quinta-feira, 9 de setembro de 2010

09.- Christoph Türcke BIS

Porto Alegre Ano 5 # 1498

A quinta-feira ensolarada já não é mais criança. Ela é ressacosa. Ela pede, em uma agenda extensa, lugar para digerir as emoções (e porque não deixar de bancar herói e reconhecer: os cansaços) do dia de ontem. Este começou em Lajeado, na preparação da ida à Estrela para chegada do Felipe e terminou em ônibus vindo de palestra em Osório. Logo um dia multifacetado, que ainda incluiu mais de duas horas de direção, após o almoço em BR 386+116 nas quais os caminhões parecem que se fazem cada vez maiores. Aqui uma correção geográfica na blogada de ontem. Referi que atravessáramos quatro dos cinco formadores do lago Guaíba. Na verdade o primeiro citado: o Taquari faz chegar suas águas ao Guaíba, mas como afluente do Jacuí no qual deságua na altura das cidades de Triunfo e São Jerônimo.

Sobre a celebração do nascimento do Felipe, aditei (e aqui no sentido de adicionar

algo venturoso) na edição de ontem um comentário fotográfico, quando este tinha pouco mais de meia hora. Realmente foram momentos de imensa felicidade (e também com pitadas de nervosismo) acompanhar os rituais de chegada de um novo ser ára viver a vida exta-uterina, que envolvem assistir tomadas de medidas antropomórficas, impressões digitais e da palma dos pés, primeiro ‘banho’ e outras cenas em que o recém-nascido é a estrela. Depois, as emoções não foram menores quando da chegada da Ana Lucia e do Felipe ao quarto. Poder ver o nenê sem a intermediação de vidraça faz diferença e ver uma filha feliz é algo quase divino. Ainda neste registro filipino meus agradecimentos – e também em nome da Ana Lúcia, do Eduardo e da Gelsa – para mais de uma dezena de mensagens pessoais e no blogue parabenizando pais e avós.

À tardinha, no ônibus dos professores fui (e voltei de) a Osório. Tive a fraterna companhia do Professou José Canovas, conhecido como Professor Zezinho. Ele ‘preparou’ viajarmos juntos. Tinha livros meus que lera, presenteou-me com artigos e um DVD acerca de Marie Curie. Na FACOS onde fiz minha terceira fala este ano,

evoquei por primeiro que no ano passado naquele mesmo auditório falara em um

momento de tragédia, quando morreram professores que vinham para a palestra que ministrava. Desta vez, falei para cerca de 300 alunos dos cursos de Matemática – que celebrava ontem 16 anos – de Biologia e Informática. Nas fotos de Daiane Lorenzato, dois momentos da Palestra ‘A Ciência como instrumento para lermos o mundo natural’. Ao final recebi das mãos de Erica Souza – organizadora do evento e muito atenta ‘cuidadora’ de minha viagem – uma cesta com saborosos produtos regionais.

Ontem trouxe uma parte de entrevista que Christoph Türcke professor de filosofia da Hochschule für Grafik und Buchkunst (Faculdade Artes Visuais) em Leipzig. O autor de mais de quinze livros, sua obra é uma das mais singulares renovações atuais da Teoria Crítica na Escola de Frankfurt na Alemanha. Ontem vimos a cerca de ‘nossa dependência’ à rede internética. Na segunda parte da entrevista que publico hoje, há novos questionamentos trazido pelo filósofo alemão, que só soube quando cheguei hoje, falara ontem à noite no Instituto Goethe em Porto Alegre Ao final desta segunda parte dou destaque a dois livros de Türcke, traduzidos para o português e editados no Brasil.

Citando Trótski, o senhor propõe uma relação íntima entre igreja, cinema e álcool. Qual a razão disso?
Trótski não percebeu o alcance da sua própria observação. O vício tem um subtexto teológico. Cada nova injeção atua como promessa. O viciado quer cada vez mais, é insaciável, pois quer viver "o inédito", que o vem salvar. Igreja, cinema, botequim: todos os três nutrem expectativas de salvação, cada um deles à sua maneira. O ateu Trótski tentava tirar a classe operária da aguardente ao reuni-la no cinema. Era a sua igreja.

O senhor diz que, com a invenção do destilado, destruiu-se a cultura do beber e também que a vitória da morfina e da heroína sobre o ópio mudou o padrão do "frenesi", devido à multiplicação do efeito tóxico. Quais as implicações disso para a sociedade contemporânea?
Quanto mais forte, mais rápido o efeito. As drogas desenvolvem-se segundo as necessidades gerais de aceleração.

Então novas drogas, tanto químicas quanto "tecnológicas", deverão necessariamente se desenvolver?
Se forem lucrativas, sim.

