sábado, 30 de junho de 2012

30.- DIÁRIO DE BORDO + DICA DE LEITURA.


Ano 6*** Frederico Westphalen/Porto Alegre ***Edição 2159
Esta blogada encerra o primeiro semestre de 2012 e, uma vez mais, é postada a bordo. Há cerca de meia hora deixei Frederico Westphalen rumo a Porto Alegre onde devo chegar por volta das 6h. Minha agenda hoje tem três pontos, dos quais o terceiro: ir ao entardecer na festa do terceiro aniversário do meu querido neto Pedro é muito emocionante. Pela manhã tenho aulas no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do IPA no seminário ’Educação e inclusão.’ Para o compromisso da tarde faço meus leitores parceiros, no convite que está abaixo:

Acerca deste convite: recomendo ler http://norberto-garin.blogspot.com.br/2012/06/o-cafe-ano-02-n-474.html 
Ontem deixei Santo Ângelo, movimentada por um tratoraço — algo que não havia visto ainda , no qual os grandes proprietários reivindicam compensações pelas perdas na última safra. 
O Junior Didonet, que competência fez durante três horas meu translado pela região missioneira gaúcha, presenteou-me, antes da partida com uma visita a imponente catedral angelopolitana, que visitara durante a restauração há uns anos e agora conheci plenamente terminada. 
Hoje é considerada a principal atração turístico-religiosa do estado.
No Programa de Pós-Graduação em Educação da URI, além de sessões de orientação com a Quielen e Camila, coordenei a última sessão do seminário de escrita, quando um excelente texto ‘Argumentação, estilo, composição: Introdução à Escrita Acadêmica’ de Tomaz Tadeu da Silva foi muito aproveitado.
Mas esse espraiamento no ‘diário de bordo’ me alerta que a dica de leitura sabática tem que ter gosto da terra do Rio Grande que me fascinou na manhã de ontem. Não vou discutir aqui como o imprevisto define o que vamos ler. Há diferentes maneiras de como um livro ‘se atravessa’ em nossa história. O da dica de hoje é decorrência de meu histórico retorno há Uruguaiana, depois de mais de 60 anos, que contei aqui em 19 de abril.
Então, o acadêmico do Curso de Ciências Biológicas da Unipampa, Hendney Cardoso Fernandes, um fronteiriço de escol, com muito entusiasmo, presenteou-me, entre a palestra da tarde e da noite, com um livro escrito com gosto e com dor da fronteira, região onde todos nós somos um pouco indígenas e pouco alienígenas.
Estava acertado o Hendney quando, ao entregar-me O grito e outras vozes: retratos de arrabalde, afirmou convicto: ‘este é melhor mimo que senhor pode levar desta sua estância aqui’. O presente foi sumarento, pois me faz viajar a um passado onde me senti um pouco da Terra.
CÂNCIO, Pedro. O grito e outras vozes: retratos de arrabalde. Capa de Bruno Mendes sobre o clássico O Grito, de Edvard Munch. Porto Alegre: Proa. 124 p. 2011. ISBN 978-85-6431-802-1
O autor é um homem com vida nas Letras. Não sou original na apresentação. Busquei, com as muitas informações disponíveis, fazer uma tessitura do narrador que embalou algumas das horas que passei em ônibus desde meu retorno de Uruguaiana em abril.
Pedro Câncio da Silva — Pedro Câncio, na faina literária — nasceu em 05 de janeiro de 1937, em Uruguaiana. Ao chegar a Porto Alegre, em fevereiro de 1964, trazia lembranças da juventude e da vida harmonizada entre as pessoas e a natureza.
Graduou-se em Letras (português, espanhol e grego – língua e suas literaturas), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atuou quase 20 anos foi professor de Língua Portuguesa e Espanhola na rede estadual pública no Ensino Fundamental e Médio e lecionou Língua Espanhola e Literaturas de Língua Espanhola, Prática de Ensino de Espanhol e Estágio Supervisionado de Tradução no Departamento de Línguas Modernas do Instituto de Letras da UFRGS. Em 1995, recebeu título de Cidadão Emérito de Porto Alegre.
Traduziu o livro Lazarillo de Tormes (edição bilíngue) para a Editora Scritta (1992) e é autor do romance Correntezas (Libretos, 2009). Esteve várias vezes na Espanha para estudar.
Quanto à tradução, foi como professor do curso de Tradutor no Departamento de Línguas Modernas da UFRGS que iniciou o seu trabalho nessa área. Atualmente aposentado, dedica-se primordialmente à tradução literária.
Pedro Câncio, que atualmente vive em Porto Alegre, ressalta que as obras que traduziu foram da sua escolha. "As liberdades estão nos objetivos da própria tradução, ao público a que se destina, pois qualquer leitor deve entender sua própria leitura". Para ele, o tradutor deve principalmente "fazer relação entre culturas, relacionar ambientes inscritos tanto no texto de partida como no de chegada". In: www.dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/PedroCanciodaSilva.htm
Relevem-me; Esbaldei-me. Falei do autor. Encantado, me excedi. Sobrou pouco espaço para falar de O grito e outras vozes - Retratos de arrabalde - O livro reúne contos cinco sobre o porto de Uruguaiana antes da construção da Ponte Internacional e três narrativas curtas de contrabando fronteiriço.
Em cada uma das peças preciosas que compõem o livro, o professor de literatura conserva o dom de revelar a terra e a natureza com muita propriedade, transportando seus leitores para lugares e situações impossíveis de viver no presente senão em seus livros. Do esforço de sua mente, o documentário da imaginação aproxima a realidade pela ficção.
Um bom fruir deste ocaso junino a cada uma e cada um. Para amanhã, um convite para curtirmos aqui a inauguração de um feliz hemi-ano novo.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

