sexta-feira, 11 de maio de 2012

11.- ¿COMO ESCREVO?



Ano 6*** Porto Alegre/Frederico Westphalen ***Edição 2109
Esta é mais uma edição postada a bordo. Faz um pouco mais de uma hora que deixei Porto Alegre. Às 05h, vencidos 450 quilômetros, devo estar chegando a Frederico Westphalen.
Hoje, no Programa de Pós-Graduação em Educação da URI tenho duas atividades: a) participo de Seminário aberto de divulgação do Mestrado em Educação a candidatos para seleção da turma de 2012; b) ocorre a terceira sessão do seminário: ‘escrever é preciso e é precioso’. Em momento haverá uma interface das duas atividades, quando os mestrandos do seminário da escrita participarão da primeira atividade, para realizar, como atividade de campo, registros etnográficos em diferentes recortes.
A promessa feita ao final da edição de ontem — comentar acerca dos diversos óculos para a leitura do mundo natural — mesmo com frutuosos comentários de leitores à edição, não terá sequência hoje. Quero trazer uma ‘palhinha’ acerca da escrita.
Uma das atividades do seminário é a busca de respostas a três interrogações: O que escrevo? Como escrevo? Por que escrevo? A primeira é de fácil resposta. A segunda, que quer ser central na edição de hoje, deseja trazer algo de como iniciar um texto. A terceira, mais complexa, pois pode envolver incursões psicanalíticas fica para outra edição.
Como escrevo? Tenho um recurso para vencer a assim chamada “síndrome da folha em branco” ou, para usar uma metáfora mais adequada à pós-modernidade, “o pavor ante uma tela por desvirginar”. Nessas situações, socorro-me de algo que tem a ver com minha formação em Química. Quando se tem uma solução salina que contenha eletrólitos que, por diferentes parâmetros físico-químicos, cristalizam com dificuldade, usa-se um gérmen de cristalização. Coloca-se na solução, amarrado com um tênue fio de linha, um pequeno cristal e desencadeia-se, então, a cristalização que estava inibida e, em redor do cristal semente, as diferentes espécies iônicas vão se arranjar produzindo, não raro, lindos cristais.
Quando tenho texto para redigir, geralmente me dou conta de que já escrevi algo sobre o assunto. Procuro em meus arquivos um pequeno excerto, então, que vai funcionar como gérmen de cristalização. Nessa operação, o Google Desktop é um excelente parceiro - sem me dar conta, chamo um buscador internético de parceiro, como se fosse um auxiliar de pesquisa -, pois me localiza até mensagens eletrônicas pertinentes. São os robôs do Google fazendo aquilo que em outros tempos faziam os bolsistas que auxiliavam os pesquisadores. Sem falar nas pesquisas realizadas por esses maravilhosos robôs no Google Acadêmico.
Não sei quantos dos leitores conheceram uma prática de nossas avós, que a biopirataria das multinacionais que dominam o mercado dos galináceos sequestrou de nossos cotidianos, de usar um indez – este pode ser um caramujo ou uma pedra que se assemelhe a um ovo – para atrair galinhas em postura para colocar ovos em determinado ninho. Meu indez se constitui em uma alternativa para dar a partida.
É preciso que confesse que há edições do blogue que têm inúmeras redações, em madrugadas insones, na hora de exercícios físicos, especialmente durante a chatice do esteirar ou em viagens, em meu lapkopf. Atenção! Não estou me referindo a laptop. Criei, já há um tempo, a palavra lapkopf, aproveitando o substantivo alemão kopf (cabeça), por semelhança eufônica com laptop, para referir-me ao local de gestação de texto que faço em um disco não tão rígido e também com poucos recursos de salvar. Este texto, especialmente nesta reescrita outonal, foi também mexido e remexido no lapkopf, enquanto a versão (quase) final foi sendo gestada. 
Assim como uma mãe, durante a gravidez, curte preparar o enxoval do nascituro, muitas vezes, especialmente quando não havia tempo para uma imersão mais profunda em alguns de outros textos.
Para finalizar, duas outras informações a este como escrevo: a primeira, tenho usualmente em produção simultânea dois ou mais textos; a outra, sempre escrevo envolvido em pelo menos e em bom dicionário. Um dicionário etimológico é fulcral.
Agora resta embalar a tessitura de textos na tentativa de responder o que escrevo e por que escrevo. Por ora, só adito votos de uma muito boa sexta-feira.

5 comentários:

  1. Mestre Attico,
    atualmente escrevo de forma direta e um tanto vulgar,mas para mudar essa realidade estou lendo e escrevendo cada vez mais bons livros,acerca do inicio de um texto, tento lembrar se li algo ou ouvi falar sobre o tema da escrita e tem dado um resultado razoável.Nessa semana aprendi uma lição valiosíssima com a burilada que deste em meu texto.
    Estou muito grato por tua atenção,boa viajem e sorte !

    Hendney Fernandes

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  2. Caro Chassot,
    Excelente, deslindar tua gestação de textos levou-me a pensar como eu escrevo, e, por acaso, também uso o indez que torna as coisas mais fluidas a partir daí. Parabéns pela blogada. Abraços beletristas, JAIR.

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  3. Foi uma delícia ler o seu blog hoje... Mas vc tem razão... escrever é treino... quanto mais se tenta, mesmo que seja fazendo pequenos germes de cristalização apenas em um momento, em outro estes pequenos trechos nos fazem, quando preciso, começar de algum ponto, o que já é melhor do que começar de uma página em branco... Vou passar sua analogia para meus alunos... boa dica!

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  4. Olá!!!! Querido mestre, ler a blogada de hoje desafiou meu "lapkopf" a refletir sobre a questão chave proposta... como escrevo? Quando a "disgestão" da reflexão acabar e acomodar a sistematização identificada... compartilho com o Sr.
    Muito obrigada!!!! Um forte abraço!!!!
    Sandra

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  5. Caro Chassot,
    temos algo em comum: o indez. Para mim o texto bíblico funciona, seguidamente como um indez. É possível partir de um texto mítico e fazer conexões com a realidade atual ou construir a partir do texto mexendo no seu contexto. Às vezes vale até um notebook, um bloco de anotações de papel mesmo.

    Um abraço,

    Garin

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