sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

UMA EDIÇÃO PARA DESPEDIR 2021 ANO 16 ******* EDIÇÃO 2028

 Dezembro já vai à reta final. Este dezembro não é diferente de outros dezembros. Sempre mês que passa voando… no qual nunca tem lugar em nossas agendas. É um mês de  embalar sonhos de reencontros familiares e também de pensar em paradas para descansos.  

Neste dezembro já vivemos tristezas. Na edição passada eu compartilhei em um blogar um desejo de voltar a fazer um estágio-residência na Escola  Nacional de Ensino Médio do Sesc, repetindo meu estar ali em outras oportunidades. Esse sonho se esboroou. Cerca da metade dos professores foram demitidos esta semana. A escola deixará de ter alunos residentes para se transformar em uma escola só com alunos externos. Ao invés de uma escola com alunos de todas as unidades da federação só terá alunos do Rio de Janeiro. Não é fácil ver uma das pérolas educacionais ser dilapidada, na submissão ao deus Mercado. 

Neste  dezembro já houve saborosas partições do conhecimento: ‘voltei’ à Estação Jacuí, à escola onde há 74 anos fui alfabetizado para falar aos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental acerca da alfabetização científica. Estive em Porto Seguro para falar sobre o mesmo assunto na Universidade Federal do Sul da Bahia. No Instituto Federal do Rio de Janeiro, no Campus de Duque de Caxias, respondi mais uma vez a questão: a ciência é masculina? No Instituto Federal Goiano, em Urutaí, falei acerca de diferentes óculos para contemplar o mundo. Ontem,  à tarde, estive mais uma vez na Universidade Estadual do Amapá onde mostrei o quanto a alfabetização digital é requisito para uma assemblage de múltiplas alfabetizações.

A super quinta-feira, 16/12 teve ainda dois momentos significativos, um pela manhã e outro à noite. Primeiro refiro este: Miguel Nicolelis apresentou aula-show "O Verdadeiro Criador de Tudo - Como o cérebro humano esculpiu o universo como nós o conhecemos". O prestigiado cientista brasileiro diz que o nosso cérebro é como um camaleão e conforme nossa relação com os sistemas digitais, ele pode mudar sua configuração em sua forma de perceber e sentir o mundo, de se comunicar. Edu Moreira sabendo do quilate de seu convidado soube vender o Instituto Conhecimento Liberta.

Na amanhã de quinta-feira ocorreu o evento heliocêntrico (para mim): o exame de qualificação da Doutoranda Uiara Mendes Ferraz de Pinho, Professora Instituto Federal no Campus de Xapuri  e minha orientanda na Reamec. A tese doutoral "A escrita de si: narrativas sobre trajetórias formativas, singularidades e experiências de docentes orientadores que formam doutores para área de Educação em Ciências e Matemática" foi examinada e aprovada por arguta banca formada por Daniel Aldo Soares (IFG),  Silvia Nogueira Chaves (UFPA), Evandro Ghedin (UFAM) e Terezinha Valim Gonçalves ( UFPA).


Neste mês de dezembro houve duas saídas diferentes daquelas 5 saídas semanais para a academia. Fiz uma visita (o momento é tão afetuoso que não refiro como consulta) ao meu cardiologista ele disse, em brincadeira, que poderia marcar a próxima consulta para daqui a 20 anos. Outra saída foi ir ao banco fazer prova de vida.  Aproveitei para cortar o cabelo. Ainda uma dádiva desse dezembro: tenho realizado algumas vindimas. As  uvas embaladas em caixa para 3 ou 4 cachos se faz mimos para obsequiar amigos.  

 Amanhã, viverei um momento muito especial: receberei minhas filhas e meus filhos, meus 4 netos, 4 netas, noras e genros.  Há os que não encontro há quase dois anos, tempo que para alguns corresponde a um quarto de suas vidas. Há sobejas razões para viver com encantamentos a expectativa deste momento.

Esta postagem marca o início de um recesso que deve se estender até 17 de janeiro. O blogue não circulará então. Honrarei o compromisso da participação em uma banca no dia 20/01/2022 no IFES.

Desejo agradecer às leitoras e aos leitores a parceria nas 49 edições de 2021. Sonho que 2022 tenhamos edições nas quais não precisemos gastar pólvora em chimango. Este ano tal foi recorrente. Adito aqui e agora votos de muitas alegrias nos dias festivos que advêm. Nos leremos, já com saudades, em dias que são próximos. Até, então!


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

UM SONHO QUE SE ESBOROA ***** ANO16 **** EDIÇÃO 2027

Quando se lamenta os descalabros do governo da República, de maneira especial nas áreas da Educação, da Saúde e do Meio Ambiente, nos referimos ao que se faz e também ao que não se faz nestas áreas nestes  tempos pandêmicos.  Há que lembrar que existe uma grande destruição de ganhos históricos, principalmente na área da Educação. É doloroso reconhecer que conquistas significativas são simplesmente destruídas. Trago um exemplo: na última edição do mês de novembro deste  blogue comentava um sonho que transcrevo “Ontem recebi, enviado pelos meus colegas Gustavo e Frederico, da Escola de Ensino Médio Sesc Rio de Janeiro, o livro Aula núcleo de Ciências da natureza: espaço de inovação, diálogos e práticas interdisciplinares. Se diz, em uma dedicatória: sua produção é uma inspiração. Acompanhava o livro uma camiseta do caminho das Ciências, no qual figuro. Estes mimos só ajudam a querer bisar a residência que fiz em tempos pré-pandêmicos. Agora pensaria em um mês e não uma semana, como antes.”


Parece que sonhar está proibido. Meu desejo em re
petir um estágio-residência na Escola de Ensino Médio SESC se esboroou (pelo menos por ora).  Antes de relatar o catalisador de sumidouros de sonhos vou reavivar relatos mais de uma vez presentes neste blogue acerca da mais preciosa pérola educacional que eu conheço.