29.- CRONOS E KAIRÓS



Ano 6*** Santo Ângelo ***Edição 2158
A postagem desta sexta-feira é de Santo Ângelo, onde ontem participei do II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica, que encerra hoje. Pela manhã assisti a excelente oficina “A abordagem de um tema controverso no ensino de Ciências: uma proposta integradora” de um grupo da UFSC e uma sessão plenária com cinco comunicações acerca do que é central no evento: temas controversos. 
À noite, fiz a conferência plenária “A Ciência tem gênero?” para cerca de 1,5 centena de participantes, que receberam a fala com atenção e aplausos. Também autografei vários exemplares de meus livros. A quinta-feira também foi de matar saudades, pois por um tempo fui professor de um mestrado interinstitucional Unisinos/URI de Santo Ângelo. Também, conheci ‘ao vivo’ leitoras e leitores deste blogue. Um alegre jantar de confraternizou encerrou a frutuosa quinta-feira.
No começo desta manhã vou a Frederico Westphalen, percorrendo cerca de 220 km, passando, entre outras cidades, por Ijuí, Panambi e Palmeira das Missões. Hoje encerro o seminário acerca da escrita no Programa de Pós-Graduação em Educação da URI e tenho atividades de orientação. Quase meia-noite retorno à Porto Alegre.
Nesta data, que em priscas eras foi feriado no Rio Grande do Sul e dia santo na ‘Igreja Católica Romana’ uma saudação a todos nominados como Pedro, e de maneira especialíssima ao meu muito querido neto Pedro, filho do André e da Tatiana,  que hoje faz três anos.
Mais de uma vez referi neste blogue duas maneiras de vivermos o tempo regidos por duas divindades Cronos e Kairós. Antecipo que não vou filosofar sobre o tempo, por mais que desejasse ter capacidades para tal. Há dias deliciava-me olhando o verbete tempo em dois dicionários de filosofia. Uma boa pedida, mesmo quando não se tem tempo.
Aliás, já as duas primeiras acepções de tempo, entre cerca de duas dezenas do Priberam, dão margem a filosofares. 1. Série ininterrupta e eterna de instantes; 2. Medida arbitrária da duração das coisas, ensejando boas reflexões acerca da relatividade desta variável em nossa história.
No cotidiano hodierno, é usual termos uma única palavra para significar qualquer situação de vivência de "tempo". Dois exemplos: “O tempo de duração desta viagem é de 55 minutos.” “Não faz muito tempo que ele morreu.”
Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: Chronos e Kairós. A primeira indica tempo cronológico, ou sequencial, o tempo medido ou o tempo cronometrado. O outro é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece, a experiência do momento oportuno. Kairós é usada também em teologia para descrever a forma qualitativa do tempo, o "tempo de Deus", enquanto Cronos é de natureza quantitativa, o "tempo dos homens".
Elegi para ilustrar esta edição acerca do controle do tempo alguns dos ‘relógios de Salvador Dalí’. Parece que não preciso justificar a escolha.
A regência destes dois tempos cabia a dois deuses: Cronos e Kairós. Eis um breve excerto da teogonia grega [Teogonia = genealogia e filiação dos deuses cujo culto constitui o sistema religioso de um povo politeísta].
Na mitologia grega, Chronos ou Khronos (em grego Χρόνος, que significa ‘tempo’; em latim Chronus) era a personificação do tempo. Também era habitual chamar-lhe Eón ou Aión (em grego Αίών).
No mesmo cenário, Kairos(καιρός, “o momento certo” ou “oportuno”) é filho de Chronos. Ao tempo existencial os gregos denominavam Kairos e acreditavam nele para enfrentar ao cruel tirano Chronos. Na filosofia grega e romana é a experiência do momento oportuno. Os pitagóricos lhe chamavam Oportunidade. Kairos é o tempo em potencial, tempo eterno, enquanto que Chronos é a duração de um movimento, uma criação.
Na teologia cristã, em síntese pode-se dizer que Cronos, é o "tempo humano", é medido em anos, dias, horas e suas divisões. Enquanto Kairós descreve "o tempo de Deus", não pode ser medido, pois "para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos como um dia."
Nossa vida cotidiana é marcada por esses dois tempos: enquanto Cronos quantifica, Kairós qualifica. Isso significa que podemos viver o tempo burocrático, cronometrado por horas, prazos determinados, cronogramas, com qualidade, valorizando e quantificando o instante, o momento vivido. Kairós é a ação que qualifica o sentido interior das nossas atividades diárias.
Na sociedade em que vivemos, balizada pelo relógio inexorável de Cronos parece importante dar atenção a momentos qualificados por Kairós, que possibilitarão uma vida plena e feliz. 
A cada uma e cada um: uma sexta-feira com sua passagem medida por Cronos e abençoada por Kairós.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

28.- CIÊNCIA E CRIACIONISMO: MANIFESTO DA SBG.



