quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

17.- À LEVEZA DO MESTRE-RIO CHASSOT



Ano 7***                 MANAUS                       ***Edição 2360
Esta é a última de oito postagens desde a Amazônia. Deixo Manaus depois das 23h, de quarta-feira, quando pelo horário de Brasília já é mais de 01h de quinta-feira. Devo chegar a Porto Alegre, quase 10h.
Ontem pela manhã teve o encerramento dos cinco encontros da disciplina Bases Epistemológicas para o Ensino de Ciências e Matemática, os doutorandos prosseguem por mais duas semanas com a Profa. Maria Clara Silva-Forsberg. A despedida não foi sem emoção. Liguei-me densamente com o grupo.
Um dos mestrandos fez um texto metaforizando minhas aulas. Essa edição se faz com essa produção mergulhada as águas dos rios Negro e Solimões formando o Amazonas, no encontro das águas, mostrado na ilustração. Assim, a seguir a produção de José Ivanildo de Lima, Doutorando REAMEC e Professor do Depto. de Matemática/ UFRR.
À leveza do Mestre-Rio Chassot
Ou
(Como o rio forma futuros formadores de professores?)
Primeira vez que sou motivado a olhar com “olhos de estudante” para alguns problemas da História das Ciências. Como sou aluno de doutorado, poderia me definir como pesquisador, mas o fato, é que pesquiso outro campo de conhecimento e não me vejo como pesquisador desta área. O que quero é apenas registrar esse momento que me fez buscar compreender sobre alguns problemas da História das Ciências.
Como estamos à margem esquerda do Rio Amazonas, aqui em Manaus, lanço mão do que vou chamar de “a metáfora do rio”, para ilustrar o que acontece quando somos imersos em situações de aprendizagem (e, portanto de ensino quando é formal) quando devemos apreender determinado conceito, ideia ou teoria.
Suponhamos que a fluidez das águas do rio seja a dinâmica das informações que hoje nos circunda. Como estamos tratando do querer aprender sobre os problemas da História das ciências, o termo motivação surge como propulsor da atenção ao querer aprender. Dessa forma, vamos definir que as margens do rio, representam as válvulas de escape quando a motivação a mergulhar no conhecimento, não é por nós a desejada, isto é, quando não queremos que esse conhecimento torne-se parte das nossas interpretações e explicações sobre o mundo. Como falamos em conhecimento, vamos defini-lo como espaço que toma sentindo quando submergimos a partir da flor da agua e passamos a enxergar o que as águas ali escondem. Quanto mais profundo no rio, mais temos noção sobre o que existe lá, e talvez seja por isso que às vezes nos pegamos dizendo: tenho que aprofundar o conhecimento sobre tal coisa.
Mas é bem no fundo, lá no leito que podemos entender com mais detalhes o que acontece ambientalmente com os seres que ali vivem. É contextual os saberes ali envolvidos! Quando conseguimos compreender a riqueza dos mais variados conhecimentos existentes e o seu entrelaçamento (não vou usar as expressões rede ou malha para não danificar as vidas ali existentes) com aquele ambiente, percebemos que é um mundo novo, e que tudo que ali existe tem sentido e significado.
Uns rios são mais mansos, outros são mais agitados e cheios de obstáculos. Naturalmente mergulhar em rios mais mansos, que se mostram mais límpidos, nos remete a compreender e apreender os saberes ali existentes porque são transparentes, puros, serenos, viçosos, polidos e até ingênuos. Não me refiro a claro ou escuro. Aliás, rios claros, barrentos ou escuros são ambientes distintos com mesmo grau de importância, os quais podem formar um novo rio com outra natureza. Basta lembrar a grandiosidade do Rio Amazonas formado pelos rios Negro e Solimões. Mistura perfeita para abrigar nele, uma complexidade fantástica de ambientes, e portanto, saberes.
Mesmo os rios agitados, turbulentos e cheios de obstáculos possuem essa gama de saberes. Mas são mais difíceis de permitir e nos deixar mergulhar neles, para apreendê-los. São mais trabalhosos, mas não menos interessantes, nos guardam desafios radicais. Alguns geram lembranças marcantes e boas, outras, dolorosas. Geralmente esses rios costumam nos sacudir de encontro às margens, ou fazem com que retornemos à flor d’água. Temos que lembrar que sacudir às margens pode ser realmente nos colocar “às margens” empurrando-nos para a desmotivação.
Talvez o educador seja como um rio em toda sua complexidade, dotado de todas as características aqui descritas. Uns mais mansos e outros mais agitados. Geralmente os mais mansos são aqueles que deixam marcas boas e sinceras sobre os saberes que emanam. Mostra sempre em suas ações, a postura ética que lhe é peculiar. Tem compromisso com o mergulhador, abrindo as cortinas sempre que é solicitado, deixando o mergulho acontecer. É tolerante com os métodos de mergulho... Às vezes até se deixam magoar, para fazer com que o mergulhador consiga enxergar seus próprios erros, necessitando estes, sempre que isso ocorra, voltar à flor d’água e respirar... O mestre-rio nunca deixa o mergulhador ultrapassar margem a fora. Sabe o momento de colaborar em sua retomada e mostra com segurança quando o mergulho também seguro deve ser retomado. O mergulhador em sintonia e harmoniosamente, quase que em simbiose, consegue ler e sentir as águas do rio como se fosse a seiva que alimenta a “árvore do conhecimento”.
Esse é o momento que o educador Mestre-Rio se mostra sereno, com toda sua leveza, deixando que o mergulho seja para sempre uma vivência emancipadora.

