sexta-feira, 26 de junho de 2015

26.- EVOCAÇÕES CUIABANAS


ANO
 9
EDIÇÃO
 3053

Encerro, nesta sexta-feira, um tríduo em Cuiabá. Cheguei aqui na quarta, no final da manhã. À tarde, fiz a palestra “Assestando óculos para ver mundo””. Ontem, falei em duas ‘Rodas de Saberes e Sabores’ pela manhã: Saberes primevos fazendo-se saberes escolares” e à tarde: “Das disciplinas à indisciplina”. A foto é de momento desta Roda.
Hoje pela manhã, encerro meu ciclo na cidade considerada como o centro geodésico da América do Sul com a palestra: “Das novas exigências ao estar mundo da Academia”. Estas quatro falas se constituíram em parte da programação da JORNADA CUIABANA DE ENSINO DE QUÍMICA COM CHASSOT: O FAZER/ENSINAR CIÊNCIAS NA DIVERSIDADE organizada pelo Laboratório de Pesquisa em Ensino de Química da UFMT. Envolvendo especialmente professoras e professores indígenas, quilombolas e do campo. Mais uma vez aprendo mais que ensino.
Vivo, mais uma vez a rica oportunidade de conviver intensamente com professoras e professores do estado de Mato Grosso, alguns deles, como a delegação de Tangará da Serra, viajaram 270 km para participar desta jornada. Com estes evoquei uma estada na cidade deles há uns anos, onde falei em um circo lotado.
Mas estando aqui, de repente vejo-me invadido por outras evocações nostálgicas de diferentes estar aqui. Não sei o porquê, mas esta cidade entrou muito forte em minha história de educar nas Ciências, com fases muito diversas e com fazeres dispares.
A primeira vez que estive aqui foi em 1975. Meu destino era, o então Território Federal de Rondônia (que passou a categoria de Estado em 1986) onde fiquei de 6 de janeiro a 6 de fevereiro. Então participei como professor de Química no Curso de Licenciatura de 1º Grau, que a UFRGS mantinha no seu Campus Avançado de Porto Velho. Essa atividade era parte do Projeto Rondon. Recordo que partimos da Base Aérea de Canoas, em um velho DC-3 da FAB. Era talvez a minha segunda viagem de avião. A viagem era uma operação militar e a fizemos em duas etapas. No primeiro dia viemos até Cuiabá, de onde partimos, como previsto, só no dia seguinte. Não recordo onde dormimos (hotel ou quartel), mas sei que a janta foi num quartel. No mesmo DC3, voamos a Porto Velho.
Nos anos 80 tive uma participação em um curso de especialização na UFMT, permanecendo aqui mais de duas semanas. Já então, como recordou nesta quarta a professora Salete, que fora aluna do curso, orientei várias monografias de conclusão que tinham como proposta a busca de saberes da tradição regional.
No final dos anos 90 trabalhei num mestrado de ensino de Ciências, na UFMT. Participei de seminários e orientei minha primeira mestranda. Em 13 de dezembro de 1996, Irene Cristina de Mello, hoje doutora e atual Pró-Reitora de Graduação da UFMT, defendeu sua dissertação Contribuições ao ensino da Tabela Periódica privilegiando a História da Ciência. Eu, então, abria a minha lista de orientados, que neste julho de 2015, terá agregado seu 31º nome. Deste mestrado ficou-me como colega e amiga muito próxima a Elane Soares, de cuja banca de defesa de mestrado participei. Ela se faz de minha biógrafa em uma atividade quando realizou seu doutorado da PUCRS. A Elane neste tríduo de 2015 foi presença.
A partir de então posso lembrar várias vindas à Cuiabá. Mesmo que não esteja aqui com meus diários recordo várias estadas na UFMT em eventos, bancas e também em pelo menos duas oportunidades nas escolas salesianas: São Gonçalo e Sagrado Coração de Jesus.
Remexendo neste baú de saudades lembro que em diferentes estadas aqui visitei a igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, que querem alguns seja uma miniatura da Notre Dame de Paris e imponente mesquita islâmica. Em 2010 estive no grande templo da Assembleia de Deus que tem a capacidade para 22 mil pessoas sentadas e mais 8 mil em pé. Claro que me imaginei ali fazendo a palestra ‘A Ciência é masculina?’ com templo lotado.
Algo mais que me liga de maneira continuada a esta cidade é saber-me próximo um artista que conheço desde 1993 e do qual tenho três obras em minha casa. Mais de uma vez visitei Nilson Pimenta, um dos mais importantes artistas naif brasileiros em seu ateliê na UFMT. Nilson em suas obras descreve as relações homem-bicho na vida interiorana. “Onças, caititus, jacarés, sucuris, mateiros, macacos, urubus, cães, cavalos e bois se consomem nessa relação com o homem, fera maior. Acuados, mais vencidos do que vencedores, homens toscos, enxadas e foices nas mãos, lutam, procriam, matam, morrem e vivem cenas atrozes nos bastidores do Brasil agrário. É a visão da vida esquecida no interior, do interior, “brabo” e surdo que aparece nas telas do lavrador que se fez pintor”. Na ilustração uma amostra pequena para pensarmos em grande artista.
Se não laboro em equívoco, minha última estada aqui foi em novembro de 2010. Vim convidado para o Seminário Educação 2010: Educação, Formação de Professores e suas dimensões sócio-históricas: Convergências e tensões, um evento que reuniu cerca de 1.500 pessoas. Entre outros pontos de agendas tive uma fala nesse evento.
Ofereço estas evocações, de maneira particular, aos colegas da UFMT, Profa. Dra. Mariuce Campos de Moraes e a Eduardo Ribeiro Mueller, meu orientando de doutorado. Uma gratidão muito especial a todos que muito me ensinaram nestes três dias. 

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