Ano 6*** Porto Alegre/Santo Ângelo ***Edição 2157
Uma vez mais uma edição postada a bordo. Às 23h deixei Porto Alegre. O destino desta vez é Santo Ângelo, a quase 500 km.
 Na ‘Capital dos Sete Povos das Missões’ nesta quinta-feira participo do II Congresso Internacional de Educação Cientifica e Tecnológica — www.santoangelo.uri.br/ciecitec/ — inaugurado na noite de ontem e promovido com muito esmero pelo Mestrado em Ensino Científico e Tecnológico da URI, campus Santo Ângelo. À noite faço a conferência “A Ciência tem gênero?”. Pretendia falar sobre a capital missioneira, mas assoma algo muito importante.
A seguir a transcrição do MANIFESTO DA SBG SOBRE CIÊNCIA E CRIACIONISMO colhido no sítio oficial da entidade. Trata-se de uma peça de relevante valor e ouso afirmar que mereceria ser estudada na abertura de qualquer curso de História e Filosofia da Ciência.
A Sociedade Brasileira de Genética (SBG) vem a público comunicar que não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas que vêm sendo divulgadas em escolas, universidades e meios de comunicação. O objetivo deste comunicado é esclarecer a sociedade brasileira e evitar prejuízos no médio e longo prazo ao ensino científico e à formação dos jovens no país.
A Ciência contemporânea é a principal responsável por todo o desenvolvimento tecnológico e grande parte da revolução cultural que vive a sociedade mundial. A Biologia do século XXI começou a se fundamentar como uma Ciência experimental bem estabelecida com a publicação das primeiras ideias sobre Evolução Biológica por Charles Darwin e Alfred Wallace, em meados do século XIX. Esta Teoria científica unifica todo o conhecimento biológico atual em suas várias disciplinas das áreas da saúde, ambiente, biotecnologia, etc. Além disso, a Teoria Evolutiva explica, com muitas evidências e dados experimentais, a origem e riqueza da biodiversidade, incluindo as espécies existentes e extintas, de nosso planeta.
Como as Teorias de outras áreas da Ciência, como Física (Gravitação, Relatividade etc) e Química (Modelo Atômico, Princípio da Incerteza etc), a Evolução Biológica está fundamentada no método científico, investigando fenômenos que podem ser medidos e testados experimentalmente. O processo científico é contínuo, incorporando constantemente as novas descobertas e aprofundando o conhecimento humano sobre os seres vivos, a Terra e o Universo. É isso que temos visto acontecer com o estudo da Evolução Biológica nos últimos 150 anos, período no qual uma enorme quantidade de dados confirmou e aprimorou a proposta original de Darwin e Wallace.  No entanto, as perguntas e as causas sobrenaturais não fazem parte do questionamento hipotético e nem das explicações em todas as Ciências experimentais modernas. Por exemplo, a pergunta “Deus existe?” pode ser discutida por filósofos e cientistas (como pessoas com diferentes crenças, opiniões e ideologias), mas não pode ser abordada e respondida pela Ciência.
Frequentemente são divulgados fenômenos que não podem ser explicados por uma Ciência devido a limitações do conhecimento no século XXI, tal como a gravidade no nível atômico, algumas propriedades da molécula da água ou a evolução das primeiras formas de vida há mais de 3,5 bilhões de anos. Para temas como estes, algumas pessoas argumentam com variantes de uma clássica falácia: “se a Ciência não explica, é porque a causa é sobrenatural”. Este argumento é utilizado por inúmeros criacionistas, incluindo os adeptos da Terra Nova, da Terra Antiga e da crença do Design Inteligente. Curiosamente, algumas dessas versões criacionistas se apresentam ao grande público como produto de “estudos científicos avançados”, como se fossem parte da atividade discutida em congressos científicos em diversos países, no Brasil inclusive. Nessas versões, a Teoria Evolutiva é deturpada, como se pouco ou nenhum trabalho científico tivesse sido efetuado desde sua proposta há mais de 150 anos, demonstrando um total desconhecimento dos milhares de resultados e evidências que consolidam essa Teoria. Alguns raros criacionistas são cientistas produtivos em suas áreas específicas de atuação, que não envolvem pesquisas na área da Evolução Biológica. Mas quando abordam o criacionismo, falam de sua crença particular e não das pesquisas que estudam e publicam. Como perguntas e explicações criacionistas não podem ser testadas pelo método científico, estes pesquisadores estão apenas emitindo uma opinião pessoal e subjetiva, motivada geralmente por uma crença religiosa.
