sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

20.- Lilith revisita a Terra



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Esta é a última edição de 2019. É a 49ª do ano. O editor deste blogue, com todo respeito aos seus leitores, se auto concede um recesso até a segunda quinzena de janeiro.
Não vou repetir, uma vez mais, as dificuldades que se vive neste ano, mormente, na área da Educação. Temos que resistir. Sabemos ser resistentes.
Como o período convida a fraternidade, desejamos tempos de paz.
Estou em trânsito para Estrela para a comemoração do término do ensino fundamental de meu neto Guilherme. Eu venho de Cuiabá, onde ontem, 19/12/2019 foi a defesa da tese doutoral da Professora Patrícia Rosinke (UFMT/campus Sinop) que no dia 18/11/2019, depois de ter sido submetidas em duas pré-qualificação, nos Seminários 1 e 2 em Manaus em 2018 e 2019, então, teve aprovada a tese que examina o quanto são tênues os limites entre o sagrado (religião) e o profano (ciência) — ou entre o ensino de ciências e o ensino religioso. Mais detalhes estão na edição de 22 de novembro.
Na tese, dentro de uma proposta, que parece original, a doutoranda entretece diálogos com textos do orientador.  Dentre estes textos, há quatro contos ficcionais, um para cada um dos quatro elementos: Ara, Água, Fogo e Terra.
Na celebração da destes tempos de Paz, ofereço aos meus leitores o conto do elemento Terra, que mesmo ficcional é polêmico, mas, talvez possa ser inspirador.
Este e os outros três contos estão, no livro recém publicado: 
Contos químicos por químicos contistas. Organizador Marlon Herbert Flora Barbosa Soares. Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 2019, 110p.

