sábado, 6 de dezembro de 2014

06.- DAS CIDADES E DOS ENCONTROS


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2978

Vivo um sábado com a quarta (e última) despedida de um grupo de alunos deste semestre: Hoje, o Jose Clovis e eu encerramos os seminários quinzenais de Inclusão e Educação no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA. Solenizaremos esta despedida recebendo o grupo na Morada dos Afagos para um almoço. Prevemos bons momentos.
Retornado de mais uma viagem, algumas reflexões. Quando, enquanto alienígenas olhamos uma cidade, vamos registrando suas construções culturais, fazendo que mesma se desenhe em nós. As cidades se fazem em nós, não apenas quando de nossas visitas, mas também pelas nossas leituras em livros e filmes. Isso vale para qualquer cidade. Eu imagino (vale lembrar que imaginar é fazer imagens!): Paris, Londres, São Petersburgo, Bancoc, São Tomé das Letras, Parintins, Amargosa, Não-me-toque...
Estas imagens são muito pessoais; marcadas por nossas idiossincrasias. Na quinta, por exemplo, tentei narrar como fui capturado pela maneira querida como Anápolis, mais precisamente a Universidade Estadual de Goiás, me acolheu. Esse sentimento passa integrar a maneira como vou construindo esta cidade. Ela, quando estive aqui em setembro do ano passado, ofereceu outra experiência inédita. Esta aflora ainda significativa, quando revisito cenários do ocorrido. Evoco-a.
Então, o trecho Goiânia/Anápolis se fez pequeno para que fruísse mais do excepcional privilegio de aprender com André Lucio Franceschini Sarriá, um químico de produtos naturais, especialista em ‘comunicação entre plantas’ algo que para mim era desconhecido. Na foto ao autografar para o Dr. Sarriá meu livro A ciência através dos tempos em 19 de setembro de 2013.
Tite — como é conhecido pelos amigos — um brasileiro radicado no Reino Unido, concedeu em 19 de outubro uma entrevista a este blogue. Trago aqui suas resposta a três perguntas:
1. — André, poderias fazer um breve relato acerca de tuas pesquisas.
Meu projeto de pós-doutorado foi sobre voláteis emitidos por plantas quando em situação de estresse. Explico: Ao passo que animais podem se proteger, plantas permanecem no mesmo local, não importando quão desfavorável as condições ambientais podem ser, durante o processo evolucionário as plantas adquiriram uma sofisticada estratégia defensiva para “perceber” os ataques de patógenos e insetos, traduzindo essa percepção em uma resposta. Um exemplo simples Quando uma planta ao ser atacada por algum inseto ela precisa se defender contra este ataque, mas de que maneira ela se autodefende? O primeiro sinal de defesa é a emissão para a atmosfera de voláteis, substâncias orgânicas de baixo peso molecular que são carreados pelo vento, estes voláteis muitas vezes funcionam como moléculas de comunicação. Primeiramente é para comunicar a sua vizinha de que algo está errado, a planta vizinha capta este sinal e o traduz em uma série de reações em cadeia onde são ativados enzimas de resistência; o metabolismo da planta passa a ser focado em um determinado ponto. Assim a planta vizinha fica “preparada” para um possível ataque. O segundo sinal observado é que estes sinais também podem atrair predadores ao local do ataque muitas vezes estes insetos são predadores da praga que está atacando a planta. Um mecanismo muito sofisticado a meu ver.
2. — Já há alguma descoberta na área de ‘comunicação entre plantas’ que poderias ilustrar para nossos leitores?
Existem muitos exemplos, um deles é do professor Ariel Novoplansky de Israel, ele conseguiu provar, com um experimento bem simples, que plantas avisam sua vizinha quando algo não vai bem. Ele colocou 150 vasos enfileirados e a cada dois vasos ele acrescentava uma planta (metade da raiz ficava em um vaso e a outra metade em outro vaso) dessa maneira todas as plantas estavam ligadas entre si. No primeiro vaso (e somente neste) ele acrescentou uma substância que fez com que seus estômatos se fechassem e o que foi fascinante é que após um período de uma metade de hora as 150 plantas estavam com seus estômatos fechados. A primeira planta foi estressada passou um sinal pela raiz para outra planta e assim sucessivamente uma a uma todas fecharam seus estômatos. Isto também prova a necessidade que as plantas possuem de preservar seu DNA, pois se a minha vizinha está doente, muito provavelmente eu vá sofrer também então elas se auto preservam.
Um exemplo que observei na Inglaterra (no período que fiz meu estágio de pós-doutorado) foi sobre a lagarta do milho. Esta lagarta é uma praga que causa prejuízos em plantações, a “boca” da lagarta possui secreções e ao comer as folhas esta secreção entra em contato com a folha do milho. O efeito observado é que o milho passou a liberar uma substância para a atmosfera, e esta substância é um atrativo para vespas (os predadores naturais da lagarta). Hoje sabe qual substância é produzida pela saliva da lagarta, ela se chama volicitina e experimentos mostraram o mesmo comportamento quando se aplica volicitina sintética. Este é um dos exemplos, mas existem vários. Um deles que me atrai são os chamados aleloquímicos, isto é, a capacidade que uma planta tem de inibir a germinação de uma planta invasora (talvez em psicologia isso possa ser chamado de egoísmo), neste caso a planta desenvolveu uma maneira de biossintetizar substâncias como uma forma de sobreviver. Vamos a um exemplo: suponhamos que uma planta de tamanho pequeno necessite de luz solar, mas furtivamente começou a nascer cerca a si uma espécie de planta de tamanho maior e com grandes folhagens “roubando o seu sol”, esta planta pequena é capaz de liberar para as raízes substâncias que inibem o crescimento da sua vizinha e dessa maneira seu banho de sol estará garantido. Isso é o chamado de alelopatia e um pesquisador renomado nesta linha de pesquisa é o professor Macias, da universidade de Cádiz na Espanha.
3.— Agora a pergunta clássica: Qual é a aplicação destas pesquisas?
Esta é uma pergunta muito importante e bem pertinente, estamos hoje com 7 bilhões de habitantes no mundo e como iremos alimentar toda essa gente? como fornecer alimentos saudáveis a tantas pessoas? Hoje utilizamos agroquímicos para controlar insetos e outras pragas agrícolas. Contaminamos rios, animais e todo o globo sofre com isso. Conhecendo a comunicação de plantas podemos propor protótipos moleculares 100% naturais com a opção de aumentar a produção de alimentos. Um exemplo são os aleloquímicos, a planta nos fornece um “molde molecular” onde químicos sintéticos podem produzir esta molécula e assim pode ser aplicado na agricultura como um herbicida 100% confiável. Isso é o que me fascina: “ouvir” e “anotar” aquilo que a planta está “dizendo” para nosso próprio benefício. Usar os voláteis de plantas também é um método seguro e eficiente contra pragas agrícolas, atraindo predadores e ao mesmo tempo polinizadores.
ENTREVISTA COMPLETA: 19OUTUBRO2013

