sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

17.— ARRUMANDO UM POUCO A BIBLIOTECA


ANO
 8

EDIÇÃO
 2655

De vez em vez, recebemos pedidos que se atravessam em nossas agendas de maneira impiedosa. Alguns são pertinentes: um parecer para um artigo, que fora pedido há tempo e nos esquecêramos e era ‘para ontem’; nos sentimos moralmente obrigados a atender. Outros são impertinentes; não raro, pessoas que nem conheço escrevem: “Professor, fiz um artigo para uma disciplina do Mestrado e queria sua opinião!”. Entre estes dois exemplos, há uma gama de pedidos, alguns dos quais nos desconcertam e tiram o foco de outras produções.
No domingo, recebi uma longa mensagem do qual trago alguns excertos:
Caro Professor,
Boa noite.
Meu nome é [...] e pertenço ao Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências Naturais – GPECieN da Universidade [...] e, em uma das suas linhas de pesquisa, desenvolvo, juntamente com o outros colegas do grupo, o projeto A História da Educação Química no Brasil: dos Questionamentos de uma Ciência à Consolidação de Grupos de Pesquisa e seus Estudos na Área.[...]
Dentre os diversos instrumentos de pesquisa que utilizo no sentido de compreender a historicidade destes grupos, um deles se configura na análise dos primeiros artigos publicados no contexto da Educação Química. Evidentemente, em função do recorte da pesquisa, que contempla as produções a partir de 1980, alguns textos não estão disponíveis para nossa consulta.
Nesse sentido, gostaríamos de saber se seria possível obtermos a sua colaboração em nossa pesquisa através da disponibilização dos textos abaixo listados [segue lista de artigos]. Atenciosamente
De plano pensei ser fácil atender a solicitação. Se soubesse previamente o tempo que me envolveria na busca, não teria começado. Os artigos citados, mesmo que da era computador, pertence a uma fase anterior a 1996, quando, pela segunda (e última vez) perdi tudo, por uma exigência de reformatação do disco rígido, quando não tinha cópias. Agora, tenho quase tudo já armazenado na nuvem do Google. São outros tempos.
Mas a singular solicitação me ensejou a procurar muita produção em suporte papel. Tenho em minha biblioteca dois setores de revista. Nem tudo estava acessível como sonhado e fiz muitas buscas. Houve surpresas inesperadas, pois nem lembrava de muitos artigos.
Preliminarmente, a mais fabulosa constatação: dos 170 itens publicados no banco bibliográfico AIC [livros, capítulos de livros, artigos em revistas (e alguns de jornais), publicações em anais de congressos, contos etc.] 163 (96%) pertencem a era pós-computador. 
Tenho apenas sete publicações da era ‘máquina de escrever (onde inclui a dissertação de mestrado, 1976, datilografada por duas secretárias). Só este dado daria um estudo de caso suis generis. Não estou contabilizando as publicações eletrônicas como as mais de 2,6 mil edições do blogue, só possível na era dos computadores.
Um dos escritores mais influente e produtivo: Karl Marx (1818-1883) foi contemporâneo da invenção da máquina de escrever com teclado. Não sei se chegou a usá-la. Sempre me imagino o que ele teria produzido se houvesse então já os modernos processadores de textos, facilitadores, por exemplo, de inserção de notas de rodapé, tão presentes em ‘O Capital’.
É indescritível o conforto que temos hoje na produção de nossos textos se compararmos há menos de 30 anos passados. Meu primeiro computador é de 1988. Antes meus escritos pertenciam a era pré-PC. (PC = Personal Computer, como se chamavam os primeiros computadores de mesa em oposição aos gigantescos ‘cérebro eletrônicos’ que ocupavam uma sala, e tinham menos recursos que um smartphone atual).
Mas a busca solicitada, como disse catalisou, além da reordenação de prateleiras e atualização do banco bibliográfico, muitas descobertas. Vou destacar onze produções não acadêmicas, todas da primeira metade das 170 antes referidas. Citá-las aqui pode me desmerecer no meio acadêmico. Elas traduzem também um período distinto de minha vida. Estão citadas cronologicamente e abstenho-me de comentá-las ou justificar a (quase) heterodoxia das mesmas no meu currículo:
A descoberta de Rodrigo. Família Cristã. p. 66-67, Ano 46, num. 538 outubro 1980.
Memórias de uma banca de concurso. Revista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul p. 03-05, Ano 2, num. 4 Fev/Mar 1984.
Viagem à Lua. Ciência Hoje das crianças. SBPC p. 03-05, Ano 2, n. 11, 1989 ISSN 1303 2064.
Um professor de 3º grau ‘ensinando’ na pré-escola. Gente de Ciência, mas gente... Revista de Ensino de Ciência. FUNBEC p. 71-72 Setembro de 1984.
Uma foice longe da terra ou o outro lado da moeda. Jornal do DCE UFRGS Porto Alegre. N.3, última página, abril 1991.
Volta, Re-volta, sem revolta. Adverso – Revista da Adurgs. Porto Alegre, p. 08-10, ano II N.2, maio 1991.
Uma sexta-feira (ainda) santa p. 51-63. In Concurso Botos do Rio Tramandaí. Porto Alegre / Tramandaí: Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Prefeitura Municipal, 1992.
A moto voadora. Ciência Hoje das crianças. SBPC p. 22-23, Ano 5, n. 27, 1992 ISSN 1303 2064.
Cubeiros: uma profissão que (felizmente) não existe mais p. 115-125, In D’ÂNGELO, Ana Lúcia Velhinho. Histórias de Trabalho. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1995.
O MST e a Educação. Folha de S. Paulo p. 3.8, 12 ago. 1996.
A Educação e a Luta pela Terra. Diário Indústria e Comércio, Santa Catarina, p.3, 18 out.1996.
Uma nova Escola para novos tempos. Fé e Trabalho, Nova Petrópolis p.21-24, n.59 Jul.2001.

