sexta-feira, 10 de junho de 2011

10.- OMC: vende-se EDUCAÇÃO

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1772

À mestra, com carinho

Participo esta tarde, junto com a Gelsa, de uma homenagem que a Associação de professores e ex-professores do Instituto de Educação presta à educadora Liba Knijnik, que, em 1º de setembro completará 90 anos. Lá estarei, como genro e admirador, com as filhas, netos, familiares e amigos da homenageada. Há uma fala

prenhe de evocações – que a Liba mantém em segredo – a mobilizar nossas expectativas. A blogada de amanhã terá, então, o adensamento do texto que será lido hoje, fortalecendo a proposta sabática: falar em livros.

Cinzas vulcânicas Parece que as nuvens de cinza do vulcão chileno que suspendem os voos no Rio Grande do Sul estão afetando ao mundo internético. Ou serão as tempestades solares que desarranjam o Skipe e nos fazem usar alternativas de conexões à rede. Esta edição sofreu percalços em sua postagem.

DNA: Afortunadamente não nos damos conta que temos Data de Nascimento Avançada e parece que sempre somos jovens. De vez em vez, o espelho nos alerta o contrário e então nos convencemos que ele mergulha no futuro, pois deve mesmo estar apresentando uma imagem de como seremos daqui a 20 ou 30 anos e não uma imagem hodierna. Às vezes, há provas palpáveis que o espelho parece estar certo. Na manhã de ontem, quando lia acerca da nova Ministra-chefe da Casa Civil, surpreendi-me que ela tem quase a mesma idade de meu filho mais velho, seu pai é apenas um ano mais velho que eu e tenho uma neta mais velha que a filha do casal de ministros. Realmente sou levado a acreditar que tenho em casa um espelho que não mente.


OMC: VENDE-SE EDUCAÇÃO. No dia 06 de maio contei aqui que estou escrevendo um texto, destes encomendados aos quais não nos podemos furtar
, acerca da Educação, ou melhor, do ensino como mercadoria. O tema é complexo e muito importante. Escrevi na blogada de então sobre as mudanças na presença da Educação (especialmente a superior) na sociedade desde que esta passou ser um item da pauta de mercadorias da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ilustrei a blogada com um anúncio [06.- Vende-se diplomas!] que traz a marca do que pulula neste novo comércio. Não apenas há ofertas para a realização de monografias, dissertação e teses (cobradas pelo número de autores citados ou de páginas exigidas), mas, há venda de diplomas.

Retomo um pouco o assunto: Estima-se que entre o final da década de 90 até 2002 – destes oito anos foram os dois mandatos do governo FHC, em que um economista foi ministro de Educação –, a cada semana foram abertas, em média, três instituições particulares de ensino superior no Brasil, a maioria de pequeno porte.

Permito-me aliar a estas excrescências – aqui na acepção de tumor na superfície de um órgão (Priberam) – que são a venda de diplomas e de trabalhos a acadêmicos, duas miradas a novas realidades determinadas pelo ensino mercadorias, desconhecidas ainda em tempos muito recentes.

Parece que até muito pouco tempo não conhecíamos propagandas, ou melhor, comerciais de estabelecimentos de ensino. A divulgação de uma instituição se fazia lastreada na história que contavam alunos, ex-alunos e pais. Hoje a oferta da mercadoria Educação, ou melhor, a captação de clientes é algo agressivo e, as vezes falacioso, que se assemelha a como se vende automóvel ou papel higiênico. Há pela cidade outdoors de instituições reais e de virtuais. Destas muitas vezes não se tem mais que o endereço em rede internética. Estas prometem títulos acadêmicos por 13 x 199 reais.

No período que antecede o vestibular de inverno há uma universidade que anuncia, em emissora de rádio, no horário da manhã (o mais caro) sua proposta ‘pedagógica’: “Na Uni$ifrão você tem menos tempo de estudo e mais tempo para pagar. Mantenha a sua mensalidade em dia e concorra a 10 notebooks por mês!”

Há também as universidades, pelo menos assim se passado em siglas fantasia, que podem ser classificadas como predadoras. Estas alugam algumas salas ociosas aula à noite, em algum colégio; contratam monitores que saibam operar um Datashow e ministram telealunas. Oferecem cursos de graduação e de especialização (as chamadas pós) cobrando valores irrisórios se comparados com as instituições tradicionais, que realizam pesquisas, oferecem bolsas de iniciação e mantem atualizado acervo bibliográfico em biblioteca especializada.

Este último item – biblioteca – que não existe nas ditas predadoras, determina uma reconfiguração da finalidade social das bibliotecas. Bibliotecas universitárias sempre foram referências na comunidade onde a universidade está inserida. Agora, elas se transformam de uso restritivo. Os alunos das predadoras, por estas não terem bibliotecas se apoderam daquelas das instituições tradicionais. O uso de catracas, tornando o uso restrito a alunos e professores da casa não chega inibir o uso por alienígenas, pois passa se estabelecer um ‘comércio’ entre estudantes que retiram livros para ‘amigos’ que não têm acesso às bibliotecas, desfalcando-a de obras para aqueles que são os legítimos usuários.

Assim o marketing da mercadoria Educação e perda da função social das bibliotecas são dois subprodutos desta apoderação da Educação e fazendo dela um bem venal.

ATENÇÃO: A postagem de comentários ficou simplificada. Agora eles independem de aprovação do editor. Este se reserva o direito de, posteriormente, eliminar aqueles ofensivos o que incitem discriminação. Pede-se comentários assinados e se possível com endereço para resposta.

10 comentários:

  1. Caro Chassot,

    meus votos são de que o evento da Associação de professores e ex-professores do Instituto de Educação para a Profa. Liba seja coroada de êxito e imagino a surpreza que ela irá fazer em sua fala. Meus cumprimentos à Mestra!

