terça-feira, 13 de maio de 2014

13.- RITA LEVI-MONTALCINI.



ANO
 8
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EDIÇÃO
 2772

Esta blogada se constrói a partir de uma das minhas atividades docente de ontem. As emoções na aula da Universidade do Adulto Maior — UAM foram tantas. Merecem um registro aqui. Parece que o Sr. Jorge, porteiro de meu edifício, tinha bola de cristal. Quando saí para as aulas sua saudação foi: “Tenha boa diversão, professor!”. Cumpriram-se os votos.
Permito-me repetir que os alunos da UAM são quase meia centena de homens e mulheres em sua maioria com mais de 70 anos. Hoje é dos poucos cenários em que atuo aonde há idosos que eu. Ontem dividimos a aula em dois momentos. Na sua parte final, tentamos concluir uma atividade que iniciáramos no encontro anterior: O que líamos em nossas infâncias/adolescências.
Na primeira parte apresentei ao grupo uma mulher excepcional: Rita Levi-Montalcini (Turim, 22 de abril de 1909 — Roma, 30 de dezembro de 2012) foi uma médica neurologista italiana. Agraciada com o Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina de 1986. Desde 24 de junho de 1974 era membro da Pontifícia Academia Vaticana de Ciências. Presidente Honorária da Associação Italiana de Esclerose Múltipla. Desde 2001, Senadora Vitalícia da República Italiana, nomeada diretamente pelo Presidente da República.
Por causa de sua ascendência judia se viu obrigada a deixar a Itália um pouco antes do começo da 2ª Guerra Mundial. Emigrou para os Estados Unidos onde trabalhou no Laboratório Victor Hambueger do Instituto de Zoologia da Universidade de Washington de San Louis.
Sua descoberta mais significativa foi como crescem e se renovam as células do sistema nervoso em 1942. Denominou isso de Nerve Growth Factor (NGF, fator do crescimento nervoso), e durante quase meio século houve dúvidas, até que foi reconhecida sua validade e em 1986, quando recebeu o Nobel. Em 1951 veio ao Brasil, para realizar experiências de culturas in vitro no Instituto de Biofísica da Universidade do Rio de Janeiro.
Depois de discorrermos um pouco sobre sua vida, se apresentou aos entusiasmados alunos excertos de uma entrevista de 22/12/2005, quando a Prof. Dra. Rita já se aproximava dos 97 anos. Esta entrevista ocorreu sete anos antes de sua morte, aos 103 anos.
Como vai celebrar seus 100 anos? Ah, não sei se viverei até lá, e, além disso, não gosto de celebrações. No que eu estou interessada e gosto é do que faço cada dia!
E o que você faz? Trabalho para dar uma bolsa de estudos para as meninas africanas para que estudem e prosperem... elas e seus países. E continuo investigando, continuo pensando.
Não vai se aposentar? Jamais! Aposentar-se é destruir o cérebro! Muita gente se aposenta e se abandona... E isso mata seu cérebro. E adoece.
E como está seu cérebro? Igual quando tinha 20 anos! Não noto diferença em ilusões nem em capacidade. Amanhã voo para um congresso médico.
Mas terá algum limite genético? Não. Meu cérebro vai ter um século... mas não conhece a senilidade... O corpo se enruga, não posso evitar, mas não o cérebro!
Como você faz isso? Possuímos grande plasticidade neural: ainda quando morrem neurônios, os que restam se reorganizam para manter as mesmas funções, mas para isso é conveniente estimulá-los!
Ajude-me a fazê-lo. Mantenha seu cérebro com ilusões, ativo, faça com que ele trabalhe e ele nunca se degenerará.
E viverei mais anos? Viverá melhor os anos que vive, é isso o interessante. A chave é: manter curiosidades, empenho, ter paixões... veja...não me refiro a paixões físicas especificamente... simplesmente tenha paixões.
E você tem feito... com sua ciência? E, hoje, ajudando as meninas da África para que estudem. Lutamos contra a enfermidade, a opressão da mulher nos países islâmicos, por exemplo, além de outras coisas... [Esta resposta oportunizou que se discutisse a atual situação de meninas da Nigéria, que são impedidas de estudar por fundamentalistas islâmicos].
Existem diferencias entre os cérebros do homem e da mulher? Só nas funções cerebrais relacionadas com as emoções, vinculadas ao sistema endócrino. Mas quanto às funções cognitivas, não tem diferença alguma.
Lograremos um dia curar o Alzheimer, o Parkinson, a demência senil? Curar... O que vamos lograr será frear, atrasar, minimizar todas essas enfermidades.
Qual é hoje seu grande sonho? Que um dia logremos utilizar ao máximo a capacidade cognitiva de nossos cérebros.
O que tem sido o melhor da sua vida? Ajudar aos demais.

8 comentários:

  1. Meu Caro Chassot
    Admirável este relato do trabalho de Rita Levi, que eu sequer conhecia, e das contribuições de seus estudos. Fico maravilhado quando vejo pessoas como ela e seu trabalho. Tamanha dedicação me faz refletir sobre algumas outras pessoas que conheço e que ao invés de se investirem de desafios e pensar no que podem contribuir para "outrem", ficam a se lamentar com seus problemas, como se a vida girasse em torno do seu umbigo.
    Abraço do JB e a expectativa de um almoço daqueles.

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  2. Querido Attico,

    obrigado por catalisar-nos até a vida da Rita Levi. É esperançoso conhecer sua coerência e dedicação, levando-nos à reflexão do fazer diário e de como significar-lhe.

    Abraços,

    PAULO MARCELO

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  3. Amigo Chassot,
    não conhecia esta minha xará que me apresentas.
    Que estímulo à vida!
    Bem posso imaginar as emoções de tuas alunas e de teus alunos da UAM (exemplo de outra maneira de fazer Universidade) ante teus relatos, na tarde de ontem.
    Fiquei seduzida a por em prática os fazeres desta mulher.
    Agradecimentos da
    Rita Maria Capistrano

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  4. Meu pai sempre me diz para mim valorizar as pessoas de mais idade. Porque elas devem ser respeitadas pelo que sabem. Gostei de saber sobre a senhora Rita Levi. Um abraço mestre.
    Luvander.

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  5. Estimado Mestre, muito obrigada pela apresentação dessa extraordinária mulher, Rita Levi.

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  6. Querido mestre! De todas as coisas belas desta entrevista, me chama a atenção o conselho de ter ilusões! Trabalho muito na graduação com a imaginação... Imaginar é uma habilidade humana e, nas correrias e percalços do mundo concreto, deixamos a imaginação, a ilusão, de lado! Grande mulher, sábio conselho! Boa semana!

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  7. Muito estimado Luvander
    ~~ certamente meu leitor mais jovem ~~
    é sábia a recomendação que te faz teu pai e tu és sábio enquanto segues seus conselhos.
    Agradeço teu comentário que enriquece este blogue.
    Recordo, ainda emocionado, aquele 16 de abril em que estive na tua Escola e à noite na tua casa.
    Saber-te meu leitor faz-me lembrar a afirmação que fizeste: "Um escritor precisa de leitor!" Tu és um dos meus queridos leitores.
    Muito obrigado,
    ac

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  8. Do testemunho de preciosidade em que muitas vidas se transformam é que vamos tecendo nosso caminho. Organizando nossas decisões. Esclarecendo nossas dúvidas. E o mestre nesta se insere.
    Na conquista de jovens leitores faz-se alfabetização científica.
    Grande abraço.

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