quarta-feira, 31 de março de 2010

31*QUA* (Quase) superando Babel


Porto Alegre Ano 4 # 1336

Ontem anunciara aqui, que nesta Quarta-feira Santa, ofereceria petiscos de um texto que escrevi que deve se tornar um capítulo de uma obra acadêmica a ser escrita por pesquisadores da área de Ensino de Química. Não imagino que algum leitor tenha acessado hoje esse blogue tendo como meta saborear aqueles pitéus. Se tal aconteceu, peço, respeitosamente, para frustrá-lo. Hoje se dirá aquilo que Camões – e nesta cita minha manifesta homenagem aos meus leitores de Portugal, país onde depois do Brasil, tenho leitores de um número mais variado de cidades – cantou: “Cesse tudo que a musa antiga canta, pois valor mais alto se alevanta!”

Ora direis: o que faz mudar assim a pauta? E mais, postergar o aperitivo, talvez, para depois da Semana Santa, pois acredito que amanhã e sexta-feira devo trazer evocações de Semanas Santas.

Eis o fato novo: desde ontem esse blogue tem mais uma inovação: um tradutor para dezenas de idiomas ‘powered by’ Google. O incremento surgiu pela manhã num teclar com meu colega Jairo, quando comentávamos o quanto, para aqueles que não falam português, nossos textos são bastante inacessíveis.

Tenho, ainda muito presente, o que evocava aqui, no em 03 de março, dia imediato aquela que foi a fala mais exótica de minha vida, na Læreruddannelsen Aalborg do University College Nordjylland, uma escola de formação de professoras e professores.

Escrevi então, e concedam-me absolvição pelo autoplágio, que uma vez mais, lamentava muito que um dia tenha havido a tentativa de alguns semitas ambiciosos em construir a Torre de Babel. Isso já me prejudicou / prejudica em minha vida. Isso deve ocorrer para bilhões de humanos. No passado, quando não havia os tradutores como o do Google isso era ainda mais dramático. Acredito que os únicos que lucraram / lucram / lucrarão com a tentativa de chegar aos céus por meio de uma torre são os tradutores e os editores de dicionários.

Fiz então uma brincadeira, comentando que Jeová não foi nada misericordioso e muito menos um bom camarada. Poderia apenas ter mandado um tufãosinho ou uma simples soprada sobre a torre. Se não houvesse tomado a radical decisão de embaralhar as línguas (um pedia tijolo e outro alcançava uma pá; um queria água, outro entregava uma corda) e hoje todos falaríamos a mesma língua em todo o mundo. Há muitas representações desta mítica narrativa. Talvez a mais célebre é A Torre de Babel (abaixo no centro) de Pieter Brueghel, "O Velho" (para distingui-lo de seu filho mais velho) (Breda, 1525/1530 — Bruxelas, 9 de setembro de 1569) considerado um dos melhores pintores Flandres do século 16.


Naquela palestra em Ålborg não poder me comunicar melhor com aquelas e aqueles que me ouviam tão atentamente foi doloroso. As dificuldades, entretanto, não foram só minhas. Eu sou imensamente grato a Jette Schmidt, professora de Geografia do University College e aluna de doutorado em Science Education na Ålborg Universitet. Ela teve um desafio tão grande quanto o meu. Não sendo falante de nenhuma língua latina, traduziu para o dinamarquês meu inglês que é muito pobre. Como comentei, tanto a Jette quanto eu tivemos a ajuda muito preciosa das lâminas que trouxera com toda a palestra inglês. Todavia, se eu não tivesse sua ajuda, a palestra seria para ouvidos moucos. O mais difícil foi responder questões formuladas pelos estudantes em dinamarquês e traduzidas para o inglês, quando então eu não tinha a ‘cola’ em Power Point. Mesmo sabendo que ela não me lerá aqui, uma vez mais, faço público meu profundo reconhecimento.

Claro que sei que esse tradutor, que desde ontem incrementa este blogue, não é uma panaceia maravilhosa. Ensaiei algumas verificações. Por razões óbvias, fiz essas verificações em espanhol.

