terça-feira, 1 de outubro de 2013

01.— SEJA BENVINDO OUTUBRO


ANO
 8
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2549
E, inauguramos hoje o último trimestre do ano. Ele chega prenhe de marcas. É o mês do dia do Professor, da troca de horário, em Porto Alegre, há mais de meio século, na última sexta-feira do mês se inaugura a feira do livro.
É também o mês que usualmente tenho mais atividades fora de meu cotidiano: espio a agenda e vejo neste outubro: Santo Ângelo, Chapecó, Ijuí, Novo Hamburgo, Manaus, Parintins, Frederico Westphalen...
Mas, neste dia primeiro, inauguro outubro em alto estilo: esta manhã faço uma palestras para assessores das 30 CREs (Coordenadoria Regional de Educação) que é dividido o Rio Grande do Sul. Isto é vou trabalhar com os formadores de formadores.
Estou elaborando um texto e queria trazer alguns excertos esparso, para uma primeira degustação. Eis alguns fragmentos: 
Quando falamos da história da Ciência, discorremos acerca de quatro grandes rupturas paradigmáticas: revoluções copernicanas, lavoisierana, darwiniana e freudiana, que determinaram radicais posturas em nosso ver/ estar no mundo, mas com naturalidade deixamos de alertar que no mundo Oriental não houve revoluções cientificas. E... por que não houve revolução científica no Oriente?
Claude Chrétien[1] (1994, p. 46) diz, de uma maneira simplificada porque ‘não houve necessidade’. No mesmo texto Roger Gauraudy diz que “O Ocidente é um acidente” pois, gera uma Ciência emergente no Ocidente, que se faz espontaneamente colonialista, sob uma capa de universalidade. E mais, infunde nela o mito da imaculada Concepção da Ciência. A humanidade passa a depender da ação salvífica (= redentora) da Ciência. Ela vem para nos salvar. Só ela é capaz de diminuir o esforço físico, dar nos melhores alimentos, estender nosso tempo de vida e até reproduzir-nos por clonagem.
 Joseph Needham, sinólogo e bioquímico inglês, citado por Chrétien, mostra que há 2.200 A.P. houve na China invenções tecnológicas e descobertas empíricas capitais, determinando avanços indiscutíveis em relação ao resto do mundo: pólvora, explosivos químicos, bússola, magnetismo, sismógrafo, relojoaria, (relógio hidromecânico), estribo, arreio, carrinho de mão, moinho rotativo, manivela, fundição do ferro e do aço... e poderíamos ampliar em muito esta listagem na citação de descobertas ‘uteis’.
Em um ensaio de 1922, de Feng Yu-Lan, filósofo, também citado por Chretién, explica que o Oriente “segundo os seus próprios critérios de valor, não teve necessidade dessa Ciência modelo Ocidental” pelo fato de estar interessado exclusivamente com o autoconhecimento e o autocontrole, desinteressava-se de toda investigação e de todo o poder de natureza exterior.
J. Needham vê esta tese como insatisfatória, pois ela leva pouco em conta as descobertas anteriores. “A resposta para estas questões encontra-se primeiro nas estruturas sociais, intelectuais e econômicas das diferentes civilizações”.
A China durante mais de 2000 anos permanece sob o domínio do confucionismo: corrente de pensamento chinês, centrada na sociedade humana, nas relações entre seus membros e nas regras de direito positivo cuja fonte é a autoridade do imperador. Burocratas de obediência confuciana controlam a Ciência oficial (principalmente astronômica, com confecção de calendários, e a física) e atribuem-lhe objetivos práticos de ‘poupança de trabalho humano’ e de melhoria dos recursos implementados nos grandes canteiros de obras imperiais.
Em outra dimensão, Taoistas – 2.600 A.P – (adversários dos confucianos), retiram-se da sociedade humana para contemplar a natureza, atentos à sociedade cósmica, que não passa, em si, uma composição harmoniosa das leis internas e espontâneas próprias de cada fenômeno natural. Não acreditam que o homem tenha o poder de compreender as leis da natureza. As Ciências que praticam (alquimia, botânica, anatomia...) conservam caráter desinteressado e místico. O seu interesse pela natureza não os leva a uma atitude científica, no sentido moderno.
Ousaria — dentro dos propósitos de inserção deste excerto em um artigo maior — fazer uma pergunta homóloga: Por que no Oriente não houve necessidade de religiões monoteístas (como as três grandes religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo[2]) com um Deus criador e controlador?
Julia Kristeva, em entrevista recente[3] acerca de análises se devemos construir uma religião laica diz: “Veja, desde 1968, desde os anos do maoísmo, estou em constante contato com a cultura chinesa. Uma cultura que, graças à mistura de taoísmo e confucionismo, produziu uma extraordinária adaptabilidade ao cosmos, à natureza, ao fluxo da vida; uma sociedade em que os melhores legados confucianos garantem o respeito pela tradição”. Parece que, Kristeva responde minha pergunta com os mesmos argumentos que se usou para explicar a não necessidade de uma Ciência que explicasse como é microcosmo (um mundo subatômico) ou macrocosmo (sistema solar) também os históricos legados do budismo, confucionismo, taoísmo... podem nos fazer prescindir de um Deus ou deuses criador(es) e controlador(es).




