ANO
12 |
Livraria
virtual
Www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
3356
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Nesta semana –- a propósito da publicação de mais uma edição do Para que(m) é útil o ensino? Dei entrevista à ABEU/Associação Brasileira das Editoras Universitárias [www.abeu.org.br/].
A ABEU busca promover o desenvolvimento das editoras associadas e contribuir
para os processos de produção, comercialização e divulgação do livro como
também promover ou participar de campanhas que incentivem o hábito da leitura e
o gosto pelo livro.
Autorizo-me trazer as três perguntas de Eduardo Rosa com as minhas respostas:
1)
O seu livro publicado pela Editora
Unijuí busca apresentar alternativas de ensino que sejam estimulantes para
alunos e proveitosas para professores, de modo a criar um ambiente educacional
mais produtivo para todos. Mas no título sua obra traz uma epécie de
provocação: "Para que(m) é útil o ensino?". Poderia comentar sobre a
escolha dessa pergunta diante dos temas abordados?
Por
primeiro parece oportuno referir que Para
que(m) é útil o ensino? (1995, 1ed) é um dos meus seis livros ora em
circulação. Honro-me em destacar que destes, quatro são de editoras
universitárias. Este livro foi tecido com excertos de minha tese de doutorado
na Ufrgs, em 1994, Para que(m) é útil
ensino de Química? Esta é uma quarta edição ampliada. Quase um quarto de
século pode parecer muito tempo, especialmente se nos dermos conta que entre
nós a gênese dos estudos no ensino das Ciências é da última década do Século 20.
Os livros envelhecem (ou, talvez, maturam) com velocidades muito diferenciadas.
Mesmo podendo ser colocado em suspeição, ouso afirmar que este livro é ainda atual.
Está bem-posta
a afirmação de que o título traz uma espécie de provocação. Não foi confortável
constatar, depois de já ter sido professor há mais de três décadas, que a
maioria do que se ensinava acerca da Química na Educação Básica era inútil ou
não tinha serventia. Este livro traz alternativas para um ensino mais útil na
busca da cidadania.
2)
Hoje, se perguntarmos a qualquer
cidadão ou representante político estes dirão que a educação é certamente uma
área de suma importância para a formação de uma sociedade mais igualitária,
desenvolvida e digna. Este discurso é um típico lugar-comum dito pelas
pessoas: a educação é algo positivo para o crescimento de um país e ninguém
nega este fato. No entanto, por que continuamos a ter problemas crônicos na
educação brasileira, na infraestrutura de escolas e na condução de pesquisas
mesmo no Ensino Superior? Há uma hipocrisia na forma com que tratamos a
educação?
É quase um
senso comum que a Educação é muito importante para a construção digna de uma sociedade
mais justa. Provavelmente há consenso nisso. Mas, lamentavelmente isso é uma
utopia. Hoje, com a Educação transformada em mercadoria –- e uma mercadoria muito
bem valorizada e muito apetecível ao mercado –- ela promove exatamente o
contrário: um mundo mais injusto. Se Educação de qualidade é apenas para alguns
teremos cada vez mais injustiças sociais. Hoje parece mais atual a afirmação
que coloquei na portada do sexto capítulo: A (re)produção do conhecimento químico:
Se a educação que os ricos inventaram
ajudasse o povo de verdade, os ricos não dariam dessa educação pra gente (Frase
que recolhi afixada em um cartaz, na Fundep/DER, em Braga, RS).
3)
Por fim, gostaríamos de saber o que
ainda o impele a ser um professor tão atuante até hoje, mesmo com mais de 50
anos lecionando e com presença em diversas instituições de ensino
Vou tentar
trazer respostas a esta pergunta –- que tem sido muito recorrente ao professor
que no próximo ano (2018) se fará octogenário –- em duas dimensões. Numa sou o
receptor das ações e em outra sou o doador.
Tenho dito
(e ainda escrevi recentemente em mestrechassot.blogspot.com) que há ações –- como
estar a quase cada semana em estado diferente do Brasil dando palestras –- que
tonificam ou revitalizam meu ser professor. Metaforicamente é a dopamina que
preciso para potencializar necessidades a um pleno funcionamento de meu
cérebro. Envolvo-me há mais de cinco anos na REAMEC (Rede Amazônica de Educação
em Ciências e Matemática) em um (ex)(in)tenso voluntariado que inclui
ministração de seminários nos estados amazônicos, presença em atividades
docentes e orientação de teses doutorais. As semanas que não tenho viagem sinto
uma abstinência ‘dessa dopamina’.
A segunda
dimensão à resposta desta pergunta está referida ao contexto onde está inserta
esta entrevista: Associação Brasileira das Editoras Universitárias. Tenho
brincado que se um dos critérios para um bom lugar no paraíso (que
parafraseando Gaston Bachelard, deve ser uma imensa biblioteca) for o número de
livros transportados, eu só perco para livreiros. Tenho orgulho de eu já ter
disseminado livros em cada uma das 28 unidades da federação. Sinto-me um
mascate levando sempre uma mala de livros. Posso dizer que para centenas de
jovens brasileiros eu oportunizei terem um primeiro livro autografado. Não é
sem a minha contribuição física que A Ciência
é masculina? É, sim senhora! (Editora Unisinos) chegou a 8ª edição em 2017 ou
que Alfabetização científica: questões e
desafios para educação (Editora Unijuí) terá seu relançamento em Belém em
junho de 2018. Devo dizer que de todos os livros que escrevi este é o meu
preferido. Talvez porque desde a primeira edição, em 2000 os direitos autorais
de todas edições são destinados ao Departamento de Educação do Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
Estas são
as duas dimensões: numa sou o receptor porque o meu ser professor é
revitalizado pelas minhas ações e na outra sou o doador, pois com o semear
livros ensejo que meus leitores se envolvam na construção de um mundo mais justo.
O título não poderia ser mais provocativo! Se em nossos tempos a utilidade "engole" a essência do que se é e o próprio ser das coisas produzidas pela força de trabalho e pelas convicções de seu produtor, então, a utilidade do ensino e do saber questiona o que se faz com a Educação. Onde tudo se vende, o julgamento acontece pelos funestos parâmetros: custo e benefício. Então, Chassot, meu amigo, enquanto questiona-se, até pelas pretensas intenções de solidariedade e distribuição da cultura (tudo o que se produz), tua escrita revela os labirintos do ideário mortífero que dirige a implementação do Ensino: o que ganharemos com isso? Esta é a máxima imposta pelos conglomerados. Receba meu abraço de apoio à cruzada de tantas décadas pelas nossas e outras terras, dizendo do nosso ser livre e aberto para aprender, sem se vender. Carinhosamente, Élcio!
ResponderExcluir"(...) pois com o semear livros ensejo que meus leitores se envolvam na construção de um mundo mais justo."
Ótimas reflexões ,obrigada Chassot !
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