3 comentários:

  1. Prezado Mestre Chassot, em defesa dos impertinentes adito meu comentário. O que ocorre é que um bom escritor envolve seus leitores de tal forma que no elo do entendimento nasce uma verdadeira relação de admiração e cumplicidade.Mestres como o senhor são formadores de opinião. Passamos, nós leitores, a defender idéias, conjugar pensamentos e realmente alguns se excedem em seus pedidos. O senhor não imagina os acalorados debates que tenho nos nossos cafés culturais, provenientes de suas blogadas. Mas olhe pelo lado bom, o quanto prazeroso foi rever velhos escritos, momento que talvez o Mestre tenha aproveitado para analisar sua própria evolução, suas mudanças de conceitos, seu amadurecimento em relação à dúvidas etc. Tenho certeza de que muitos almejam essa honra de ter sua obra avaliada por um sábio do seu galardão. Ossos do ofício...
    Abraços

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  2. Acrisolando
    Muitos ouvem e poucos tocam o flautim
    Então seguidores atrás do flautista vão
    Como ratazanas abandonando Hamelin
    Seguindo hipnotizados naquela procissão

    Ótima fábula criada pelos irmãos Grimm
    Traduz um modelo do formador de opinião
    Pois grande maioria não opina, só diz sim
    Enquanto líderes regendo orquestra vão

    Ao examinarmos como é na vida real
    Percebemos aquele que diz a que veio
    E o restante que somente dá seu aval

    Portanto o mestre como um rei do rodeio
    Deixa no Planeta sua perene marca afinal
    Mostra que não veio ao mundo a passeio!

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  3. Caro Mestre.

    Fiquei muito lisonjeada com a sua publicação no blog e constrangida com todo o trabalho que um simples e-mail pôde te causar.
    Volto a te escrever a cerca dos artigos para pesquisa sobre a História da Química. Meu nome é Dioni Angelin e pertenço ao Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências Naturais – GPECieN da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS.
    Ainda, durante a pesquisa surgiram mais dois textos dos quais não conseguimos ter acesso pelo contato com os editores das revistas. Se não for muito incômodo gostaria de saber se o senhor poderia enviá-los.

    Agradeço novamente a disposição em colaborar neste trabalho de pesquisa,
    Abraços.

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