[1] CHRÉTIEN, Claude. A Ciência em Ação. São Paulo: Papirus, 1994.

[2] Mesmo que o que o mundo islâmico, pelo senso comum, seja rotulado como pertencente ao mundo não-Ocidental não se pode esquecer que a religião islâmica em uma matriz judaico-cristã e na gênese e no desenvolvimento ocorre marcado também pelo eurocentrismo medievo.
[3] Entrevista concedida a Franco Marcoaldi, publicada no jornal italiano La Repubblica, 07SET2013. Está traduzida por Moisés Sbardelotto e está disponível no IHU online http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523719-devemos-construir-uma-religiao-laica-entrevista-com-julia-kristeva#.UjYTf5aRrKM.facebook

8 comentários:

  1. Admirável e grande Mestre Chassot, saudades.
    Desejo que suas palavras/reflexões cheguem até o coração e mentes desses gestores da educação e ajudem-nos a ver o mundo e as coisas da educação de uma forma menos fragmentada, mais intensa, viva, amorosa e possível de ser realizada com sentido para a vida dos atores e autores desse nosso campo tão vasto, complexo e maravilhoso que se constitui por relações de todas as ordens que é a educação. Não desistamos do ofício de contagiar cada vez mais e mais para a leveza e alegria do ensinar/aprender. Abraços com todo o meu carinho e saudade. Maribel.

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  2. Muito querida Maribel!
    Receber na madrugada um estímulo como o que ofereces catalisa entusiasmo!
    Obrigado,
    achassot
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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Limerique

    Chassot, grande mestre itinerante
    Cruzada pró ciência leva adiante
    Divulgador radical
    Cientista, afinal
    Transforma professor em estudante.

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  5. Meu Caro Chassot! Vejo que o mes de outubro é prodigo em atividades chassotianas, com viagens de cruzar de um lado ao outro o país disseminando a educação cientifica. Sucesso nestas jornadas e que possamos nos encontrar num almoço daqueles nos proximos dias.
    Abraço do JB

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  6. Saudoso e fofo mestre! Fiquei tão feliz com a chegada desse outubro porque ele vai me levar a Gramado. Finalmente vou conhecer um pedacinho do sul. O senhor lembra de mim? Sou a Gabi de Valadares, mas que está morando em Brasília. Nunca esqueço do seu blog porque foi indicação de uma grande professora que tive na faculdade, a Nádia. Deixo meu caloroso abraço. Gabi!

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    1. Salve, Gabriella!
      Seja benvinda ao esplendoroso (e muito orgulhoso) Sul.
      Claro que me lembro da poeta bilíngue ex-aluna da Nádia. Lembro quando me visitavas no blogue.
      Se vieres a passeio a Gramado, uma sugestão turística: busca conhecer o Vale dos Vinhedos, algo menos turístico (Gramado é um pouco fake) e mais original;
      Um abraço com saudades,
      attico chassot

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  7. Presente ainda que tardio, registro aqui meu repudio a forma truculenta como foram tratados os professores hoje no Rio de Janeiro.

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