segunda-feira, 31 de março de 2014

31— HÁ MEIO SÉCULO: UM GOLPE.

ANO
 8
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EDIÇÃO
 2729

Nesta data tão significativa da história brasileira — os 50 anos do golpe militar que determinou uma ditadura que se estendeu de 1964 a 1987 — não sobra espaço para trazida das muitas vivências recentes que envolveram desde dois sentidos velórios em 48 horas até as saborosas emoções assistirmos, Gelsa e eu, com quatro dos dez netos a ‘Corteo’ no Circle de Soleil.
Pensara em reproduzir aqui um dos muitos textos acerca do cinquentenário hoje evocado. Seria fácil, pois as análises em sua maioria destoam de posturas como aquela do deputado Jair Bolsonaro que ousou pedir uma sessão da Câmara para celebrar o golpe. Resolvo, mesmo acossado por outros fazeres, trazer comentários pessoais. Sei que isso é pretensioso, pois não tenho estofo de historiador ou de sociólogo. Amealho algumas evocações de então.
Vestibularmente, vale registrar que diferente de hoje, as análises de então eram, em sua maioria, de apoio ao golpe. A grande imprensa e a Igreja (por exemplo, a CNBB nos primeiros meses) eram a favor do golpe. Talvez, se possa dizer que os militares golpistas tiveram, de imediato, apoio da sociedade civil. Talvez uma das ações mais concretas disso é a muito bem sucedida campanha: “Doe ouro para o Brasil’ onde as pessoas se despojavam de suas joias pessoais e doavam para que ‘a revolução’ pudesse salvar o Brasil. Nunca se soube o quanto e nem o destino do arrecadado.
Mesmo que não traga uma análise mais densa, amealho algumas reminiscências. Remonto a 1961 quando iniciava o meu ser professor. Nesse ano, houve duas posses presidentes: Jânio Quadros e John Kennedy, cujos mandatos terminaram colapsados de maneiras distintas, alterando.
A renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto, sete meses depois de assumir, desencadeou uma crise institucional sem precedentes na história republicana do país, porque a posse do vice-presidente João Goulart, que estava na China quando da renúncia de Jânio, não foi aceita pelos ministros militares e pelas classes dominantes. O Movimento da Legalidade iniciado por Brizola na Rio Grande do Sul se traduz como resistência ao golpismo. A posse de Jango se pode acontecer com a aceitação da adoção do regime parlamentarista, revogado depois por plebiscito.
Esta tentativa golpista contra a pose não foi novidade. No inicio do mandato presidencial anterior (1956-1961) de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) — que empolgou o país com seu slogan "Cinquenta anos em cinco" e conseguiu encetar um processo de rápida industrialização, tendo como carro-chefe a indústria automobilística — ocorreram as revoltas de Jacareacanga e Aragarças que não prosperaram.
Jango empossado parecia que o país deslancharia: propostas de um Movimento de Reforma de Base (reforma agrária, urbana, bancária, universitária) empolgam e trazem esperanças a muitos (mas desagradam as oligarquias dominantes). O Brasil ganha projeção internacional com eventos singulares: bicampeonato de futebol no Chile em 1962, vitórias no basquete, Eder Jofre no judô, Maria Ester Bueno no tênis, o sucesso da bossa nova, O pagador de Promessa leva a palma de ouro em Cannes, o Centro Popular de Cultura leva teatro e cinema parara o povo. Era um novo Brasil. Parecia que vivíamos um iluminismo tardio. Só que...
... as classes conservadores faziam um alerta: o comunismo (vivia-se o auge da guerra fria) era uma ameaça em área tutelada pelos Estados Unidos.
A CIA patrocina a vinda ao Brasil do padre católico irlandês Patrick Peyton (1909 — 1992) pároco de Hollywood e fundador da Cruzada do Rosário em Família - movimento autorizado pela Igreja que visava unir as famílias em torno da oração. A visita do Padre Peyton, em 1963, reuniu as maiores massas humanas de toda a história no Brasil e teve também um sentido de pregação anticomunista, contribuindo para a preparação do golpe militar de 1964.
As inquietações com as reformas de base do presidente e o perigo vermelho que assustava um catolicismo hegemônico e conservador foram ingredientes para catalisar e acolher o golpe.
Na manhã do dia 31 de março de 1964, o General Mourão disparou telefonemas para todo o Brasil, dizendo: "Minhas tropas estão na rua!". Na noite do mesmo dia ordenou que as tropas da IV Divisão de Infantaria que comandava em Juiz de Fora seguissem para ocupar o estado da Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro. Seguiram sem resistência e terminaram por se confraternizar no meio do caminho com as guarnições do I Exército que haviam partido da do Rio de Janeiro com a missão de confrontá-las.
O Presidente vai ao Rio Grande do Sul. Brizola organiza resistência com a adesão do Exército. Jango desiste. Sabe que uma frota naval estadunidense está na costa brasileira para garantir os golpistas. Para evitar derramamento de sangue, renúncia. Há documentário brasileiro — O dia que durou 21 anos — que detalha intervenções estadunidense no Brasil desde a renúncia do Jânio.
Esta é uma leitura de como começou a ditadura, há exatos 50 anos. Há várias outras. Mas foi evocação de parte de uma História que vi acontecer.

3 comentários:

  1. LEMBRETE:
    Chassot,
    Eder Jofre foi campeão mundial de boxe, peso galo.
    Abraços, JAIR.

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  2. De ótima qualidade o resumo exposto pelo Mestre. Na minha opinião, juntando os informes que tenho da historia, a analise que faço da situação de então, com a de agora, é que nossos gestores levam a um quadro de insatisfação tão grande que a população almeja e aceita qualquer mudança, desde que não seja a que lhe desespera no momento. O povo perde aquele sentimento weberiano e a ele não interessa se o leite posto a mesa tenha uma bandeira vermelha ou verde e amarela, o imortante é que haja o alimento. O binômio dominantes e dominados, governantes e governados, exploradores e explorados são conceitos afetos a raça humana, e como defenderam os contratualistas o pacto social se faz nescessario para que a anomia social não sobrevenha.

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  3. Uma excelente aula de história. Mais de 20 anos de atraso. Não tenho dúvidas de que Jango foi nossa esperança mais concreta. Pela coragem no enfrentamento às Elites. E inteligência ao renunciar. Salvou vidas que se iam no confronto bélico. Grande abraço.

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