sábado, 29 de novembro de 2014

29.- MEMÓRIAS DE JULY, A ESCREVINHADORA

ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2972
Esta é uma edição muito especial. Há alguns dias, tive uma surpresa. Recebo o anúncio que uma neta de meu irmão José Maria (1948 — 1996) fora laureada com medalha de bronze por uma produção literária. Isso me fez muito orgulhoso. Convidei, por tal, minha sobrinha-neta July Chassot para contar suas emoções. É dela o relato que segue. Após este, a crônica que mereceu láureas.
Vivi uma experiência inédita. Participar da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, gênero textual Crônica. Mesmo que já tivesse conhecimento desta Olimpíada desde 2012, a pensava parecida a Olimpíadas de Brasileiras de Matemática (tratando apenas de gramática). Vi que esta consistia na elaboração de textos. Entusiasmei-me, estimulada pela Professora Luciane Fernandes Rodrigues (que está na foto com July), do Instituto Estadual de Educação Miguel Calmon, no Salto do Jacuí. Escrevi uma crônica: O elevador da minha infância. Evoco, agora aos 14 anos, uma historia de anos passados vivida por minhas duas tias e minha mãe (Conto minha historia como se eu fosse minha tia de 33 anos, Patrícia Chassot.). Meu texto foi selecionado na escola, no Município e depois no Estado e por fim me tornei uma das semifinalistas. Foi bem difícil chegar à semifinal, pois foram 5 milhões de alunos envolvidos em todo o país e 140 mil textos inscritos
Isso me ensejou três dias e meio de experiências inesquecíveis em Porto Alegre. Fui à Feira do Livro, ao Museu de Artes do Rio Grande do Sul, a exposição de Moacyr Scliar, a Casa de Cultura Mario Quintana (Onde pela primeira vez fui olhar um teatro.). Além disso, conheci pessoas de todos os cantos do Brasil, fiz amigos e aprendi muitas coisas que vão ser úteis para meus próximos registros de aventuras; quero dizer, meus textos
O elevador da minha infância Em um dia chuvoso partíamos de Venâncio Aires para uma nova aventura. Iríamos para Salto do Jacuí. Com o caminhão já carregado, conferimos se estavam todos presentes dentro do fusca branco. E estavam. Mãe, pai, minha irmã de quatro anos, minha outra irmã de seis anos, eu com três anos e nosso cachorro de raça Fila. No início da viagem foi tudo muito divertido. Cantávamos, brincávamos e imaginávamos como era esse tal lugar chamado Salto do Jacuí.
Mas depois foram terminando nosso repertório de brincadeiras, e foram mais ou menos cem quilômetros de puro e total tédio. Como a estrada era de terra batida, estava chovendo e havia muitos buracos, balançávamos bastante. Pode parecer bobo, eu sei, mas a cada sacudidela mais forte, ou cada vez que uma de nós batíamos a cabeça no vidro, riamos muito. Em certo momento, meu pai decidiu que deveríamos fazer uma escolha de suma importância para nossa família. Tínhamos de escolher quem tiraríamos do carro. Nossas opções eram: eu e minha irmã de seis anos ou o cachorro (Predileta do meu pai, minha irmã de quatro anos sequer entrou em votação.). Depois de uma votação muito acirrada, que resultou em três a dois, optamos por deixar o pobre cão na estrada. Andamos um pouco mais, até encontrarmos um vilarejo onde o fila pudesse ser rapidamente adotado.
Algum tempo depois, com nosso fusca já não tão branco, chegamos a Salto do Jacuí, “A capital gaúcha da energia elétrica”. Nosso pai foi nos contando sobre a cidade. O bairro onde ficaríamos pertencia a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), empresa onde ele iria trabalhar. O bairro era como uma pequena cidade. Tinha banco, mercado, igreja, padaria, hospital, escola, estação de tratamento de água, e, o mais importante a Usina Leonel de Moura Brizola. Tudo estava lá por “culpa” da usina. O mercado, o banco, e tudo mais. Até nós estávamos lá por culpa da Usina, pois seria lá que nosso pai trabalharia.
Para nós, crianças, o mais legal da Usina era o elevador. Tínhamos de descer para chegar ao andar das turbinas, onde entregaríamos uma vianda ao nosso pai. Quando nossa mãe nos dava o lanche dele, às vezes saíamos em disparada para ver quem ganhava a nossa grande corrida, e às vezes caminhávamos com muita calma, sem fazer barulho, porque queríamos “escutar o silêncio” enquanto caminhávamos. Até chegarmos lá. Então caminhávamos e cumprimentávamos a todos na Usina, nos apresentávamos ao guarda e entrávamos ao elevador.
Que emoção! Bem devagar (como se fosse em câmera lenta) pressionávamos o botão para o andar das turbinas e esperávamos ansiosamente o solavanco que nos levava para baixo. Aquilo era muito bom, a sensação de descer sabe... Mas os anos foram passando. E o elevador, a graça foi perdendo. Lembro-me da última vez em que descemos, minhas irmãs e eu. Minha irmã de quatro anos, agora tinha quatorze. Minha irmã de seis, dezesseis; e eu, com três, agora tinha doze.
Lembro-me daquele momento com profunda tristeza, pois parecia que estávamos enterrando eternamente uma parte de nossa infância. Sei que a decisão foi nossa, mas não queríamos mais sentir que estava perdendo a graça, não queríamos ter momentos chatos no elevador. Então, lentamente apertamos o botão, esperamos e descemos. Entregamos o lanche ao nosso pai, voltamos ao elevador.
E pela última vez subimos...

6 comentários:

  1. Querido Mestre Chassot,
    a edição de hoje ratifica o quanto Mendel acertou no estabelecimento das leis da genética. No texto da July está evidenciado o DNA do seu tio-avô.
    A July tem traços Chassot no seu bonito texto. Parabéns a ela e ao (seu) mestre
    Michaela

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  2. Caro Mestre, destaco não só a inegável qualidade do texto, mas também o contagiante sorriso simpático da moçoila.

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  3. Querido tio-avô da July, ao voltar a ler o tao lindo e sensível texto da July, que no blog de hoje partilhas com teus leitores, revivi a emoção que tivemos ao saber do reconhecimento que está incrível menina recebeu! Parabéns, July!

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  4. Isto é incentivar o exercício da alfabetização científica. Parabéns ao Mestre pelo incentivo e à July pelo reconhecido belo texto.

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  5. Soneto-acróstico
    Conto

    Como um sutilíssimo contraponto
    O autor apresenta na certa medida
    Neófita andante imersa de pronto
    Tardiamente na metropolitana vida.

    Antes de acrescer mais um ponto
    Neste evento comum do dia-a-dia
    Deixa ao leitor nenhum confronto
    Onde em cada palavra se media.

    Outro talvez sequer ficasse tonto
    Contando aventura dessa sua tia
    Ou fechasse texto com pesponto.

    No entanto como nada se sabia
    Traçou letra a palavra seu conto
    Orquestrou uma efeméride tardia.

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  6. Caro Mestre Chassot, a July tem um talento indiscutível, além de ser uma jovem encantadora! Ser sua professora e um desafio e uma delícia ;)

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