sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

08.- Involução educacional: expurgue-se Paulo Freire



ANO
 13
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EDIÇÃO
3392
Pela terceira vez consecutiva a 9ª Escola de Verão Revoluções Científicas atuais do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados ILEA / UFRGS é semente prenhe para mais uma edição deste blogue. E antecipo uma provável pauta para a próxima semana: reflexos da maternidade na produção acadêmica de mulheres cientistas, um dos temas de destaque da mesma Escola de Verão.
Na quinta-feira, 24/01, na 23ª conferência encerrou o evento, o Prof. Dr. Fernando Becker, com o texto: Involução Educacional: “... expurgando a ideologia de Paulo Freire” fez fala emocionante. Não cabe aqui e agora fazer uma síntese de sete páginas. Minha resposta à recepção do texto: Muito atencioso colega Fernando Becker, acabo de receber o melhor presente para o meu 2019 acadêmico. O texto que marcou para mim a 9ª escola de verão do ILEA. [...] Estou com muitos planos para com teu texto iluminar meus fazeres. Muito obrigado para partilhares comigo e com alunos que fruirão de tua sapiência.
A constatação mais significativa é o quanto muito pouco conheço das propostas freirianas. Já estou cumprindo um dos meus propósitos de estudo.
O texto de FB traz uma gravíssima afirmação que eu desconhecia: O plano de governo do Presidente eleito, registrado no TSE, afirma: “Precisamos revisar e modernizar o conteúdo, expurgando a ideologia de Paulo Freire, mudando a Base Nacional Comum Curricular, impedindo a aprovação automática e a própria questão da disciplina”. O anúncio dessa execração pública de Freire tem aparecido em vários veículos de comunicação. Quando se falava no expurgo de PF da Educação brasileira, pensava ser uma fake news. Só agora vejo que é plano de governo registrado no TSE. Está justificado porque alunos, professores e escolas são considerados como inimigos pelo atual governo.
Acerca da ilustração: no meu mestrado em Educação (UFRGS, 1974/1976) não fui apresentado a uma linha de Marx. Diferentemente do doutorado em Ciências Humanas (UFRGS, 1991/1994). A foto mostra a que tempos se quer voltar.
FB, em original tessitura, traz seis razões para que se concretize a proposta obscurantista e néscia bolsonarista. Trago acenos das seis justificativas.
Primeira, pelos títulos acadêmicos: Paulo Freire recebeu o título de doutor Honoris Causa por mais de 35 universidades das quais 12 universidades brasileiras. Em 13 de abril de 2012 foi sancionada a Lei nº 12.612, que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira. Segundo uma pesquisa envolvendo três estados brasileiros, Paulo Freire é o nome de escola mais comum. Depois da trazida de muitas outras informações, FB, com sarcasmo, conclui: “Como se vê, esse parece um excelente motivo para expurgar Paulo Freire da educação brasileira.”
Segunda, pelos títulos de algumas de suas muitas obras: Pedagogia do Oprimido, Educação como prática da liberdade, Educação e conscientização, Extensão ou comunicação (explicitação das bases epistemológicas de seu pensamento), Ação cultural para a liberdade, Cartas a Guiné-Bissau, Educação e mudança, Por uma pedagogia da pergunta, Ideologia e educação: reflexões sobre a não neutralidade da educação, A educação na cidade, A importância do ato de ler, Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido, Professora sim, tia não, À sombra desta mangueira, Pedagogia: diálogo e conflito, A África ensinando a gente: Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
Terceira, sua visão política: A continuada presença em suas obras de quanto um Estado poderoso pode desarticular os movimentos legítimos da população, em especial da escola, na cerceadura da autonomia, tanto intelectual quanto moral, de docentes e discentes.
Quarta, suas radicais concepções acerca da alfabetização: Tanto de crianças, quanto de adultos a alfabetização deve avançar, desde o início, “para além de um domínio mecânico de técnicas de leitura e escrita ou de uma ‘memorização mecânica das sentenças, das palavras, das sílabas, desvinculadas de um universo existencial’, num ato de criação e recriação: ‘É entender o que se lê e escrever o que se entende’ “Ao contrário das cartilhas [alusão clara ao Mobral, criado pela Ditadura Militar], esta alfabetização não é doada, é construída, feita de dentro para fora, pelo alfabetizando como sujeito em diálogo com outro sujeito, o educador. E... com ironia FB diz que este é certamente um motivo forte para eliminar Paulo Freire da educação brasileira.
Quinta, sua proposta de uma pedagogia do diálogo: Diálogo é palavra-chave na pedagogia do oprimido, da esperança, da autonomia. “Sem amor [diz ele] é impossível o diálogo. Por isso não pode haver diálogo entre opressores e oprimidos. É imprescindível, para restaurar se, ou inaugurar se o diálogo, que se acabe com a opressão”. Perdemos a conta dos milhões de pessoas que foram mortas, na história humana, inclusive na atualidade, pela incapacidade das pessoas e, sobretudo, das instituições de exercer essa capacidade. É a formação dessa capacidade que deve ser a preocupação básica da educação, seja ela familiar, institucional, do trânsito, da praça pública, das relações de trabalho, etc. A proposta de uma pedagogia do diálogo é, portanto, mais um motivo para expatriar Paulo Freire da educação brasileira.
Sexta, sua visão política de uma aprendizagem crítica e solidária: PF afirmava que “...assim como a tomada de consciência não se dá nos homens isolados, mas enquanto travam entre si e o mundo relações de transformação, assim também somente aí pode a conscientização instaurar-se” ele estava convicto que “Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas” E mais “Quanto mais crítico um grupo humano, tanto mais democrático, tanto mais ligado às condições de sua circunstância.” “... o Brasil nasceu e cresceu dentro de condições negativas às experiências democráticas.” “Necessitamos de uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política.” Pois, “A própria essência da democracia envolve uma nota fundamental, que lhe é intrínseca – a mudança.” Eis mais um motivo para expurgar PF da educação brasileira.
Como encerramento: (a)venturei-me, em ligeira mirada ao texto do Fernando Becker, fazer alguns respingos mostrando seis razões que pelo extraordinário valor pedagógico de Paulo Freire oferecem sobrados motivos para banir Freire da educação brasileira. Estas seis razões poderiam ser ratificadas pelo relato de apenas um evento: em 1996, o Centro de Epistemologia Genética da Universidade de Genebra realizou homenagem aos 100 anos de nascimento de Jean Piaget (1896/1980) se destacando então aqueles que com Piaget são considerados os dez maiores pedagogos do Século 20: cinco da Europa Central (Claparède, Decroly, Freinet, Gramsci, Maria Montessori)*, um da Rússia (Makarenko), um da Bielorússia (Vygotski), um dos Estados Unidos (Dewey) e apenas um do então chamado Terceiro Mundo: Paulo Freire (1921/1997), presente ao evento. *estes cinco nomes são de lista provável (AC).
O que tem a dizer o mal-educado ministro da Educação que certamente será o verdugo encarregado do expurgo?

