quinta-feira, 7 de agosto de 2014

07.- LILITH: ¿A PRIMEIRA MULHER?


ANO
 9
LIVRARIA VIRTUAL  em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2858

Como ontem, a edição de hoje é catalisada por comentário que aditou àquela edição um dos mais assíduos comentaristas deste blogue. “A Bíblia na realidade não é um livro, é uma coletânea. [...] Em uma de várias interpretações temos a figura de Lilith, a qual teria sido a primeira mulher de Adão”. Escreveu o Antônio Furtado.rago a propósito, excertos que retiro de A Ciência é masculina? É, sim senhora! ao analisar a nossa tríplice ancestralidade (grega, judaica e cristã), ao referir-me ao nosso DNA judaico, na 6ª ed, 2013, p. 75-80, escrevo:
Assim, ao se utilizar os trechos que foram extirpados nas sucessivas edições do discurso mítico. Podemos fazer outras leituras: No sexto dia da Criação, Deus criou o homem à sua imagem: "à imagem de Deus o criou: macho e fêmea os criou." (Gênesis, 1,27). Tal afirmação categórica é uma negação da versão mais difundida: a de que o homem foi criado antes da mulher. Neste ponto, existem interpretações diferentes. A primeira é a de que Adão seria um ser andrógino (macho e fêmea) e que a separação de Eva representaria a cisão da criatura original andrógina em duas. A androginia de Adão é explicada em alguns textos rabínicos: "O primeiro homem era macho e fêmea ao mesmo tempo, pois a escritura relata: E Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gênesis, 1,26). É precisamente para que o homem se assemelhasse a Deus que foi criado macho e fêmea ao mesmo tempo".
Existe, contudo, outra leitura, que parece mais fascinante, a de que, a exemplo do que foi feito com os animais, Deus teria criado um casal: Adão e uma mulher que antecedeu a Eva. Esta mulher primordial teria sido Lilith, figura muito presente/sonegada na antiga tradição judaica. Lilith não se submeteu à dominação masculina. A sua forma de reivindicar igualdade foi a de recusar a dominação na relação sexual (com o homem por cima).
A revolta de Lilith contra Adão e a fuga do paraíso determinou a necessidade da criação de Eva, esta formada a partir de uma costela de Adão (Gênesis, 2, 21). É possível, portanto, imaginar uma maquiagem entre o capítulo 1, versículo 28, e o capítulo 2, versículo 21. Para Laraia (1997) é provável que este corte tenha ocorrido, mesmo em época bastante remota, como no quarto século antes de Cristo, quando se supõe que o texto escrito tomou uma forma aproximada da atual. O próprio teor do Gênesis, capítulo 1, versículo 28, sustenta esta hipótese: "E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra ..." Como seria possível abençoar a ambos e recomendar a multiplicação se Eva ainda não estava criada? Lilith, em gravura de John Collier (1892).
[...] Eva, porém, à sua maneira – e voltamos à ortodoxia –, repetiria o gesto de rebelião de sua antecessora. Deus tinha permitido ao homem comer todas as frutas do jardim, com apenas uma exceção: "Mas da árvore da ciência do bem e do mal, d'ela não comerás; porque no dia que d'ela comeres, certamente morrerás." (Gênesis, 2,17). É exatamente esta interdição que é rompida por Eva. A versão canônica é que a mulher assim procedeu tentada pela serpente, sob a alegação de que o consumo da fruta proibida a tornaria tão poderosa como Deus. Acreditando na pérfida serpente, Eva comeu do fruto proibido e convenceu o seu companheiro a fazer o mesmo. A punição por este ato de desobediência original foi a perda da imortalidade, a partir de então os homens tornaram-se mortais. Existem outras interpretações apresentadas por Laraia (1997) para esta história. Os teólogos modernos acreditam que a serpente foi a forma tomada pelo demônio para tentar Eva. Existe também a crença de que Lilith teria se transformado em serpente para tentar Eva e se vingar de Adão.
Uma terceira interpretação é a que faz parte de uma tradição judaica: "a serpente bíblica era um animal astucioso, que caminhava ereto sobre as duas pernas, falava e comia os mesmos alimentos que o homem. Quando viu como os anjos prestigiavam Adão, teve ciúme dele, e a visão do primeiro casal tendo relação sexual despertou na serpente o desejo por Eva. Por instigação de Satã ou Samael, ou, segundo algumas versões, possuída por ele, a serpente persuadiu Eva a comer o fruto proibido e seduziu-a. Como castigo, suas mãos e pernas foram cortadas e ela teve de se arrastar sobre o seu ventre, todo alimento que comia sabia a pó, e tornou-se eterna inimiga do homem. (...) Quando teve relação sexual com Eva, injetou sua peçonha nela e em todos os seus descendentes. Essa peçonha só foi removida do povo de Israel quando estavam no monte Sinai e receberam o Torá." (Unterman, 1992). Lilith como serpente em pintura de Michelangelo em 1510 d.C
O versículo do Gênesis (3,16), quando Deus dá o castigo a Eva pela transgressão “A paixão vai te arrastar para teu marido, ele te dominará”, não poderia ser mais explícito para marcar as relações de dominação e dependência da mulher ao homem, anunciando previamente que a mulher sofreria muito na gravidez e daria à luz entre dores. [...] Não se pode esquecer que essas releituras são muito recentes e por séculos foi a letra sagrada que determinava subjugação. Também não se pode esquecer o quanto as interpretações amenizadoras nem sempre chegavam, ou não eram aceitas pela maior parte dos fiéis.
 LARAIA, Roque de Barros. Jardim do Éden revisitado. Rev. Antropol., São Paulo, v. 40, n. 1,  1997. Available from . access on 14 Apr. 2011