Em novembro de 2017 recebi um convite para participar de um seminário com o instigante título: Expansão de Fronteiras para a Educação Científica. Aceitei. Em uma segunda-feira de agosto de 2018 tive o privilégio pela manhã e pela tarde, conhecer um pouco a  Escola Nacional de  Médio. Voltei em 2019 e então por uma semana vivi uma experiência educacional me fez desejar submergir ainda mais na  Escola Sesc de Ensino Médio. Ela  se caracteriza por oferecer uma educação efetivamente integral para uma comunidade de alunos e alunas que representa a vasta diversidade cultural brasileira. Os estudantes vêm de todos os estados do Brasil (selecionados dentro da cota de vagas para cada uma das 27 unidades da federação, para formar, juntamente com a equipe de educadores, uma comunidade de aprendizagem. Instalada em um campus de 131 mil metros quadrados em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. A instituição conta com uma privilegiada estrutura de ensino, com Espaço Cultural, laboratórios, biblioteca, ateliês de arte, complexo esportivo, restaurante, além das vilas residenciais para quase 500 alunos e alunas dos três anos do Ensino Médio. Dos cerca de 80 professores, a metade mora em vilas especiais para professores no campus. As salas de aula foram projetadas para atender até 15 estudantes. Estudar na Escola Sesc de Ensino Médio confere a todos os alunos e alunas direito ao material pedagógico (incluindo um notebook), uniformes, moradia, alimentação, assistência médica e odontológica. 

A oportunidade de viver a experiência da residência é uma das faces mais ricas do projeto da Escola Sesc de Ensino Médio. Viver como residente traz a possibilidade do profundo desenvolvimento da autonomia, estimula trocas entre jovens oriundos de todas as regiões do país, aproxima professores e alunos, e permite a construção de valores de cidadania. O principal objetivo da Escola é a efetiva transformação da vida dos jovens, que se desenvolvem sob todos os pontos de vista e concluem o Ensino Médio prontos para seus projetos de vida. 

Menos do que narrar palestra e os aplausos a mesma ou os sedutores convites para integrar o corpo docente da Escola, queria responder a uma pergunta natural: quando universidades, institutos federais e escolas públicas rede das diferentes esferas então à míngua de onde vem essa abundância de recursos para esta Escola? A resposta é fácil! Milhões de empregados no comércio (e em serviços assemelhados) descontam uma vez ao ano 1% da contribuição previdenciária que se destina a organizações do sistema S (Sesi, Sesc,Senar...). A Escola de Ensino Médio do Rio de Janeiro é um dos exemplos dos muitos que se poderia fazer aumentando o número de escolas do Sesc para todos os Estados da Federação. O exemplo de uma Educação gratuita e de qualidade destinada a estudantes do ensino médio oriundos de famílias cuja renda não é maior que três salários mínimos deve frutificar.

 Mas porque tudo isso corre o risco de esboroar-se? Transcrevo apenas dois parágrafos de boletim do SINPRO RJ*: Por conta de uma "mudança no plano de negócios" proposta pela Direção Nacional do SESC, a Escola Sesc de Ensino Médio está executando um processo demissional de seus professores e professoras, o que fez com que o Sinpro-Rio convocasse a categoria docente para assembleia.

Já foi apresentada à direção da instituição a pauta de reivindicações da categoria, que não foi atendida nem debatida, de forma objetiva, em mesa de negociação do sindicato com a  instituição. Os/as professores/as já estão com suas atividades pedagógicas suspensas, por deliberação da assembleia, e decidiram que continuarão assim até obterem uma resposta clara do SESC sobre o processo demissionário e sobre a existência futura da instituição". Mudanças nos “negócios” da mercadoria Educação para fazê-la mais palatável aos mercadores é a meta. Parece não se saber o que se quer destruir. Vender é preciso.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

PREITO A MARCELO AQUINO **** ANO 16 ** EDIÇÃO 2026

A vida é formada por alegrias e por tristezas. Parece ser natural que umas e outras se equilibrem / alternem dando ao viver múltiplas situações. Vez ou outra,  as alegrias são tantas que nos encharcamos nelas e não conseguimos fruí-las como seria mais aprazível. No outro lado da mesma moeda, não raro, agrandamos tanto as tristezas que quase anunciamos estarmos a naufragar.

À madrugada de terça-feira, recebi duas notícias: uma muito triste e outra muito boa. Durante a sessão da academia não conseguia responder às repetidas perguntas da Márcia, a Personal Trainer: aonde o senhor está viajando, agora? Eu procurava, com a alegria que me dava a carta do Padre Marcelo, expulsar a imensa tristeza que a morte de Sofia, 12 anos, colhida por um caminhão ao voltar para casa de bicicleta desde o centro de Igrejinha. Minutos antes, Sofia dera tchau para a minha neta Maria Clara, com quem passara a tarde. Pensava como os netos Carolina e Pedro vivem esta perda dolorosa e inédita em suas infâncias.

Já muito aprendemos a chorar nestes tempos pandêmicos. Chorei, choro com meus netos pela dor dos pais que na terça-feira sepultaram Sofia no cemitério próximo à Escola, onde ela assistira aula no dia anterior. Esqueçamos momentaneamente as tristezas. Estas, como as alegrias são, de maneira geral, incomensuráveis. 