ISBN 978-85-80274-76-7
Lilith revisita Terra que fora edênica
Mathilde Aguillar Martínez*
E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom (Gn, 1: 9.10).
Estar no terceiro milênio da era cristã não nos faz imunes aos mitos antigos, em cuja sombra se tecem fantasias, lendas e inclusive cosmogonias com sabor atual.
No romance Caim, Saramago destaca a figura de Lilith – esposa de Noah, das terras de Nod –, a quem destina o papel de iniciar a Caim na arte amorosa e com quem teria um filho: Enoc, bisavô de Matusalém.
Todavia, há outra Lilith, uma que permaneceu quase desconhecida e que forma parte dos mitos antropogênicos.
Segundo a Cabala judaica, Lilith foi a primeira mulher, criada igual como Adão. Eva seria uma criação posterior, produto de uma costela do varão.
No sexto dia do primeiro relato da criação, Deus cria o homem a sua imagem e semelhança “Macho e fêmea os criou” (Gn 1:27). Esta narração refere ao primeiro casal humano que teve origem similar.
No segundo relato da criação, Deus forma o homem com pó da terra — um dos elementos primordiais — e lhe infunde alento de vida. Para que não esteja só e o ajude, faz um ser semelhante a ele de sua costela e forma a uma mulher, de quem o homem diz: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada varoa (virago), porquanto do varão foi tomada” (Gn 2:23).
Enquanto no primeiro relato a fêmea (mulher) é reflexo de Deus, no segundo, é reflexo do homem.
Por que o Gênesis refere duas criações? Alguns consideram que os versículos são reiterativos e dão a conhecer um mesmo feito de uma maneira diferente.
Outros, diferentemente, aduzem que no primeiro relato alude à criação de uma primeira mulher: Lilith, cujo nome se relaciona com a palavra hebraica lailah, que significa noite.
Lilith se torna o par de Adão, com quem comparte um mesmo gérmen ontológico. Teria uma personalidade forte e emancipada que faz com que se associasse com lado escuro e com a malignidade.
Segundo a tradição judaica, Lilith se opõe a aceitar a postura amorosa que Adão desejava — deitada e por baixo — por se considerar igual. Como Adão quis obrigar-lhe a obedecer, ela o abandona, deixando o Jardim do Éden.
Eva, em troca, assume uma atitude mais submissa, menos crítica. Por originar-se da costela de Adão, está sujeita a seu domínio. “... e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (Gn 3,16).
Lilith e Eva poderiam ser os arquétipos de um duplo feminino: a maldade versus a bondade, a obscuridade versus a luz, a dureza versus a doçura, a mulher-demônio que se opõe à mulher-mãe.
A primeira se orienta ao egoísmo, a autogratificação, ao prazer sensual; a segunda ao sacrifício, à união espiritual e à procriação. Extremos dos opostos: demônio/santa, rameira/virgem, que tem categorizado e estigmatizado o mundo feminino.
Sem dúvida, uma e outra compartem de ter desorientado ao homem e até se pode pensar, serem mais potentes que ele. Potência ligada em parte à falta de compreensão que o homem tem do feminino.
Lilith enfrenta a Adão e o abandona como uma forma de emancipar-se; não se submete, o desafia. Eva o faz transgredir: é a autora intelectual do pecado original, sua força reside má sedução passiva.
Segundo uma velha tradição, Lilith seria uma figura sedutora, de longos cabelos, que voa à noite, como uma coruja, para atacar os homens que dormem sozinhos. As poluções noturnas masculinas podem significar um ato de conúbio com a demônia, capaz de gerar filhos demônios para a mesma. As crianças recém-nascidas são as suas principais vítimas. A crença em Lilith, durante muito tempo, serviu para justificar as mortes inexplicáveis dos recém-nascidos. Uma forma de proteger as crianças contra a fúria da bela demônia é escrever na porta do quarto os nomes dos anjos enviados pelo Senhor. Outra maneira é a de afixar no berço do recém-nascido, três fitas, cada uma delas com um nome de um anjo. À véspera do Shabat e da Lua Nova, quando uma criança sorri é porque Lilith está brincando com ela. Afirmava-se que, na Idade Média, era considerado perigoso beber água nos solstícios e equinócios, períodos estes em que o sangue menstrual de Lilith pinga nos líquidos expostos.
Aos olhos masculinos, a mulher é em si mesma a caixa de Pandora: enigma indecifrável e fonte do mal.
Se a mulher foi melhorada – produto de um upgrade ou turbinada –, o homem não? Poderia se pensar que assim como se deduz ter havido uma Lilith do primeiro relato possa ter havido outro primeiro homem?
Do ponto de vista antropológico, o Gênesis é um mito de origem que busca explicar o surgimento do primeiro homem e como tal não difere muito de outros mitos, integrantes das diferentes cosmologias existentes.
Devido a maior agudeza da psicologia feminina, o crítico literário Harold Bloom formula a hipótese que alguma parte inicial da Bíblia foi escrita por uma mão de mulher.
Se bem que os desígnios de Deus são inescrutáveis, nós, suas criaturas, nos encarregamos de interpretá-los.
Para saber mais: Jardim do Éden revisitado in Rev. Antropol. vol.40 n.1.São Paulo, 1997 http://dx.doi.org/10.1590/S0034-77011997000100005
*Mathilde Aguillar Martínez é doutora em História pela Universidade de Louvaina e Professora da Universidade Hebraica em Bogotá. É de fé judaica, mas não manifesta adesão formal a práticas de vertente de judaísmo ortodoxo. Email: mathiguima@gmail.com

