terça-feira, 11 de setembro de 2012

11.- CHURCHILL, PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA


Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2232
Hoje trago um texto sumarento em distintas dimensões, inclusive com informações que me surpreenderam; de uma fiz manchete. Mas, João Pereira Coutinho, que o publicou na contracapa da Ilustrada da Folha de S. Paulo da última terça-feira, 04SET2012, merece ser lido por muito mais. Amanhã, o tema da escrita tão recorrente aqui, volta com outro texto.
Batalhas verbais No dia em que terminei de escrever a minha tese de doutorado, enviei o manuscrito para um colega. E pedi uma opinião sincera.
Três dias volvidos, ele respondeu: "Você vai ser fuzilado pela banca".
O problema estava na qualidade do texto. A tese estava bem escrita. Pior: bem escrita e totalmente compreensível.
Eu tinha cometido uma heresia nas ciências sociais: escrever uma tese de doutorado com o propósito honesto de ser lido e compreendido. Sugestão dele para evitar o desastre: reescrever o texto e transformar cada parágrafo em paralelepípedo.
Lembro essa história agora por dois motivos. Primeiro, porque Barton Swaim escreve na "Weekly Standard" sobre a qualidade da prosa acadêmica. Qualidade atroz, entenda-se. Por que motivo a fauna universitária faz um esforço tão tortuoso para ser tortuosa?
Swaim arrisca três hipóteses. Para começar, as humanidades vivem o complexo de inferioridade que as atormenta desde o século 18, quando as ciências naturais deram o seu salto cosmológico. A impenetrabilidade dos textos humanísticos é uma forma de simular "profundidade".
Depois, existe o problema das influências. Das más influências. O aluno escreve mal porque o supervisor e os seus pares escrevem pior. E porque as revistas da especialidade só publicam esses horrores.
Por fim, a hipótese mais provável: a obscuridade obscurece. Quando nada temos de relevante para dizer, só há uma forma de esconder o vazio: com a babugem das palavras.
Admito que essas hipóteses sejam válidas. Mas se lembro o meu calvário acadêmico é por outra razão: a Morgan Library de Nova York dedica exposição ao escritor Winston Churchill até 23 de setembro. E foi Churchill quem me infetou com o vírus da clareza e da legibilidade.
Sim, eu sei: quando falamos de Churchill, surge a imagem clichê do velho premiê inglês com o seu charuto. O prêmio Nobel da Literatura que ele recebeu em 1953 é visto apenas como prêmio político, uma homenagem ao herói da 2ª Guerra.
Lamento discordar. Churchill merece o Nobel da Literatura como ninguém. Ele é o único escritor do século 20 que mudou o século com a força das palavras. Basta ler os seus livros e discursos para entender a proeza. Uma proeza que, obviamente, começa por ser o resultado de uma vida inteira de leitura.
Primeira lição: não existem grandes escritores que não sejam grandes leitores também. E Churchill era um grande leitor. Biografias apressadas dirão que o rapaz foi aluno relapso e uma nulidade em francês ou matemática.
Essas biografias esquecem-se de acrescentar o resto: a paixão pela História. Ainda na juventude, e nas primeiras campanhas militares, foram os volumes de Macaulay sobre a história de Inglaterra ou a monumental obra de Edward Gibbon sobre a Roma Antiga que acompanharam e formaram o soldado (e jornalista) Winston.
Ler esses primeiros textos de Churchill é sentir, em cada frase, a cadência e a elegância dos mestres da língua inglesa.
Mas Macaulay ou Gibbon não lhe forneceram só os instrumentos técnicos do "métier". Legaram-lhe, sobretudo, uma visão poderosa e inspiradora sobre a grandeza da civilização ocidental — uma grandeza ancorada na liberdade individual e na dignidade da pessoa humana.
Armado com tais certezas, Churchill teve a oportunidade de as testar. Primeiro, na denúncia solitária da Alemanha nazista na década de 1930. E, depois, no confronto direto com Hitler, fazendo com que os ingleses acreditassem no inacreditável: a possibilidade de resistir — e vencer.
Hoje, quando olhamos para trás, dizemos que a Inglaterra ganhou a guerra com o apoio americano e o incomensurável sacrifício soviético. Verdade.
Mas os ingleses ganharam a guerra porque acreditaram também nas palavras de Churchill. Palavras simples sobre a importância da liberdade, da honra e do sacrifício.
Como disse Isaiah Berlin em retrato magistral, a proeza maior de Churchill não foi política ou militar. Foi ter recrutado a língua e a história inglesas para a frente de combate. Elas foram tão importantes como as armas. Brindo a ele.
E, mais modestamente, brindo a mim, que derrotei a banca sem mudar uma vírgula. Cada um trava as batalhas que merece.

5 comentários:

  1. UM ADENDO:
    Recebi uma mensagem da qual transcrevo um excerto: “li o blog. O texto que transcreves é DOS MELHORES que já li. Conheci um pouco da história do Churchill, da força de suas palavras. E deu também pra refletir sobre a hermética escrita acadêmica – à qual tu continuamente subvertes, com teu jeito intimista, mas profundo, de fazer educação contando histórias.” Acrescento agradecido: Dou-me conta o quanto preciso ler Churchill!

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  2. Muitos dirão que foi fácil para Churchil chegar à posição que alcançou devido ao seu berço de ouro. Mas na realidade tal qual a beleza a fortuna geralmente desestimula o sacrifício. Nosso amigo canhoto, assim como Fidel, Bill Clinton, Bush, Julio Cesar foram seres iluminados e determinados a brilhar. Dizem alguns autores que Churchil apesar de sua excelente oratória sofria de dislexia.

    abraços

    Antonio Jorge

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  3. Limerique

    Churchill homem sagaz e guerreiro
    À pátria deu sua verve por inteiro
    Lágrimas, sangue e suor
    Colocou-o no altar mor
    Reconhecido herói no mundo inteiro.

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  4. Limerique

    Atrás de palavras escondem-se teses
    Que se dizem eruditas catequeses
    Temas tão enigmáticos
    Como bares temáticos
    Enunciados que cheiram a fezes.

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  5. Limerique

    Frases em linguagem emaranhada
    Lembram-nos gostosa macarronada
    Ofuscam nossa mente
    São contraproducentes
    Falam um monte e não dizem nada.

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