6 comentários:

  1. Diante do contexto estamos em retrocesso, com a tentativa de negação do avanço na compreensão do próprio conceito de educação e a quem ela se destina, vivemos angustiados diante de posturas que só podem emergir da ignorância... não vejo maiores explicações uma vez que me nego acreditar que na exclusão como opção! Chassot você é um orgulho, poder contar com tua orientação me faz ampliar os olhares! Grata!

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  2. Patrícia querida,

    muito orgulhoso com prestígio que ofereces a este blogue e conheço de teus relatos o quanto teus alunos se fazem temerosos nestes tempos bolsonarianos.

    com estima achassot

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  3. Profe Chassot. Eu jah lhe contei que recentenente estudei Na Espanha e nao houve uma aula sequer na qual o mestre Freire nao fosse relembrado...e em muitas del, estudado. O prehdio tb levava seu nome. Para mim eh inacreditahvel esta intencao do governo. Eh infundada e absurda.

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  4. Boa tarde, Chassot, meu amigo! Enviei-lhe um e-mail com singela síntese do atual governo em seu primeiro mês. Foi Adriana, minha esposa, quem me enviou. Conversamos e ela me disse o que falamos em outros momentos: devo rir ou chorar? Eu diria que a zombaria que nos provoca é ainda maior que a vergonha sentida por admitirmos tais lambanças. Se fosse questão de merecimento, como já conversamos, diríamos: nem o país, nem os brasileiros, inclusos aqueles que nele votaram, merecem tal constrangimento, que na prática, solapa nossa dignidade pessoal e nacional. Então, preparo-me para, em breve, diante dos desmandos e da "canoa" furada criada e alimentada, apontar o dedo para pessoas dizendo: você contribuiu para tal, votando. Eis mais um desabafo. Obrigado, meu amigo!

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  5. Interessante, aqui no nordeste faz um calor terrível, muito seco o ar, vou ver esse Climatizador de Ar Philco para refrescar um pouco. Valeu pela dica

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  6. Cara, eu fiz uso desse suplemento, eu gravei até um vídeo falando desse testo power caps, se você tem interesse em saber o meu resultado clique aqui

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