Sem comparar alegrias com tristezas, foi oportuno memorar ofício assinado pelo  Padre Marcelo  Aquino, Reitor da Unisinos: São Leopoldo, 29 de novembro de 2021. Ilmo. Sr. Alan Coelho Chefe do Cerimonial Palácio do Itamaraty, Prezado Senhor: Fiquei agradavelmente surpreendido pela admissão de meu nome no quadro suplementar dos cidadãos a serem agraciados com a honrosas insígnia do grau de Cavaleiro da Ordem de Rio Branco, conforme decreto publicado no Diário Oficial da União no dia 26 de novembro. Reconheço a legitimidade e importância desta prestigiosa honraria da República E ser lembrado pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Conselho da Ordem de Rio Branco -- prestigiosas instituições brasileiras --, me deixou muito honrado. Apesar disso, declino de receber esta condecoração, em virtude da atual incapacidade do Governo Federal de dar rumo correto para as políticas públicas para as áreas de Educação, Saúde, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Respeitosamente Prof. Dr. Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, Reitor. Nada a aditar. Feitos como este do Padre Marcelo são verdadeiros bálsamos que parecem higienizar nossas mentes dos fétidos fazeres do governo da República.

Enviei na terça-feira esta mensagem: Muito querido Padre Marcelo! Suma cum laude. A notícia presente em dezenas de meios de comunicação me fez muito feliz! Que ato revestido de dignidade este teu! Que bom poder dizer: ele é meu amigo. Com espraiada admiração. Embalei reminiscências. Cevei saudades. Evoquei alunos e colegas. Recordei momentos singulares do meu ser professor.

Minha história com a Unisinos é longa e distante; em 1965 e 1966 fui professor de Química Geral do Departamento de História Natural da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, unidade seminal que gerou em 31/07/1969 – dia de Santo Inácio de Loyola – a Unisinos. As aulas então eram no que hoje se denomina de Antiga Sede, no centro de São Leopoldo, próximo ao rio, em um prédio com aspecto de  um claustro interno. Não lembro muito destes meus dois primeiros anos, fazendo a estreia como professor universitário, sendo que em 1965 ainda estava no último ano da licenciatura em Química. Recordo que quando vi meu nome entre os professores do Curso de História Natural, fiquei muito orgulhoso.

Volto à Unisinos como professor, 30 anos depois, em agosto de 1995 por concurso público para o Programa de Pós-Graduação Educação. Permaneço por 25 semestres. Há uma coincidência: no primeiro e no último semestre de Unisinos: no primeiro (1995/2): sou professor simultaneamente da Universidade Luterana do Brasil – Ulbra e no último de Unisinos (2008/2) também sou professor do Centro Universitário Metodista – IPA 

Enquanto professor do Centro de Ciências Humanas, lecionei  Introdução à Filosofia da Ciência no Centro de Ciência Econômicas e Metodologia de Ensino de Ciências no curso de Pedagogia. Desenvolvi atividades de ensino e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em Geologia. Fui por 4 anos (1998-2001) Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação; esta foi talvez a mais exigente e difícil atividade acadêmica de minha história profissional. Sempre digo que não foi fácil coordenar um conjunto de eminentes professores doutores (eram muitas estrelas para pouco céu!). Tive a gratificação de ver que a avaliação da CAPES, imediatamente após a minha gestão (onde foi implantado o doutorado) levou o curso a um dos três do Brasil (o único em de instituição privada) a ter a nata mais alta em um Programa de Pós-Graduação de Educação. Também fui representante dos Professores do Centro de Ciências Humanas no Conselho Universitário e Membro da Câmara de Graduação. Fui membro do conselho Editorial da Editora UNISINOS e seu Presidente. Esta atividade na Editora me encantava. Fui co-editor da Revista Estudos Leopoldense e posteriormente editor da Revista Educação Unisinos. Eu, então um jovem doutor (=fizera o doutorado já aposentado) na Unisinos orientei quatro doutores e dezoito mestres.

A saída da Unisinos foi bastante sofrida para mim. Em 2004 completei 65 anos e era previsto minha retirada da Unisinos. Então, o Pe. Marcelo de uma maneira muito pessoal, disse-me que eu ganhara mais três anos de sobrevida. Passaram-se os três anos e vi mais colegas sendo jubilados, sem ganharem os anos plus. Mas passados os anos de sobrevida chegou a minha vez de partir. Afortunadamente já, no semestre anterior  havia iniciado no Centro Universitário Metodista - IPA.

Para encerrar esta primeira edição de dezembro de 2021 duas narrativas evocando o estar com o Padre Marcelo: quando fiz cirurgia em 1999, ele foi muito  próximo antes e depois da cirurgia, visitando-me no hospital e em casa. Não earo, nós almoçávamos juntos. Então convidava: vamos tomar ‘nossa cachacinha’. Era um convite para irmos à biblioteca, cujos livros são acessíveis aos leitores. De meu anedotário pessoal trago extrato de um diálogo:

- Padre Marcelo, é verdade o que se conta: sempre que se pergunta algo a um jesuíta ele responde com outra pergunta?

- Professor Chassot, quem te contou isso?

Esta edição já estará circulando quando está noite falo em Porto Seguro, na Universidade Federal do Sul da Bahia tentando maravilhar-nos com uma assemblage de alfabetizações. Esta chamada do tema desta noite evoca o encerramento dos dois semestres 2021 com mestrandos e doutorandos do IFES. Em https://padlet.com/manuellaamado/z578gwf0jchxs8bn está um excerto do happy end do entardecer desta quinta-feira, no Espírito Santo.

