terça-feira, 16 de novembro de 2010

16. Pesos e medida

Porto Alegre Ano 5 # 1566

Uma terça-feira com sabor de segunda-feira, mas que tem uma marca forte: inicia a segunda quinzena de novembro. Dentro de duas semanas será dezembro. Realmente tempus fugit.

Depois de um tempo longe de casa – e disse ontem aqui que estes cinco dias portenhos pareceram semanas –, algo que me incomoda é o volume de ‘jornais velhos’ que não podem ser descartados sem que mereçam pelo menos uma espiadela. Desta vez, para aumentar a entropia, havia jornais e revistas trazidos da Argentina que mereciam atenções. Afortunadamente, desta vez, tinha um feriado para tarrafear algo valesse a pena. Terminei, entre muitos assuntos, escolhendo algo que está na página A2, da Folha de S. Paulo desta segunda-feira. O texto Pesos e medidas é de Cristina Grillo e merece mais do que uma leitura.

Pesos e medidas Rio de Janeiro - Um homem procurado pela polícia sob suspeita de ter estuprado 40 mulheres apresenta-se à delegacia, é reconhecido por três de suas vítimas, confessa os crimes e é solto.
Uma mulher procurada pela polícia sob suspeita de ter mantido relações sexuais com uma aluna de 13 anos apresenta-se à polícia, confessa o crime, revela que o relacionamento já dura seis meses e é presa.
Os dois fatos aconteceram no Rio em 27 de outubro, quatro dias antes do segundo turno das eleições.
No primeiro caso aplicou-se o artigo 236 do Código Eleitoral: de cinco dias antes a dois dias depois das eleições, eleitores só podem ser presos se houver flagrante, se tiverem condenação por crime inafiançável ou por desrespeito a salvo conduto. No segundo caso, há indícios de que a aplicação da lei não foi tão rigorosamente observada.
Não se trata de defender esse ou aquele personagem. A questão é simples: a lei é para todos.
A liberação do suspeito dos estupros atendeu à legislação: não houve flagrante, pois ele se apresentou por vontade própria.
Já na detenção da professora, há dúvidas. A se acreditar no que afirma sua mãe, a prisão foi ilegal.
Em depoimento à repórter Diana Brito, a mãe contou que, ao ligar para a delegacia de madrugada para informar que a filha se apresentaria, ouviu dos policiais que não seria seguro saírem sozinhas de casa àquela hora.
Os policiais teriam então se oferecido para, em escolta, acompanharem a suspeita à delegacia. Chegando lá, foi presa em flagrante. Se tivesse ido sozinha, não haveria base legal para a prisão.
Desde então, está presa. Divide cela com nove detentas em Bangu 8, presídio de segurança máxima.
O suspeito dos 40 estupros cumpriu o que havia prometido: apresentou-se à delegacia passado o período previsto pela legislação eleitoral. Também está preso.

Ainda está presente a recente campanha presidencial brasileira marcada por uma militância homofóbica. Então, houve desrespeito à vida privada das pessoas. Isto foi continuado em recente Parada Gay no Rio de Janeiro quando a Presidente eleita – que mesmo com os ultrajes antes referidos venceu o pleito – é ofendida grotescamente. Este texto acima exige de nós uma luta cada vez maior contra as discriminações. Vale referir que o mesmo jornal que publica o texto na mesma edição, também traz destaque ao que aludi da Parada Gay. Logo, não sem razão que, quando a proposta de um blogue é fazer alfabetização científica, há consciência de que a esta precede uma alfabetização política.

Que a terça-feira que inaugura a quinzena que se faz advento de dezembro seja a melhor para cada uma e cada um. Um convite para amanhã nos encontrarmos aqui.

4 comentários:

  1. Boa tarde, Professor!
    Hoje passando para matar saudade...meus acessos à internet estão cada dia mais escassos ultimamente...
    Muito incômodo e inchaço já.Como o senhor bem nos lembra, segunda quinzena de novembro!Faltam cerca de 3 semanas para a chegada de minha pequena Ellen.
    =]
    Um mol de abraços!Recheados de saudades!

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  2. Muito querida Thaiza,
    quanta saudades! Posso imaginar a emoções que te envolvem nestas três semanas que faltam para um grade natal: a chegada da Ellen. Torço para que tudo corra da melhor maneira.
    Um afago emocionado por tua presença querida aqui,
    attico chassot

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  3. Professor, ainda na onda das detenções: uma amiga foi detida enquanto realizava uma intervenção artística na feira do livro (questionana o tipo de literatura facilmente consumível e o fato da boa leitura estar sendo escanteada). Precisava ver o quanto de polícia pra levá-la até o posto policial da Feira!!!! Parecia um criminoso perigoso!!!!
    Justificativa da polícia: atrapalhando o trânsito das pessoas! Pode?

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  4. Marília querida,
    acompanhei um pouco o caso de tua amiga na Feira do Livro. Um insensatez da polícia.
    Agora desta professora do texto de hoje é incrível a discriminação.
    Amanhã falo em cultivo de fumo.
    Afagos com indignação pelas violências às mulheres.,
    attico chassot

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