segunda-feira, 25 de junho de 2012

25.- UM POLÍTICO (NO MÍNIMO) DIFERENTE



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2154
E já vivemos a semana que encerra o primeiro semestre de 2012. Cronos é inexorável e não nos ouve na canção do cantante mexicano Miguel Aceves Mejías: ¿Porque non paras reloj? Ah, usualmente Cairós é mais generoso na gestão do tempo vivido e não apenas do tempo medido.
Mas sonhos a parte, vale anunciar que começo uma semana muito densa de fazeres acadêmicos, mas nestes a edição diária do blogue — com pauta, às vezes, magra — é uma das minhas tarefas inarredáveis. Em se tratando de pauta, a contribuição dos leitores (com sugestões de assuntos e/ou textos) é inestimável. A sugestão de hoje foi enviada pelo paleontólogo argentino Mario Alberto Cozzuol, da UFMG, muito conhecido dos leitores aqui, por ser um polemista de alto padrão na defesa intransigente do não-fundamentalismo na Ciência, na Religião, na Política...
A sugestão do Mario é encontrada se colocarmos em um buscador: “O presidente mais pobre do mundo” é oportuna quando a América Latina parece viver uma séria violação de princípios fundamentais da democracia. A propósito: só hoje me dei conta de notícia que lera ontem: Qual a razão de ser o Vaticano o primeiro país que reconheceu o governo surgido do golpe a Lugo, ex-bispo católico romano? Não seria uma ‘vingancinha’ a um tido como apóstata...  
O resultado da busca é surpreendente. Mais de uma dezena de blogues do Brasil e de Portugal já assuntaram o tema, com texto obtido de agência noticiosa. A fonte que usei é www.pragmatismopolitico.com.br de 6 de junho. Assim, hoje, este blogue não é nada original.
Presidente mais pobre do mundo ainda anda de fusca e doa 90% do salário Como prometido antes da eleição, o presidente do Uruguai José Pepe Mujica ainda mora em sua pequena fazenda em Rincon del Cerro, nos arredores de Montevidéu. A moradia não poderia deixar de ser modesta, já que o dirigente acaba de ser apontado como o presidente mais pobre do mundo.
Pepe Mujica em seu fusca. O ‘presidente mais pobre’ do mundo ainda doa 90% do seu salário Pepe recebe 12.500 dólares mensais por seu trabalho à frente do país, mas doa 90% de seu salário, ou seja, vive com 1.250 dólares ou 2.538 reais ou ainda 25.824 pesos uruguaios. O restante do dinheiro é distribuído entre pequenas empresas e ONGs que trabalham com habitação.
“Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos”, diz o presidente.
Aos 77 anos, Mujica vive de forma simples, usando as mesmas roupas e desfrutando a companhia dos mesmos amigos de antes de chegar ao poder.
Além de sua casa, seu único patrimônio é um velho Volkswagen cor celeste avaliado em pouco mais de mil dólares (na foto). Como transporte oficial, usa apenas um Chevrolet Corsa. Sua esposa, a senadora Lucía Topolansky também doa a maior parte de seus rendimentos.
Sem contas bancárias ou dívidas, Mujica disse ao jornal El Mundo, da Espanha, que espera concluir seu mandato para descansar sossegado em Rincon del Cerro.
Mujica também oferece residência oficial para abrigar moradores de rua O presidente do Uruguai, José Mujica, ofereceu em 31 de maio, sua residência oficial para abrigar moradores de rua durante o próximo inverno caso faltem vagas em abrigos oficiais do governo.
Ele pediu que fosse feito um relatório listando os edifícios públicos disponíveis para serem utilizados pelos desabrigados e, após os resultados, avaliará se há a necessidade da concessão da sede da Presidência. De acordo com a revista semanal Búsqueda, Mujica disponibilizou ainda o palácio de Suarez y Reyes, prédio inabitado onde ocorrem apenas reuniões de governo.
No último dia 24 de maio, uma moradora de rua e seu filho foram instalados na residência presidencial por sugestão de Mujica ao Ministério de Desenvolvimento Social. Logo após o convite, contudo, encontraram outro local para se alojar.
O presidente não mora em sua residência oficial, pois escolheu viver em seu sítio, localizado em uma área de classe média nas redondezas de Montevidéu. Nem mesmo seu antecessor, o ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-2010), ocupou o palácio durante seu mandato. Ambos representam os dois primeiros governos marcadamente progressistas da história do Uruguai.
No inverno do ano passado, pelo menos cinco moradores de rua morreram por hipotermia. O fato causou uma crise no governo e acarretou na destituição da ministra de Desenvolvimento Social, Ana Vignoli.
Moradias populares Em julho de 2011, Mujica assinou a venda da residência presidencial de veraneio, localizada em Punta del Este, principal balneário turístico do país, para o banco estatal República. A operação rendeu ao governo 2,7 milhões dólares e abrirá espaço para escritórios e um espaço cultural. A venda dessa residência estava nos planos de Mujica desde que assumiu a Presidência em março de 2010. Com os fundos amealhados, será incrementado o orçamento do Plano Juntos de Moradias. Também é planejado o financiamento de uma escola agrária na região, onde jovens de baixa renda poderão ter acesso a cursos técnicos.
Há um vídeo divulgado no Youtube mostra Mujica — em 1º de março completou um ano de governo — em seu fusca. Assista:www.youtube.com/watch?v=LO9aiXRSMi4&feature=player_embedded
Uma blogada como esta, para a qual alguns franzem o nariz, acusando-a de politiqueira, há um salutar entusiasmo para começar a semana. Que ela seja frutuosa para cada uma e cada um.

