ANO
8 |
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2549
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E, inauguramos
hoje o último trimestre do ano. Ele chega prenhe de marcas. É o mês do dia do
Professor, da troca de horário, em Porto Alegre, há mais de meio século, na
última sexta-feira do mês se inaugura a feira do livro.
É também o mês
que usualmente tenho mais atividades fora de meu cotidiano: espio a agenda e
vejo neste outubro: Santo Ângelo, Chapecó, Ijuí, Novo Hamburgo, Manaus, Parintins,
Frederico Westphalen...
Mas, neste dia
primeiro, inauguro outubro em alto estilo: esta manhã faço uma palestras para
assessores das 30 CREs (Coordenadoria Regional de Educação) que é dividido o Rio
Grande do Sul. Isto é vou trabalhar com os formadores de formadores.
Estou
elaborando um texto e queria trazer alguns excertos esparso, para uma primeira
degustação. Eis alguns fragmentos:
Quando falamos da história da Ciência, discorremos acerca de
quatro grandes rupturas paradigmáticas: revoluções copernicanas, lavoisierana,
darwiniana e freudiana, que determinaram radicais posturas em nosso ver/ estar
no mundo, mas com naturalidade deixamos de alertar que no mundo Oriental não
houve revoluções cientificas. E... por que não houve revolução científica no
Oriente?
Claude Chrétien[1] (1994, p. 46) diz, de uma
maneira simplificada porque ‘não houve necessidade’. No mesmo texto Roger
Gauraudy diz que “O Ocidente é um acidente” pois, gera uma Ciência emergente no
Ocidente, que se faz espontaneamente colonialista, sob uma capa de
universalidade. E mais, infunde nela o mito da imaculada Concepção da Ciência.
A humanidade passa a depender da ação salvífica (= redentora) da Ciência. Ela
vem para nos salvar. Só ela é capaz de diminuir o esforço físico, dar nos
melhores alimentos, estender nosso tempo de vida e até reproduzir-nos por clonagem.
Joseph Needham, sinólogo e bioquímico inglês,
citado por Chrétien, mostra que há 2.200 A.P. houve na China invenções
tecnológicas e descobertas empíricas capitais, determinando avanços
indiscutíveis em relação ao resto do mundo: pólvora, explosivos químicos,
bússola, magnetismo, sismógrafo, relojoaria, (relógio hidromecânico), estribo, arreio,
carrinho de mão, moinho rotativo, manivela, fundição do ferro e do aço... e
poderíamos ampliar em muito esta listagem na citação de descobertas ‘uteis’.
Em um ensaio de 1922, de Feng Yu-Lan,
filósofo, também citado por Chretién, explica que o Oriente “segundo os seus
próprios critérios de valor, não teve necessidade dessa Ciência modelo Ocidental”
pelo fato de estar interessado exclusivamente com o autoconhecimento e o autocontrole,
desinteressava-se de toda investigação e de todo o poder de natureza exterior.
J. Needham vê esta tese como
insatisfatória, pois ela leva pouco em conta as descobertas anteriores. “A
resposta para estas questões encontra-se primeiro nas estruturas sociais,
intelectuais e econômicas das diferentes civilizações”.
A China durante mais de 2000 anos
permanece sob o domínio do confucionismo: corrente de pensamento
chinês, centrada na sociedade humana, nas relações entre seus membros e nas
regras de direito positivo cuja fonte é a autoridade do imperador.
Burocratas de obediência confuciana controlam a Ciência oficial (principalmente
astronômica, com confecção de calendários, e a física) e atribuem-lhe objetivos
práticos de ‘poupança de trabalho humano’ e de melhoria dos
recursos implementados nos grandes canteiros de obras imperiais.
Em outra dimensão, Taoistas – 2.600 A.P –
(adversários dos confucianos), retiram-se da sociedade humana para contemplar
a natureza, atentos à sociedade cósmica, que não passa, em si, uma
composição harmoniosa das leis internas e espontâneas próprias de cada fenômeno
natural. Não acreditam que o homem tenha o poder de compreender as leis da
natureza. As Ciências que praticam (alquimia, botânica, anatomia...) conservam
caráter desinteressado e místico. O seu interesse pela natureza não
os leva a uma atitude científica, no sentido moderno.