3 comentários:

  1. Gênesis na versão tupiniquim

    No Eden tranquilos estavam Eva e Adão
    Perpassava por suas mentes, inocência,
    Embora nua a gostosa Eva e ele peladão,
    Desse tal pecado não tinham consciência.

    Porém havia no ambiente um certo tédio
    Faltava-lhes algo que àquilo desse nexo
    Para resolver a situação, qual o remédio?
    E foi nesse átimo que inventaram o sexo.

    Então para viver descobriram uma razão
    Transavam entre as árvores e os bichos
    Contudo o Criador disse-lhes: essa não!
    Se querem pecar vão para outros nichos.

    E envergonhados os pecadores se vão
    Tornam-se daí felizes catadores de lixo.

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  2. Um dia qualquer no Éden

    Pois é, todo arrumadinho o Planeta
    Aves, mamíferos, répteis até inseto
    E devagar caía areia da ampulheta
    Mas parecia um mundo incompleto.

    Agitar ambiente resolveu o Criador
    Colocar ali um fator desconcertante
    Talvez um ser inútil e transgressor
    Que mudasse tudo o mais, adiante.

    Veio-lhe portanto uma ideia original:
    Vocês querem agito? Pois tomem!
    Então vou criar o ente mais bestial
    Que vocês não, mas ele os comem.

    É medonho mas se acha especial
    O qual resolvi chama-lo de homem.

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  3. A fé é subjetiva, depende de cada um de nós estar ou não em paz em seu íntimo. A religião é objetiva, é criação humana com seus dogmas e ritos. E como dizia Santo Agostinho, quem precisa de oração são os vivos, os mortos já receberam o que lhes é devido. Como não identificar o viés machista nos escritos sagrados das maiorias das religiões. Entre os apócrifos temos o livro de Maria Madalena, também conhecido como Evangelho de Maria de Bethânia onde identifica-se claramente o preconceito contra a mulher, leia esse pequeno trecho : “Pedro precipitou-se adiante e disse a Jesus: “Meu Senhor, nós não podemos mais suportar esta mulher, pois nos tira a oportunidade; ela não deixou falar ninguém de nós, mas sempre ela a falar. Meu Senhor que as mulheres cessem afinal de perguntar, de modo que nós possamos também perguntar”. Mais adiante temos evidência de que Jesus, como todo ser humano, tinha Madalena como esposa, observe-se o relato: E Maria Madalena também disse a Jesus: “Por isso, eu tenho medo de Pedro: ele costuma ameaçar-me e odeia o nosso sexo”. Fica claro que para se crer, é necessário que pelo menos se tenha conhecimento dos relatos históricos.
    Abraços

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