Com o objetivo de informar à sociedade, inúmeros cientistas, filósofos e educadores da área biológica têm apresentado várias críticas substantivas às diferentes versões criacionistas, demonstrando seus alicerces na crença e não no questionamento científico, erros elementares e significativas falhas conceituais em sua formulação, a falta de evidências, assim como deturpações dos fatos e métodos científicos. Essas críticas têm sido divulgadas no Brasil e em vários países, sendo que algumas podem ser lidas nos sites da internet indicados abaixo. Reconhecendo que a divulgação destas ideias criacionistas representa uma deterioração na qualidade do ensino de Ciências, a Sociedade Brasileira de Genética (SBG) vem aqui ratificar que a Evolução Biológica por Seleção Natural é imensamente respaldada pelas evidências e experimentações nas áreas de Genética, Biologia Celular, Bioquímica, Genômica, etc. Além disto, reiteramos que, como qualquer outra Teoria científica, a Evolução Biológica tem sido remodelada com a incorporação de várias novas evidências (incluindo da área de Genética), tornando suas hipóteses e explicações mais complexas e robustas a cada ano, desde a primeira publicação de Charles Darwin em 1859.
Esta manifestação da SBG visa comunicar de forma muito clara à Sociedade Brasileira que não existe qualquer respaldo científico para ideias criacionistas (incluindo o Design Inteligente) que têm sido divulgadas em algumas escolas, universidades e meios de comunicação. Entendemos que explicações baseadas na fé e crença religiosa, e no sobrenatural podem ser interessantes e reconfortantes para muitas pessoas, mas não fazem parte do conteúdo da pesquisa ou de disciplinas científicas nas áreas de Biologia, Química, Física etc. Ao lado do respeito à liberdade de crença religiosa, deve ser também observado o respeito à Ciência que tem enfrentado todo tipo de obscurantismo político e religioso, de modo similar às situações vividas por Galileu Galilei e o próprio Charles Darwin. Mesmo com toda a limitação do método científico e dos recursos tecnológicos em cada época, a Ciência alargou o conhecimento humano e o entendimento científico dos mais diversos fenômenos. A SBG reitera os princípios que vem defendendo ao longo de seus 58 anos de existência e reafirma que o ensino da Ciência, em todos os níveis, deve se dedicar à sua finalidade precípua, em respeito ao ditame constitucional da qualidade da educação, sem deixar-se perverter pela pseudociência e pelo obscurantismo político ou religioso.
Alguns criacionistas também utilizam o argumento de que a Ciência brasileira é retrógrada (ou “tupiniquim”, como a chamam), afirmando que o criacionismo é “aceito” no exterior, mas a Ciência é unânime em todos os países sobre este assunto, o que pode ser verificado no final deste documento em vários textos parecidos com este, sancionados por organizações científicas e educacionais de várias partes do mundo.
Concluímos que, embora o criacionismo possa ser abordado como explicações não científicas em disciplinas de religião e de teologia, estas versões criacionistas não podem fazer parte do conteúdo ministrado por disciplinas científicas. Entendemos que o ensino científico de boa qualidade no Brasil e em outros países depende da compreensão da metodologia científica, de suas potencialidades e de suas limitações, além da discussão de evidências e dados experimentais. No entanto, interpretações e ideias pseudocientíficas (criacionismo, astrologia etc.) prejudicam seriamente o Ensino Científico de qualidade e o desenvolvimento do país.
Documentos oficiais divulgados por organizações científicas e educativas:
Resolução da Associação Americana para o Avanço das Ciências (AAAS - EUA)
www.aaas.org/news/releases/2002/1106id2.shtml
Texto oficial da National Academies dos EUA que congrega a Academia Nacional de Ciências (NAS), Academia Nacional dos Engenheiros, Instituto de Medicina e Conselho Nacional de Pesquisas 
http://nationalacademies.org/evolution/IntelligentDesign.html
Centro Nacional para Educação Científica (NCSE - EUA)
http://ncse.com/creationism
Academia Australiana de Ciências (Austrália)
http://www.science.org.au/policy/creation.html
Centro Britânico para Educação Científica (Reino Unido) – destacando a estratégia criacionista na imprensa e escolas, tentando deturpar o ensino científico 
http://www.bcseweb.org.uk
Sociedade Internacional sobre Ciência e Religião (Reino Unido) 
http://www.issr.org.uk/issr-statements/the-concept-of-intelligent-design
Ensinando Ciência – artigo da UNESCO sobre importância dos princípios e conceitos científicos na educação
http://www.ibe.unesco.org/fileadmin/user_upload/Publications/Educational_Practices/EdPractices_17po.pdf

