sábado, 31 de outubro de 2015

31— UM QUINTO CENTENÁRIO MUITO SIGNIFICATIVO.


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3098

Sinop entrou para minha história. A auto-denominada “capital do Nortão” entrou para minha história. Foram momentos de três falas muito significativas. Tive o privilégio de conviver com pessoas muito especiais. Mais uma vez, aprendi muito. Sou especialmente grato ao Mauro e a Viviane anfitriões atenciosos. Também reconheço o competente trabalho dos meus queridos livreiros Clenir e Leonan, que ensejaram que não sobrasse nenhum dos exemplares que levara. Sou muito reconhecido ao Eduardo Mueller meu doutorando da Reamec, que veio a Sinop para orientação, que se estendeu até a pista do aeroporto de Cuiabá. Emocionou-me a mensagem de Patirosinke Rosinke, postada na edição anterior: Chassot não passou por Sinop, ele ficará conosco para sempre... em suas palestras além do conhecimento ele nos ensinou a generosidade. Desejo que hoje, exatamente agora, tenhas um bom retorno ao RS... sucesso nas pesquisas do Reamec, obrigada por nos ensinar sobre a INdisciplinaridade... Abraços e abraços.
Desejo trazer, em outro momento, algo das impressionantes pinturas da catedral de Sinop e dos sumarentos momentos com Mari Bueno, a artista que na pintura busca dimensões muito instigantes para fazer conexões com o sagrado. Recebi excelente material para entebder este segmento da arte;
Durante o longo retorno de quase Sinop / Cuiabá / Foz do Iguaçu / Porto Alegre dez horas faço tessituras acerca do último dia de outubro. Salvo no segundo trecho que aprendi muito com a Juliana, uma jovem engenheira agrônoma mato-grossense envolvida na produção de alimentação para animais.
Neste 31 de outubro não vou exorcizar as comemorações colonizadoras do dia das bruxas e muito menos a artificial alternativa do dia de Saci. Este dia tem algo muito especial.
Dentro de exatos dois anos, na terça-feira 31 de outubro de 2017, será o momento máximo das comemorações do quinto centenário de um dos maiores eventos do mundo Ocidental. Foi em 31 de outubro de 1517 que, Martinho Lutero (Eisleben, norte da Alemanha, 1483-1546) através da publicação de suas 95 teses, na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano.
Há — no período mais fértil do Renascimento — uma meia dúzia de propostas de eventos, que decretaram modificações significativas na Europa, para marcar o fim da Idade Média. Assim, para o seu término são propostos os seguintes eventos (aqui citados em ordem cronológica): 1439: invenção da imprensa // 1453: queda de Constantinopla // 1453: fim da Guerra dos 100 anos // 1492: descoberta da América // 1517: Reforma Luterana // 1534: Reforma Anglicana.
Não há sentido de fazermos um plebiscito entre estes eventos e eleger o fulcral. A escolha daquele que foi mais relevante ou mais revolucionário vai muito de opiniões.
Mesmo que eu não seja historiador, se tivesse eleger um, a minha escolha seria: a Reforma Luterana, desencadeada por Lutero, talvez marcado pelo meu viés dito ‘igrejeiro’, (leia-se querer ler a história marcada de maneira significativa pela presença da religião).
Há extensa literatura para destacar as muitas consequências políticas, sociais, econômicas, culturais e educacionais advindas de diferentes cisões no até então quase monolítico domínio da igreja católica (romana). Destas cisões são relevantes as consequências da Reforma Luterana. Talvez um dos feitos mais significativos foi traduzir toda Bíblia para o alemão, em uma edição de 1534. Antes houve outras traduções parciais (especialmente dos evangelhos) em diferentes idiomas.
A Bíblia de Lutero se torna referência na manutenção da ortodoxia nas igrejas reformada. Ela confere ao alemão o status de língua culta e com isso fortalece o emergente conceito de ‘Estado nação’. Há quem mostre que a língua alemã e mesmo a Alemanha seja gerados pela existência da Bíblia traduzida por Lutero.