8 comentários:

  1. Caro Attico,
    fico feliz que a sugestão teve mérito. Estou espantado/feliz de saber que é possível um mandatário ser, de fato, um mandatário e não o dono do poder.
    Como sou meio desconfiado, estou torcendo porque essas atitudes não sejam apenas pose ou propaganda.
    O discurso dele na Rio+20 voltou a me deixar feliz. Foi, no meu ver, o discurso mais coerente e claro dos que ouvi nessa reunião. Isso me deu mais esperanças de que ele é realmente o que ele mostra.
    Eu encontrei o discurso, em português, aqui:
    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=357799850952938&set=a.353370591395864.77882.272904466109144&type=1

    Um grade abraço!

    Mario

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  2. Caro Chassot,
    o Presidente do Uruguai é assim mesmo, um homem simples mas muito preocupado em encaminhar as questões daquele país, que por muitos e muitos anos foi governado por gente que não tinha a intenção de resolver as questões sociais mais profundas. É um belíssimo exemplo de coerência política.
    Um abraço,

    Garin

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  3. Ainda temos pelo mundo ícones como este que deveriam servir de exemplo para o resto da humanidade. Infelizmente além de raros, não fazem escola.

    Antonio Jorge

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  4. Muito estimados Mario, Garin e Antônio Jorge:
    Obrigado pelos oportunos comentários de vocês. É preciso fazer ciência, que após a postagem acrescentei esta questão:
    A propósito: só hoje me dei conta de notícia que lera ontem: Qual a razão de ser o Vaticano o primeiro país que reconheceu o governo surgido do golpe a Lugo, ex-bispo católico romano? Não seria uma ‘vingancinha’ a um tido como apóstata...
    Obrigado pela compreensão,
    attico chassot

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  5. Mestre!

    Excelente blogada! Certamente começamos a semana refletindo que sim, existem políticos que pensam na sociedade em primeiro lugar. É tão raro ver isso (muito raro mesmo!) que sempre gera certa desconfiança, reflexo da política que vivenciamos aqui. Abraços da sua orientanda Camila

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  6. Caro Chassot,
    Mujica e sua conduta pública não devia nem ser notícia, o que ele faz teria que ser norma entre nossos políticos. Ainda agora o congresso (assim com minúscula mesmo) aprovou que não existe teto salarial para o funcionalismo e, para isso, pretende mudar a Constituição em próprio benefício e de seus áulicos. Fico triste e sinto vergonha de ser brasileiro em certas horas. Abraços mujicanos, JAIR.

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  7. Aproveitando o acréscimo ao comentário feito pelo mestre, gostaria de apimentar as reflexões em torno do nosso Vaticano. Em sua trilogia "O poderoso Chefão) Francis Ford Coppola em adaptação para o cinema do livro de Mario Puzo, coloca o personagem principal, chefão poderoso da máfia, em determinado momento sendo julgado em envolvimento com uma organização criminosa e mafiosa que seria a "imobiliare" empresa gigantesca e poderosa que administraria os bens da igreja Católica pelo mundo.
    Há mais ou menos dois ou tres meses atrás o jornal Nacional deu uma breve notícia que denunciava um envolvimento criminoso do banco Santander com a "Opus Dei" em moldes similares ao relatado na obra de ficção anteriormente citada.
    Curiosamente nada se ouviu falar posteriormente.

    Antonio Jorge

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  8. Embora o comportamento dos políticos brasileiros seja "extrema", o mesmo acontece em quase todos os outros países. Recentemente um amigo dos EUA postou no Facebook comentários sobre benefícios abusivos dos parlamentares estadunidenses.
    Mujica é um excepção no mundo todo. E deve ser um exemplo. Me fez lembrar dos senadores da antiga Roma, da época da republica. Não tinhas salários, viviam do trabalho nas suas fazendas e não era infrequente que, ao serem convocados o mensageiro os encontra-se levando o arado nos seus campos.
    Hoje, ser político é profissão. O conceito de mandatário e representante esta completamente deturpado. As sociedades viraram reféns dos seus ditos representantes, dos partidos que nem mais sequer respondem a ideologias ou, ao menos, alguma diretriz coerente. E nos conformamos com isso.
    Ver Mujica é uma indicação de que existe saída. Que é possível, sem ferir a democracia, sem golpes, sem revoluções que, normalmente, acabam repetindo o que combatiam, pode se virar o jogo.
    No mínimo, de deu esperanças...

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