domingo, 1 de junho de 2014

01.- UMA SAGA PÓS-MODERNA


ANO
 8
GUARULHOS - SP
EDIÇÃO
 2791
Agora, junho! Por muitos um mês muito esperado. Há mais de 60 anos o Império das Chuteiras não era cenário de uma copa do mundo, orgasmo maior dos devotos dos deuses do futebol. Agora chegou o mês, que alguns esperam há mais de meia dúzia de anos.
Meu advento junino, não foi trivial. Transcrevo aqui excertos do diário de bordo (ou melhor, do diário de sala de embarque) da vigília do mês que ao invés de fogueiras de São João, a dona Fifa deseja loas a outras divindades. Eis algo (sem revisão por questões obvias) do dia 31 de maio de 2014.
05h35min Levantei às 04h20min. Uma hora depois cheguei ao aeroporto Eduardo Magalhães de Manaus, trazido pela Célia e pelo Gilberto, seu esposo. Filas de embarque quilométricas. Sou informado que todos voos estão cancelados. Houve à noite um acidente: devido a uma colisão com pássaro um avião pousa sem trem de pouso. A neblina tolda a visibilidade.
07h20min Viva! Consegui fazer o check-in. A Célia só deixou de acompanhar-me quando viu despachada uma caixa de isopor com o presente do Gilberto despachado: 10 kg de tambaqui e polpas de açaí. Recebi um cartão de embarque para um voo que deve deixar Manaus às 10h51min e para qual há previsão de conexão em Guarulhos para Porto Alegre, às 16h40min. Minha situação é muito melhor do que a de passageiros com destino à Florianópolis, que terão que pernoitar em São Paulo ou a de um grupo de venezuelanas, que ao invés de chegar hoje em Caracas só chegarão na segunda-feira num voo via cidade do Panamá. A situação de quatro gregos se fazia complicadas.
10h10min A companhia aérea ofereceu um lanche. Leio a dissertação da Silvia com um olha na pista, sonhando ver dissipar a neblina.
10h20min Somos informados que ao invés de partir às 10h51min há uma prevista 15h45min. Se tal acontecer, há que sonhar que haja conexão em São Paulo.
12h20min Completo 7 horas de aeroporto. Há regozijos na sala de embarque. Partem os primeiros voos. Nos embarcantes há alguns que tinham voos marcados para meia noite. Enviei ‘Caminhos metodológicos’ de 20 páginas, da dissertação da Sílvia que revisei esta manhã. Desligo um pouco para economizar bateria. Caminho para exercitar-me.
13h31min O tempo está em marcha lenta. Já tenho cartão de embarque para voo Guarulhos/Porto Alegre às 22h25min. Há esperanças de chegar hoje. A companhia aérea diz que não há restaurante no aeroporto. Sim, aquele que me encantou na quarta-feira ao chegar.
15h30min Está confirmado o embarque. Leio “Amazônia, esse mundo à parte” de Eron Bezerra, que recebi de Kennedy Costa, do curso de Ciências da Natureza, depois da palestra na UFAM, na quinta-feira. A bateria do notebook está por um fio. O carregador está na mala despachada e não encontrei nenhum carregador compatível. O carregador do telefone celular levo-o na bagagem de mão.
Neste último registro de Manaus é preciso dizer que me senti muito acarinhado pelos telefonemas, mensagens da Irlane, Célia, Ana Cláudia que sabendo do caos aeroportuário iniciado com o atropelamento de uma anta em Coari, ofereceram solidariedade e se preocuparam com minha alimentação. Comoveu-me a Aldalúcia que veio ao aeroporto. Por chegar quando estava quase partindo, temi ir no contra-fluxo pois o voo não era anunciado no painel e só por voz, e temi perder o rebatizado 9905. Seria trágico para que já acumulava mais de 10 horas de espera. Fiquei chateado que não fui, pois agora vejo que teria dado tempo.
17h40min Depois de mais de duas horas embarcados, com portas fechadas e procedimentos de segurança realizados, foi anunciado que o voo não partiria, pois se faria a troca da tripulação. A do nosso voo faria Manaus/Brasília e a tripulação daquele voo viria fazer Manaus/Guarulhos. Depois da demorada troca de tripulação, faltava o plano de voo para a nova equipe. Este atraso de mais de duas horas no total, poderá ser fatal para perder a conexão para Porto Alegre. Assim partimos mais de 10 horas do plano inicial e depois de quase 12 de aeroporto. Mas antes de começar junho, sonho estar em Porto Alegre.
DOMINGO, 01JUNHO2014.
01H15MIN Perdi a conexão em Guarulhos. O voo vindo de Manaus pousou cinco às 22h10min, cinco minutos antes de partir o voo para Porto Alegre. Não havia como esperar mais seis pessoas e eu: alegação como o Salgado Filho está em obras — para Copa, é claro —, o aeroporto fecha à meia-noite. Houve uma demorada entrega de voucher para hotel e transporte, depois uma recuperação de bagagem. Imaginem a minha. Depois ir até o terminal 2, para aguardar um micro-ônibus para vir ao hotel. Chegamos 23h45min. O check-in no hotel foi moroso, desorganizado e tumultuado. Uma rápida janta e agora chego ao apartamento, já com despertar solicitado para 04h45min. Devo viajar à Porto Alegre às 8h, para às 10h encerrar a maratona.
Ainda um registro do voo Manaus/Guarulhos: a muita saborosa conversa com Rosana, arquiteta-professora da UFRR e doutoranda em Arquitetura na USP. Aprendi muito, a começar acerca da etimologia da arquitetura e a dimensão social, como por exempla a presença em da arquitetura nas periferias urbanas e nas ocupações, assunto da tese de doutoramento. Conversamos sobre a história da arquitetura e fizemos uma sumarenta entrada num temo palpitante: religiões. Mais um momento para acreditar que o mistério dos encontros é indecifrável. Sai com dever de casa, com boa pauta para estudar.
Ainda um viva: não tenho nenhuma viagem aérea em junho. Esta, ora em trânsito, se espraiará pelos dias juninos.