quarta-feira, 27 de junho de 2012

27.- MORREU GEORGE, O SOLITÁRIO



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2156
Havia um assunto pautado para quarta-feira: Cronos e Kairós, uma reflexão acerca da maneira como somos geridos por estes dois deuses. Esta fica postergada para próxima sexta-feira, pois algo se sobrepôs.
Só na tarde de ontem, recebi uma mensagem: Muy atento Profesor Chassot, con pena le participo esta noticia: el solitario George, el último de su especie en las Islas Galápagos, falleció este domingo. Un saludo cordial, MS
Agradeço a Michel Salinas, leitor bissexto deste blogue, que me alertou para notícia; esta — que me colheu de surpresa — já estava presente na imprensa brasileira desde a noite de domingo. O assunto esteve presente na aula de História e Filosofia da Ciência, quando coincidentemente, tínhamos na noite de ontem a terceira sessão acerca da revolução darwiniana. Praticamente todos os alunos já conheciam as imagens que levei.
O luto invade Galápagos. A maioria das pessoas está chocada com a morte de George Solitário, com 100 anos, no último domingo. O apelido Solitário se deve a negação de intercurso sexual às continuadas tentativas de acasalamento do tartaruga George com fêmeas selecionadas na tentativa de perpetuação da espécie.
A tartaruga-das-galápagos-de-pinta (Chelonoidis nigra abingdoni) é uma subespécie extinta de tartaruga terrestre endêmica da ilha de Pinta, nas ilhas Galápago.
O último indivíduo conhecido foi um macho denominado "Lonesome George" ("George Solitário", em português) que morreu no dia 24 de junho de 2012. Em seus últimos anos, foi considerado a criatura mais rara do mundo, e é tido como um forte símbolo para os esforços de conservação ambiental nas Galápagos e internacionalmente.
George foi visto pela primeira vez na ilha de Pinta em 1 de dezembro de 1971 pelo biólogo americano Joseph Vagvolgyi. A vegetação da ilha havia sido dizimada por cabras selvagens, e a população indígena de C. n. abingdoni foi reduzida a um único indivíduo. Remanejado, por sua própria segurança, para a Estação Científica Charles Darwin, George compartilhou o mesmo ambiente com duas fêmeas de subespécies diferentes, porém embora o acasalamento tenha ocorrido e ovos tenham sido produzidos, nenhum foi chocado com sucesso.
Estimava-se que George tinha entre 60 e 90 anos de idade, e estava gozando de boa saúde. Um esforço mais intenso para exterminar as cabras introduzidas na ilha foi terminado, e a vegetação de Pinta está começando a retornar a seu estado anterior.
A presença de tartarugas descendentes de espécies mistas em torno do Vulcão Lobo, na vizinha ilha Isabela, sugere a presença recente de pelo menos um indivíduo da tartaruga-de-pinta em torno do vulcão. Um possível candidato a "puro-sangue" pinta, do sexo masculino e chamado de "Tony", vive num zoológico de Praga.
Existe atualmente uma recompensa de 10 000 dólares para a descoberta de uma fêmea de tartaruga-das-galápagos-de-pinta.
Em 24 de junho de 2012, Edwin Naula, diretor do Parque Nacional das Galápagos, anunciou que "George Solitário" tinha sido encontrado morto. Suspeita-se que as causas da morte tenham sido naturais, devido a idade avançada, mas uma necropsia divulgada na tarde de ontem, descartou a primeira hipótese de acidente cardíaco, confirmando-se morte natural.
Morte de George significa a perda da segunda espécie de 15 existentes nas diferentes ilhas. As tartarugas gigantes podem atingir até 1,50 metros de comprimento e é a maioria da população vive nas ilhas de Isabela e Santa Cruz. Nesta última, no topo, se podem ver colônias de vários indivíduos, tais como pastores em um potreiro.
Abaixo algumas informações de George e características morfológicas de outras espécies de tartarugas e o habitat das mesmas nas diversas ilhas do arquipélago. Fonte: http://www.eluniverso.com/2012/06/26/1/1447/muerto-george-13-especies-tortugas-gigantes-hay-islas.html


terça-feira, 26 de junho de 2012

26.- KERB: O QUE ISSO?



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2155
Na edição do último sábado escrevi: “Como vivi uma parte significativa de minha vida em Montenegro, onde o orago é São João Batista e a cidade é inserida em região marcada pela colonização alemã, a data era celebrada com os kerbes (algo que mereceria uma blogada especial) os bailes e as cucas me atiçam saudades”.
Cumpro hoje o prometido então. Pode parecer pouco pertinente, trazer em uma terça-feira, um assunto de folguedos. Há uma justificativa natural, que apresento adiante.
 No sul do Brasil, é do cotidiano, referir um encontro, usualmente uma festa família, que dure mais de um dia como: “parece um kerb”. Na minha infância esperávamos o ano inteiro pelo Kerb de Bom Principio, na primeira semana de fevereiro. O referencial kerb muda de significado na minha juventude quando nos referíamos a kerb de Harmonia, de Tupandi, de Brochier, de Maratá, de Cafundó... então era o local onde íamos a bailes partindo ‘com a turma de amigos’ desde Montenegro.
