terça-feira, 30 de agosto de 2016

30- Ainda em um agosto que sabe a desgosto

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 3203

“Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Na primeira vez, fui condenada por um tribunal de exceção. Daquela época, além das marcas dolorosas da tortura, ficou o registro, em uma foto, da minha presença diante de meus algozes, num momento em que eu os olhava de cabeça erguida enquanto eles escondiam os rostos, com medo de serem reconhecidos e julgados pela história.”
Li a fala da Dilma ontem, horas depois de ela ter falado no Senado nesta segunda que  foi plúmbea e chuviscosa. Reli hoje o texto. Emocionei-me mais ainda.
Disse hoje, a uma jovem senhora, para quem filhos ainda são promessas: “Haverá um tempo que teus filhos, ao contarem a História do Brasil a seus filhos, lerão para eles o texto que hoje nos emociona!”. Então, teus filhos dirão: “E, tua avó, naquele agosto que já vai longe, acompanhou o que fizeram para tirar do governo a primeira e única mulher que foi duas vezes eleita Presidenta do Brasil!” Talvez, acrescentarão narrativas acerca das alegrias que tiveste em duas eleições e da tristeza que tu e milhões de brasileiros viveram quando a democracia foi mais uma vez golpeada em nosso país.
“Peço que façam justiça a uma presidenta honesta, que jamais cometeu qualquer ato ilegal, na vida pessoal ou nas funções públicas que exerceu. Votem sem ressentimento. O que cada senador sente por mim e o que nós sentimos uns pelos outros importa menos, neste momento, do que aquilo que todos sentimos pelo país e pelo povo brasileiro.
Peço: votem contra o impeachment. Votem pela democracia.”

domingo, 28 de agosto de 2016

28- Num agosto de Michel Calabar Temer

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É o ocaso do último fim de semana de agosto. Não sou fatalista, mas o mês que já ceifou dois presidentes [Getúlio Vargas (24AGO1954) e Jânio Quadros (25AGO1961)] está com o gadanho afiado para uma nova degola agustina, nesta hemi-semana que ainda resta deste mês, que não sem razão é dito do desgosto.
Parece que tudo está consumado. Só falta a ceifa e se registrará, então: na História do Brasil, em agosto de 2016, houve um golpe apelidado de constitucional. Os golpistas ou as ratazanas que pululam no Senado como referiu e ilustrou (no desenho, aqui) o editorial do The New York Times* — sagrarão um presidente que deveria se chamar Michel Calabar Temer.
O jornal francês Le Monde, um dos mais influentes da Europa, publicou editorial neste fim de semana, em que afirma que o impeachment de Dilma Rousseff é "golpe ou farsa", que vitima o povo brasileiro. "A ironia quis que a corrupção fizesse milhões de brasileiros saírem para as ruas nos últimos meses, mas que não fosse ela a causa da queda de Dilma Rousseff. Pior: os próprios arquitetos de sua derrocada não são santos".**
Eu, enquanto testemunha do golpe, tenho minha tristeza potencializada por eu ter me omitido. Pertenço a um grupo de mais de 50 milhões de brasileiros a quem se diz: “O teu voto nas últimas eleições foi roubado pelo Calabar que tu co-elegeste!” Eu, com ressaibo de covardia, fico quieto.
*http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/252056/Jornal-The-New-York-Times-desmoraliza-o-golpe.htm
**http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/252017/Le-Monde-impeachment-de-Dilma-%C3%A9-ou-golpe-ou-farsa.htm

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

24- Num agosto aziago... também alegrias.


