segunda-feira, 20 de outubro de 2014

20.- MUDAR, PARA NÃO MUDAR


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL  em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2932

Começa hoje, talvez, a semana mais importante do ano. Pelo menos, a mais nervosa. No domingo que passou, de vez em vez, encontrava-me conjecturando como viverei o entardecer do próximo domingo. Com sol ainda alto, com este horário verão, já teremos ‘a voz das urnas’. Há dois resultados que definirão com serão o Brasil e vários Estados (entre eles o Rio Grande do Sul) nos próximos anos.
Nos últimos dias li muitas análises. Escutei debates. Ouvi numerosas declarações de votos. Impressionam-me certas razões para votarem num candidato. “Eu acho a Dilma antipática” é justificativa de pessoas de quem eu esperava, no mínimo, uma avaliação política. O jornalista Luiz Fernando Vianna, autor de livros sobre música popular brasileira, entre eles "Geografia Carioca do Samba" e "Aldir Blanc - Resposta ao Tempo” escreveu na p. A2 da Folha de S. Paulo, na sexta-feira, um texto que merece ser lido. Ele está a seguir, com dois assinalamentos meus em cor.
A volta do senhor Aécio Neves não deve apenas às suas eventuais qualidades a ascensão impressionante de sua candidatura. O ódio que, espalhado pelas duas campanhas, domina o segundo turno indica que ele encarna aspirações mais profundas.
O senador mineiro é branco, conquistador, bem educado, rico de berço, nunca trabalhou (a não ser em política), está no topo das sociedades rural (sua família é dona de fazendas) e urbana (frequenta as praias, boates e os restaurantes da zona sul carioca). Representa o cume da pirâmide econômica e cultural brasileira, o ponto para onde boa parte da classe média olha com admiração e inveja.
Um montante desses eleitores cogitou votar em Marina Silva. Mas ela é autodeclarada negra, ex-doméstica, analfabeta até os 16 anos, nortista, carola, de saúde frágil e, mais grave, é cria do PT. Não faz parte do clube. Não é confiável.
O sentimento antipetista, que se fortaleceu com a piora da economia e com as graves denúncias de desvios de recursos da Petrobras, encontrou em Aécio o seu colo natural.
A legítima irritação com a corrupção faz ressurgir o grito do "mar de lama", que já elegeu Jânio Quadros e Fernando Collor, tendo antes contribuído para a morte de Getúlio Vargas — cujo fiel ministro da Justiça era Tancredo Neves, avô de Aécio.
O Bolsa Família dá condições mínimas de vida a 50 milhões de pessoas e aquece a economia de pequenos municípios; o Luz para Todos leva energia elétrica a cafundós esquecidos; o ProUni, o Fies e as cotas põem pobres nas universidades. Programas como esses são rechaçados por certas camadas da população, pois bagunçam um contrato social de 500 anos.
Sob um talvez sincero discurso de mudança, Aécio oculta um de restauração quase monárquica, de devolução do poder aos senhores de sempre. Muda-se para não mudar.   

4 comentários:

  1. Conta-se que Austregésilo de Athayde, apenas um ano mais novo que Barbosa Lima sobrinho, interpelou-o uma vez na Academia Brasileira de Letras onde os dois eram membros. "Oh Barbosa tu vives te gabando de ser o mais anoso da academia, mas saibas que sou mais velho que tu!" Retorqui-lhe então o presidente da academia e amigo; "Mas como? Ficastes burro em matemática? Não sabes mais fazer conta?" Em tom riso lhe respondeu Austregésilo, não amigo, bem sei fazer conta, ocorre que dormes até meio dia, enquanto já estou de pé desde cedo, sendo assim tenho muito mais horas de vivência que ti..."
    Pois bem Mestre Chassot, nesses quesitos perco para o senhor, pois és mais velho e muito mais sábio, e sem sombra de dúvida bate de goleada em atividade em qualquer um, mas confesso que não consigo vislumbrar em nossa casta política nada que preste, nem no atual governo, nem nesse que se vislumbra em uma eventual vitória do Aécio.

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  2. Isso é tudo que temos?

    Dois candidatos frente a frente
    Encarando-se até sem respeito
    Baixarias e mentira inclemente
    Assim Aécio e Dilma têm feito.

    Tudo fazendo para se denegrir
    Enquanto fazem e dizem nada
    Politizando até mesmo o devir
    Ora, na tela somente porrada.

    Luta inócua entre dois poltrões
    Íntimos de toda inconsistência
    Tem zero respostas só senões.

    Indiferentes a qualquer decência
    Com que resolvemos questões.
    Onde há político haja paciência!

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    Respostas
    1. Parabéns ao poeta Jair, em poucas rimas definiu o nosso cenário!

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  3. Que o país começou um processo diferenciado doze anos atrás não há dúvida. Que, pelo caminho, precisou rever posições também é notório. Por razões conhecidas.
    Mas fico a lembrar de uma fala de Olga Benário, ao ser deportada para a então Alemanha nazista, ao questionar-se: "Será que o mundo que mudado???" Principalmente em face da força da Indústria Cultural sem descansar a serviço do sistema. Theodor Adorno e Guy Debord que que o digam.

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