Ousaria — dentro dos propósitos de
inserção deste excerto em um artigo maior — fazer uma pergunta homóloga: Por
que no Oriente não houve necessidade de religiões monoteístas (como as três
grandes religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo[2])
com um Deus criador e controlador?
Julia Kristeva, em entrevista recente[3] acerca de análises se devemos construir uma religião laica diz:
“Veja, desde 1968, desde os anos do maoísmo, estou em constante contato com a
cultura chinesa. Uma cultura que, graças à mistura de taoísmo e confucionismo,
produziu uma extraordinária adaptabilidade ao cosmos, à natureza, ao fluxo da
vida; uma sociedade em que os melhores legados confucianos garantem o respeito
pela tradição”. Parece que, Kristeva responde minha pergunta com os mesmos
argumentos que se usou para explicar a não necessidade de uma Ciência que
explicasse como é microcosmo (um mundo subatômico) ou macrocosmo (sistema
solar) também os históricos legados do budismo, confucionismo, taoísmo... podem
nos fazer prescindir de um Deus ou deuses criador(es) e controlador(es).
[2]
Mesmo que o que o mundo islâmico, pelo senso comum, seja rotulado como pertencente
ao mundo não-Ocidental não se pode esquecer que a religião islâmica em uma
matriz judaico-cristã e na gênese e no desenvolvimento ocorre marcado também
pelo eurocentrismo medievo.
[3]
Entrevista concedida a Franco Marcoaldi, publicada no jornal italiano La
Repubblica, 07SET2013. Está traduzida por Moisés Sbardelotto e está disponível no
IHU online http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523719-devemos-construir-uma-religiao-laica-entrevista-com-julia-kristeva#.UjYTf5aRrKM.facebook
Admirável e grande Mestre Chassot, saudades.
ResponderExcluirDesejo que suas palavras/reflexões cheguem até o coração e mentes desses gestores da educação e ajudem-nos a ver o mundo e as coisas da educação de uma forma menos fragmentada, mais intensa, viva, amorosa e possível de ser realizada com sentido para a vida dos atores e autores desse nosso campo tão vasto, complexo e maravilhoso que se constitui por relações de todas as ordens que é a educação. Não desistamos do ofício de contagiar cada vez mais e mais para a leveza e alegria do ensinar/aprender. Abraços com todo o meu carinho e saudade. Maribel.
Muito querida Maribel!
ResponderExcluirReceber na madrugada um estímulo como o que ofereces catalisa entusiasmo!
Obrigado,
achassot
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirChassot, grande mestre itinerante
Cruzada pró ciência leva adiante
Divulgador radical
Cientista, afinal
Transforma professor em estudante.
Meu Caro Chassot! Vejo que o mes de outubro é prodigo em atividades chassotianas, com viagens de cruzar de um lado ao outro o país disseminando a educação cientifica. Sucesso nestas jornadas e que possamos nos encontrar num almoço daqueles nos proximos dias.
ResponderExcluirAbraço do JB
Saudoso e fofo mestre! Fiquei tão feliz com a chegada desse outubro porque ele vai me levar a Gramado. Finalmente vou conhecer um pedacinho do sul. O senhor lembra de mim? Sou a Gabi de Valadares, mas que está morando em Brasília. Nunca esqueço do seu blog porque foi indicação de uma grande professora que tive na faculdade, a Nádia. Deixo meu caloroso abraço. Gabi!
ResponderExcluirSalve, Gabriella!
ExcluirSeja benvinda ao esplendoroso (e muito orgulhoso) Sul.
Claro que me lembro da poeta bilíngue ex-aluna da Nádia. Lembro quando me visitavas no blogue.
Se vieres a passeio a Gramado, uma sugestão turística: busca conhecer o Vale dos Vinhedos, algo menos turístico (Gramado é um pouco fake) e mais original;
Um abraço com saudades,
attico chassot
Presente ainda que tardio, registro aqui meu repudio a forma truculenta como foram tratados os professores hoje no Rio de Janeiro.
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