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Na história da política do Brasil republicano, uma vez mais agosto se faz aziago. Mas, afortunadamente, neste 25 vivo emoções no amealhar reviveres que sabem a alegrias e tecem evocações. Quando a quinta começar estarei, mais uma vez, percorrendo em ônibus os cerca de 450 km de Porto Alegre a Frederico Westphalen. Que durante cinco anos (2011/2015) fiz de maneira muito frequente. Volto a URI e mais precisamente ao Programa de Pós Graduação em Educação onde fui professor e orientei quatro mestres.
À tarde participo da banca de defesa de mestrado de Elisângela Cristina Beuren que traz à avaliação: Aprendizagem em Ciências e Formação Cidadã por Meio da Alfabetização Científica”. A dissertação foi orientada pela Profa. Dra. Neusa Maria John Scheid e participa da banca o Prof. Dr. Arnaldo Nogaro. Prevejo, pela qualidade do trabalho e por meus colegas de banca que teremos uma tarde sumarenta.
Pela manhã falo para 4 turmas de 8º e 9º anos de duas escolas: Escola Edgar Marques de Mattos — a convite da minha ex-orientanda Camila Guindini Camargo, diretora da Escola — e Escola Sepé Tiaraju, a convite do meu colega Vanderlei Farias. Vou propor aos alunos que escolham óculos e os assestem para olhar o mundo natural. 
Ao meio dia almoço com colegas professores e ex-orientandas.
À noite, no Programa de Pós Graduação em Educação da URI faço uma fala no Colóquio de Educação acerca da arte de escrever Ciência. Ainda, nesta mesma noite regresso à Porto Alegre.
Nesta quinta-feira, também por estas benesses tecnológicas estarei, à distância na banca de qualificação da doutoranda: Glauce Viana De Souza Torres, que apresenta a proposta de tese “A Educação em Ciências  Naturais no currículo do Curso de Pedagogia Acordo Brasil-Japão: travessia de uma universidade da Amazônia em território estrangeiro” orientada pela Profa. Dra. Tânia Maria de Lima. O doutoramento da Glauce ocorre na Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática/REAMEC e a defesa é na UFMT em Cuiabá.
Assim, nesta quinta-feira abstenho-me de lances do impeachment golpista que se diz constitucional. 

sábado, 20 de agosto de 2016

20.- De um cotidiano saudoso


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Mesmo em tempos de hegemonia do WhatsApp, que como plataforma de comunicação retirou a medalha de ouro do prestimoso correio eletrônico — para usar uma linguagem contemporânea ao circo olímpico —, vez ou outra, ainda recebemos e-mails que nos fazem saudosos dos tempos das cartas (daquelas que se escrevia em suporte papel e se envelopava e selava e se levava ao Correio).
Esta semana recebi uma mensagem que me emocionou e por tal a partilho aqui. Ela evoca o “A ciência através dos tempos” cuja primeira edição é de 1994, quando engatinhávamos na comunicação eletrônica. Ofereço num sábado que em Porto Alegre é frio e chuviscoso, aditando minha resposta. 
Em 18/08/2016 12:22, Carlos Henrique Nobre Baptista escreveu: Caro Prof. dr. Attico Chassot, Venho por meio deste e-mail agradecer a gratificante leitura de seu livro "A ciência através do tempo" , tive o primeiro contato com ele em minha aula de história da ciência no Centro Universitário Fundação Santo André, em Santo André SP, e me recordo que o senhor palestrou a alguns anos atrás para alunos do PIBID de Química, não tive o prazer de assistir tal palestra mas todo o conhecimento que o senhor transmiti em seu livro auxiliou na transformação acredito eu de um bom educador.
Muito atencioso colega Carlos Henrique! Muito obrigado por tão estimulante e significativa mensagem. Acolho-a como uma medalha de ouro, para ficar no espírito dos dias de circo que vive o país. 
O que mais encanta no teu texto é dizeres que talvez o "A Ciência através dos tempos" tenha te transformado em um bom educador.
Isso me encanta. 
Ainda, na edição de ontem do no blogue reptava um livro que defendia a tese que professor NÃO deve ser educador. Hoje com tua mensagem ratificas minha defesa.
Tomara que tenhamos oportunidade de nos encontrarmos em uma palestra. No dia 8 de setembro falo no congresso do SINPRO - SP. Talvez, volte a ser convidado para voltar a Santo André, com agradecimento a estima do attico chassot


