sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

PREITO A MARCELO AQUINO **** ANO 16 ** EDIÇÃO 2026

A vida é formada por alegrias e por tristezas. Parece ser natural que umas e outras se equilibrem / alternem dando ao viver múltiplas situações. Vez ou outra,  as alegrias são tantas que nos encharcamos nelas e não conseguimos fruí-las como seria mais aprazível. No outro lado da mesma moeda, não raro, agrandamos tanto as tristezas que quase anunciamos estarmos a naufragar.

À madrugada de terça-feira, recebi duas notícias: uma muito triste e outra muito boa. Durante a sessão da academia não conseguia responder às repetidas perguntas da Márcia, a Personal Trainer: aonde o senhor está viajando, agora? Eu procurava, com a alegria que me dava a carta do Padre Marcelo, expulsar a imensa tristeza que a morte de Sofia, 12 anos, colhida por um caminhão ao voltar para casa de bicicleta desde o centro de Igrejinha. Minutos antes, Sofia dera tchau para a minha neta Maria Clara, com quem passara a tarde. Pensava como os netos Carolina e Pedro vivem esta perda dolorosa e inédita em suas infâncias.

Já muito aprendemos a chorar nestes tempos pandêmicos. Chorei, choro com meus netos pela dor dos pais que na terça-feira sepultaram Sofia no cemitério próximo à Escola, onde ela assistira aula no dia anterior. Esqueçamos momentaneamente as tristezas. Estas, como as alegrias são, de maneira geral, incomensuráveis. 


Sem comparar alegrias com tristezas, foi oportuno memorar ofício assinado pelo  Padre Marcelo  Aquino, Reitor da Unisinos: São Leopoldo, 29 de novembro de 2021. Ilmo. Sr. Alan Coelho Chefe do Cerimonial Palácio do Itamaraty, Prezado Senhor: Fiquei agradavelmente surpreendido pela admissão de meu nome no quadro suplementar dos cidadãos a serem agraciados com a honrosas insígnia do grau de Cavaleiro da Ordem de Rio Branco, conforme decreto publicado no Diário Oficial da União no dia 26 de novembro. Reconheço a legitimidade e importância desta prestigiosa honraria da República E ser lembrado pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Conselho da Ordem de Rio Branco -- prestigiosas instituições brasileiras --, me deixou muito honrado. Apesar disso, declino de receber esta condecoração, em virtude da atual incapacidade do Governo Federal de dar rumo correto para as políticas públicas para as áreas de Educação, Saúde, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Respeitosamente Prof. Dr. Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, Reitor. Nada a aditar. Feitos como este do Padre Marcelo são verdadeiros bálsamos que parecem higienizar nossas mentes dos fétidos fazeres do governo da República.

Enviei na terça-feira esta mensagem: Muito querido Padre Marcelo! Suma cum laude. A notícia presente em dezenas de meios de comunicação me fez muito feliz! Que ato revestido de dignidade este teu! Que bom poder dizer: ele é meu amigo. Com espraiada admiração. Embalei reminiscências. Cevei saudades. Evoquei alunos e colegas. Recordei momentos singulares do meu ser professor.

Minha história com a Unisinos é longa e distante; em 1965 e 1966 fui professor de Química Geral do Departamento de História Natural da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, unidade seminal que gerou em 31/07/1969 – dia de Santo Inácio de Loyola – a Unisinos. As aulas então eram no que hoje se denomina de Antiga Sede, no centro de São Leopoldo, próximo ao rio, em um prédio com aspecto de  um claustro interno. Não lembro muito destes meus dois primeiros anos, fazendo a estreia como professor universitário, sendo que em 1965 ainda estava no último ano da licenciatura em Química. Recordo que quando vi meu nome entre os professores do Curso de História Natural, fiquei muito orgulhoso.