    Com relação à mercantilização da educação, eu também me surpreendi com o comercial e me causa espanto a premiação com notebooks. Em breve estarão oferecendo carros de luxo, viagens internacionais etc. Onde está a Formação? Não sei se estou ultrapassado demais (prazo de validade para lá de vencido) ou se a Educação tem agora um outro perfil. Estou escandalizado!

    Boa sexta-feira!

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com

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  2. Caro Chassot,
    Obviamente, quem entende desse assunto é você, contudo, como cidadão comum, vou dar meu pitaco. O Estado Brasileiro (e, claro, não me refiro ao governo especificamente) não cuida como devia de suas obrigações básicas: Educação, Saúde e Segurança. A natureza não suporta o vácuo, onde este existe surgirá alguma coisa para substituí-lo. Assim, se o Estado não cuida da Educação, investindo com seriedade na formação de professores, em pesquisas, construções de escolas e estrutura que favoreça a busca do conhecimento, alguém o fará em seu lugar. Como ninguém investirá em algo sem esperar retorno, tudo se transforma em mercadoria, seja educação, saúde ou segurança. Quando, mais uma vez, o estado falha na fiscalização, o mercado se apodera do nicho vago e faz valer a lei do menor esforço: UM MÍNIMO DE INVESTIMENTO E UM MÁXIMO DE RETORNO. Assim, a educação além passar a mercadoria, torna-se um produto de segunda classe. Ao leigo parece de natureza cristalina que onde o Estado falha se estabelsse o CAOS. Apenas uma pergunta retórica: Afinal para que servem os bancos estatais que proliferam por aí, se os bancos privados fazem o mesmo e melhor por menor custo?

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  3. a blogada de hoje me fez recordar de um e-mail com uma piada que recebi a algum tempo atrás...mas pensando bem..estudar pra que??!! (risos)...

    Ronaldinho Gaúcho : R$ 1.400.000,00 por mês. -"Homenageado na AcademiaBrasileira de Letras"

    Tiririca : R$ 36.000,00 por mês, fora os auxílios e mordomias; e "Membro da Comissão de Educação e Cultura do Congresso"...

    Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00...

    Moral da História:Os professores ganham pouco, porque só servem para nos ensinar coisasinúteis como: ler, escrever e pensar.

    Sugestão:
    Mudar a grade curricular das escolas, que passaria a ter as seguintes
    matérias:

    Educação Física:Futebol

    Música: Sertaneja/Pagode e Axé

    História: Grandes Personagens da Corrupção Brasileira/ Biografia dos Heróis do Big Brother/ Evolução do Pensamento das "Celebridades"/ História da Arte: De Carla Perez a Faustão

    Matemática: Multiplicação Fraudulenta do Dinheiro de Campanha/Cálculo Percentual de Comissões e Propina

    Português e Literatura: ?????????????????????? Para quê ????????????????

    Biologia, Física e Química : Excluídas por excesso de complexidade

    Somente rindo para não chorar....

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  4. Meu Caro Chassot! Em primeiro lugar quero dizer que a homenagem à Liba é totalmente merecida, pois certamente uma vida dedicada à educação deve possuir marcas. E esta é uma delas. Ficarei atento ao Blog deste sábado para mais notícias. Quanto à mercantilização do ensino, gostaria que observasse os seguintes vídeos de cunho humoristico sobre o assunto e que estao disponiveis no you tube: http://www.youtube.com/watch?v=xWHyUjAzksQ&feature=related e http://www.youtube.com/watch?v=wpDJh07VN_8&feature=related Simplesmente imperdível. Abraços JB

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  5. Muito estimado Garin,
    realmente há que se escandalizar com a profanação que se faz da Educação.
    Com agradecimentos por comentares aqui

    attico chassot

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  6. Meu caro Jair,
    parece que o socialismo (e aí não teríamos bancos privado e os lucros dos bancos do Estado seriam para todos) é uma utopia. Mas o voraz capitalismo poderia nos poupar do ‘seja doutor em 24 meses, pagando 40 X 199 reais’.
    Teus pitacos são sempre preciosos.
    É muito bom estares aqui

    attico chassot

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  7. Muito querida Janice,
    para mim sempre é festa apareceres com comentário. Evoco nossas aulas de filosofia no Centro Universitário Metodista do IPA.
    A piada que traz a mensagem que aditaste, seria cómica se não fosse uma dolorosa realidade.
    Com estima

    attico chassot

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  8. Muito querido colega Jairo,
    realmente a Educação é um bom prato para o voraz capitalismo.
    Vou aprecias tuas sugestões fílmicas.
    Obrigado por seres aqui um atento comentarista aqui,
    attico chassot

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  9. Neusa Knijnik escreveu:

    Querido Attico Fiquei muito emocionada em ler a tuas carinhosa descrição sobre a professora Liba. Uma mulher que pegou/pega a vida com garra, inteligência, criatividade e consistência. Muito obrigada por teu carinho com a nossa mãe.

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  10. Neusa querida,
    uma resposta a tua mensagem requer comentários em duas dimensões.
    Uma, a justa homenagem que tu, eu e dezenas de admiradores da Liba tributamos a uma mulher fora de série na memorável sexta-feira dia 10. Foi algo emocionante. As edições do blogue dos dias 10 e 11 (e ainda no dia 12) traduzem um pouco isto, na minha perspectiva de admirador da Liba há quase um quarto de século.
    Outra, a delicadeza de teu gesto em externar-me tuas emoções relativas aos meus textos. Por tal meus reconhecidos agradecimentos.
    Um afago com carinho e continuada admiração,
    attico

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