terça-feira, 30 de março de 2010

30*TER* Diga SIM à água da torneira

Porto Alegre Ano 4 # 1334


Já estamos na terça-feira santa. Depois de saboreado gratificações intelectuais com a aula na UAM: Universidade do Adulto Maior ontem, prelibo para essa noite aulas de Prática Pedagógica com o grupo da filosofia. Em meio esses ágapes enviei um texto para ser um capítulo de um livro. Amanhã quero oferecer, aqui, petiscos dele. Falando em manjares algo não metafórico começa hoje em Porto Alegre a edição número 230 da feira do peixe, marca ‘religiosa’ da semana santa.

Zero Hora publica um muito bom caderno dedicado à proteção do ambiente natural: NOSSO MUNDO SUSTENTÁVEL. Ele tem um demérito: é patrocinado por uma dos maiores oligopólios do setor fumageiro do mundo. A situação não é diferente quando vemos uma mega-empresa papeleira, plantadora do eucalipto – predador do solo comentado em ‘Sete escritos sobre educação e ciência’ quando falo das vinganças da tecnologia – patrocinar no Rio Grande do Sul as celebrações do dia da árvore, disse que isso era o mesmo que contratar uma empresa funerária para patrocinar uma festa de batizado de criancinhas.

Mas atentos às recomendações de um texto evangélico (apócrifo) ‘Usemos os excrementos do demônio para adubar as vinhas do Senhor’ trago aqui um texto da edição de ontem do caderno antes referido: Diga sim à água da torneira que merece consideração.

A autora questiona se água das garrafinhas é obrigatoriamente limpa ou se a água da torneira só pode ser usada para lavar louça e tomar banho. Annie levanta ainda a dúvida: as garrafas plásticas são recicladas? No vídeo (disponível em http://storyofstuff.org/bottledwater/), ela responde essas e outras perguntas e ainda apresenta dados preocupantes.

Uma ao lado da outra, as garrafas plásticas consumidas pelos norte-americanos em uma semana poderiam dar mais de cinco voltas ao redor da terra. Ficou preocupado?
Pois no desejo de fazer com que você diga não às garrafinhas, a americana ainda conta que a energia e o óleo usados para produzir o plástico das garrafas nos Estados Unidos poderiam abastecer um milhão de carros.
A solução, segundo ela, passa por investimentos em infraestrutura pública para o tratamento da água da torneira e pelo controle da poluição. Pensando no faça você mesmo, Annie dá a dica: Compre uma garrafa reutilizável (como as de alumínio) e diga sim a água da torneira.

Adito a esse texto, algo que está no capítulo ‘A vingança da tecnologia’ do Educação conSciência: sem fazer atualização de valores:

Não ter acesso à água potável é resultado de pelo menos dois fatores: à natural

escassez do líquido se soma a ineficiente administração, a falta de instituições apropriadas, a inércia burocrática, a corrupção etc. Esta última traz junto de si as continuadas tentativas de privatizar a água, transformando-a em mercadoria regulada pelas leis de mercado. Essa corrupção usualmente começa com a deterioração da qualidade dos serviços públicos para constranger a população a adquirir água de particulares para assim se demonstrar a ineficiência da gestão da água como um bem público e como conseqüência se mostrar a necessidade da intervenção da iniciativa privada. Um índice dessa situação é o significativo aumento em nossas cidades da distribuição, ou melhor, da venda de água em bombonas plásticas; em muitas situações, sem nenhum controle da qualidade da mesma. Vale verificar o quanto estamos sendo educados para não tomarmos água da torneira. Há não muito tempo vi uma falaciosa análise festejando o anunciado aumento no

consumo de água mineral como um sinalizador do vigor de nossa economia. Isso é no mínimo taxar-nos de burros, pois sabemos quais as razões para esse festejamento. Há países da América Latina, onde se descuidou de tal maneira a distribuição da água como bem público que pareceu natural a privatização. Verifica-se, então, que são as mesmas empresas que adquirem o controle da água, que vendem a água engarrafada.

Recentemente fomos bombardeados por folhetos e outdors com a ‘amigável’ pergunta: Proteger a sua família das bactérias não vale R$ 39,90*? No asterisco se ficava sabendo que esse valor era por mês. Chega ser acintoso se mostrar a necessidade a alguém que ele deveria proteger a família, purificando a água que compra, pagando por um aparelho, a cada mês mais de 13% do salário mínimo. Não é ofender a um trabalhador sugerir que ele deva proteger sua família assim?

Com votos de uma terça-feira, espero que apreciem os petiscos anunciados para amanhã.

6 comentários:

  1. pois minha preocupada vó Eva, atenta à saúde da família, adquiriu um filtro de água: parte da sua aposentadoria é dedicado mensalmente a troca do refil! Os filhos tentaram, em vão, convencê-la de que não era necessário. E de birra, quando nos visita, não consome "essa água poluída da torneira", leva a sua própria garrafinha...
    Espalhar o pavor e oferecer alternativas “saudáveis”, parece mais uma estratégia de estimular o consumo, ainda mais em tempos de pavor, onde nos fazem acreditar que estamos num caminho sem volta rumo à destruição: viva bem e com o mínimo de saúde neste planeta doente e acabado. Não há mais nada a fazer. Este parece ser o recado.

    (com licença, vou ao bebedor)

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  2. Muito querida colega Marília,
    com teu comentário ‘não fizeste furo em água’, Acertaste plenamente. Imagino a boa vontade de tua avó, seduzida por propagandas enganosas, querendo preservar a saúde de seus familiares. Dizer que a água da torneira (ou da pena! Como dizia em minha infância é ruim tem duas metas: favorecer a privatização do bem público, mostrando a incompetência do Estado e beneficiar as (multinacionais) distribuidoras de água envasadas em poluídas garrafinhas plásticas.
    Vou à torneira, também, para mais um gole de água e te envio um afago
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, a sua blogada sobre a água da torneira me faz pensar em como o uso da água é um dos indicadores de desenvolvimento de um país, seja este um indicador econômico, social ou cultural. Um exemplo simples é a Nova Zelândia, onde a distribuição da água é gratuita para a população, e onde existe um lago (o Lake, em Queenstown) cuja água é tão limpa, que as pessoas podem banhar-se nela e dela beber.

    Ótimo dia.

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  4. Meu querido Marcos,
    mais uma vez obrigado por teu comentário sempre pertinente.
    Saúdo-o com um gole de água do lago Guaíba já que as águas do Queenstown Lake estão inacessíveis aqui.
    Com admiração
    attico chassot

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  5. Boa tarde, Professor!
    Pôxa vida, parece ofensa mesmo!
    Mas o senhor me fez pensar acerca do uso e abuso com que muitas pessoas fazem..e das campanhas, eu diria temporonas,que de nada parecem estar servindo, pois as pessoas ainda não têm consciência de seus atos..Como em tantas situações, não é mesmo?!
    Sempre a idéia do 'nunca acontecerá comigo' prevalece.
    Somente quando a água estiver 'mesmo' em falta é que muitos 'acordarão'..
    Isso dá medo..
    Abraços.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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