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

13.- Um blogar soteropolitano em uma sexta-feira 13



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Mais um blogar que se transmuta em diário de um viajor. Era quase 18 horas, de quarta-feira, 11/12 quando aterrissava em Salvador e repeti, uma situação inédita celebrada na quarta-feira anterior. Então fui do aeroporto de Marabá ao câmpus 2 da Unifesspa, para palestra no 1º Seminário de Socialização do Programa de Residência Pedagógica da Unifesspa. Agora, na querida companhia do Rodnei, meu amigo de há muitos anos (ele que me apresentou para o Orkut, em priscas eras) fui direto do aeroporto à UNEB (Universidade do Estado da Bahia) para ministrar, dás 18h30min às 20h30min, a primeira das três sessões do minicurso História e Filosofia da Ciência catalisando ações indisciplinares, inserto nas atividades da Semana da Química da UNEB. Com um diferencial: agora as emoções foram mais significativas, pois chegava do ALEM (Aeroporto Luís Eduardo Magalhães).
A referência a nomes de aeroportos, enseja um comentário lateral que há muito desejava fazer público: a empresa alemã que ‘comprou' o aeroporto Internacional Salgado Filho simplesmente apagou o nome proveniente de uma das muitas homenagens que magistrado e político brasileiro Joaquim Pedro Salgado Filho (Porto Alegre RS,1888 - São Francisco de Assis RS, 30 de julho de 1950, em acidente aéreo) recebe na nominação de topônimos em muitos estados brasileiros, inclusive de dois aeroportos. Entre outros cargos, Salgado Filho foi ministro do Trabalho, Indústria e Comércio que instituiu comissões mistas para julgar conflitos entre empregadores e empregados, promoveu a regulamentação do trabalho feminino e do horário de trabalho na indústria e no comércio, ocupou-se da organização de sindicatos profissionais e instituiu a carteira profissional. Agora o aeroporto o nome é apenas Porto Alegre Airport.
A concorrida primeira aula do minicurso foi antecedida por prestigiada sessão de autógrafos de meus seis títulos em circulação e sucedida por visitação à aula de Curso de Pós-graduação de Formação de Psicanalistas do CEAPP; quando reencontrava minha amiga Silvia, que detalhava aos discentes um conjunto de psicoses endógenas com tal seguranças que referi aos participantes que ‘parecia que eu ouvia a leitura de um primoroso texto.' Para mim, que há mais de 18 horas deixara um hotel em Marabá, e povoara meu tempo com voos e estadas em aeroportos, não foi trivial falar a uma plêiade de estudiosos das ciências psi.
Mesmo que o minicurso de três dias e a palestra (Assestando óculos para olhar natural) desta noite sejam heliocêntricos no meu estar aqui, sou lembrado a toda hora que estou em Salvador, a capital do estado da Bahia, conhecida pela arquitetura colonial portuguesa, pela cultura afro-brasileira e pelo litoral emoldurado pela maravilhosa e histórica baia de Todos os Santos, que posso ver da janela de meu quarto de hotel no Campo Grande, qual extenso espelho azul. O bairro do Pelourinho é seu coração histórico, com vielas de paralelepípedo terminando em praças grandes, prédios coloridos e igrejas barrocas, como São Francisco, com trabalhos em madeira revestidos com ouro.
Depois de minha 11ª semana em Marabá neste ano, aditada aos três dias soteropolitanos é muito bom amanhã voltar à Porto Alegre. Só lamento não chegar a tempo para a reunião mensal do Clube de Leitura TAG. Na próxima quinta-feira tenho a última viagem profissional deste ano: vou à UFMT, em Cuiabá para a defesa da tese doutoral da minha orientanda Patrícia Rosinke. Prevejo um encerramento com chave de ouro.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

