sexta-feira, 10 de setembro de 2010

10- Michelangelo como inspiração

Porto Alegre Ano 5 # 1499

Mesmo com feriadão que envolveu mais de meia semana, parece que esta sexta-feira custou a chegar. É verdade que até ela se transmutar em fim de semana há muitos fazeres. Esta manhã, tenho quatro períodos de aulas no seminário de Historia e Filosofia da Ciência no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. E à noite, antecedido por uma sessão de orientação, tenho na disciplina de Prática de Pesquisa sob a responsabilidade da Prof. Dra. Marlis Morosini um seminário para o qual foi proposto o prosaico título ‘As análises finais’. Fui solicitado a falar a cerca da escrita quando a pesquisa se encaminha para a elaboração final. Senti-me desafiado ante o ineditismo, para mim, da proposta.

Montei uma pesquisa-fantasia ‘A contribuição do Projeto Político Pedagógico em Escolas de Ensino Médio de Porto Alegre na formação da cidadania crítica’ para a qual construí uma hipótese: ‘O Projeto Político Pedagógico é desconhecido por um número significativo de docentes e pela maioria dos discentes das Escolas públicas de Ensino médio de Porto Alegre’. Com estes dois elementos construo tentativas de visualizar como escrever a finalização de uma dissertação. Vejo algum leitor franzindo o nariz e outro me achando pretensioso. Farei um exercício, que pode ser infrutífero. Desafio-me, todavia, nesta produção, no mínimo original, para mim.

Quando me envolvo nestes bosquejos (aqui busco a metáfora de um desenho ligeiro, geralmente incompleto e simplificado, sem preocupação com o acabamento, que serve de primeiro passo para a concepção de uma obra de cunho pictórico, escultórico, arquitetônico etc.; um esboço ou um rascunho), não tenho como não reportar aquele que foi talvez um dos meus maiores impactos culturais: Florença, as

estátuas inacabadas de Michelangelo. Foi em julho de 1989, quanto estive a primeira vez na Europa (era o presente que me dera quando fiz 50 anos). Muito me impactaram as estátuas ditas inacabadas de Michelangelo [Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de março de 1475 — Roma, 18 de fevereiro de 1564), mais conhecido simplesmente como Miguel Ângelo ou Michelangelo]. Ele foi um pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores gênios da história da arte do ocidente.

Nestas magníficas obras de arte parece que vemos aflorar a estátua que o mármore escondia. Assim são nossos escritos – e incluo aqui os textos científicos – sempre inacabados. Sempre por burilar.

O estado inacabado de muitas das obras de Michelangelo tem

intrigado os historiadores. Frequentemente fatores externos, que foram documentados, o levaram a isso, sendo constantemente chamado de um lado para outro pelos papas e príncipes, mas em outros casos não houve qualquer imperativo conhecido que pudesse justificá-lo, e se especula hoje que as tensões entre suas ideias

grandiosas e a dificuldade prática de transportá-las satisfatoriamente para uma forma concreta e limitada pela matéria física podem ter sido um elemento importante nesse fenômeno. Por outro lado essas interrogações aumentaram em mim quando tive o privilégio de ver alguma de suas obras acabadas. Destas destaco duas: a Pietá e Moisés.


Parece que se pode inferir que a escrita eletrônica (estou chamando assim a aquela com computador, em oposição à mecânica – com máquina de escrever ou manuscrita – literalmente escrita à mão) se tornou uma facilitadora deste constante burilar de nossos textos. E aqui não estou incluindo produções ligeiras, como uma edição de um blogue, mas, por exemplo, um romance (ou mesmo um artigo científico) que escrevemos durante semanas e cada vez que retomamos, damos ‘polida’ aqui e outra ali.

Aliás, é essa escrita que determinou também o fim dos rascunhos ou mesmo das páginas originais anotadas pelo autor. Para os escritores contemporâneos não teremos museus disputando acervos como ‘páginas originais de O tempo e o vento anotados por Érico Veríssimo’.

Quando se refere estas obras inacabadas e se imagina a tensão do artista em (não) terminá-las nãocomo não imaginar - e o verbo é prenhe no seu significado: fazer imagens - Sócrates, ao nos propor a maiêutica, inspirado na mãe parteira e no pai escultor. E especialmente desta dizer que a estátua está pronta dentro do bloco de mármore: só se precisa tirar o excesso.

Mas quase me perco neste texto e minha fala de amanhã ainda é um bosquejo. Volto à minha apresentação de hoje de noite. Desejo uma muito boa sexta-feira, saborosamente curtida na expectativa de iluminado fim de semana, que aqui começa com uma dica de leitura.

4 comentários:

  1. ... se não se dosar a qtde de pipoca, o grão queima...
    É, preciso esculpir, mas me sinto confuso diante da caixa de instrumentos. Esta noite, antes de dormir, irei invocar Sócrates: que visite meus sonhos!

    uma boa noite chuvosa!

    um abraço de início de semana!!^^

    ResponderExcluir
  2. Muito querida Marília,
    oxalá (=queira Alá!) teu colega Sócrates tenha te visitado esta noite e ajudado tirar os excessos do bloco de mármore. Lembra-te que podes fazer um projeto (quase) acabado.
    Um afago carinhoso com votos de uma muito boa semana
    attico chassot

    ResponderExcluir
  3. Eu Sarisa estou envolvida com este texto que me faz refletir sobre minha dissertação. O quanto é importante levar em consideração, que o quase acabado não é o fim, mas fecundas possibilidades de progressão e assim podera continuar...alcançando objetivos propostos mas nunca unicos, mas sim continuos...uma Boa Noite!

    ResponderExcluir
  4. Sarisa querida,
    aqui de Campo Grande agradeço teu comentário. Agora, quando rediges as tuas (quase) conclusões de tua dissertação acerca da UAM - Universidade do Adulto Maior vibro com teu trabalho.
    Um afago com admiração
    attico chassot

    ResponderExcluir