Parafraseando o "Manifesto Comunista", de Marx e Engels, o senhor afirma que as pessoas não suportam "o peso da sobriedade". Essa é uma característica da sociedade da sensação?
É. Marx e Engels não eram ascéticos, mas apostaram no domínio da razão sóbria, isenta de qualquer ópio físico ou metafísico. Eram, em outras palavras, racionalistas ilusionistas, subestimaram o homem enquanto ser pulsional que nunca vai se livrar de todas as expectativas de salvação. Não adianta recalcar tais expectativas, trata-se de lidar com elas de modo racional e reflexivo. Mas o sensacionalismo de hoje não dá espaço a tal reflexão. A metralha audiovisual torna o desvio o caminho principal.

Então a "metralhadora audiovisual" liquida a perspectiva de alguma salvação?
Não necessariamente. Não vivemos num mundo predeterminado. O livre arbítrio não está liquidado. As forças dominadoras sempre provocam forças de resistência, tanto em termos educacionais quanto sociais. A história continua em aberto.

O sr. é um crítico da "dupla estratégia" do Greenpeace, de criticar e condescender? Qual a implicação disso para o movimento ambientalista?
Constato, não critico a "dupla estratégia". Observo, porém, que ela sempre indica fraqueza social. São minorias que têm necessidade de usá-la. Organizações não governamentais como o Greenpeace agem sob as mesmas coações comerciais que as grandes empresas. Elas têm que colaborar com forças sociais que, ao mesmo tempo, estão combatendo. Não escapam da ambiguidade. Entretanto, isso de nada serve se não arriscar o ambíguo.

A vida é sonho?
Seria bonito. Mas não é assim. A vida é um conjunto de vários estados. Um deles é o sonho. Representa o subsolo da nossa vida, É a massa de fermentação de todos os nossos desejos, planos, projetos. Ninguém aguenta a vida sem sonho. Sem sonho não há esperança, não há humanidade.


FILOSOFIA DO SONHO
AUTOR Christoph Türcke
TRADUÇÃO Paulo Rudi Schneider
EDITORA Unijuí
QUANTO R$ 48 (328 págs.)

SOCIEDADE EXCITADA
AUTOR Christoph Türcke
TRADUÇÃO Vários tradutores
EDITORA Unicamp
QUANTO R$ 88 (328 págs.)

Com votos de quinta-feira seja agradável para cada uma e cada um de meus leitores, um convite para amanhã nos lermos, também, aqui.

4 comentários:

  1. Trotsky dizia que a Igreja atrai não pela fé em si, mas pela beleza e por que estimula os sentidos, e sugeria o Cinema como alternativa. Pois bem, ai está o 'cinema' produzindo ídolos e estimulando vícios. As igrejas se deram conta disso, que o que vale é a sensação da imagem e estão cada vez mais conquistando fiéis por esta estratégia. Trabalho, 'tv', bebidas, trabalho, e uma sentadinha nos bancos santos nos finais de semana.
    Redução da jornada de trabalho, aff, claro, a quem trabalha é preciso ser oferecido tempo para o gasto e a diversão, afinal, trabalhador estressado não produz e pede licença.
    Mas vamos lá, que a "história continua em aberto".

    abraço!

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  2. Estimada Marília,
    há um consolo – se é que tal possa assim parecer: essa "metralhadora audiovisual" a que estamos submetidos permanentemente não liquida a perspectiva de a vencermos. Türcke nos assegura e disto temos crença que não vivemos num mundo predeterminado. O livre arbítrio não está liquidado. As forças dominadoras sempre nos oferecem possibilidades forças de resistência, tanto em termos educacionais quanto sociais, e mais ainda pessoais. A história continua em aberto. Podemos fazer em nós mesmos micro experiências, quando nos sentimos aditos à rede: ficarmos um determinado número de horas por dia fora da internet. Há um contra-argumento para isso: a nossa dependência ‘sadia’ da rede: dicionários, enciclopédias, correspondências profissionais etc.
    Devo confessar que tenho tentado. Para mim é muito difícil.
    Obrigado por catalisares algumas reflexões, aqui
    attico chassot

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  3. dicionários, enciclopédias, correspondências profissionais etc... e blogues inteligentes que fazem alfebetização cientifica, (nos que agradecemos)e que instiga os leitores a lerem mais. Como agora, já fui pesquisar onde posso encontrar este "Filosofia do sonho" por precinho menor ^^

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  4. Muito querida Marília,
    obrigado pela inclusão deste blogue nas exigências de estarmos conectados.
    Achei significativa a diferença de preços dos dois livros, com o mesmo numero de páginas da editoras Unijuí e Unicamp.
    Estou simulando algo com teu problema de pesquisa para um seminário que vou dar. Detalhes no blogue de amanhã.
    Um afago do
    attico chassot

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