Volto à Unisinos como professor, 30 anos depois, em agosto de 1995 por concurso público para o Programa de Pós-Graduação Educação. Permaneço por 25 semestres. Há uma coincidência: no primeiro e no último semestre de Unisinos: no primeiro (1995/2): sou professor simultaneamente da Universidade Luterana do Brasil – Ulbra e no último de Unisinos (2008/2) também sou professor do Centro Universitário Metodista – IPA 

Enquanto professor do Centro de Ciências Humanas, lecionei  Introdução à Filosofia da Ciência no Centro de Ciência Econômicas e Metodologia de Ensino de Ciências no curso de Pedagogia. Desenvolvi atividades de ensino e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em Geologia. Fui por 4 anos (1998-2001) Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação; esta foi talvez a mais exigente e difícil atividade acadêmica de minha história profissional. Sempre digo que não foi fácil coordenar um conjunto de eminentes professores doutores (eram muitas estrelas para pouco céu!). Tive a gratificação de ver que a avaliação da CAPES, imediatamente após a minha gestão (onde foi implantado o doutorado) levou o curso a um dos três do Brasil (o único em de instituição privada) a ter a nata mais alta em um Programa de Pós-Graduação de Educação. Também fui representante dos Professores do Centro de Ciências Humanas no Conselho Universitário e Membro da Câmara de Graduação. Fui membro do conselho Editorial da Editora UNISINOS e seu Presidente. Esta atividade na Editora me encantava. Fui co-editor da Revista Estudos Leopoldense e posteriormente editor da Revista Educação Unisinos. Eu, então um jovem doutor (=fizera o doutorado já aposentado) na Unisinos orientei quatro doutores e dezoito mestres.

A saída da Unisinos foi bastante sofrida para mim. Em 2004 completei 65 anos e era previsto minha retirada da Unisinos. Então, o Pe. Marcelo de uma maneira muito pessoal, disse-me que eu ganhara mais três anos de sobrevida. Passaram-se os três anos e vi mais colegas sendo jubilados, sem ganharem os anos plus. Mas passados os anos de sobrevida chegou a minha vez de partir. Afortunadamente já, no semestre anterior  havia iniciado no Centro Universitário Metodista - IPA.

Para encerrar esta primeira edição de dezembro de 2021 duas narrativas evocando o estar com o Padre Marcelo: quando fiz cirurgia em 1999, ele foi muito  próximo antes e depois da cirurgia, visitando-me no hospital e em casa. Não earo, nós almoçávamos juntos. Então convidava: vamos tomar ‘nossa cachacinha’. Era um convite para irmos à biblioteca, cujos livros são acessíveis aos leitores. De meu anedotário pessoal trago extrato de um diálogo:

- Padre Marcelo, é verdade o que se conta: sempre que se pergunta algo a um jesuíta ele responde com outra pergunta?

- Professor Chassot, quem te contou isso?

Esta edição já estará circulando quando está noite falo em Porto Seguro, na Universidade Federal do Sul da Bahia tentando maravilhar-nos com uma assemblage de alfabetizações. Esta chamada do tema desta noite evoca o encerramento dos dois semestres 2021 com mestrandos e doutorandos do IFES. Em https://padlet.com/manuellaamado/z578gwf0jchxs8bn está um excerto do happy end do entardecer desta quinta-feira, no Espírito Santo.

 


2 comentários:

  1. Feliz estou ao vê-lo de volta às postagens destas missivas que muito te aprazem. E o tema relativo à atitude do Pe. Marcelo Aquino deixa a todos nós, contrários ao Messias satânico, extremamente de alma lavada por aquilo que nós muitas vezes não temos tais oportunidades. Ou caso tivéssemos gostaríamos de agira como o grande clérigo da Unisinos.
    Por outro lado, me junto ao teu pranto e tristeza relativamente a precoce perda da Sofia, que era próxima à tua Maria Clara. Como sofre um pai e uma mãe neste momento.
    Que o novo Ano seja capaz de consolar a todos com um prenúncio de melhores dias.
    Abraço do JB

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