Como esta segunda referência era apenas ir a um baile, meus comentários hão de referir as celebrações familiares de minha meninice, aonde íamos a Bom Princípio terra natal de minha mãe.  Claro, que os rituais de cada localidade eram semelhantes, mesmo que, na segunda situação, só desfrutávamos os bailes. É preciso dizer que ainda nesse século 21 estas comemorações continuam sendo praticadas em muitos vilarejos, hoje já alçados a cidades.
Trago um logo do Kerb de Maravilha, SC, onde este blogue tem uma leitora diária. A Elzira nestes dias está em Saint Paul, nos Estados Unidos, avonando a Mikeila, que acaba de chegar para habitar nosso Planeta.
Assim, ainda hoje, ao falarmos em Kerb nos recordamos imediatamente às festividades germânicas do sul do Brasil. É bastante comum no interior do Rio Grande do Sul ouvirmos a expressão "Baile de Kerb". Para entendermos um pouco sobre este festejo, vale observar o que significa a palavra Kerb.
"Die Kerb" ("Die" é o artigo  "A") é a designação regional dos estados alemães do Hessen e da Renânia Palatinado onde é corrente o vocábulo Kirchweih, que quer dizer "Inauguração da Igreja" como explica Denis Gerson Simões em www.portal25.com/index.php?a=12&h=deutsch/fest/fes006&l=1. A autora conecta Kerb com Kirmes, que tem origem na palavra Kirmesse e esta, por sua vez, de Kirchmesse.
Se fossemos fazer uma tradução literal, Kirchmesse quer dizer "Missa da Igreja". A Festa da Kirmes é a Kirmesfest, ou em uma tradução um pouco forçada seria a "Festa da Missa da Igreja". A designação mais próxima do português é sonoramente parecida com Kirchmesse, que é a "Quermesse".
Vale assinalar que a "Quermesse Alemã" tem suas características próprias. É comemorada na data da inauguração solene do templo ou em algumas localidades esta festa já era feita anualmente por ocasião da celebração do padroeiro da paróquia. Por exemplo, Bom Princípio, que referi antes tem como padroeira Nossa Senhora da Purificação (em 2 de fevereiro quando se cumpre a quarentena do parto de Maria em 25 de dezembro).
O Kerb era uma comemoração familiar e da localidade. Estas se preparavam com semanas de antecedência, limpando suas casas e fazendo bolos. Na data, todos iam para o Kerb utilizando trajes festivos. A roupa nova que ganhávamos no Natal só era estreada no Kerb de Bom Princípio.
Nos antigos costumes dos imigrantes alemães e descendentes, o Kerb era realizada realmente com base na data da inauguração da igreja local. Esta comemoração iniciava no domingo e encerrava na terça-feira, durando 3 dias (está justificado porque num ‘dia útil’ traga um assunto de folgaz). O todo poderoso vigário da localidade proibia bailes aos sábados, para que os fiéis não faltassem à missa dominical. Lembro ainda que, na manhã de domingo ‘a orquestra contratada para animar os bailes’ estava na porta da igreja para conduzir os participantes em cortejo ao salão da comunidade para começar o primeiro baile, este matinal.
As famílias enfeitavam as casas e utilizavam roupas festivas. Nestes dias ocorriam bailes locais e visitas às casas. Com muita hospitalidade, a comunidade e familiares eram recebidos nos lares com fartura de alimentos e bebidas.
Em algumas localidades havia o costume de se pregar com alfinetes fitas coloridas na lapela da roupa dos rapazes, que atestava que havia contribuído financeiramente para o pagamento dos músicos. Diz a tradição que o rapaz deveria receber uma fita de cor diferente por noite de Kerb, sendo um ponto positivo estar na terça-feira à noite com as três fitas na lapela.
Na região sul do Brasil o Kerb já se incorporou como atividade característica das comunidades germânicas. Mesmo havendo a possibilidade de traduzir para "Quermesse", esta festa germânica muito se distingue da quermesse de origem lusitana e hispânica, muito comum no território latino americano. Esta palavra alemã já tem espaço próprio no vocabulário sulino.
Mas assim como na Alemanha, o Kerb brasileiro já recebeu variações, ou por vezes se aplicou no Brasil as variações alemãs. Muitos utilizam como base a data da colocação da pedra fundamental da igreja. Outros a data do Santo padroeiro. Outra variação é a utilização da data de inauguração de alguma coisa ou emancipação da cidade. Além da questão do calendário, muitos condensaram as comemorações de 3 dias em 1, ou prolongaram durante semanas como festa oficial do municipal (estilo às Oktoberfest). Para muitos o simples fato de ser uma festividade germânica (ou parecida) já é motivo de se utilizar o nome de Kerb. Cada localidade passou a ter particularidades em suas atividades.
Assim expliquei um pouco do folclore sulino, mostrando algo do Kerb. Foi bom ser um pouco memorista. Uma muito boa terça-feira — que não é mais o terceiro dia de Kerb — para cada uma e cada um.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

