sábado, 16 de agosto de 2014

16.- EDUCAÇÃO COMO MERCADORIA

ANO
 9
EDIÇÃO
 2867


Este sábado acolhe em sua agenda uma atividade acadêmica prazerosa. Durante este segundo semestre, em sábados alternados, o Jose Clovis Azevedo e eu, conduzimos o seminário ‘Reabilitação e inclusão’. Hoje será o segundo de 11 encontros. Participam conosco 13 mestrandos do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. A inferir pelo primeiro encontro, pela riqueza e diversidade dos saberes detidos pelos mestrandos, há que esperar uma excelente jornada esta manhã.
As atividades desta manhã se iniciam com cada uma e cada um trazendo uma questão do texto Vende-se tabaco, perfume importado, Educação e camiseta de marcas# que leram depois do último encontro.
#CHASSOT, Attico. Vende-se tabaco, perfume importado, Educação e camiseta de marcas, p. 67-82, in Análise dos sistemas de Educação Superior no Brasil e em Portugal. ARAUJO, C.M.M.; POLIDORI, M.M. Porto Alegre: EdiPUCRS / Editora Universitária Metodista, 2012. ISBN 978-8599738-19-1
O texto mostra como, sem fazer alarde, o secretariado da OMC, com o apoio de representantes de alguns dos governos, manobrava para criar normas que tratassem o ensino superior como uma mercadoria, a ser comercializada e liberalizada, retirando dos Estados nacionais, em termos práticos, o direito de decidir, com soberania, sobre ações que visam a formar cidadãos conscientes e responsáveis. Retirar dos Estados nacionais também quer significar: transgredir fronteiras e se instalar aonde se desejar. Por outro lado se relata como, a cada dia, entre nós afloram maiores ‘espertezas’ para capturar clientes incautos, desejosos de comprar uma das mais sedutoras mercadorias: a Educação, que mesmo tida como um ‘direito universal’ não era acessível muitos. Hoje se está fazendo com esta apetecível mercadoria. Nos moldes de sites que oferecem descontos em depilação ou jantares, empresas têm lançado páginas na internet em que o universitário consegue abatimento de até 80% na mensalidade.
Jose Clovis Azevedo vem, há muitos anos, atacando o que chama de “mercoescola” – aquela Escola que, na sua concepção, se preocupa mais em preparar seus alunos para o mercado do que “para a formação humanística”. Azevedo definiu recentemente esses estabelecimentos como fomentadores da competição, do egoísmo e do individualismo.
Quando a toda hora encontramos aplicativos do tipo: Qual a nota da escola do seu filho? Descubra em dois minutos se a escola do seu filho tem uma Educação de qualidade. Nesta ferramenta, você vê e compara a nota do IDEB das escolas de 5 550 cidades do Brasil parece que o tema proposto para este sábado tem utilidade.
Um comentário exógeno ao tema em tela, como clausura. Recebi de assíduo leitor: “Espero que comentes amanhã as peripécias que o destino nos trouxe às vésperas das urnas ceifando a vida do candidato Eduardo Campos”.
Meu comentário tem duas dimensões. Uma, o impacto originado por morte de um jovem. Tinha idade que poderia ser meu filho. Isto é dolorosamente chocante. A morte segue e seguirá sendo nossa interrogação sem resposta. Ela o incrível mais crível. Outra dimensão: seguimos, uma vez mais, o senso comum. A mídia se transforma em exitoso tribunal canonizatório. Eu não sabia que tínhamos entre nós um semideus. Chego a pensar: se o avião houvesse caído no templo de Salomão da IURD em São Paulo, e ao terceiro dia EC ressuscitasse, estaria eleito presidente com 99,8% dos votos.
O melhor findi a cada uma e cada um. Lemo-nos amanhã.

6 comentários:

  1. Mestre Chassot, é lamentavel como o ensino nos é vendido hoje como os repolhos na feira. Infelizmente a qualidade de uma mercadoria fica em segundo plano para qualidade de sua propaganda, com essa sim temos cuidado. E nem sempre o que mais vende é o que mais presta. Um dono de escola é antes de tudo um empresario e dirá sempre ao pai cliente que o seu filho pode melhorar, basta que o pagamento continue. Como reprovar os asnésios e perder clientes em tempos tão difíceis? Depois, se o cara tiver uma boa lábia e um pouco de sorte vira político...

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  2. No momento em que se institui o material como razão da existência e o mercado como elemento balizador (referência) para o conviver em sociedade não é de se surpreender que convencione tudo, inclusive a educação, em quantitativos. Penso ser uma questão existencial onde a sociedade entende que é mais importante TER de que SER. Acontece que tal forma de conceber a essência da vida por este viés (material/quantitativo) é como a valsa dos 15 anos: prazeroso, mas momentâneo, passa. E depois?

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  3. Mestre Chassot!
    Imagino um tema tão polêmico: a Educação como mercadoria com um debate orientado por duas feras (Zé Clóvis e Chassot) deve ter sido uma manhã privilegiada para os mestrandos.
    Com (santa) inveja.
    L L L

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Vende-se sabedoria

    Vendemos gramática, letra e texto
    Porquanto isso tudo é mercadoria
    Sai mais barato adquirir um cesto
    Como em qualquer mercadão seria

    Existe aqui um grande sortimento
    Temos inglês, história e geografia
    Produtos autênticos cem por cento
    Um válido diploma é nossa garantia.

    Pois como no botequim da esquina
    Bens vendemos até em prestações
    Porque vender ensino é mera rotina
    E nossa algibeira enche de dobrões.

    Porém se o saber não vos ilumina
    Não venha culpar nossos balcões.

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  6. A educação é muito importante. Não para vender como mercadoria.

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