 


sexta-feira, 26 de novembro de 2021

BlackFriday: DIA DE LAUDAÇÃO MAIOR AO DEUS MERCADO

ANO 16     ******  EDIÇÃO 2025 

A blogada de encerrar novembro é prenhe de emoções. Por tal, anuncio uma edição tecida no alinhavar sumarentas emoções. Não deixa de ser significativo um desses patrolamento que o deus Mercado faz de algo que se comemorava no Brasil, numa imitação dos estadunidenses; afinal, deles nós não aprendemos apenas o Halloween. Se perguntarmos: Qual a origem desta tão badalada Black Friday? não serão muitos os que associam ao Dia Nacional de Ação de Graças comemorado na última quinta-feira de novembro (ou se quisermos ser mais precisos: na quinta-feira faz transição do ano litúrgico, com o começo do período do Advento, com a preparação do Natal. Nos Estados Unidos esta festa é conhecida como Thanks Given Day, quando entre outras coisas se come peru e se troca presentes. Como comércio pode ter sobras das ofertas para compra de presentes e muitos trocam os presentes. A sexta-feira que sucede essas comemorações é um dia de grande movimento no comércio; é isso que nós assistimos, quando nem sequer se faz referência (eu pelo menos não vi ninguém celebrar, este ano, o Dia Nacional de Ação de Graças, que entre nós já teve até patrocínio de um banco) apenas ouvimos referir à comercial Black Friday.

Esta foi uma semana de cinco lives e uma banca. Quase ao pôr do sol desta sexta-feira fiz uma fala inserta nas comemorações dos 50 anos de criação do Curso de Química na Universidade Federal de Viçosa. O Professor Vinícius Catão sugeriu e mediou as discussões da fala: Uma brecha entre nosso passado e o nosso futuro. Na segunda-feira, em atividade organizada pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro campus Duque de Caxias discuti: A alfabetização científica -- que tem como pré-requisito a alfabetização digital -- é um direito universal. Na terça-feira, à tarde, trouxe esta mesma discussão em uma atividade do Instituto Federal do Mato Grosso, no Câmpus de Cuiabá. Ainda na noite de terça-feira, no IF Goiano, no câmpus de Urutaí, fiz uma das palestras mais requisitadas do meu portfólio: A ciência é masculina? É, Sim senhora! Lamentavelmente por problemas com a plataforma escolhida a atividade foi muito prejudicada. Manifestei então e ratifico aqui: Estou disponível, ainda neste mês de dezembro a repetir a palestra, até para aplacar minha frustração. Na quarta feira,  numa promoção do Programa de pós-graduação em Ensino de Ciências, no câmpus de São Luís da Universidade Federal do Maranhão defendi, uma vez mais, o direito universal à alfabetização científica. 

Parece importante afirmar (mesmo que dispensável para aqueles que me acompanham há mais tempo) que em todas as minhas falas uso como prefácio e também como posfácio, como antídoto às políticas bolsonaristas que degradam o meio ambiente a encíclica laudato si’ do Papa Francisco.


Mas, maior emoção do que nessas cinco lives há um registro maior, em outra dimensão que merece narrar: Ontem, quinta feira, 10 minutos depois de terminar uma banca que envolveu toda manhã, (inclusive cancelei a minha ida à academia) sai sob um sol intenso e VINTE minutos depois de sair de casa já estava  vacinado no Centro de Saúde Santa Cecília (cerca de 01 quilômetro da minha casa) depois de atravessar as múltiplas sinaleiras do complexo viário que há sobre a avenida  Protásio Alves! Às 11h45min já estava mais uma vez em casa, O sol do meio-dia, sem os ventos de finados, fez uma temperatura de 32 graus agradável para fazer a minha pequena maratona. É muito bom ter feito a dose de reforço. Está aumentada a esperança de vencer o vírus.

Após tão significativo registro cabe narrar alguns eventos, nada triviais, que emolduraram os fazeres dessa semana, antes descritos. À noite de domingo, recebi a querida visita do Professor Guy Barcellos. Primeiro fomos à Avenida Mauá para ver os imponente murais, inaugurados na semana anterior. Foi uma linda visita, que merece ser repetida, mas a pé para melhor curtir os múltiplos painéis. Depois, aproveitando temperatura amena, saboreamos jantar supimpa com bom vinho sob parreira na qual já abundam muitos cachos. Na noite de terça-feira recebi a Márcia, minha personal trainer, há mais de uma dezena de anos, acompanhada do Emerson, seu marido. A comida foi apetitosa mas não podemos fruir dos bucólicos cenários dos jardins pois os ventos de finados não deram tréguas. 

Ainda cabe o registro de dois mimares: 1) os Professores Edson e Alana, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, IFRS, Câmpus de Bento Gonçalves, retribuíram, de uma maneira muito significativa e carinhosa, uma fala eu fiz na semana passada para o curso de pedagogia defendendo o direito de uma alfabetização científica para todos.  Remeteram uma cesta (aprendi que uma caixa, mesmo que não nada parecidas às cestas que nossos ancestrais usavam, por exemplo, para colheita da uva podem ser chamadas de cestas) contendo muitos quitutes de  mais diferentes espécies geleias, cremes, biscoitos e é claro uma garrafa de vinho de Bento Gonçalves a embalagem era muito bonita e acompanhada de um querido cartão agradecendo ter estado no IFSul, câmpus Bento Gonçalves. Sou imensamente agradecido por tão amável momo. 2) Ontem recebi, enviado pelos meus colegas Gustavo e Frederico, da Escola Sesc Rio de Janeiro, o livro Aula núcleo de Ciências da natureza: espaço de inovação, diálogos e práticas interdisciplinares. Se diz, em uma dedicatória: sua produção é uma inspiração. Acompanhava o livro uma camiseta do caminho das Ciências, no qual figuro. Estes mimos só ajudam a querer bisar a residência que fiz em tempos pré pandêmicos. Só que agora pensaria um mês e não uma semana como antes.


Agradeço, uma vez mais, ao meu colega e ex-aluno Jairo Brasil que soube driblar obstáculos oferecidos pelo blogspot. Ele editou e postou esta edição.


