sábado, 20 de setembro de 2014

20.- DESDE A AMAZÔNIA NA DATA FARROUPILHA


ANO
 9
M A N A U S - AM
EDIÇÃO
 2902

Nesta data magna do gauchismo, desde a Amazônia, retorno ao pago. Meu desejo de chegar não é, todavia, para me integrar a festejos farroupilhas.
Este meu fugaz exilar-me da querência não impediu que já não tivesse sentido o ufanismo verde/vermelho/ amarelo que cantam o exagerado orgulho gaúcho. Este, presente nas bandeiras que tremulam nos acampamentos nativistas, nos desfiles gauchescos e na decoração de lojas. Estas manifestações ocorrem na capital e em dezenas de munícipios do Rio Grande. Há CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) até além-fronteiras.
Este ano o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) — espécie de confraria que autoriza e legitima os CTGs — viveu momentos de crise por divergir da realização de um casamento homoafetivo na sede de discutível CTG filiado.
As exageradas manifestações também estão decantadas em dezenas de anúncios em jornais, alguns de página inteira, que exaltam a bravura da gente desta terra, que já viveu sonhos de ser independente do Império brasileiro na primeira metade do século 19. Aliás, chama atenção o quanto marcas multinacionais (por exemplo, nescafé, subway...) assinam os anúncios mais custosos.
A figura lateral é uma ilustração de peças publicitárias.
Há um aparente paradoxo: os farrapos inscreveram no pavilhão tricolor o mesmo lema dos revolucionários franceses de 1789: Igualdade, Liberdade e Humanidade e o mote das peças publicitárias e dos discursos, esquece a Igualdade e exalta exatamente quanto somos diferentes (mais heroicos, mais bravos, mais politizados...). Somos sim, os mais ufanistas. Das 27 unidades federativas, não sei se há outra que cultua mais o hino e bandeira estaduais do que os símbolos nacionais.
Observo que o hino rio-grandense é cantado com mais frequência e mais emoção que o hino nacional. As belicosas estrofes são presença mesmo em manifestações oficiais em instituições federais. Por exemplos, se entoa o hino rio-grandense nas formaturas em universidades federais.
Vale gastar cerca de 2 minutos para ver e ouvir nossa imodéstia. pois “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra” ttps: //www.youtube.com/watch?v=ZD_WnHMv1w8
Devo dizer que a celebração desta data, que se espraia já não mais por uma semana, mas por todo o mês de setembro, cada ano me faz mais sestroso. Sinto-me mais latino-americano que brasileiro. Logo, não me sinto confortável com esse presunçoso gauchismo.
Mas, acolho de bom grado o feriado independente de cultua-lo. Assim como ‘celebro’ o dia da Padroeira do Brasil, a Sexta-Feira Santa ou dia da Virgem Maria do Livramento. Apenas, lamento que este ano o feriado caia num sábado. 

6 comentários:

  1. Celebrar a cultura e a tradição de um povo é louvável. No entanto, usar desse "patriotismo" ufanista para perpetuar as injustiças, as desigualdades e manipular um povo que pensa ser mais politizado, mais esclarecido, não tem nada comemorativo nisso. Teríamos potencial para uma nação não fosse o entreguismo de alguns. Os mesmos que estimulam tal ufanismo ajudaram a surrupiar nossos recursos, sucatear o estado e falir nossa economia. Somos o Estado de um Grupo que manipula todos os setores. Não precisaríamos de um nova revolução? Por igualdade, justiça e liberdade, de fato!

    ResponderExcluir
  2. Inegavelmente, devemos seguir o conselho de Santo Agostinho, "A multidão não é de ser seguida.", ou ainda refletir sobre o que disse La Fontaine; "Cada qual, tomado à parte, é passavelmente inteligente e razoável; reunidos, não formam já, entre todos, se não um só imbecil"
    Abraços

    ResponderExcluir
  3. Professor Chassot!
    Bem posta pelo senhor essa mania gaúcha de se achar melhor que os outros. Comentário do Vanderlei diz tudo, Acautelemo-nos dos que se alçam a querer dizer como devemos. Essa hegemonia nas comunicações no Rio Grande do Sul poderá ser fatal. Agora ainda um jornal “O bairrista” informativo da República Rio-grandense, Isso não é separatismo?
    LLL

    ResponderExcluir
  4. Farroupilha

    Mestre Chassot, gaudério urbano
    Sobre ufanismo assenta sua lente
    Pois gaúcho comemora todo ano
    Farroupilha a guerra inclemente.

    Essa gente heroica das coxilhas
    Tem orgulho de velhas tradições
    Cujos costumes e suas famílias
    Juntam-se em ardentes paixões.

    Porém esse gauchismo ardoroso
    Talvez exceda as raias da razão
    Pois mesmo não sendo vitorioso
    A tudo engloba como vagalhão.

    Então vamos lá, gaúcho brioso
    Sem contudo sobrar exaltação.

    ResponderExcluir
  5. Compartilho do que diz o Laurus, pois é prudente que nos acautelemos neste ufanismo gauchesco, principalmente em tempos de "racismo" ou de "injúrias racistas". Aliás, nada data de hoje sempre relembro os conselhos da historiadora Sandra Jatahy Pesavento, quando destaca o quanto as elites se utilizaram da estrutura do governo local para defender seus interesses. E me parece que poucos gaúchos tem noção do que ocorreu nestas plagas.
    Grande abraço e Bom Domingo.

    ResponderExcluir
  6. Querido Attico,

    há, sim, um outro estado em que seu hino e bandeira rivalizam (e até ganham) dos símbolos nacionais. Esse estado é Pernambuco. Não temos "CTP" por aqui, mas é comum ver o hino cantado por multidões e a bandeira azul e branca, com o arco-íris, o sol, a estrela e a cruz vermelha, herdados dos movimentos revolucionários que buscaram a república por estas bandas.

    Abraços,

    PAULO MARCELO

    ResponderExcluir