sábado, 21 de janeiro de 2012

21.- Sobre um dia de ode a Baco



Ano 6 *** Mendoza *** Edição 1998
A edição deste sábado, por ocorrer em período de viagem de férias, deixa de responder à usual formatação sabatina: dicas de leituras, para se fazer em memórias de um viajor. E nesta dimensão conta de uma sexta-feira que foi de reder glórias a Baco.
Como contei aqui ontem, estamos, desde quinta-feira, depois de fazer a travessia transandina vindos de Santiago, em Mendoza. Ela é capital e a maior cidade da província de Mendoza, na Argentina. Localiza-se no oeste do país, nas bordas dos Andes, e é um importante polo de produção de vinho e azeite. Dista um pouco mais de 1.000 km de Buenos Aires.
A cidade que se estende em uma região que antes era desértica, continuação da Cordilheira dos Andes, possui uma excelente arborização, com muitas árvores, regadas por canais pequenos que funcionam junto a muitas ruas,  mesmo nas mais centrais, proporcionando a irrigação necessária.
Segundo o censo de 2001, a cidade conta com aproximadamente 110.993 habitantes, o que representa uma baixa demografia em relação aos 121.620 habitantes do censo de 1991. Este estancamento é produto da inexistência de lugares que permitam o crescimento da população, ao que se soma uma tendência geral da população a abandonar o centro, o qual é ocupado por oficinas e comércios. A Grande Mendoza, por sua vez, é quase 8 vezes maior e apresentou um crescimento populacional de 10%. A cidade de Mendoza é a quarta cidade da Argentina em quantidade de habitantes no conjunto urbano.
A província de Mendoza possui mais de 1.200 bodegas (que nós usualmente chamamos de vinícolas) produzindo uma diversidade de vinhos dos mais populares aos mais sofisticados. Estas bodegas produzem tem sua matéria originada de 70% do vinhedo argentino e é responsável pela exportação de 20% do vinho que a Argentina produz. Devemos convir que se nos transportássemos à Grécia antiga aqui seria a terra do deus Baco.
Incluída, pela primeira vez, esta região em nossas férias, era natural que incluíssemos tour enológico. Este acompanhou a sugestão de Loreto, a amiga que ganhamos na travessia transandina de quinta-feira. O tour, no qual nos integramos tinha 12 pessoas (argentinos, australianos, italiano, venesuelano e brasileiros) teve quatro momentos — os primeiros visita a três bodegas —, organizados com muita propriedade. Trago de cada um breve relato.
1º) Bodega Navarro Correa — uma grande vinícola — cuja história se origina na metade do século 19, com don Juan de Dios Correa plantando vides aos pés da cordilheira. Por mais de 100 anos a família Correa produziu vinhos. Desde 1996 a vinícola é de propriedade da Diageo, uma das maiores multinacionais do ramo de bebidas do mundo. Na visita recebemos informações significativas da produção de uvas e sua transformação em vinhos. Numa parte da visita descemos por escada caracol 45 degraus, para estar em um subterrâneo que abriga 5.000 barricas de carvalho, com 225 litros de vinho cada. A produção maior é de Malbec e o tempo de armazenamento nas barricas varia em função de ser Reserva (1 ano) Grande reserva (1,5 anos). Tivemos oportunidade de degustar em espumante de duas variedades de vinhos tintos.
2º) Bodega Família Cecchin uma pequena vinícola familiar, que tem nos rótulos de sua produção uma adequada síntese: ‘agricultores, artesãos e artistas’. Orgulha-se em produzir um vinho certificado como ‘vinho orgânico’, isto é não ter nenhum produto químico agrotóxico. Somente usam fertilizantes naturais, como o esterco dos cavalos que aram as vinhas. Don Jorge Cecchin, hoje com 87 anos, fundador da vinícola, mora na propriedade e continua comandando a produção de Malbec. Também aqui tivemos verdadeiras aulas acerca da produção artesanal de vinhos e podemos degustar algumas diferentes produções.
3º) Bodegas Cavas de Don Arturo está situada no belo vale Lunlunta, Maipú, reconhecido mundialmente como um local de excelência para produção de vinhos. É uma vinícola em proposta e em aparatos tecnológicos intermediária entre as duas anteriores. A visita teve esta marca e as explicações também foram muito preciosas. A degustação envolveu uma variedade de Malbec.
4º) Restaurante Cava Cano terminamos nosso tour com um almoço que lembrou um pouco o filme ‘Festa de Babete’, O restaurante que produz seu próprio vinho, tem em sua entrada diferentes variedades de videiras. O restaurante está em uma mansão que foi de um Governador de Mendoza e está toda decorada com um típico do gaúcho do pampa argentino. O cardápio servido em tão acolhedor ambiente é indescritível. A entrada era uma mesa com dezenas de variedades de queijo, embutidos, conservas diversas. Depois havia empanadas, um prato de risoto, depois massa e ainda sobremesa.
Parece não restar dificuldade em perceber que este foi um excelente dia de férias. Hoje seguimos aqui em Mendoza.  

2 comentários:

  1. Caro Chassot,

    tua blogada de hoje me deixou com água na boca. Votos de um sábado repleto de visões e sabores requintados.

    Um abraço. Garin

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  2. Caro Cahasot,
    Teu périplo baquiano (baquiano de Baco, não bachiano de Bach) enche de água na boa os enólogos que não podem desfrutar tais sabores. Carpe Diem! JAIR.

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