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Ao Mestre com Carinho

19 NOVEMBRO 2021

ANO 16     *************   EDIÇÃO 2024 

A blogada do dia da bandeira nacional -- da qual eles se adonaram -- não vai comemorar festejamentos próprios de tolos que alardeiam o fim da pandemia. Há pelo menos ser solidários com os europeus. Também não vou celebrar a completação do 20o mês de confinamento na Morada dos Afagos, situada em um país governado por um troglodita genocida. 

Hoje dou voz a dois colegas que queridamente me emocionaram. Ontem à noite recebi a chamada para mais uma edição da Revista da Sociedade Brasileira de Ensino de Química SBEnQ  http://sbenq.org.br/revista/index.php/rsbenq/issue/view/3 na sessão PALAVRA ABERTA está esta chamada:


Quando ainda recordo emocionado o 13 de março 2021, com aquela memorável celebração organizada por colegas da Unipampa, câmpus Uruguaiana, que culminou com lançamento virtual de um Festschrift, que mais recentemente se materializou em uma produção da Editora da Unijuí, já bibliografia de seminários. Depois, em 26 de outubro do mesmo 2021 houve uma carinhosa homenagem no 40o EDEQ organizado pelo curso de Química da UPF. 

Agora mais uma vez uma pergunta aflora: se no meu vestibular de 1961 eu tivesse  conseguido traçar uma elipse com tinta nankin e fosse aprovado no curso de Engenharia?  Se eu tivesse passado no vestibular de Engenharia, faço agora uma previsível hipótese: eu seria alguém triste, pois não teria experimentado os sabores de ser professor

Agradeço, uma vez mais, ao meu colega e ex-aluno Jairo Brasil que soube driblar obstáculos oferecidos pelo blogspot, e editou e postou esta edição


sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Uma Releitura nada Trivial

 12 de NOVEMBRO 2021

ANO 16     ********  EDIÇÃO 2023

Esta é a primeira postagem que faço depois dos rituais comemorativos ao início de minha 83a volta ao redor do sol. Foi um legítimo kerb (KERB, festa típica de origem alemã, que objetiva a comemoração de inaugurar uma igreja; além de representar a confraternização das famílias) que durou do anoitecer de sexta-feira ao pôr-do-sol de domingo. Reunimo-nos na casa da Clarissa em Capão da Canoa. Foi minha primeira confraternização com filhas e filhos, noras e genros,  netas e netos e minha irmã Clarinha depois de quase dois anos. Juntos revivemos histórias familiares. Recebi centenas de mensagens. Sou devedor de agradecimentos. 

Nesta nova jornada heliocêntrica a vida continua…  ainda mais plena de emoções. Esta manhã, participei de uma banca de qualificação de doutorado na Universidade Federal do Amazonas e não teve como não evocar que foi à UFAM minha última viagem pré-pandêmica, na segunda semana de março de 2020, quando participei do lançamento de um livro, do qual sou coautor com a professora Irlane e ministrei duas aulas inaugurais para turmas de medicina. Desde há 20 meses não fiz mais nenhuma viagem. 

A banca de qualificação desta manhã de maneira privilegiada também me fez evocar as minhas duas estadas diferentes no cenário de gestação da tese doutoral: o Instituto de Educação Superior de Parintins da Universidade  Estadual do Amazonas onde há o Laboratório de Saberes Primevos. Privilegiado pela ubiquidade, foi ali que reencontrei a querida Célia, a primeira doutora que orientei na Reamec.

Nesta semana envolvo-me na redação de um prefácio atendendo solicitação do meu colega Jorge Messeder IFRJ campus Nilópolis. Para encerrar o blogar desta semana, ofereço uma palhinha.

Por outro lado, temos que considerar que existe uma realidade, nunca dantes presente entre os humanos, há milênios: agora, em muitas situações, são os mais novos que ensinam os mais velhos, até porque filhos e netos, hoje, muitas vezes, são detentores de conhecimentos que os pais e os avós não têm e portanto já parece natural que netos ensinem a seus avós

Como epílogo desde prefácio, permito-me reler a historieta que aprendi com o professor Nélio Bizzo, que há muitos anos narro ao destacar o valor dos saberes primevos. Hoje trago uma narrativa com versão diferente. Até agora narrava o seguinte: em um barco havia um homem de 40 anos com seu filho de sete anos e seu pai de 70 anos. O barco está afundando. O homem de 40 anos é o único que sabe nadar e só pode salvar a nado uma pessoa. Quem salvará o seu pequeno filho ou o seu pai? A história que se diz ser de matriz africana se completa dizendo que não havia dúvida devia ser o velho a ser salvo, pois era detentor de conhecimentos muito importantes para comunidade ágrafa, enquanto menino era apenas um livro em branco.


Penso em cada um de nós não usaria mais esse argumento para salvar o velho, pois o menino, muito provavelmente de tem conhecimentos que são mais importantes para comunidade se comparado com os conhecimentos que são importantes para comunidade e, portanto diríamos que se devesse salvar o menino e não o velho.




   Agradeço, uma vez mais, ao meu colega e ex-aluno Jairo Brasil que soube driblar obstáculos oferecidos pelo blogspot, e editou e postou esta edição.


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Já visitaste alguma vez tua DN?

 ANO 16     *************   EDIÇÃO 2022 

Uma vez mais, como há alguns anos, cumpro rituais que estão insertos em meus fazeres: postar uma edição do blogue. Em anos mais recentes a frequência é semanal. Lateralmente me ocorre registrar ao postar uma edição semanal do blogue, não raro me parece desacreditar que houve  tempo que este blogue era diário. Hoje uma edição semanal me parece um fazer árduo e mais de uma não cabe em minha agenda.

É usual fazer esta postagem ao entardecer de cada sexta-feira. A escolha de data e hora tem justificativas. Estive, em 2014, uma única vez, na hora do início do shabath judaico, no Muro das Lamentações, em Jerusalém. A imersão em rituais sagrados de fiéis dos três maiores monoteísmos abraâmicos não me fez incólume a emoções. Meus sentimentos afloraram emocionados. A maneira judaica de marcar o término / o início dos dias da semana amplia emoções e justifica a hora da postagem.