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

17.- O professor deve ser um EDUCADOR

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Trago, a comentário aqui, livro que vi apresentado na Zero Hora desta quarta-feira. Não o li; mas resenhas do mesmo e entrevista com seu autor autorizam-me não lê-lo e defender posição radicalmente antípoda: o professor deve ser um educador.
Armindo Moreira diz: “O professor não deve ser educador de seus alunos, pois a verdadeira função do professor é instruir. A missão de educar cabe à família.” Discordo. Não posso / não devo / não quero ser professor de Química, por exemplo, para instruir alunos em Química. Isso máquinas de ensinar fazem com muito mais competência que eu.
 Eu devo educar e para tanto até posso usar exemplos científicos para mostrar o quanto conhecendo Química podemos ajudar a transformar para melhor a maneira de estarmos no Planeta e mostrar como o uso inadequado destes mesmos conhecimentos pode degradar a qualidade da vida. Isso até pode ser competência da família, mas ela pode não saber fazê-lo.
Devo posicionar-me politicamente acerca do (não) uso de determinado conhecimento científico. Isso se aplica ao meu ser educador desde a Educação Básica até em um curso de doutorado. Não há como sermos neutros diante de um conhecimento. Posso/devo mostrar posições contrárias ante a uma mesma situação e dizer qual é a minha posição. É evidente que jamais vou colocar como exigência que os estudantes tenham que assumir — necessariamente — a minha posição.
Essa não é uma situação exótica. Ela é muito comum em aulas de Ciências. Tenho, não raro, alunos que se posicionam em favor do criacionismo ou do design inteligente enquanto eu trago argumentos em favor do evolucionismo. Um aluno que assume posições criacionistas pode ter, em uma aula minha, uma melhor avaliação que um evolucionista.
Nós professores devemos buscar uma Educação para a privacidade. Assim estaremos nos ajudando a garantir uma transformação saudável nesse novo e exigente mundo digital. Isso não se faz com ‘manual de instrução’ e sim no exercício de uma educada cidadania crítica.
Enquanto professores cabe-nos sermos educadores e não mero repassadores de conteúdos. Estes estão cada vez estão mais facilmente disponíveis. Usar alguns destes conhecimentos para fazer com eles Educação é uma exigência que se impõe. Sou professor há 56 anos para fazer Educação.

domingo, 14 de agosto de 2016

14.- É DIA DOS PAIS

14.- É DIA DOS PAIS

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Em paralelo a sumarentas celebrações do dia dos pais onde estarei com filhos e netos há a evocações de saudades. Estas datas comemorativas são para muitos tintadas de evocações. Não serei original nem na forma nem no conteúdo na homenagem a meu pai. Trago algo que escrevi há quase 25 anos e que tem sido lido e relido por milhares de leitores nas sucessivas edições e reimpressões de A ciência através dos tempos:

Para Afonso Oscar Chassot (1906-1987), meu pai,
que, mesmo nunca tendo visto seu nome
impresso em um livro ou jornal, muito me ensinou:
a gostar de ouvir notícias,
instrumental importante para conhecer e entender a história,
e
a vibrar com a profissão,
marceneiro hábil que era, trabalhando a madeira com amor.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

05.- Mais uma vez contra a ESCOLA SEM PARTIDO

05.- Mais uma vez contra a ESCOLA SEM PARTIDO


Em outros textos e aqui, em mais de uma oportunidade, houve repúdio a esta excrecência dita ‘Escola sem Partido’. Os educadores químicos, em Assembleia Geral no XVIII Encontro Nacional de Ensino de Química, em Florianópolis no dia 28 de julho de 2016, que reuniu em torno de 2,5 mil participantes deliberaram, por unanimidade enviar MOÇÃO DE REPÚDIO aos PL 867/15 (Câmara) & PLS 193/2016 (Senado) ambos propondo uma Escola sem Partido.
A MOÇÃO destinada ao Congresso Nacional (Câmara e Senado) tem este TEOR:
A educação, a escola, os professores e a sociedade brasileira enfrentam uma grande ameaça com o Projeto Escola sem Partido (PL 867/2015), em tramitação no Congresso Nacional. Entendemos que esse projeto defende uma escola sem pensamento crítico e que retira a liberdade de expressão, cláusula pétrea da Constituição Brasileira e a prática democrática na escola, o que prejudica a formação do cidadão brasileiro e do próprio conceito de cidadania.
Diante dessas justificativas, a comunidade brasileira de educadores químicos, representada nesse evento, repudia veemente o PL 867/15 (Escola sem Partido) em tramitação no Senado Federal.