9 comentários:

  1. Parabens ao Jose Ivanildo pela metafora do Mestre-Rio. Demonstra ele o conhecimento mais aprofundado de um dos maiores recursos naturais da região, dentre tantos ali existentes. Realmente o verdadeiro mestre é como o rio, abrindo suas cortinas quando o mergulho ocorre, tolerante com os métodos do mergulhador. Meus votos de uma grande trajetória neste percurso doutoral.
    Bem-vindo Mestre Chassot, ou Mestre-Rio. JB

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    1. Meu querido colega e amigo Jairo,
      obrigado por tua adesão ao Ivanildo,
      Em minha viagem de volta já estou em Guarulhos. No primeiro trecho MAO/GRU, 3,5 horas um privilegio inenarrável: frui uma conversa maravilhosa com Thiago de Mello. O blogue de amanhã contará um poucos desta emoção.
      Com amizade

      attico chassot

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  2. Boa viagem querido mestre Chassot,
    Foi imensa a alegria que ter passado momentos tao especiais em sua companhia, que tenhas feliz retorno e que continue nos ensinando por longos anos com sua vida e humildade,

    Grande abraço fraterno

    Cláudia Silva de Castro

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  3. Limerique

    O professor desenvolveu sua lida
    Na Amazônia, região tão querida
    Com muita competência
    Falou sobre ciência
    Retorna então com missão cumprida.

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  4. Sensacional a metáfora do jovem doutorando. Porém é impossível se pensar em educação sem pensar em um de seus maiores obstáculos, a política. Seria, seguindo a linha da metáfora, como o esgoto que jorra no rio a tolher, dificultar, minar e contaminar o conhecimento. Transcrevo um pequeno dizer de Rui Brabosa em seu pronunciamento "A questão social e política no Brasil" de 20 de março de 1919: "Se os manda-chuvas deste sertão mal roçado, que se chama
    Brasil, o considerassem habitado, realmente, de uma raça de homens, evidentemente
    não teriam a petulância de o governar por meio de farsanterias,..."

    abraços

    Antonio Jorge

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  5. Limerique

    Chassot, professor de fluido algarvio
    Com conhecimento preenche o vazio
    Príncipe da destreza
    Rei do jeito e leveza
    Ele é o próprio educador Mestre-Rio.

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  6. oi Professor bom dia

    Nós já estamos com saudades das suas aulas, bom retorno e descanso.
    abraços
    enia UERR

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  7. Bom Dia Prezado Professor Chassot,

    Que maravilhoso receber notícias suas e que esta tudo ótimo. Também estamos com saudades.
    Um forte abraço,
    Professora Irlane Maia de Oliveira, UFAM

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  8. Boa tarde Professor,
    Hoje nossa sala estava mais vazia do seu encanto científico, sentimos sua falta!

    Kátia Costa

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