quarta-feira, 12 de setembro de 2012

12.- IMPOSTURAS INTELECTUAIS



Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2233
Antes de brindar meus leitores com algo mais acerca da escrita (acadêmica) por meio de O caso Fox publicado por Hélio Schwartsman na p. A2, da Folha de S. Paulo do último domingo trago dois esclarecimentos:
Um, se depreenderá na abertura do texto, que foi Schwartsman que catalisou a trazida do artigo de João Pereira Coutinho, que teve uma repercussão muito significativa.
Outro, no Alfabetização científica: Questões e desafios para a Educação, até a 4ª edição 2000/2010, o capítulo 18, com 20 páginas, era “O caso ou farsa Sokal” onde se analisava ‘as imposturas intelectuais’. A partir da 5ª edição este capítulo foi suprimido, pois o livro precisou emagrecer 70 páginas (438 para 368) por razões de viabilidade comercial, e o assunto que bombeava quando escrevi o livro (1998 e 1999) e agora não tinha significado.
Muito a propósito, uma noticia: ontem a Editora Unijuí informou-me que está pronta a 3ª reimpressão da 5ª edição deste livro. Os 10% de direitos autorais em livros, assim com de todas as edições anteriores, já foram encaminhados ao Departamento de Educação do MST.
Isto posto, desejo fruída leitura de Hélio Schwartsman, uma vez mais ‘colaborador’ deste blogue.
O caso Fox - Meu colega João Pereira Coutinho publicou na terça uma interessante coluna em que criticava o estilo tortuoso de muitos textos das ciências humanas. Como estou convencido de que mesmo ideias sutis podem ser expostas de forma clara, concordo com Coutinho em gênero, número e caso.
Receio, contudo, que ele tenha sido levemente injusto para com as humanidades. Não há dúvida de que elas abusam do jargão e da impenetrabilidade. Prova-o um célebre caso de 1996, em que o físico Alan Sokal, disposto a demonstrar a falta de rigor das ciências humanas, submeteu à revista "Social Text" um artigo-embuste que foi aceito e publicado. O texto era uma coleção de disparates em linguagem empolada, argumentando que a gravidade quântica é uma construção social e linguística. Diga-se em favor da "Social Text" que, à época, ela não contava com sistema de revisão por pares.
O problema é que esse tipo de coisa não é exclusividade das ciências humanas. Num experimento mais antigo e menos famoso, pesquisadores da Universidade da Califórnia criaram o Dr. Myron L. Fox. Também era um engodo. Não existia nenhum Dr. Fox. Para representá-lo, contrataram um ator, Michael Fox, que deu uma aula sobre teoria dos jogos aplicada à educação médica. A exposição não tinha amparo na lógica. Eram frases de duplo sentido sobrepostas a contradições e palavras difíceis. Mas o ator tinha charme e dizia as bobagens com autoridade.
A plateia, composta por psiquiatras e psicólogos, não percebeu o logro. Na verdade, avaliou o desempenho do Dr. Fox muito positivamente. Vídeos da aula foram exibidos a outros públicos sempre com os mesmos níveis de sucesso.
Hoje, o caso Fox é usado em livros de psicologia para ilustrar as várias formas pelas quais nossos cérebros se deixam seduzir por elementos não racionais. O problema, no fundo, é a arquitetura de nossas mentes.

7 comentários:

  1. Em meu comentário sobre escrita acadêmica faço uma severa crítica e um apelo. Minha revolta é com o movimento atual no mundo ditático em querer classificar a obra de Monteiro Lobato como racista e assim bani-la dos bancos escolares. Outra alternativa seria a atrocidade de edita-la, prepotência de um possível editor medíocre. Lobato em sua época discutia a eugenia por ser ela um assunto comum de época, e sua postura contra a miscigenação era uma postura de sua opinião particular. Agora classificar sua obra como apológica ao racismo é de uma pobreza intelectual muito grande. Apelo em meu comentário que o Mestre Attico discorra sobre este tema na defesa do direito ao artista de sua obra. Quiça teremos que pintar a Gioconda de loiro para atender os anseios das mulheres louras discriminadas, ou colocaremos outros escritores nos bancos dos réus.

    abraços

    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Existe suposição que há letradice
    Em texto embolado de macaquice
    Intelectuais pios
    Tecem elogios
    A qualquer teor eivado de sandice.

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  3. Limerique

    Se, por acaso, em algum belo dia
    Quer ser aprovado na academia
    Nada precisa saber
    Basta só escrever
    Texto difícil cheio de polissemia.

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  4. Limerique

    Se quiser ser chamado de doutor
    Não precisa ser grande produtor
    Seja apedeuta esperto
    E com o peito aberto
    De texto embolado seja autor.

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  5. Estimado Jair,
    É significativa a tua capacidade de versejar, tomando motes tão diversificados e produzindo limeriques tão profundos.
    Tentei, não sem dificuldades, fazer-te uma homenagem:

    Imposturas acadêmicas vão cair
    Pois têm atiçado a ira do Jair
    Polímata categorizado
    É contra texto embolado
    E da peleia não vai jamais sair

    Com admiração
    attico chassot

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  6. Limerique

    Quando aquele emérito professor
    De belo limerique se faz autor
    Se deixe encantar
    Pelo seu versejar
    Pois nessa prática ele é doutor.

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  7. Chassot,

    gostei muito da blogada de hoje, lembrei do livro que li há alguns anos sobre imposturas científicas.
    Acho uma tremenda ingenuidade crer que as ciências ditas duras são mais rigorosas que as humanas... Neste furor publicatório que despreza qualidade e foca na quantidade já vi pesquisador botar o filho estudante de ensino fundamental como autor principal... Fora a autocitação desenfreada para aumentar o fator H...

    Abra ços,
    Guy

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