sábado, 12 de maio de 2012

12.- APRENDER A SER



Ano 6*** Frederico Westphalen/Porto Alegre ***Edição 2110
A Jornada frederiquense passou — é a primeira vez que escrevo este gentílico, bastante cultuado aqui, presente inclusive no time de futebol da antiga Barril —. A viagem começou há cerca de 40 minutos e, quando forem vencidos os 460 quilômetros, devo chegar a Porto Alegre pelas 6h; esta manhã tenho atividades no Seminário ‘escola inclusiva’ que compartilho com o Prof. José Clovis de Azevedo no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão.
A dica de leitura sabática decorre de um presente que ganhei há uma semana, em Encarnación, PY, enquanto participava da XIV Jornadas Trasandinas de Aprendizaje. Recebi do Prof. Dr. Augusto Pérez Lindo seu último livro: ‘Competencias docentes para el siglo XXI’ que saboreei em parte da viagem e também aqui no Hotel Palace.
Uma divagação lateral (ou algo que depois do advento da internet poderíamos chamar ‘fuga em um hipertexto’) quando em duas semanas, pela quarta vez me hospedo aqui, não tenho como deixar de inquirir-me: Porque, em diferentes continentes, Palace é um dos nomes que mais está nas fachadas dos hotéis?
Ainda dentro da fuga em texto: A ancestralidade do hipertexto repousa em uma escrita com notas de rodapé (que já receberam minhas homenagens, como lócus de descobertas de preciosidades) e notas de fim de capítulo/fim de livro (que detesto por sua dificuldade de acesso).
Depois destas duas divagadas (que demonstram como o texto na internet é dispersivo se comparado com o suporte papel) volto ao texto principal, que se refere — o leitor pode ter se perdido — a usual dica de leitura sabatina deste blogue.
PEREZ LINDO, Augusto. Competencias docentes para el siglo XXI [Ensayos educación]. 160p; 21,5x13x1cm. Buenos Aires: Tinta fresca, 2012. ISBN: 978-987-576-570-2
Há livros que se entranham em nossa história, mesmo que não os leiamos com frequência. No livro central da blogada de hoje e também na primeira das duas palestras que assisti do Professor Pérez Lindo, há um autor recorrente: Edgar Faure.
Fazia tempo que não o lia e, ainda mais, o citava. Aprender a ser: a Educação do futuro[i], de Edgar Faure, foi talvez o livro que há quase 40, representou ‘o meu Damasco’[ii]. Foi leitura obrigatória no meu mestrado e por ele deixei de ser ‘um professor de Química’ para fazer Educação com a Ciência.
Eis algo (numa tradução livre) da quarta capa do livro do Prof. Pérez Belo: O cenário dos dias atuais mudou: já não se deve formar mestres e professores para adquirir e transmitir os conhecimentos mais importantes. O desafio de hoje é encontrar correspondências entre os diferentes níveis de ensino e garantir que os professores desenvolvam um conjunto de competências que atravesse toda a formação educativa. É isso que discute este claro e iluminador ensaio: dez competências que todo educador — mestre, professor, profissional ou especialista —, deve vivenciar com aos seus alunos. São dez destrezas que devem estar presentes na sala de aula, superando o plano do desenvolvimento intelectual e buscando o desenvolvimento integral da pessoa. Em Competencias docentes para el siglo XXI’ Augusto Pérez Lindo analisa situações concretas e fornece, com base em sua experiência como docente e pesquisador, ferramentas para otimizar, desde o início e em cada uma das etapas, o processo de aprendizagem.”
As dez competências analisadas e contextualizadas são: 1) aprender a ser: a identidade; 2) criatividade; 3) cientificidade; 4) comunicabilidade: o método; 5) competência linguística; 6) capacidade para ensinar a aprender; 7) capacidade para ensinar a fazer; 8) competência informacional; 9) sociabilidade; e 10) responsabilidade social.
O Professor Augusto Manuel Pérez Lindo é Doutor em Filosofia pela Universidade de Lovaina, Professor Titular da Universidade de Buenos Aires e Professor do Doutorado em Filosofia da Universidade Nacional de Lanús e autor de vários livros, sobretudo de Educação superior. Viveu alguns anos como exilado político em São Paulo quando trabalhou na USP.
Das duas exposições que assisti há uma semana, ratificadas agora no livro, pode-se dizer que Pérez Lindo acredita que existe a necessidade de analisar as políticas mais apropriadas para aproveitar melhor o ensino virtual do ponto de vista da formação acadêmica. Para ele, em poucos anos as pessoas vão poder colocar um chip diretamente no cérebro, ou talvez com um clique as pessoas poderão acessar todo o conteúdo de uma universidade. “Se pensarmos nestas questões, quais os desafios para o ensino virtual no futuro?”.
“Temos problemas para resolver no ensino, não só no virtual, mas também no presencial. E são basicamente os mesmos. Os estudantes precisam crescer em competência linguística, pois hoje os estudantes falam de 300 a 700 palavras. Muitos são praticamente analfabetos. Outra necessidade é a de criar competência cognitiva e narrativa nos estudantes. Deste modo, não podemos pensar em problemas no ensino a distância e sim na educação como um todo”.
Para Pérez Lindo, é importante ter flexibilidade curricular para facilitar a iniciativa do aluno, ter qualificação dos resultados, para a segurança da qualidade do que se oferecendo. Outro ponto importante a ser discutido é a questão da informatização. O autor defende que hoje em dia todas as universidades têm condições de se informatizar, e com isso facilitar a vida acadêmica, tanto nos trâmites administrativos como nos conteúdos oferecidos.
“Se as universidades continuarem resistindo no oferecer uma informatização total do ensino e levar dois anos para aplicar novos currículos estaremos “criando fósseis acadêmicos”.
Dirão alguns que tudo isso é velho e que viemos dizendo há muito. Concordo. Mas, ocorre, que lamentavelmente, não estamos ainda fazendo. Talvez valha experimentar. A estes desafios, acrescento votos de bom sábado.
i A volumosa obra de 1972, resultado de um esforço coletivo da Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação, estabelecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO); encontrei uma edição integral (em espanhol) em http://www.palamosciutateducadora.cat/attachments/068_Informe%20Fauré.pdf

