sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

15.- Maternidade e a produção acadêmica de mulheres cientistas,



ANO
 13
AGENDA 2 0 1 9
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3393
Esta é quarta edição consecutiva deste blogue alimentada nas Revoluções Científicas atuais discutidas na fértil 9ª Escola de Verão do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados ILEA / UFRGS (Detalhes na edição 3390 de 25/01). Na edição anterior anunciava uma provável pauta: reflexos da maternidade na produção acadêmica de mulheres cientistas.
Estou preparando a 9ª edição do livro A Ciência é Masculina? É, sim senhora! e, ao conhecer o projeto Parent in Science, trazido à 9ª Escola de Verão me pareceu ver aflorar forte mais uma explicação do porquê a Ciência é masculina.
Este projeto, criado em 2017, analisa os impactos da maternidade na carreira acadêmica de mulheres cientistas. A bióloga Prof. Dra. Fernanda Staniscuaski, do Departamento de Biologia Molecular e Biotecnologia da UFRGS, em sua fala entusiasmada e atual na 9ª Escola de Verão destacou os reflexos (negativos) na sua produção acadêmica em cada uma das suas três licenças maternidade.
Há uma página ‘Cientistas feministas’ https://cientistasfeministas.wordpress.com Nesta há informações acerca das corelações maternidade e ciência, na qual se apresentam dados do grupo Parent in Science que ajudam a traçar o perfil da pesquisadora brasileira mãe.
Um dos dados obtidos pelo projeto que parece significativo é o que diz respeito à percepção das mães sobre o impacto dos filhos na produção científica: 81% avaliaram de forma negativa, sendo que 59% responderam com “negativa” e 22% com “bastante negativa”. Apenas 5% avaliaram de forma positiva, 2% responderam com “bastante positivo” e 12% marcaram “nenhum impacto”.
Na mesma página se afirma que a falta de políticas públicas de órgãos governamentais para solucionar o cenário e a falta de compreensão por parte de atores dentro das universidades brasileiras, não é de se espantar a avaliação negativa. Ser mãe não é nenhum mar de rosas, como grande parte da sociedade gosta de pregar, e não é vergonhoso admitir-se cansada, sem tempo e com a sensação de que não será possível conciliar maternidade, trabalho e vida pessoal. Pelo contrário, é humano as mães precisarem de suporte para que as mulheres se sintam confortáveis a falar sem medo de represálias. A pergunta que as mães cientistas se fazem é: o que estamos fazendo com a saúde mental das nossas mulheres?
A situação é muito recente na postura corajosa no enfrentamento do status quo e na proposição de alternativas, mas é remota em suas consequências na história de uma marcada e (de maneira usual) aceita de uma ‘ciência masculina’.
Trago uma evocação pessoal. Quando começava minha carreia de professor universitário, ao final dos anos 1960, no Departamento de Química Inorgânica da UFRGS, havia uma colega muito competente que sempre que indicada para chefia do Departamento, ou estava grávida ou de licença maternidade. Talvez valha lembrar que a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, que define (sim! a ação verbal está no presente) que aos casais católicos (situação de minha colega) só são permitidos os métodos maturais de contracepção é de 1968. A cinquentenária encíclica ainda vige, mas a desobediência ao Papa hoje afortunadamente é maior.
Em www.parentinscience.com está anunciado o II Simpósio Brasileiro sobre Maternidade e Ciência na UFRGS de 16/17 de maio de 2019. As organizadoras anunciam que se quer discutir os avanços nas instituições de pesquisa brasileiras com a oportunidade de continuar a discussão do tema, destacando os avanços obtidos após o evento de 2018. Haverá uma série de palestras sobre a situação e as políticas de apoio em diferentes países. Será ampliada a participação de cientistas, por meio da apresentação de pôsteres, garantindo a expansão dos tópicos abordados e a presença de pesquisadores de todos os níveis de formação. Também deverá haver a oportunidade de, junto a membros administrativos de agências de fomento e de universidades, discutir políticas de apoio à pesquisadoras mães.

2 comentários:

  1. Em tempos de ameaça ou recrudescimento à desqualificação do trabalho da mulher - pela condição de gerar filhos e afastar-se temporariamente do trabalho -, tua blogada, assim como o Simpósio sobre maternidade e ciência, são providenciais. (H)abraços na luta!

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  2. Não é fácil produzir, estudar, ser mãe, ter forças durante o dia, a tarde, noite e madrugadas, a gente deixa de ter tempo para fazer coisas simples que gostamos como ver um filme ou ouvir musica. Mas, não devemos desistir de realizar nossos sonhos.

    Ser mãe não exclui a nossa vontade de ser mestre ou doutora na área que amamos.
    gosto muito da ideia do grupo "Parent in Science", sigo as paginas deles e sempre leio as matérias, pois faço parte dessa realidade, um dia espero poder produzir ou expressar algo a respeito para motivar outras mães a não desistirem dos seus sonhos devido aos problemas que enfrentamos na maternidade.

    Quando eu concluir meu curso, eu vou dizer que eu venci esse "degrau - obstáculo" e tive duas vitorias, viver cada fase do inicio da vida do meu filho e viver o meu grande sonho acadêmico.

    um abraço meu querido professor.

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