segunda-feira, 11 de agosto de 2014

11.- FORAM AS ABUELAS AS QUE...


ANO
 9
EDIÇÃO
 2862


Faço de observação óbvia o ponto de partida. Este blogue não é um espaço noticioso. Vez ou outra, uma informação noticiosa se faz conhecimento e até com ele podemos tecer saberes. E uma excepcional notícia pode não ter trânsito aqui. O oposto é mais usual de ocorrer.
Mas, na última terça-feira o Planeta comoveu-se e... chorou. Não comentar aqui a notícia que se fez comoção planetária parecia injustificável. Tinha argumento para resistir. No findi revisei-me.
As emoções, que antes considerava exageradas e personificadas em uma pessoa, tinham razão de ser. Aprendi que não se celebrava apenas o reencontro do neto desaparecido com a avó. Esta uma ativista política e líder inconteste de um movimento, que há dezenas de anos luta por uma causa: reintegrar às famílias biológicas, mulheres e homens, que foram transferidos na clandestinidade a famílias adotivas.
Assim a comoção não era apenas pelo reencontro de Guido Carlotto, o neto com sua avó Estela de Carlotto, esta presidenta das Abuelas [Avós] de Plaza de Mayo. Sim o fato merecia lágrimas, mas a dimensão do ocorrido era muito maior.
Sim, não era o reencontro de um neto com uma avó. Era, também, uma recompensa a inovações políticas lançadas, na luta pelos direitos humanos, por mulheres com mais de 80 anos. Elas desenvolveram as estratégias mais inovadoras no uso de métodos científicos, no litígio, nas políticas públicas e na comunicação.
Como escreveu Juana Kweitel, advogada argentina, diretora de Programas de Conectas Direitos Humanos, em seu blogue outraspalavras.net :
Foram as Abuelas as que pediram para que cientistas desenvolvessem o teste de abuelidad ou “avoíce”, que permitem agora saber quem é neto de quem.
 Foram as Abuelas as que conseguiram que o Estado criasse o Banco de DNA, onde todas elas deixaram seus registros genéticos, para que, por muitos anos, as pessoas com dúvidas sobre sua identidade possam descobrir se são ou não filhos de um desaparecido, com dúvidas sobre sua identidade possam descobrir se são ou não filhos de um desaparecido.
 Foram as Abuelas as que com, o litigio abriram as primeiras brechas na impunidade e conseguiram levar os militares à Justiça.
Foram as Abuelas as que se aproximaram dos artistas e criaram uma companhia de teatro (Teatro pela Identidade) e um seriado de TV sobre as histórias dos netos apropriados na TV aberta.
Foram as Abuelas que, uns dias atrás, fizeram um spot na TV com a seleção nacional de futebol, incluindo o Messi, chamando os jovens com dúvidas sobre sua identidade a ir ao Banco de Dados Genéticos.
Foram as Abuelas e as Madres as que sempre lutaram pelas vias institucionais, e apagaram de nosso léxico e imaginário a ideia de vingança pelas próprias mãos.
Elas esperaram, com muita paciência, a Justiça chegar e aos poucos esta foi chegando. Não devolveu os filhos. Mas terça-feira devolveu um neto, e já são 114 os netos encontrados.
E também isso foi/é objeto de comemoração. A fabulosa Estela de Carloto, doutora honoris causa por dezena de universidades, cidadã honorária de muitas cidades, laureada com muitos prestigiados prêmios merece nosso reconhecimento por muito mais que poder afagar seu neto. Ela preside as Abuelas de Plaza de Mayo e estas mulheres estão rescrevendo a História da Argentina.

2 comentários:

  1. Um dia a verdade

    Lá, como aqui, existiu dias de escuridão
    Sofreu sob as botas militares a Argentina
    Sob medo que sinistro dilacera o coração
    Quando país era encoberto pela neblina.

    Sem liberdade e direitos os filhos e filhas
    Pais e mães torturados morriam no mar
    Seus rebentos não conheciam as famílias
    Vigia apenas versão do estamento militar.

    Hoje porém avozinhas da Praça de maio
    Obrigam o mundo todo ouvir suas vozes
    Sem qualquer combinação e sem ensaio
    Trazem às luzes do dia os tempos atrozes.

    E a verdade montada num cavalo baio
    Na sociedade, célere, faz metamorfoses.

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  2. Quem tiver oportunidade leia o texto A paixão da verdade de Rui Barbosa.

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