ii A metáfora refere-se à conversão de Paulo de Tarso que ia a Jerusalém para perseguir cristãos; nas proximidades de Damasco é momentaneamente cegado por Jesus e cai do cavalo, ao ser inquirido porque o estava perseguindo Paulo não apenas se converte, mas se torna, talvez, o maior propagador do cristianismo.


7 comentários:

  1. Mestre, neste assunto, minha atenção se volta ao meu "público" predileto: as crianças. Oferecer a máquina no tempo certo é o desafio atual. Corremos o risco de lhes ensinar que a máquina, a internet são gurus do conhecimento, e gradativamente, adeus pessoas.

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  2. Muito querida Marília,
    celebro teu retorno e registro que faço isso a bordo, viajando já mais de uma hora no trajeto Porto Alegre/Frederico Westphalen.
    Isso para mim ainda sabe à ficção científica.
    Um afago para minha querida ex-aluna filósofa,
    attico chassot

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  3. Ficção? Não é ficção as gerações que apreendem tendo como fonte principais a internet. Para cada aluno seu notebook. Esta é a meta celebrada por muitos professores e especialistas da educação. Isto acontece agora e me deixa apreensiva: uma ser em Formação sendo apresentado a um mecanismo que ainda não é capaz de compreender!

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  4. Caro Attico,
    penso que em um futuro bem próximo as exigências tanto profissionais como sociais serão baseadas no CTS-Ciência,Tecnologia e Sociedade.(Alfabetização Científica,pg72Chassot)
    Acredito que deva aprofundar-me acerca do assunto para formar alunos com as dez competências analisadas e contextualizadas,também adicionar a educação financeira e o empreendedorismo ,para a construção de um sujeito que possa agregar valor a sociedade não depender de politicas sociais para sobreviver.Será que posso ir por esse caminho?

    Licenciando em Ciências da Natureza 2012 UniPampa Uruguaiana RS

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  5. Caro Chassot,
    Tua dica de hoje, embora "direcionada" àqueles que labutam no ensino, é preciosa mesmo assim, obrigado e bom fim de semana, JAIR.

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  6. Caro Chassot,
    hipertextizar, um verbo que ainda não foi dicionarizado, é uma delícia: quanto mais a gente 'navega' tanto mais descobre coisas que estão aqui, bem na tela da nossa máquina e que não tínhamos a menor ideia de que existiam. Pena que a gente não tenha mais tempo para se perder por esses mares hipertextuais que se perdem no infinito da internet. Um dia quero poder dedicar mais tempo para isso.

    Um abraço,

    Garin

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  7. Meu caro Garin,
    encontrar-te (e também ao estimado colega Clemildo) foi um excelente catalisador à fecunda jornada acadêmica que se estendeu quase até às 13h.
    Desejo que o programa ‘espiritual’ anunciado para a manhã tenha na evocação de tua mãe um frutuoso domingo,

    attico chassot

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