06.- Quase despedindo um Annus Horribilis



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Quando no aziago 28 de outubro de 2018, anunciados os resultados do segundo turno das eleições, prevíamos para este 2019 um Annus Horribilis. Mesmo com todos os prognósticos, não imaginávamos que definição, meses mais tarde, feita pelo EXTRACLASSE.ORG.BR publicação mensal do Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul Sinpro/RS, seria tão bem posta: “A mistura de ignorância, obscurantismo, boçalidade e grotesco desafia a própria linguagem para definir Bolsonaro e seu séquito”.
Escrevo nesta sexta-feira desde Marabá, PA, no 12º mês de Professor Visitante Sênior da Unifesspa, que me traz a cada mês uma semana aqui. Não vou agora fazer uma avaliação deste 1º ano nesta Amazônia que o presidente deseja seja explorada (na pior acepção deste verbo).
Cheguei na quarta-feira e fico aqui até a próxima quarta-feira, quando viajo a Salvador para três dias na Semana de Química da Universidade do Estado da Bahia.
Mas a semana começou, como anunciara na edição passada com uma aula chamada saudade na UAM/ Universidade do Adulto Maior do Instituto Metodista IPA. Os discentes da UAM têm mais de 65 anos. O atencioso convite foi da Professora Vera Maciel Coordenadora da UAM, catalisado pela Sônia, que foi minha ex-aluna na UAM.
Entre os diferentes espaços acadêmicos nos quais exerci a docência aquele do qual tenho as emoções mais significativa, provavelmente são os 12 semestres (2010-2015) que fui professor na UAM. Reprisar uma aula na UAM, no último dia 2 foi muito enternecedor. Num pedaço da tarde encontrei dezenas de ex-alunos do período 2010/2015 e de outro tanto de alunos que ingressaram a partir de 2016.
Na minha fala, como em todas deste segundo semestre de 2019 a Laudato Si’ fez parte do prelúdio e do posfácio, trazida como antídoto às políticas ambientais do governo.
Ao final entre muitas manifestações dos que aplaudiram de pé a aula um dos alunos disse: “Professor, isto de o senhor nos conclamar para um mundo melhor e mais justo é muito bonito, mas a cada dia os governos propõem o contrário!” Respondi: “Por isso tu, eu, todos nós estamos aqui para fazer a nossa resistência!”
A minha fala desta quarta-feira ocorreu no concorrido 1º Seminário de Socialização do Programa de Residência Pedagógica da Unifesspa, coordenado pelo Prof. Dr. Sebastião da Cruz Silva, teve também  prelúdio e posfácio da Laudato Si’. Teve algo original no meu ser palestrante.
Por problemas de atraso no voo fui direto do aeroporto de Marabá ao Câmpus 2 da Unifesspa. Para quem saíra às 7 horas de casa em Porto Alegre, começar pontualmente uma palestra às 18h em Marabá foi um feito que teve o concurso entre outros do Prof. Cairo. A palestra não foi boa por duas dimensões: uma humana, minha voz teve sinais das horas de voo; outra tecnologia o sistema de som do auditório teve repedidas falhas. Dizer que, quando quase 21h, cheguei ao hotel eu não estivesse muito cansado, é desnecessário.
Minha sexta-feira teve uma frustração. Estava agendada, há um tempo, uma visita em companhia do professor Wagner, diretor do Instituto de Química da Unifesspa, a Paraupebas para visitarmos uma das regiões de mineração da Vale. Ontem à noite a visita foi postergada para 2020. Lamentei muito.
Mas o limão se fez em uma sumarenta limonada. Um dia inteiro no meu ‘monastério’ na Rodovia Transamazônica ouvindo música gregoriana era que eu precisava: adiantei dois prefácios que tenho prometidos, escrevi o blogue da semana, organizei a palestra e o minicurso da UNEB, conversei por mais de uma hora com a Uiara, minha orientanda de doutorado do IFAcre e também descansei.
Um bom fim de semana a cada uma e cada um de meus leitores. Lemo-nos na próxima semana de Salvador.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

29.- Homenagem estética, contemporânea, irreverente e bela.



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A vida me tem brindado com momentos emocionantes! Estive por menos de 30 horas em Belém do Pará. Nesta segunda-feira, 25/11, fiz duas palestras em 2 momentos e locais diferentes na UFPA. Pela manhã fiz a palestra de abertura de dois eventos: IV Congresso Nacional de Ciências Naturais e do VI Encontro Nacional do Estudantes de Ciências Naturais. À tarde falei em um dito (re)encontro com o IENCI / Instituto de Educação Matemática e Científica.
Nos dois momentos o tema das falas foi o mesmo: Assestando óculos para ver o mundo natural. Pela manhã, um ato solene com autoridades acadêmicas e hino nacional. À tarde, a informalidade definida pela presença de pessoas próximas: imaginem eu vendo, na plateia lotada luminares como a Professora Terezinha Valim e os professores Jerônimo e Licurgo. Tinha porquê me achar um pouco em casa.
Nos dois momentos muito queridas tietagens que um professor pode receber: filas que resultaram em dezenas de pedidos de fotos. Autografei sacolas, blocos, cadernos, crachás... Fiz dedicatórias em cerca de 50 dos meus seis títulos em circulação.
Parecia que tinha amealhado tudo para rotular a uma já quase conclusa segunda-feira como um dia marcado pelo exercido pleno da cidadania de um educador politicamente engajado, pois trouxera nas duas palestras excertos da Encíclica Laudato Si’ como antídotos às políticas bolsonaristas agressivas a cuidados em nossa casa comum: o Planeta Terra. Isto na Amazônia tem dimensões à beira de uma catástrofe.
 Quando me imaginava farto dos melhores momentos de quem sabia que no dia seguinte teria que levantar às 3 horas, surge um sumarento imprevisto: fui convidado pelo Centro Acadêmico da Licenciatura de Química/CALQUI da Universidade Federal do Pará Câmpus no Guamá para uma homenagem:
Houve então momento inenarrável, mas em algumas fotos se pode inferir um pouco desta homenagem que foi algo emocionante. Qual o impacto que assola alguém ao ver de maneira inesperada sua imagem em um imenso mural?
Meus olhos embaçaram.
Solicitado a apor minha assinatura no mural, onde também havia uma homenagem a Marie Curie, tive muitas dificuldades.
Parece que a Michele Sato, da UFMT, sintetizou a homenagem com expertise: estética, contemporânea, irreverente e bela. Mesmo que eu não saiba dizer qual resultado da assemblage destes quatro adjetivos aportados pela Michele.
O mural também homenageia Marie Curie
Maria Curie com tubo de ensaio