É salutar partilhar momentos significativos com as quase 200 pessoas que a cada dia me visitam aqui. É isso que faço agora: à próxima madrugada completo a minha 82ª volta ao redor do sol, para  no momento imediato iniciar a 83ª. Esta constatação me remete a minha DN (=data de nascimento, solicitada a toda hora de nosso cotidiano): 06/11/1939. De vez em vez, eu, e certamente a maioria de meus leitores, viaja a seu DN e dá asas à imaginação.


Eu, nesse momento, viajo (ao dia 06 de novembro de 1939) à Estação Jacuí.  No lugarejo há uma Oficina muito movimentada da Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Um número significativo da população é ferroviária e habita em dois conjuntos de casas geminadas. Na casa 9 de um conjunto de dez ‘casa de material’  (no outro conjunto as casa são de madeira) mora um casal que é alienígena. Vieram morar aqui, recém casados, oriundos de outras geografias. Ele é marceneiro da Oficina. Minha mãe, nascida Maria Clara Volkweiss, antes de casar, fora professora em uma escola multisseriada do município de Montenegro. São dos poucos que em casa falam alemão. Este idioma está proibido. Recém começou uma Segunda Guerra Mundial, que duraria até 1945 (termina a Guerra Civil Espanhola, 1936-1939). 

A mulher está grávida. É sua primeira gravidez. Em Estação Jacuí, uma localidade pertencente à paróquia de Restinga Seca, então distrito de Cachoeira do Sul, não havia recursos para uma parturiente dar à luz com cuidados especiais. À madrugada nasceu um menino. 

Meu pai, Afonso Oscar Chassot, talvez não soubesse então que, há quase 100 anos, seu tataravô  Jean Chassot ou João Chassot, 42 anos (os prenomes dos Chassot foram então aportuguesados) chegou com sua mulher Nanette Torche, 32 anos, e seus filhos: Francisco (14), Denis (13), Jules ou Júlio (11), Genoveva (9 e meio), Constantino (8), Pedro (6) e Luisa (1 ano e meio). Jean Chassot, agricultor suíço de Vuisternens-devant-Romont, do cantão de Fribourg é o pai de Jules   o meu tataravô  que chegou  em 10 de novembro de 1855, com 11 anos .

Neste 06/11/1939 há algo muito original, que eu não sei explicar: no mesmo dia do meu nascimento, meu pai, talvez tendo conseguido carona em um dos trem que passava pela Estação Jacuí, foi à Restinga Seca, para registrar seu primogênito:  sou o registro de nascimento 5.555 do Cartório Distrital Magoga de Restinga Seca.

 Vou fazer do celebrar com gratidão pelo ser longevo, minha primeira confraternização com filhas e filhos, noras e genros,  netas e netos e irmã depois de quase dois anos   mesmo sabendo que cuidados são exigíveis pois a pandemia não terminou .

Agradeço a cada uma e a cada um dos meus leitores a companhia na visitação do meu DN. Sou particularmente grato ao meu colega e ex-aluno Jairo Brasil que soube driblar obstáculos oferecidos pelo blogspot.


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Ano 16 *** UM TRÍDUO TRILEGAL *** Edição 2021 Esta já é a quinta e a última blogada de outubro 2021. E uma vez mais, ela se tece com excertos do diário de um viajor (em tempos pandêmicos), que viveu, ou melhor conviveu, com um tríduo sumarento na terça, quarta e quinta-feira. Na terça-feira, ‘dei uma aula’ na 40ª edição do Encontro de Debates de Ensino de Química. (40 EDEQ). Tinha tudo para estar emocionado. Já na segunda-feira, assistindo a conferência inaugural proferida pelo Prof. Otávio Maldaner se evocou mais de uma vez o primeiro Edeq, que o Prof. Maurivan e eu organizamos na PUC-RS, em dezembro de 1980. Desde então, a cada ano, em uma universidade do Rio Grande do Sul participei da organização e estive presente em todos encontros. Não houve encontro no ano passado e ora, três Universidades (PUC-RS, UPF e UFFS) organizaram o 1o EDEQ virtual. Eu tinha sobejas razões para estar emocionado no fazer uma das conferências. Evoquei a situação de não se poder profetizar na própria casa. A emoção foi potencializada quando a Profa. Clóvia Mistura, da UPF, mediadora da palestra, anunciou, ao encerrar a apresentação que a seguir seria prestada uma homenagem para mim. Embarquei-me, com justa razão. Não foi trivial fazer a defesa de uma proposta, recém encharcado de tantos acarinhamentos.VIDEO O segundo dia do tríduo foi na quarta-feira. Mais uma vez grandes emoções. Agora, em outra dimensão. Aceitara, há meses, fazer a conferência do III PROQUIMICA, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em Jequié BA. Só na noite de terça me dei conta que o evento era organizado para a área de profissionais da Química e não para a Educação Química. E a palestra era na manhã seguinte. Lembrei-me de odioso preconceito, há muito me alfinetado: “Quem sabe faz; quem não sabe ensina!” Fui marcado por cuidados. A Profa. Joélia Barros, mediadora de minha fala, disse ao final que os elogios foram os maiores. Tudo se fez com Ciência. Ontem, quinta-feira, o terceiro dia do tríduo que despede outubro foi com dose tripla. Entre as 15h e as 20h, de maneira ininterrupta, viajei de uma Porto Alegre açoitada pelos ventos de finados, a Vila Velha no Espirito Santo, onde por clique de mouse, fui ejectado à Teresina no Piauí, para ao pôr do sol ir a Marbá PA. Cinco horas, três eventos em três estados, quase sem tempo para levantar da cadeira. Detalho: minha primeira atividade tarde foi participar do Seminário do IFES que neste semestre a cada quinta-feira discute dois capítulos do Festschrift. Só pude participar da primeira hora. Não foi trivial ter que antecipar minha saída. Em Terezina cabia proferir a conferência magna do 1o Simpósio Piauiense de Ensino de Ciências e Matemática na contemporaneidade. O evento teve a participação da Universidade Federal do Delta do Parnaíba e mais de uma dezena de instituições de ensino superior da região. A solenidade iniciou com Carlos Pontes e seu violão de músicas nordestinas. Houve após a respeitosa oitiva do hino estadual do Piauí. Minha aula foi mediada pela professora Georgia Tavares, que fez uma muito emocionante narrativa de meu fazer educação há 60 anos. O terceiro momento da dose tripla foi no Laboratório Indisciplinar que ocorre quinzenalmente com meus orientandos. Como vários já concluíram as disciplinas (também espaços privilegiados para reencontros) a informalidade deste espaço mesmo que virtual é salutar. No encontro de ontem se fez uma síntese das três falas antes referidas. Agora que venha novembro já com sabor de fim de ano, para despedir esse anômalo 2021.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Quando há futuro a preparar