Eis o primeiro parágrafo de ontem: Já estamos na terça-feira santa. Depois de saboreado gratificações intelectuais com a aula na UAM: Universidade do Adulto Maior ontem, prelibo para essa noite aulas de Prática Pedagógica com o grupo da filosofia. Em meio esses ágapes enviei um texto para ser um capítulo de um livro. Amanhã quero oferecer, aqui, petiscos dele. Falando em manjares algo não metafórico começa hoje em Porto Alegre a edição número 230 da feira do peixe, marca ‘religiosa’ da semana santa.”

Há algumas imprecisões dramáticas: ‘terça-feira santa’ passou para ‘martes viernes’ isso os robôs que fazem a tradução associam ‘...feira-santa’ a ‘sexta-feira’. O ‘grupo da filosofia’ ficou ‘la filosofía del grupo’. Os ‘ágapes’ transformaram-se em ‘festas de caridade’. Essas parecem ser as ‘falhas’ mais evidentes dos robôs do Google, em apenas meia dúzia de linhas.

Não tenho como imaginar em que ficou transformado meu texto, quando me contemplei escrito em caracteres cirílicos, até porque esse blogue tem sido acessado na Rússia. Claro que me maravilhei ver-me escrito em iídiche ou em chinês, só não sei o que os robôs podem ter feito com ‘ a 230ª feira do peixe.

Sei que um dos recursos para minimizar esses erros é escrever frases menores e cuidar com uma estrutura mais canônica: sujeito, verbo e predicado. Não sei se vale à pena sacrificar o estilo em detrimento de possíveis leitores. Acredito que, salvo que esteja fantasiando, leitores que desconhecem o português, possam ter uma ideia de qual é o assunto da blogada.

Claro que equívocos de tradução não cometem apenas os robôs; nos humanos também. Há não muito a palavra ‘prolixo’, em espanhol, ‘prolijo’ ofereceu problemas, por significados opostos, pelo menos em uma de suas acepções. Eis registros nos dicionários. Em português: Que cansa ou entedia = enfadonho, fastidioso e em um dicionário espanhol: hacer algo con esmero, con cuidado. Já imaginei que, com o concurso de leitores hispanohablantes, poderíamos produzir uma sumarenta blogada acerca de palavras com significados díspares. Nesse exemplo a sugestão e o convite.

Com desejo de lermos amanhã aqui votos de uma muito boa quarta-feira, nessa semana que é Santa.

4 comentários:

  1. Muy querido Profesor Chassot,
    Ciertamente, un pequeño soplido habría sido mejor, así nos evitaríamos los enredos y barreras que las diferencias lingüísticas nos imponen.
    Me permito acrecentar dos palabras con sentidos diferentes en nuestros idiomas, que ya me causaron confusión.
    En portugués, el término engraçado significa algo divertido; en español, engrasado significa "Untar, manchar con pringue o grasa (engordurar, engraxar).
    En portugués embaraçar = criar ou sentir embaraço; complicar(-se); atrapalhar(-se); mientras que en español embarazar quiere decir dejar encinta a una mujer (¿engravidar?).
    Que su Semana Santa sea también bendecida, un saludo cariñoso,

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  2. Muito estimada Matilde,
    realmente si Jehová hubiese dado un pequeño soplido (podría ter sido un grade, también) las cosas hoy se quedarían más harmónicas y más fáciles.
    Hay en portugués una expresión ‘morder a isca’ parece que tú la has mordido y adherido a mi propuesta de hacernos un edición de este blogue que contemplase al lado de prolijo y eso que traes hoy otras como esposa (no sentido de cadenas o esposar = algemar) y caprichosa con sentido opuesto en portugués y español. Juntemos más algunas y escribimos una blogada!
    Agradezco tus votos pela Semana Santa y los retribuyo,
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, parece-me que a alfabetização científica conta agora com um incremento excelente: um tratudtor. Imagino o quão difícl deva ser alfabetizar em uma língua diferente, ainda mais com temáticas tão variadas.

    Ótimo dia.

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  4. Meu caro Marcos,
    sim, mas viste que o tradutor tem muitas limitações.
    Uma muito boa noite e já te imagino curtindo aí na tua bucólica Viamão o majestoso primeiro plenilúnio outonal que marca a chegada Páscoa
    attico chassot

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