sexta-feira, 14 de março de 2014

14.— QUANDO INDÍGENAS SÃO FEITOS ALIENÍGENAS

ANO
  8
Frederico Westphalen

EDIÇÃO
 2712

Uma sexta-feira que quase completa a dita primeira semana(!) do ano. Vivo-a em Frederico Westphalen em três momentos bastante distintos.
Pela manhã a defesa de dissertação da Camila Guindini Camargo, se faz em tema central e manchete desta edição. Terei também o privilégio de almoçar com família da nova mestra.
À tarde vou a Palmitinho, onde faço palestras a professores da rede municipal desta cidade e ainda das redes dos municípios Taquaruçu do Sul e de Vista Alegre. Esta atividade para os três municípios, coordenada pelas mestrandas Sílvia Daiane Parussolo Boniati e Quielen Rosa Souza Albarello, é uma promoção de minhas orientandas em favor de suas comunidades.
À noite assisto à aula Inaugural do Mestrado em Educação: "Agenda Nacional de Educação Básica e Superior: principais aspectos", ministrada pelo Prof. Dr. Jaime Giolo, Reitor da UFFS.
O convite registra um momento muito significativo para mim, que desde novembro de 2011 estou vinculado a URI, câmpus de Frederico Westphalen, quando a minha primeira orientanda da instituição defende sua dissertação, mesmo quando a Camila seja o 27º mestre que levo à defesa. Alio a essa emoção os muito prováveis diálogos acadêmicos que deverão ocorrer com dois colegas muito especiais: o Professor Leonel, que tem expertise em estudos indígena e a Professora Neusa que se fará presente desde a Universidade de Lisboa, onde faz pós-doutorado.
A Camila é uma historiadora que, com muita garra optou por estudar a presença de indígenas na universidade, algo razoavelmente recente na educação superior brasileira. Isto reflete propostas e perspectivas voltadas a necessidade de uma educação que prime pela valorização do outro, envolvendo sentidos de pertença de indígenas na academia, que incorporam um espaço de domínio cultural e cientifico não indígena.
Destaco um capítulo, As intempéries do tempo: a emblemática espera e os desafios da pesquisa, incluído na dissertação após as demoradas esperas da pesquisa, configurada nos impasses burocráticos estabelecidos pelos Comitês de Éticas, bem como os sentidos temporais presente na universidade que são evidenciados na diversidade cultural. Este capítulo traz reflexões acerca do tempo Chronos e do tempo Kairós, observando as mudanças e apropriações do tempo em culturas distintas, bem como um remontar das mudanças do tempo na História e a formação da autonomia dos povos indígenas, que apresentam outros contextos que vão ao encontro da legitimação da identidade, por um novo tempo e espaço,
A Camila procurou observar de que maneira indígenas se percebem inseridos no Ensino Superior, bem como analisar a temática indígena em espaços escolares no contexto do currículo, a partir da sua obrigatoriedade, definida com a Lei 11.645/08, incorporada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, verificando também como está sendo contemplada em Cursos de Licenciatura a partir dos Projetos Pedagógicos de diferentes cursos.
A metodologia que guiou os caminhos da dissertação foi qualitativa, tendo como cenário a URI – Câmpus de Frederico Westphalen, por estar inserida em uma região com comunidades indígenas, das quais alguns membros chegam até a instituição redesenhando panoramas na educação acadêmica. Neste contexto, foram analisados os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Filosofia, Letras, Pedagogia e Matemática, no sentido de verificar como a temática indígena, sob a forma da lei em questão, está sendo incorporada nesses documentos. Também, foram ouvida vozes de dez acadêmicos indígenas da universidade, no sentido de saber como estes se sentem e percebem a universidade a fim fomentar a formação intercultural, na possibilidade de construir pontes de saberes por interações e integrações permeadas pelo diálogo, no reconhecimento e respeito aos povos indígenas.

3 comentários:

  1. O mestre na lapidação de uma nova mestra.
    Meus cumprimentos a ambos pelo brilhantismo do fascínio por tão importante tema na contribuição da formação intercultural.
    Sempre uma imensa satisfação revê-lo.
    Grande abraço.

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  2. Essa é uma problemática antiga tambem cercada de muita hipocrisia. Educar o povo indÍgena sÓ faz sentido se respeitarmos a cultura ali existente, o que geralmente nao e feito.

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  3. Querido mestre! Ainda não consigo expressar a emoção do tempo vivenciado na defesa da dissertação. Como já escrevi desejo que os nossos tempos sejam sempre tempos de conhecimentos e entre eles, (re)encontros. Obrigado pelas sabedorias compartilhadas! Com carinho, Camila.

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