25.- UM POLÍTICO (NO MÍNIMO) DIFERENTE



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2154
E já vivemos a semana que encerra o primeiro semestre de 2012. Cronos é inexorável e não nos ouve na canção do cantante mexicano Miguel Aceves Mejías: ¿Porque non paras reloj? Ah, usualmente Cairós é mais generoso na gestão do tempo vivido e não apenas do tempo medido.
Mas sonhos a parte, vale anunciar que começo uma semana muito densa de fazeres acadêmicos, mas nestes a edição diária do blogue — com pauta, às vezes, magra — é uma das minhas tarefas inarredáveis. Em se tratando de pauta, a contribuição dos leitores (com sugestões de assuntos e/ou textos) é inestimável. A sugestão de hoje foi enviada pelo paleontólogo argentino Mario Alberto Cozzuol, da UFMG, muito conhecido dos leitores aqui, por ser um polemista de alto padrão na defesa intransigente do não-fundamentalismo na Ciência, na Religião, na Política...
A sugestão do Mario é encontrada se colocarmos em um buscador: “O presidente mais pobre do mundo” é oportuna quando a América Latina parece viver uma séria violação de princípios fundamentais da democracia. A propósito: só hoje me dei conta de notícia que lera ontem: Qual a razão de ser o Vaticano o primeiro país que reconheceu o governo surgido do golpe a Lugo, ex-bispo católico romano? Não seria uma ‘vingancinha’ a um tido como apóstata...  
O resultado da busca é surpreendente. Mais de uma dezena de blogues do Brasil e de Portugal já assuntaram o tema, com texto obtido de agência noticiosa. A fonte que usei é www.pragmatismopolitico.com.br de 6 de junho. Assim, hoje, este blogue não é nada original.
Presidente mais pobre do mundo ainda anda de fusca e doa 90% do salário Como prometido antes da eleição, o presidente do Uruguai José Pepe Mujica ainda mora em sua pequena fazenda em Rincon del Cerro, nos arredores de Montevidéu. A moradia não poderia deixar de ser modesta, já que o dirigente acaba de ser apontado como o presidente mais pobre do mundo.
Pepe Mujica em seu fusca. O ‘presidente mais pobre’ do mundo ainda doa 90% do seu salário Pepe recebe 12.500 dólares mensais por seu trabalho à frente do país, mas doa 90% de seu salário, ou seja, vive com 1.250 dólares ou 2.538 reais ou ainda 25.824 pesos uruguaios. O restante do dinheiro é distribuído entre pequenas empresas e ONGs que trabalham com habitação.
“Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos”, diz o presidente.
Aos 77 anos, Mujica vive de forma simples, usando as mesmas roupas e desfrutando a companhia dos mesmos amigos de antes de chegar ao poder.
Além de sua casa, seu único patrimônio é um velho Volkswagen cor celeste avaliado em pouco mais de mil dólares (na foto). Como transporte oficial, usa apenas um Chevrolet Corsa. Sua esposa, a senadora Lucía Topolansky também doa a maior parte de seus rendimentos.
Sem contas bancárias ou dívidas, Mujica disse ao jornal El Mundo, da Espanha, que espera concluir seu mandato para descansar sossegado em Rincon del Cerro.
Mujica também oferece residência oficial para abrigar moradores de rua O presidente do Uruguai, José Mujica, ofereceu em 31 de maio, sua residência oficial para abrigar moradores de rua durante o próximo inverno caso faltem vagas em abrigos oficiais do governo.
Ele pediu que fosse feito um relatório listando os edifícios públicos disponíveis para serem utilizados pelos desabrigados e, após os resultados, avaliará se há a necessidade da concessão da sede da Presidência. De acordo com a revista semanal Búsqueda, Mujica disponibilizou ainda o palácio de Suarez y Reyes, prédio inabitado onde ocorrem apenas reuniões de governo.
No último dia 24 de maio, uma moradora de rua e seu filho foram instalados na residência presidencial por sugestão de Mujica ao Ministério de Desenvolvimento Social. Logo após o convite, contudo, encontraram outro local para se alojar.
O presidente não mora em sua residência oficial, pois escolheu viver em seu sítio, localizado em uma área de classe média nas redondezas de Montevidéu. Nem mesmo seu antecessor, o ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-2010), ocupou o palácio durante seu mandato. Ambos representam os dois primeiros governos marcadamente progressistas da história do Uruguai.
No inverno do ano passado, pelo menos cinco moradores de rua morreram por hipotermia. O fato causou uma crise no governo e acarretou na destituição da ministra de Desenvolvimento Social, Ana Vignoli.
Moradias populares Em julho de 2011, Mujica assinou a venda da residência presidencial de veraneio, localizada em Punta del Este, principal balneário turístico do país, para o banco estatal República. A operação rendeu ao governo 2,7 milhões dólares e abrirá espaço para escritórios e um espaço cultural. A venda dessa residência estava nos planos de Mujica desde que assumiu a Presidência em março de 2010. Com os fundos amealhados, será incrementado o orçamento do Plano Juntos de Moradias. Também é planejado o financiamento de uma escola agrária na região, onde jovens de baixa renda poderão ter acesso a cursos técnicos.
Há um vídeo divulgado no Youtube mostra Mujica — em 1º de março completou um ano de governo — em seu fusca. Assista:www.youtube.com/watch?v=LO9aiXRSMi4&feature=player_embedded
Uma blogada como esta, para a qual alguns franzem o nariz, acusando-a de politiqueira, há um salutar entusiasmo para começar a semana. Que ela seja frutuosa para cada uma e cada um.

domingo, 24 de junho de 2012

24.- UMA DOMINGUEIRA QUE (QUASE) DESPEDE JUNHO



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2153
Domingo aditado a um sábado em que todos os jornais trazem ressaibos de uma notícia amargosa: a defenestração fulminante do presidente Lugo. O contraponto é sintomático: os fazendeiros paraguaios, em festa pela deposição, suspendem tratoraço.
Mas, mesmo com decepções políticas, domingo sabe a amenidades: hoje é dia de são João, talvez dos santos mais populares (e lendários) no calendário da cristandade.
Está presente, também, na Igreja ortodoxa, no judaísmo, islamismo, espiritismo (reencarnação se Elias), umbanda (manifestação de Xangô), na igreja Batista — a teoria de sucessão apostólica ou JJJ (João - Jordão - Jerusalém) postula que os batistas atuais descendem de João Batista e que a igreja continuou através de uma sucessão de igrejas (ou grupos) que batizavam apenas adultos.
João parece ser o nome mais usado pelos papas: Este nome chegou a João 23 (acredito que seja o recordista), sem contar os antipapas com esse nome e a papisa Joana e combinações como João Paulo.
No Brasil está muito presente nos topônimos: Não consegui contar uma lista que poderia começar com São João do Arraial no Piauí e terminar com São João da Urtiga no Rio Grande do Sul. Isto sem incluir vivissecções como São João do Monte Negro de meus avós para minha Montenegro. Estas aconteceram em lugares como a régia e simpática São João Del Rey.
A Eco+20 terminou... Trago uma charge que diz um pouco de certa frustração, mesmo que — ao fim e ao cabo —eu acredite que houve ganhos.
Concluo esta domingueira — com votos de um muito feliz ultimo domingo junino a cada uma e cada um — lembrando a possíveis interessado que nesta sexta-feira encerram-se as inscrições a seleção a dois mestrados onde sou professor. O folder com informações faz a clausura da edição.