Dentre os alunos promotores do impactante mural nenhum me conhecia pessoalmente. Foram unânimes no destacar o quanto meus textos (em livros e artigos de revistas) são muito significativos na formação de professoras e professores de Química e por tal fui escolhido para ‘estar’ no CALIQ.
*



 .





Sirvo-me da oportunidade para informar ao ministro a educação (Sim! Com letras minúsculas) que não vi obscenidades nas paredes como as alardeadas pelo seu abraham weinsauer (vinho azedo) ou plantações de maconha no Centro Acadêmico ou em qualquer pontos do amazônico câmpus do Guamá.
Depois destes momentos sumarentos que me ensejou um bate-volta à Belém, já vislumbro a próxima semana na qual, mais da metade, viverei em Marabá. Este fim de semana viverei que nem piá em véspera do passeio anual da escola. Para a próxima segunda-feira está agendada uma aula na UAM/ Universidade do Adulto Maior do Instituto Metodista IPA. O atencioso convite é da Professora Vera Maciel Coordenadora da UAM, catalisado pela Sônia, que foi minha ex-aluna na UAM.
Entre os diferentes espaços acadêmicos nos quais exerci a docência aquele do qual mais tenho saudades provavelmente são os 12 semestres (2010-2015) que fui professor na UAM. Esta também foi a razão de muito sofrimento (talvez, o maior em quase 60 anos de magistério) quando se iniciava a quaresma 2016.
Sou enternecidamente expectante pelo primeiro dia útil do último mês deste ano tão tétrico para educação brasileira.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

22.-- Como foi a viagem? / Como foi de viagem?


