terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

11.— ABORTAR PLANOS EM FÉRIAS É BOM!


ANO
 8
ANNENASSE – França

EDIÇÃO
 2680
Quando planejamos férias, é usual esquecer variáveis —que mesmo usualmente presentes — podem produzir alterações em planos. Na manhã de ontem, de repente, tivemos um plano foi abortado. Estava na agenda irmos a Genebra para visitarmos a sede da ONU e conhecer o Museu da Cruz Vermelha.
Estávamos um tempo na parada, quando soubemos que havia uma paralização de ônibus. As razões não são muito diferentes daquelas que fazem que porto-alegrenses vivam dificuldades com o transporte coletivo: protestos contra as péssimas qualidades de trabalho.
A segunda-feira, depois do extenso fim de semana em Berna, parecia não comportar uma caminhada até a fronteira para tomar ônibus suíços.
Primeiro fiz uma pequena circulada por uma pequena cidade vizinha: Ambily, que fica ao norte de Annemasse, com cerca de 6 mil habitantes. Seu lema Parvula sed non minima que pode ser traduzido como ‘A menor (cidade da Alta-Savoia, estado onde estamos), mas não qualquer. De Ambily registro algo que me parece significativo. Em uma praça, uma pequena caixa de livros (na foto), servindo de local de troca. Leva-se um livro e deixa-se outro em troca. Realmente Ambily, pode ser a menor, mas não é uma cidade qualquer.
Resolvemos fazer um dia de preparação para volta. Afinal, em outras ocasiões já comentei aqui os ensinamentos colhidos de Michel Onfray, um filósofo francês, que nasceu em 1959, em Argentan, no seio de uma família de agricultores normandos. Fez doutorado em Ciências Política e Jurídica. Lecionou Filosofia, no ensino secundário durante 20 anos em um liceu em Caen. Descrente do modo como se ensina Filosofia aos alunos, em 2002, fundou a Universidade Popular de Caen, uma universidade gratuita e heterodoxa, cuja concepção se assenta nos princípios do seu manifesto La communauté philosophique, que busca voltar às raízes do humanismo ocidental. Onfray defende que não há Filosofia sem Psicanálise e os seus escritos celebram o hedonismo, a razão e o ateísmo. Volto, agora a um de seus livros.
ONFRAY, Michel. Teoria da viagem, poética da geografia. [Théorie Du Voyage (Libraire Générale Française, 2007)] Tradução Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2009. 112 p. 21 cm. ISBN 978-85-254-1918-7

Onfray parte do relato de Caim e Abel — o agricultor e pastor —, no livro fundante da civilização judaico-cristã quase nos inquirindo: Qual é a origem do desejo da viagem? Porque nos sentimos mais nômades (como Abel) ou sedentários (como Caim)? Porque somos impelidos para o movimento constante, a deslocação, ou amamos o imobilismo e as raízes? Porque mantiveram alguns povos a sua marcha inexorável, pastoreando os seus rebanhos? E porque se dedicaram outros a um só lugar, onde cuidaram dos seus campos? A energia que anima estas formas de vida tão distintas, estes dois arquétipos, é a mesma que anima o resto do universo, e que as combina obscuramente em cada um de nós. 
Onfray em sua Teoria da viagem estuda a viagem em três momentos: o Antes; o Durante; e o Depois. Para cada desses momentos traz oportunas teorizações. Na verdade a viagem começa muito antes de partirmos, nos rituais de programarmos e fazermos roteiros. Mas também começa terminar antes. Sinto que a nossa está começando a terminar. Em muitos momentos, já anseio pelo meu cotidiano na Morada dos Afagos. Este dia chuvoso e frio, com programação abortada foi ideal para tal. Mas nesta terça-feira, último dia antes de começar a voltar, temos muito planejado.

5 comentários:

  1. Com certeza Onfray jamais suportou o "imobilismo". Viagem poderia ser sinônimo de conhecimento.
    Boa Viagem mestre. De volta para o seu recanto.

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  2. Limerique

    Limerique

    Lá como aqui trabalhador se atreve
    Como tão bem Chassot o descreve
    "Transportes parem!
    Até nos pagarem"
    Na Europa também existe greve!

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  3. Eu acrescentaria um quarto estagio as viagens, o qual as torna eternas, as lembranças
    Abraços

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  4. Ao Mestre Chassot: E que Deus acompanhe voces nessa volta. Bom retorno. Um abraço Ley.

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  5. Muito estimada Ley!
    Obrigado pela compania!

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