5 comentários:

  1. Bom Dia Prof. Chassot!
    Eu, Gilberto e Jovito (que está sendo também vítima do episódio da anta) que tinha voo marcado para estar de volta a Parintins-AM as 12:40 e agora com previsão para 14:40, lamentamos os contratempos. Vimos que as empresas aéreas não estão preparadas para atender a população principalmente quando acontecem "pequenos incidente" como esse da anta que danificou o trem de pouso de uma aeronave da Total que transporta operários que trabalham na estação de URUCUM (Petrobras) no munícipio de Coari-AM. Se a TAM nos informasse com precisão o voo do Prof. Chassot (mestre muito querido por nós da Amazônia) ele não teria permanecido no aeroporto Eduardo Gomes por muito tempo, teríamos oferecido nossa casa para descansar e também ter preparado um peixe assado para que pudesse deliciar-se com um dos mais famosos peixes de nossa região o "tambaqui". Mas estamos seguros que esse episódio não deixará o Prof. Chassot vir até nós pois, se trata do "Peregrino da Ciência".

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  2. Lembro ao mestre que nesses casos a responsabilidade é objetiva, ou seja, independente da anta, cabe uma ação. Revolta-me ter o amigo passado por esse coquetel de incompetencia.

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  3. Caro amigo prof. Chassot:
    O que eu chamei, em concorrido artigo a seu respeito, de peregrinação pode ser chamada, eventualmente, de odisséia, pelo que li sobre sua "retirada" de Manaus. É de se lamentar que isso ainda ocorra, sobretudo de aeroporto de primeiro mundo, como foi sua observação ao chegar na capital do Amazonas. Nada a dizer a respeito, só lamentar o desassossego que nós passageiros/contribuintes sofremos.
    José Carneiro

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  4. Querido mestre!
    Como é bom chegar em casa, não é mesmo? Espero que tenha descansado bastante! Um abraço com carinho!

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