                             22 0UTUBRO 2021

ANO 16     *************   EDIÇÃO 2020  


O cumprir rotina de a cada sexta-feira postar uma edição do  blog me obriga refletir sobre a semana que está terminando e também embalar sonhos para a semana seguinte. Nem sempre tal é factível. Hoje, por exemplo, ainda sem saber das consequências das avaliações feitas pela CPI Covid19, parece que todos acreditam que o presidente pode/deve ser responsabilizado por muitas das mortes que enlutam milhares de famílias brasileiras. 

O dia de destaque dessa semana foi a quinta-feira, com dois eventos:  ontem, às 7h, mediado pelo Prof. Dr. Érico Novais gravei um podcast na TV Tapiriri da Unifesspa. À tarde, por duas horas estive em aula no IFES. Estes dois eventos fizeram o dia sumarento. Agora, breves comentários de um e de outro.

No episódio de ontem, 21/10, do programa "Diálogos (Im)pertinentes: pesquisa e produção de conhecimento" busquei discorrer acerca da importância da pesquisa científica para uma sociedade mais justa. Foi gratificante poder trazer algumas de minhas utopias acerca da educação, com uma maior valorização do ensino fundamental.

Na parte da tarde, tivemos mais uma das  aulas Tópicos de ensino de Ciências, que tem design muito singular. Iniciamos com a hora da rodinha, seguida de uma entrada, uma pitada de História da Ciência. O momento heliocêntrico é destacado pela discussão de dois capítulos do Festschrift. Para encerrar uma sobremesa acerca de um tópico de um dos capítulos futuros.  Nas atividades de ontem, dois dos cinco capítulos da parte quatro: mulheres na ciência, foram estudados, quando o livro A ciência é masculina? É, sim senhora! catalisou excelentes discussões. 

Ainda, dois comentários laterais: o primeiro refere-se a menção que eu fiz: a TV Tapiriri é da Unifesspa. Há não muito, quando se dizia a TV da Universidade tal, estávamos nos referindo, muito provavelmente, a um edifício onde equipamentos sofisticados de transmissão televisiva estavam presentes; hoje muitas de nossas casas podem se transformar em um estúdio de TV. O advento de tecnologias, há um tempo desconhecidas, não raro nos fazem surpresos. Tal se encadeia no

segundo comentário, que é muito pessoal: se encerrou hoje um período de duas semanas, onde tive obras na minha casa para instalação de uma cápsula ascensória para ligar o sétimo ao oitavo piso na minha residência.

Realizei, ajudado fraternalmente pelo Sérgio Scandar, um significativo investimento pensando em um futuro que espero ainda distante. É importante nunca esquecer que prevenir é preciso, para pensar num futuro mais saudável. A imagem que ilustra a blogada de hoje é de algo do futuro que espera o tempo que se fará presente.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Lilith abandona um jardim edênico

                                                 15 0UTUBRO 2021

ANO 16     *************   EDIÇÃO 2019 

  


Esta é uma edição muito especial.  Ela se faz engalanada por ser do DIA DA PROFESSORA / DIA DO PROFESSOR. Imagine-se, por exemplo, o frontispício emoldurado por floradas de jacarandás que a cada outubro fazem um tapete roxo em distintas ruas de Porto Alegre. PEDIDO DE DESCULPAS: Como fiz no Facebook e no Instagram, renovo aqui meu pedido de desculpas ao Programa da UFPR Meninas e Mulheres nas Ciências por não ter conferido ao Programa paranaense os créditos pelo uso da imagem (um card com representação das sete laureadas com o Nobel de Química em 120 anos) que ilustrou a última edição.

Na edição de 24/SET2021, narrei aqui assemblages de escritos que abrem capítulos de uma tese doutoral. Estes textos são ‘misturas’ de textos ficcionais com não ficção. No caso em tela estes textos (ficcionais) envolvem ou são envolvidos pelos quatro elementos: ar, água, terra e fogo. Num dos textos há quatro acadêmicos: uma judia, um cristão, um islâmico e um ateu que se envolvem com um dos quatro elementos. Hoje brindo meus leitores com o primeiro dos quatro relatos, trazidos do livro Os quatro elementos entre ciência e religião. Este livro está assuntado na edição de 17SET2021. Estes textos foram produzidos para a tese doutoral de Patrícia Rosinke quando da edição de uma Seleta contendo contos acerca dos quatro elementos, in Contos químicos por químicos contistas. Márlon Herbert Flora Barbosa Soares, Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 109 p ISBN 978-85-80274-76-5. Depois deste extensos preâmbulos, ao texto.

