sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

31.—POR QUE CHOREI QUANDO ASSISTI Democracia em vertigem?



ANO
 14
AGENDA 2 0 2 0
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3465
Em uma noite da semana passada de temperatura mais amena, depois de uma tarde senegalesca, sob uma parreira na qual as duas videiras fizeram uma assemblage com um vigorosa pimenteira, com uma suave brisa que trazia odores de diferentes plantas de meu jardim/horta/pomar, então, por um pouco mais de duas horas, assisti: Democracia em vertigem.
O filme não é de mistério. Não tem um enredo imprevisível. Mas há algo que parece que vai ter um happy end. Mas, há sempre música tétrica que nos chama a uma realidade. Há um espraiado ressaibo. A esperança se transmuta em desesperança.
Dante está a nos lembrar que estamos embarcados sob a condução de Caronte, o barqueiro velho e esquálido, mas forte e vigoroso que nos recebia em seu barco para atravessarmos o Aqueronte, "rio do infortúnio". Durante todo filme somos admoestados: "Lasciate ogni speranza, voi che entrate”. Caronte repete, quando nos vê sofrer: “Deixai toda a esperança, vós que aqui entrais!”
Não adianta torcer! Não adianta rezar! Não adianta fazer promessa! Deixai toda esperança.
Sim! Sabia o final do filme. Os diferentes artigos que lera não fizeram spoiler, O Eduardo Cunha, um exímio Caronte, prescrevera (=pré escrevera) o final. Ele arrebanhou seus Judas desertores, que quebraram o prometido na                      véspera em troca de milhares de reais.
Desde que o documentário de Petra Costa foi indicado para concorrer ao Oscar na categoria de documentário estrangeiro, há disponível alguns artigos que podem ser usados para fazermos uma melhor leitura de Democracia em vertigem. Zero Hora, na p. 29, da edição 18/19Jan2020 publicou um artigo de Marcelo Rocha, doutor em Letras e professor da Unipampa, que mostra a improcedência que ocorre quando se cobra do documentário de Petra Costa de um compromisso com a realidade. O Prof. Dr. Rocha pergunta, nesta grenalização da sociedade brasileira, quem detém a verdade?
Na mesma página antes referida, há um artigo do Cientista Político Paulo G.M. de Moura, produtor do documentário Impeachment: o Brasil nas ruas, que desqualifica o documentário de Petra Costa, porque ela é filha de ex-militantes do PCdoB, e por tal, uma vítima ingênua da propaganda do PT. Conheço ateus que são filhos de cristãos fundamentalistas fervorosos e nem por isso desqualifico seus textos fundamentados em Darwin. Parece que Moura não viu as ácidas críticas que Democracia em vertigem faz ao PT. Os dois documentários não são mera troca de sinal de um para o outro. Se poderia aqui desqualificar como improcedentes as críticas do MBR dizendo que Petra não considerou as manifestações de rua contra Dilma. Não é verdade. Meu único reparo à Petra: talvez, não precisasse trazer tanto de sua história familiar para este filme.
Mas, por que chorei enquanto assistia Democracia em vertigem. Tenho alguns amigos que também choraram. Um deles me disse: não sou de chorar em filmes, mas neste tive que interromper, pelo tanto que chorava, e continuar a assistir no dia seguinte.
 Mas por que eu chorei? Chorei por aquilo que eles fizeram. Chorei pelo que eu não fiz.
Chorei pelo que eles fizeram. Eles foram implacáveis. Mesmo que Dilma dissesse que não roubara um centavo, que não tinha contas no exterior. Situação diversa de seus inquisidores. Ela tinha dinheiro para comprar batata. Mas precisava comprar banana. Usou, sem solicitar autorização do Senado, o dinheiro que era para comprar batata para comprar banana. Executou as usuais ‘pedaladas fiscais’.
 Chorei pelo que eu não fiz. O impeachment foi nos adjetivado de uma maneira sedutora: um impeachment constitucional. Pensava se proposta fosse ao abrigo da Constituição, por tal impeachment não prosperaria. Se tivesse estado mais antenado, teria feito pelo menos a minha parte. Não há como não lembrar da historieta do beija-flor contribuído com a gota trazida para ajudar a apagar o incêndio na floresta.
Claro que não fui o único ingênuo. Tive pessoas como parceiros e organizações (CNBB, OAB, MST, MAB...) usualmente defendendo a democracia quando esta está em vertigem.
Ofereço este texto ao meu colega e amigo Guy, o polímata, que na quarta-feira jantando sob uma pimenteira, ajudou nesta escrita.

9 comentários:

  1. Estimado Mestre!
    *Permanece a inquietação: quem está com a verdade?
    *Também compro batatas ao invés de comprar bananas,mas não somente...Pedalamos por outras veredas!
    * Não chorei, porque acredito na DEMOCRACIA, ainda que "em vertigem"
    Abração

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    1. Valente e destemida Violetta! Tua pergunta é milenarmente filosófica: Com quem está a verdade?

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  2. Bravíssimo Chassot! Ao ler, decidi: somo-me às palavras: "Meu único reparo à Petra: talvez, não precisasse trazer tanto de sua história familiar para este filme." Mas parece-me que esta era a proposta do documentário. Quanto às emoções, Dri e eu nos somamos às tuas lágrimas, do mesmo modo. Nelas misturavam-se tristeza, revolta e aquele grito desesperado de socorro a uma história já escrita e pela qual todo o país pagará - agora e por muitos anos - as contas deixadas pelos saqueadores. São criminosos. Hoje, resta-me a vergonha de ver o Brasil do golpe dentro de outro: maligno e funesto, tétrico e asqueroso, nascido e alimentado por uma situação abjeta. Perdoe-me por palavras tão duras, mas os sentires são verdadeiros e catastróficos. Apesar disso, por estas bandas, conversamos que devemos nos aproximar dos semelhantes, já que as diferenças - para o extremismo fascista - descambam para a discriminação e exclusão. Temos semelhanças, então, nos unimos!

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    1. Élcio, querido amigo!
      Obrigado por mais um dos teus sempre argutos comentários aqui!
      Teu comentário traz adjetivações fortes, infernais, dolorosas, lúgubres...? sim.
      Mas o que os saqueadores democracia fizeram merece potencializar teus encômios... foram moderados.
      Revigoro-me ao me juntar às lágrimas da Dri e as tuas, pois vivemos aquilo que está numas das preces marianas: Vivemos num vale de lágrimas.

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  3. Tudo o que vem na contra hegemonia incomoda.
    Agora o mundo sabe: Foi GOLPE contra os mais desfavorecidos, contra os pobres, contra a Educação, contra o Povo.
    Abraços

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