domingo, 23 de novembro de 2014

23.- TALVEZ, UM EQUÍVOCO... PERPETUADO


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2966

Parece que as blogadas domingueiras devam ser amenas e ligeiras. Há dias, em uma das aulas na Universidade do Adulto Maior, eu comentava acerca dos monges copistas no medievo. Narrei que muitas das artísticas produções eram feitas até por analfabetos, que copiavam por semelhança. Houve então quem contasse uma pequena anedota concernente.
Dias depois recebi o texto de meu amigo Luiz Carlos Naujorks, que é saudade na evocação de saborosas charlas, em viajadas Passo Fundo / Porto Alegre depois de palestra. Eis a historieta:
Quem copia da cópia da cópia, pode multiplicar o erro...
Um jovem noviço chegou ao mosteiro, e, logo lhe deram a tarefa de ajudar os outros monges a transcrever antigos cânones e regras da Igreja.
Ele se surpreendeu ao ver que os monges faziam esse trabalho copiando, a partir de cópias, e, não dos manuscritos originais. Foi falar com o velho Abade e comentou que, se alguém cometesse um erro na primeira cópia, esse erro se propagaria em todas as cópias posteriores.
O Abade lhe respondeu que esse era a norma. Há séculos copiavam da cópia anterior; na verdade desde o início da Igreja, para poupar os originais. Mas admitiu que lhe parecia interessante a observação do noviço.
Na manhã seguinte, o Abade desceu até às profundezas do porão do mosteiro, onde eram conservados os manuscritos e pergaminhos originais, intactos e com a poeira acumulada por tempos imemoráveis...
Passou a manhã, a tarde e a noite, e ninguém mais vira o Abade. O último que o avistara informou que ele estava indo em direção ao porão. Preocupados, o jovem noviço e mais alguns monges decidiram procurá-lo.
Nos labirintos do mais profundo e frio compartimento do porão, encontraram o velho Abade completamente descontrolado, tresloucado, olhos esbugalhados, espumando e com as vestes rasgadas, batendo com a cabeça já ensanguentada nos veneráveis muros do mosteiro.
Apavorado, o monge mais velho perguntou:
— Mas, Abade, pelo amor de Deus!... o que aconteceu?
— IMBECIL! IMBECIL! IMBECIL o primeiro copista! Que o desgraçado arda no Inferno para sempre! CARIDADE!... era CARIDADE!
 Eram votos de "CARIDADE" que tínhamos que fazer... e não de "CASTIDADE"!...

5 comentários:

  1. Se uma letrinha apenas pode fazer tamanha diferença, imaginemos quando são interpretações mal interpretadas.

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  2. Soneto-acróstico
    Erro

    Onde houver humanos erro haverá
    E quando esse erro se copia então
    Razoável que o engano pressuporá
    Resposta previsível à tal transcrição.

    Sendo assim, qualquer velho texto
    Em que alguma cópia se recopiou
    Por algum bom motivo ou pretexto
    Estima-se que um copiador falhou.

    Repetir esse erro é mais esperado
    Porque quebra prato quem os lava
    E vai esse erro sendo perpetuado.

    Também tudo que no texto estava
    Um dia ficará somente no passado
    Assim o significado original trava.

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  3. A vida imita a arte, decidimos eu e minha esposa Ley, ler a bíblia diariamente alternando o leitor durante um ano, só assim debatemos seu conteúdo. Em um de meus dias lia eu em voz alta Gênesis 27 versículo 7; " Traze-me caça e faze-me um guisado saboroso, para que eu coma e te abençoe diante do face do Senhor, antes da minha morte". Em primeiro momento exclamei assustado ; Como? Do face? Logo, vi meu erro crasso, "da face". Ufa, já estava pensando em pedir para Ele me adicionar...

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    1. Queridos Antônio & Ley,
      fui consultar a minha velha bíblia que tenho há 60 anos (usualmente consulto a do Pastor Google, pois é de mais fácil acesso) e vejo que na minha versão o Senhor não tem 'face', logo não corri à tentação de querer que ele me adicionasse: Veja o Gen, 27, 7: e lhe prepare um bom prato, a fim de comer e o abençoar diante do Senhor antes de morrer.
      ​Obrigado por serem meus leitores e me remeterem ao livro que tem destaque em minha biblioteca, no setor de livros raros e preciosos.​
      ​A admiração do​
      achassot

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  4. Mestre, mudando do saco pra mala, peguei o gancho de teu desafio ao professor Garin e, valendo o desafio da construção a seis mãos, te passo a bola:

    "Tenho uma enorme angústia quando vejo esta página, assim, sem nada. A mim parece que o mundo perdeu seu sentido, deixou de existir. Tenho uma sensação de vazio, de nada, de abismo sem fundo. Minha compulsão imediata é tomar a caneta e preencher todos os espaços com uma narrativa que faça sentido, que pelo menos tenha o sentido de me transportar da sensação niilista para a noção de que há sentido nestes espaços, que agora, não estão mais imersos no nada!"
    O branco da página ainda segue ali, zombeteiro e desafiador. Ele por vezes instiga a criação, brincar de Deus diante de um éter que clama o Fiat Lux divino. Não tenho a habilidade de desenho de minha irmã, mas até que tento desfi(l)ar o caminho das letras e outros signos.
    Palavras vão brotando, como botões de flor numa planta. De toda a verdade, algo me inquieta, me desassossega, me faz colocar o que penso e o o que penso-que-penso em papel, tela de computador ou na tela do celular, apressadamente.
    O desafio da folha branca vai se tornando interessante. É como se o colocar as ideias para fora se tomasse de um sentido, não o mero e diletante desafio de preencher espaços. O que estava na mente, embrionárias ideias, vai ganhando forma. As idas e vindas da vida no ano, as mudanças, de professor a aluno, o retomar de sonhos, tudo vira (ins)piração para a frase, para o texto.
    O abismo de Garin aos poucos se torna uma baixada sem o susto das alturas. Estamos em terra firme, em chão seguro. E segue a escrita...

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