  1. Lilith revisita Terra que fora edênica 

Mathilde Aguillar Martínez*

E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom (Gn, 1: 9.10).


Estar no terceiro milênio da era cristã não nos faz imunes aos mitos antigos, em cuja sombra se tecem fantasias, lendas e inclusive cosmogonias com sabor atual. 

No romance Caim, Saramago destaca a figura de Lilith – esposa de Noah, das terras de Nod –, a quem destina o papel de iniciar a Caim na arte amorosa e com quem teria um filho: Enoc, bisavô de Matusalém.

Todavia, há outra Lilith, uma que permaneceu quase desconhecida e que forma parte dos mitos antropogênicos. 

Segundo a Cabala judaica, Lilith foi a primeira mulher, criada igual como Adão. Eva seria uma criação posterior, produto de uma costela do varão.

No sexto dia do primeiro relato da criação, Deus cria o homem a sua imagem e semelhança “Macho e fêmea os criou” (Gn 1:27). Esta narração refere ao primeiro casal humano que teve origem similar.

No segundo relato da criação, Deus forma o homem com pó da terra — um dos elementos primordiais — e lhe infunde alento de vida. Para que não esteja só e o ajude, faz um ser semelhante a ele de sua costela e forma a uma mulher, de quem o homem diz: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada varoa (virago), porquanto do varão foi tomada” (Gn 2:23).

Enquanto no primeiro relato a fêmea (mulher) é reflexo de Deus, no segundo, é reflexo do homem.

Por que o Gênesis refere duas criações? Alguns consideram que os versículos são reiterativos e dão a conhecer um mesmo feito de uma maneira diferente.

Outros, diferentemente, aduzem que o primeiro relato alude à criação de uma primeira mulher: Lilith, cujo nome se relaciona com a palavra hebraica lailah, que significa noite.

Lilith se torna o par de Adão, com quem comparte um mesmo gérmen ontológico. Teria uma personalidade forte e emancipada que faz com que se associasse com lado escuro e com a malignidade.

Segundo a tradição judaica, Lilith se opõe a aceitar a postura amorosa que Adão desejava — deitada e por baixo — por se considerar igual. Como Adão quis obrigá-la a obedecer, ela o abandona, deixando o Jardim do Éden.

Eva, em troca, assume uma atitude mais submissa, menos crítica. Por originar-se da costela de Adão, está sujeita a seu domínio. “... e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (Gn 3,16).

Lilith e Eva poderiam ser os arquétipos de um duplo feminino: a maldade versus a bondade, a obscuridade versus a luz, a dureza versus a doçura, a mulher-demônio que se opõe à mulher-mãe. 

A primeira se orienta ao egoísmo, a autogratificação, ao prazer sensual; a segunda ao sacrifício, à união espiritual e à procriação. Extremos dos opostos: demônio/santa, rameira/virgem, que tem categorizado e estigmatizado o mundo feminino.

Sem dúvida, uma e outra compartem de ter desorientado ao homem e até se pode pensar, serem mais potentes que ele. Potência ligada em parte à falta de compreensão que o homem tem do feminino. 

Lilith enfrenta Adão e o abandona como uma forma de emancipar-se; não se submete, o desafia. Eva o faz transgredir: é a autora intelectual do pecado original, sua força reside na má sedução passiva.

Segundo uma velha tradição, Lilith seria uma figura sedutora, de longos cabelos, que voa à noite, como uma coruja, para atacar os homens que dormem sozinhos. As poluções noturnas masculinas podem significar um ato de conúbio com a demônia, capaz de gerar filhos demônios para a mesma. As crianças recém-nascidas são as suas principais vítimas. A crença em Lilith, durante muito tempo, serviu para justificar as mortes inexplicáveis dos recém-nascidos. Uma forma de proteger as crianças contra a fúria da bela demônia é escrever na porta do quarto os nomes dos anjos enviados pelo Senhor. Outra maneira é a de afixar no berço do recém-nascido, três fitas, cada uma delas com um nome de um anjo. À véspera do Shabat e da Lua Nova, quando uma criança sorri é porque Lilith está brincando com ela. Afirmava-se que, na Idade Média, era considerado perigoso beber água nos solstícios e equinócios, períodos estes em que o sangue menstrual de Lilith pinga nos líquidos expostos. 

Aos olhos masculinos, a mulher é em si mesma a caixa de Pandora: enigma indecifrável e fonte do mal.

Se a mulher foi melhorada – produto de um upgrade ou turbinada –, o homem não? Poderia se pensar que assim como se deduz ter havido uma Lilith do primeiro relato possa ter havido outro primeiro homem?

Do ponto de vista antropológico, o Gênesis é um mito de origem que busca explicar o surgimento do primeiro homem e como tal não difere muito de outros mitos, integrantes das diferentes cosmologias existentes.

Devido a maior agudeza da psicologia feminina, o crítico literário Harold Bloom formula a hipótese que alguma parte inicial da Bíblia foi escrita por uma mão de mulher.

Se bem que os desígnios de Deus são inescrutáveis, nós, suas criaturas, nos encarregamos de interpretá-los. 

Para saber mais: Jardim do Éden revisitado in Rev. Antropol. vol.40 n.1. São Paulo, 1997 http://dx.doi.org/10.1590/ S0034- 77011997000100005

*Mathilde Aguillar Martínez é doutora em História pela Universidade de Louvain e Professora da Universidade Hebraica em Bogotá. É de fé judaica, mas não manifesta adesão formal a práticas de vertente de judaísmo ortodoxo. Email: mathiguima@gmail.com

 ADVERTÊNCIA Todos os personagens são ficcionais e qualquer semelhança com pessoas reais, é mera coincidência.