Adendo: Dentre uma extensa produção acerca do tema adito como sugestão um texto de Frei Betto:
Nada mais tendencioso do que o Movimento Escola Sem Partido. Basta dizer que um de seus propagadores é o ator de filmes pornô Alexandre Frota. O movimento acusa as escolas de abrir espaços a professores esquerdistas que doutrinam ideologicamente os alunos.
Leia a íntegra em http://www.correiodobrasil.com.br/frei-betto-escola-sem-partido/

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

01.- É tempo de AGOSTAR


ANO
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Dentro da tradição acadêmica começa hoje o segundo semestre letivo do ano. As férias de julho (de extensão variável de uma semana a um mês) terminaram e agora é agosto. É tempo de agostar.
Este verbo tem duas acepções quase antônimas, marcada pelos falantes de nosso idioma do hemisfério norte que vivem o verão neste mês. Assim o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa registra:
“Agostar", verbo intransitivo:
1. [Portugal: Trás-os-Montes] Murchar, por falta de frescura ou de umidade (com o calor de agosto).
2. Amadurecer em agosto.
Logo agostar não é só desgosto como na acepção 1; a 2 é uma ação benéfica. Se diz que, quando das grandes navegações, no Século 16, os ventos de agosto eram propícios a partida das caravelas, por tal dentre os portugueses, se desaconselhavam casamentos neste mês, pois as jovens nubentes poderiam logo se tornarem viúvas. Logo “casar em agosto pode(ria) trazer desgosto”.
Na histórica política brasileira recente há pelo menos dois fatos que ferretearam agosto como mês de desgosto: o suicídio de Getúlio Vargas (24/08/1954), e a renúncia de Jânio (25/08/1961).
Não só entre nós e nossos colonizadores há associações aziagas ao mês que homenageia o imperador Augusto. Os romanos acreditavam que um dragão passeava pelo céu noturno em agosto. O monstro nada mais era do que a constelação de Leão, mais visível no verão do Hemisfério Norte.
Uma das mais dolorosas marcas de agosto, no início dos tempos modernos é o massacre da noite de São Bartolomeu quando na história da França, houve repressão ao protestantismo, promovida pelos reis franceses, que eram católicos. Esses assassinatos aconteceram em 23 e 24 de agosto de 1572, em Paris, no dia de São Bartolomeu. Historiadores modernos apresentam uma considerável de diferença acerca do número de vitimas que têm variado de 2.000 até a afirmação de 70.000.
Tragédias do século 20 ratificam a fama de agosto: Início da Primeira Guerra Mundial (01/08/1914), Destruições de Hiroshima (06/08/1945) e Nagasaki (09/08/1945) por bombas atômicas e Início da construção do Muro de Berlim (13/08/1961). A essas tragédias poderíamos contrapor: O inicio da Segunda Guerra Mundial (01/09/1939), a Destruição do WTC, as Torres Gêmeas (11/09/2001) e o Grande Tsunami no Oceano Índico (26/12/2004).
Há várias outras crenças associadas ao mês de agosto desde ser ‘o mês dos cachorros loucos até ser o mês que o diabo está solto. Isto pode ser visto em vários sites espiritualistas ou assemelhados, basta que se coloque num buscador “agosto mês do desgosto”.
 E, agostemo-nos todos (na acepção 2 do Priberam) neste mês que se inicia. Ou então (a)gostemo-nos todos.