6 comentários:

  1. Incrível como a hipótese do André Lucio Franceschini Sarriá pode servir para os humanos. Penso que se nos comunicássemos melhor ouvindo e escutando de fato, não precisaríamos tantos artefatos artificiais para melhorar a comunicação humana. O egoísmo deveria dar lugar ao altruísmo. Assim como a eliminação dos agrotóxicos é a consequência de se permitir escutar o que as plantas dizem, também a eliminação de muitos antidepressivos e assemelhados se os humanos dialogassem mais utilizando mais a audição. Comunicação é ouvir também. Muito se fala, pouco se ouve. Bom sábado a todos os que ouvem.

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  2. Soneto-acróstico
    Plantas

    A natureza sempre sabe o que faz
    Simples plantas fazem comunicação
    Pedem socorro para frente ou atrás
    Liberam eflúvios no seu raio de ação.

    Assim ajustam falta de movimento
    No relacionamento com as amigas
    Tentam evitar a qualquer tormento
    Ataque de predador e de formigas.

    Sentem atmosfera e meio ambiente
    Sabem até mais do que muita gente
    Apesar de bestas acharmos que não.

    Basta que uma planta seja atacada
    Então ela avisa todas as camaradas
    Mover não, comunicar-se de montão.

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    Respostas
    1. Não conhecia este soneto, gostei muito. Vou usa-lo algumas vezes. Um abraço.

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    2. Titi Sarria,
      Eu também não o conhecia até hoje, acabei de fazê-lo. Pode usa-lo como quiser, está liberado. JAIR.

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    3. rs obrigado. A usarei com as devidas referências, um abraço.

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