sábado, 23 de junho de 2012


23.- UM CONVITE, MUITAS EVOCAÇÕES E DICA DE LEITURA.
Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2152
Mais uma blogada sabatina. Ela se faz numa data prenhe de evocações. Hoje é vigília de são João. Abro com um convite para meus leitores das redondezas.
Vivemos hoje o dia da noite maior do ano no Hemisfério Sul. A partir de amanhã, porque os deuses aceitaram nossas festas, conseguimos ‘amarrar o sol’ e este volta a se aproximar da terra e começará a diminuir a noite (= escurece mais tarde e clareia mais cedo).
Quisera trazer aqui evocações de minha infância misturadas com rituais de fertilidade, que marcavam os solstícios de inverno e de verão, presentes em culturas como a dos incas e assimiladas sincreticamente pela Igreja cristã para assinalar as festas natalinas e juninas. Talvez mais bem posto seria dizer: apropriadas pela Igreja.
Na minha infância e adolescência era a noite das fogueiras e a noite de soltar balões. Um e outro folguedo junino estão quase em extinção, pelo menos na geografia sulina.
Em 2005, quando estive em Jequié, na Bahia e vivi, pela primeira vez, a tradição de festas juninas do Nordeste, surpreendeu-me ver pirâmides de lenha armadas para serem transformadas em fogueiras, vendidas nas ruas como aqui se oferece pinheirinhos na época de natal. Deveria louvar aqui o quase abandono destas três práticas antiecológicas: soltar balões, fazer fogueiras e cortar pinheirinhos (mesmo que se alegue que estes são plantados para corte natalino).
Como vivi uma parte significativa de minha vida em Montenegro, onde o orago é São João Batista e a cidade é inserida em região marcada pela colonização alemã, a data era celebrada com os kerbes (algo que mereceria uma blogada especial) os bailes e as cucas me atiçam saudades.
Alertado que hoje é sábado, devo acautelar-me para não espraiar-me em diletantes divagações. Cumpro assim a agenda sabática e trago a usual dica de leitura.
Esta, nesta semana, que tanto nos envolvemos no cuidado do planeta quer ser preito de gratidão àquele que no nosso século 20, de maneira mais veemente e original nos chamou atenção à necessidade de cuidar do Planeta: James Lovelock e a dica de leitura é sua autobiografia.
LOVELOCK, James. Homenaje a Gaia: La vida de un científico independendiente. [Titulo original: Homage to Gaia. The life of an Independent Scientist. Tradução desta edição Aristu José Luis Gil] Pamplona, España, Laetoli/México, DF, México: Oceano. 549 p, 230x159x028mm. 2005. ISBN 070-777-124-0
James Ephraim Lovelock (Hertfordshire, 26 de julho de 1919) é um pesquisador independente e ambientalista que vive na Cornualha (oeste da Inglaterra). A hipótese de Gaia foi sugerida por Lovelock, com base nos estudos de Lynn Margulis, para explicar o comportamento sistêmico do planeta Terra. A Terra é vista, nesta teoria, como um superorganismo.
Após estudar química e matemática na University of Manchester obteve um cargo no Medical Research Council do Institute for Medical Research em Londres. Em 1948 obteve um Ph.D. em medicina no London School of Hygiene and Tropical Medicine.
Lovelock inventou muitos instrumentos científicos utilizados pela NASA para análise de atmosferas extraterrestres e superfície de planetas. Para Lovelock o contraste entre o equilíbrio estático da atmosfera de marte (muito dióxido de carbono com pouquíssimo oxigênio, metano e hidrogênio) e a mistura dinâmica da atmosfera da Terra é forte indicio da ausência de vida naquele planeta.
Em 1958 inventou o Detector de Captura de Elétrons, que auxiliou nas descobertas sobre a persistência do CFC e seu papel no empobrecimento da camada de ozônio.
Abro o comentário acerca da obra trazendo o que está na quarta capa: “James Lovelock tem mais de 40 anos dedicados ao cultivo da ciência desde sua casa em uma aldeia inglesa. Sua famosa teoria Gaia mudou a nossa maneira de pensar sobre a terra e estabeleceu as bases do movimento verde. Este cientista incomum narra neste livro sua infância, aprendizagem e desenvolvimento de suas ideias numerosas e influentes, especialmente sua revolucionária hipótese Gaia: a visão da Terra (Gaia era o nome da deusa grega da Terra), como a vida, que altera e regula a si mesmo. Esta autobiografia é o testemunho pessoal de um homem que levou uma vida extraordinária e é, sem dúvida, um dos principais cientistas, criativos, influentes e controversos do nosso tempo.”
 A edição que possuo é a que está no box. Não conheço uma versão como Homenagem a Gaia. A vida de um cientista independente.
Esta que apresento hoje é uma extraordinária autobiografia, publicada pela Oxford University Press em 2000 (Homenagem a Gaia), o grande cientista Inglês James Lovelock, particularmente conhecido pela sua hipótese de Gaia. Seu trabalho é a base da criação do movimento ambiental e sua hipótese de Gaia famoso mudou a maneira como pensamos sobre o nosso planeta. Este livro é um testemunho pessoal caloroso de um homem que levou uma vida extraordinária. Lovelock é um dos principais pensadores, criativos e influentes do século 20.
Eis algumas referências da imprensa: Não há autobiografia de um cientista moderno para competir com este (The Observer). Um livro lúcido, inteligente e, muitas vezes muito bem humorado ... Lovelock escreve tão bem como sempre (New Statesman). Um livro que qualquer pessoa interessada em ciência deve ler (The Times Higher Education Supplement).
A frase que está aditada à foto do nonagenário cientista, ainda em ação, que muito já usei em palestras, é a ratificação da recomendação que faço neste sábado junino. Espero que este seja agradável a cada uma e cada um.