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Os dois interrogantes que se fazem título da penúltima blogada deste festivo e memorável novembro estão muito no nosso cotidiano. Quase me atreveria dizer (Daniel, SOS!) que eles podem definir diferenças (não disse níveis!) no uso da língua culta.
Um e outro dos interrogantes parece merecerem duas avaliações, pelo menos assim me afiguram. Em uma das avaliações o inquiridor quer saber dos translados (o corretor insiste que deva escrever traslados!) para ir e vir de uma viagem. Em outra, parece se quer saber acerca do como foram os fazeres em função dos quais se viajou.
Esta manhã quando a dona Ceni me perguntou: Como foi de viagem? Eu contei que na ida, na escala em Brasília, depois de ficarmos uma hora embarcados em um avião sem ar condicionado, com promessas a cada 10 minutos que o problema estava sendo resolvido, fomos convidados — depois de uma hora — a desembarcar e caminhar com mochilas pesados distâncias extensas na busca de outro portão para sermos reembarcados. Disse que na volta os transtornos foram mais emocionantes: no voo de duas horas entre Cuiabá e Guarulhos, depois de mais de meia hora de voo foi pedida a colaboração de médicos presentes no voo, pois era necessário prestação de socorro a passageiro. Durante o atendimento éramos mais de duas centenas de passageiros interrogantes. Depois do transcurso de dezenas de minutos, fomos informados que retornávamos à Cuiabá. Partimos, uma vez mais, à Guarulhos duas horas depois. Claro que com isto perdi a conexão para Porto Alegre. Afortunadamente havia um voo 2,5 horas depois. Parti em hora que há muito já estaria em casa. Cheguei quase duas horas de quarta-feira (mais de 11 horas depois de ame presentar no aeroporto para embarque) e ainda sem minha mala, que só foi me entregue 20 horas depois. Dona Ceni, que nunca andou de avião, achou significativo manifestar seu dó, pelos meus dissabores.
Para a Luciana, que perguntou: Como foi a viagem? Contei das palestras, das aulas e, detalhei a defesa da Patrícia, cujo objeto de pesquisa já está farta de ouvir.
No projeto de tese apresentado à qualificação pela Professora Patrícia Rosinke (UFMT/campus Sinop) no dia 18/11/2019 depois de ter sido submetidas em duas pré-qualificação, nos Seminários 1 e 2 em Manaus em 2018 e 2019, nesta segunda-feira se trouxe a proposta de se examinar o quanto são tênues os limites entre o sagrado (religião) e o profano (ciência) — ou entre o ensino de ciências e o ensino religioso. Há uma situação aparentemente exótica: na catedral católica romana de Sinop, 4 entre 7 painéis (8 x 6,5 m) recorrem a representações iconográficas dos quatro elementos alquímicos (água, ar, fogo e terra) para se fazer a representação do sagrado marcando não apenas o tetramorfo dos quatro Evangelistas (Lucas, Mateus, Marcos e João), há, ainda, um tetramorfo formado pelos quatro animais, que segundo Ezequiel, profetizam os quatro evangelista na mesma ordem antes citadas, (touro, homem, águia e leão); um observador mais atento encontra nos painéis os 4 dogmas marianos (imaculada concepção, mãe do salvador, sempre virgem e assunta ao céu com corpo e alma) localizado cada um em um dos quatro pontos cardeais.
Nessa Tese trazemos algo original ou pelo menos não muito usual em teses doutorais: é de senso comum que uma tese é uma construção coletiva envolvendo o doutorando e o orientador. Fizemos isso mais evidente como uma ‘assemblage’ com textos da doutoranda e do orientador, como um vinho (no sentido mais usual) de diferentes cepas..
A pesquisa tem como sujeitos colaboradores licenciandos do curso de Ciências Naturais com habilitação em Química, da UFMT de Sinop/MT. Parece não existir nenhuma produção acadêmica acerca dos quatro elementos em espaços sagrados, também parece que não há nenhuma pesquisa acerca dos painéis da catedral de Sinop, MT. As considerações preliminares nos permitem afirmar que: o tema é importante na formação de professores de Ciências/Química; de acordo com as justificativas, principalmente porque ciência e religião são onipresentes em nossas vidas e por considerar a escola um espaço fundamental na formação dos sujeitos, sendo as aulas de Ciências motivadoras de discussões sobre a vida e seus fenômenos. Assim, já nos primeiros olhares – que somos induzidos a confirmar a nossa tese, de que são muito tênues os limites entre o sagrado e o profano, ou entre a religião e a ciência.
Geison (IFMT) Patricia (doutoranda) Chassot (Unifesspa), Gladys (Coordenadora do Programa, Marcel (UFMT)
A tarde foi preenchida por extenso tempo de aprender com a qualificação da tese de doutorado da Patrícia que foi aprovada por unanimidade pelos dois professores presentes Professor Geison Jader Mello do Instituto Federal de Mato Grosso e professor Marcel Thiago Damasceno Ribeiro da Universidade Federal do Mato Grosso e por três pareceres enviados: professor Helder Eterno da Silveira da Universidade Federal de Uberlândia, professora Patrícia Macedo de Castro Universidade Estadual de Roraima e professor Felício Guilardi Junior da Universidade Federal do Mato Grosso Câmpus Sinop. Os cinco pareceres foram unânimes em reconhecer a pertinência e a importância da tese proposta e as qualidades teóricas da mesma. A proposta de fazer uma ‘assemblage’ ao que parece por ser inédita na academia foi muito elogiada. Agora há pela frente a extensa apropriação das sumarentas contribuições da banca e elaborar a versão para a defesa final.