Importância mais significativa desta tradução foi que agora a Bíblia estava acessível a todos (que soubessem ler). Aqui, vale destacar uma ação muito significativa: para ajudá-lo na tradução Lutero fez incursões nas cidades próximas e nos mercados para ouvir as pessoas falando. Ele queria garantir que sua tradução fosse a mais próxima possível da linguagem contemporânea. A tradução de toda a Bíblia em outras línguas (nos anos seguintes surgiram edições em francês, espanhol, tcheco, inglês, neerlandês) foi considerada um divisor de águas na história intelectual da Humanidade Ocidental.
Os cultos nas igrejas reformadas passaram a ser no vernáculo (nome dado à língua nativa de um país ou de uma localidade), pois além da Bíblia os hinos foram traduzidos (ou produzidos) na língua local. Ocorre que essa inovação não pode ser fruída pela população, que era em sua maioria analfabeta. Criaram-se, então, escolas junto a cada igreja reformada para se ensinar a leitura, assim o povo poderia ler a Bíblia e ler os hinos nos cultos.
Na educação, o pensamento de Lutero produziu uma reforma global do sistema de ensino alemão, que inaugurou a escola moderna. Seus reflexos se estenderam pelo Ocidente e chegam aos dias de hoje.
Tão importante quanto Lutero para a educação foi Philipp Melanchthon (1497-1560). Durante o período que Lutero passou impedido de se manifestar publicamente, Melanchthon foi o porta-voz da causa reformista e se encarregou de reorganizar as igrejas dos principados que aderiram ao luteranismo. Esse trabalho resultou no projeto de criação de um sistema de escolas públicas, depois copiado em quase toda a Alemanha. A reforma da instrução era uma das principais reivindicações das camadas mais pobres da população, insatisfeitas com as más condições de vida e com o ensino escasso e ineficaz oferecido pela Igreja. Esses foram alguns dos motivos da revolta armada dos camponeses, sangrentamente reprimida em 1525.
Tanto Melanchthon, quanto Lutero viam na educação um assunto do interesse dos governantes. “A maior força de uma cidade é ter muitos cidadãos instruídos”, escreveu Lutero. Para isso, foi criado um sistema que atendia à finalidade de preparar para o trabalho e à possibilidade de prosseguir os estudos para elevação cultural. O currículo era baseado nas ciências humanas, com ênfase na história.
Paradoxalmente, a Reforma Luterana é muito benéfica à igreja romana, pois com a contrarreforma há a refontização, na busca das verdades e das práticas que haviam sido perdidas.
Assim a Escola como conhecemos hoje é produto da Reforma Protestante. A primeira ordem religiosa ensinante da igreja romana (antes as ordens religiosas são pregadoras, esmolantes, orantes, hospitalares, militares...) é a Companhia de Jesus (jesuítas) fundada por Inácio de Loyola em 1531.
Nestes dois anos que nos separam da data do 5º centenário da Reforma, neste espaço quero trazer outras edições acerca do tema. Desejo que cada uma e cada um vivam na raiz deste evento possibilidades de manifestações acerca das religiões.

2 comentários:

  1. É imensurável a contribuição de Lutero para o florescimento do ensino escolar visando o esclarecimento sobre o estado existencial das pessoas na sociedade. É o despertar de consciências da condição humana do homem e do controle de seu destino. Início do fim de um longo período de negação ao conhecimento a respeito da consciência histórica de cada indivíduo. Lutero permite que se possa deixar que raios de lucidez desça sobre os sujeitos a iluminar a inteligência humana. Corajoso, porém determinado na busca da verdade. Um justiceiro, visionário, libertador de mentes controladas. Um Jesus Cristo encarnado? Tenho minhas dúvidas, uma vez que a igreja católica "cristâ" havia se distanciado da mensagem contida nos evangelhos, preferindo a manutenção do poder político e do controle das consciências das pessoas em sua ingênua ignorância. Lutero significou uma necessária cisão, foi um saudável divisor de compreensão, entendimento e exegese...

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  2. Como é bom e agradável ler seus escritos, nobre professor, para sempre meu respeito e consideração.

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