
ResponderExcluirBem-vindo Mestre Chassot, ou Mestre-Rio. JB
Meu querido colega e amigo Jairo,
Excluirobrigado por tua adesão ao Ivanildo,
Em minha viagem de volta já estou em Guarulhos. No primeiro trecho MAO/GRU, 3,5 horas um privilegio inenarrável: frui uma conversa maravilhosa com Thiago de Mello. O blogue de amanhã contará um poucos desta emoção.
Com amizade
attico chassot
Boa viagem querido mestre Chassot,
ResponderExcluirFoi imensa a alegria que ter passado momentos tao especiais em sua companhia, que tenhas feliz retorno e que continue nos ensinando por longos anos com sua vida e humildade,
Grande abraço fraterno
Cláudia Silva de Castro
Limerique
ResponderExcluirO professor desenvolveu sua lida
Na Amazônia, região tão querida
Com muita competência
Falou sobre ciência
Retorna então com missão cumprida.
Sensacional a metáfora do jovem doutorando. Porém é impossível se pensar em educação sem pensar em um de seus maiores obstáculos, a política. Seria, seguindo a linha da metáfora, como o esgoto que jorra no rio a tolher, dificultar, minar e contaminar o conhecimento. Transcrevo um pequeno dizer de Rui Brabosa em seu pronunciamento "A questão social e política no Brasil" de 20 de março de 1919: "Se os manda-chuvas deste sertão mal roçado, que se chama
ResponderExcluirBrasil, o considerassem habitado, realmente, de uma raça de homens, evidentemente
não teriam a petulância de o governar por meio de farsanterias,..."
abraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirChassot, professor de fluido algarvio
Com conhecimento preenche o vazio
Príncipe da destreza
Rei do jeito e leveza
Ele é o próprio educador Mestre-Rio.
oi Professor bom dia
ResponderExcluirNós já estamos com saudades das suas aulas, bom retorno e descanso.
abraços
enia UERR
Bom Dia Prezado Professor Chassot,
ResponderExcluirQue maravilhoso receber notícias suas e que esta tudo ótimo. Também estamos com saudades.
Um forte abraço,
Professora Irlane Maia de Oliveira, UFAM
Boa tarde Professor,
ResponderExcluirHoje nossa sala estava mais vazia do seu encanto científico, sentimos sua falta!
Kátia Costa