sábado, 17 de agosto de 2013

17.- AULAS DE MARIE CURIE


ANO
    8
Livraria virtual em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2520
                 
Um sábado agustino de agenda gostosamente prenhe de atividades. Pela manhã tenho aulas na disciplina Reabilitação e Educação no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA. Ao anoitecer a Gelsa e eu recebemos filhas, filhos, genros, noras, netas e netos para uma muito curtida celebração familiar, que se realiza, ainda na esteira do dia dos pais.                                
Mas esta blogada sabatina tem um objetivo: uma excepcional dica de leitura. Fico sempre muito surpreso quando tomo conhecimento de um livro, de minha área, publicado há um tempo e, sobre este, nada conhecesse. Há dias passados, a Gelsa retornando do 13º Encontro Nacional de Educação Matemática, presenteou-me com um livro, publicado no Brasil, há mais de cinco anos. Não sem razão surpreendi-me.
Mesmo que ainda no ano passado tenha escrito um capítulo de um livro (ainda inédito) sobre Marie Curie. Desconhecia a preciosidade que agora apresento entusiasmado às leitoras e aos leitores deste blogue.
Aulas de Marie Curie: Anotadas por Isabelle Chavannes em 1907", Isabelle Chavannes, [Leçons de Marie Curie recueilles par Isabelle Chavannes; tradução de Waldyr Muniz Oliva] São Paulo: editora da USP, 1a. edição (2007), brochura; 7x160x230 mm, 136 págs. ISBN: 978-85-314-1003-1 Preço aproximado R$37,00
Em http://books.google.com.br/books/about/Aulas_de_Marie_Curie_Anotadas_por_Isabel.html?id=Ym4EW-wgILwC&redir_esc=y podem ser vistas as 37 primeiras páginas, com detalhe de desenhos e as 1ª e 4ª capas.

O nome da obra faz síntese bem posta do texto. O livro reúne 10 aulas de Física ministradas por Marie Sklodowska-Curie. Acredito que o nome da professora dispensa apresentações. 
Neste bloque, especialmente em 2011, por ocasião do Ano Internacional da Química, muitas vezes foi referida esta mulher excepcional — e aqui a questão de gênero é referência significativa —que foi galardoada, entre muitas honrarias, com dois prêmios Nobel, um de Física, em 1903, e outro de Química, em 1911. Ela, como destaco em A Ciência é masculina? É, sim senhora!, é um dos nomes mais importantes da Ciência de todos os tempos.
O livro resgata uma experiência completamente inovadora na área do ensino de Ciência, realizada, há mais de um século por Marie Curie e alguns colegas. Estes muito renomados como os físicos Jean Perrin (Prêmio Nobel de Física 1926) e Paul Langevin — com quem Marie teve momentosa relação de amor, que foi motivo de escândalos à sociedade francesa —, o escultor Jean Magrou, o naturalista Henri Mouton. Eles criaram uma espécie de cooperativa de ensino para seus filhos quando estes estavam nos anos intermediários do ensino fundamental — na estrutura brasileira hoje — para crianças de dez a doze anos. As aulas ocorriam nos laboratórios ou nos estúdios de trabalho de cada a um. A experiência está descrita no livro à p. 21-23; este texto é de autoria de Éve Curie — uma das duas filhas do casal Curie, e foi extraída da biografia que ela escreveu da mãe — a edição brasileira da referida biografia foi traduzido por Monteiro Lobato.
Além de conhecimento estas aulas transmitiam amor pela ciência e prazer pelo trabalho em equipe, respeito aos métodos de pesquisa e o uso de linguagem adequada à ciência. Havia também aulas de arte e literatura. A experiência não durou muito, mas foi marcante na historia das crianças que a vivenciaram. O grupo sobrecarregado de trabalho resolveu, após dois anos, que as crianças deveriam voltar aos programas oficiais de ensino e fazerem os exames adequados para seguirem suas carreiras.
Isabelle Chavannes — posteriormente engenheira química — foi uma destas alunas de Madame Curie e tomou notas detalhadas de dez aulas de física entre janeiro e novembro de 1907. As notas incluem ilustrações e comentários ligeiros sobre o humor da professora (que costumava terminar as aulas com uma distribuição de quitutes). As aulas envolvem problemas que ficam progressivamente mais difíceis e elaborados. São problemas de hidrostática, equivalentes a aquilo que estudamos em física e podem ser observada na reprodução do sumário que está ao lado.
O livro é profusamente ilustrado com as anotações de Isabelle. Eis um exemplo.
O fato das anotações terem sobrevivido à virada do século e terem sido recuperados, em um lance de sorte, há poucos anos. dá uma ideia do quanto são tênues as marcas que deixamos ao longo de nossa vida. Qualquer pessoa interessada no ensino de Ciências e mesmo em história da Ciência vai apreciar muito de folhear este livro e acompanhar as aulas de Curie.
A tradução foi feita por Waldyr Muniz Oliva, membro da Academia Brasileira de Ciências. O ex-Reitor da Universidade de São Paulo, nas p. 9-11, é autor da apresentação da edição brasileira, onde narra como recebeu, em Lisboa, de Remi Langevin a edição francesa da obra — que conta como foram encontradas as anotações de sua tia-avó Isabelle Chavannes que se transformaram no livro.
“Um dia meu avô decidiu arrumar o que se encontrava no porão e em particular um baú de papeis de sua irmã Isabelle Chavannes. Eu fui encarregado de colocar na caldeira o que ele desejava queimar. De repente minha atenção foi atraída pelo conteúdo de um fichário preto: ele continha as anotações tomadas por Isabelle durante as aulas de física elementar dadas por Marie Curie, Meu avo deu-me de presente o fichário e as anotações” (Remi Langevin, p. 20).
Langevin traz a informação que o livro já havia sido publicado em cinco idiomas, o que faz Oliva propor-se a traduzir para português e publica-lo pela editora da USP.
Encerro, não sem emoção, este texto com as palavras finais do prefácio ‘uma pedagogia moderna’ Yves Quéré da Academia de Ciência Francesa: “O que fica é que estas páginas exalam um perfume de impressionante frescor, como se essas crianças tivessem sido as primeiras a receber um ensino neste estilo; como de sua alegria de aprender fosse contemporânea do alvorecer da aventura humana; e como se, em sua extrema singularidade elas simbolizassem todas as crianças do mundo, questionadoras infatigáveis de uma natureza que, seguindo a intuição poética de Novalis, não poderia verdadeiramente descobrir-se senão para elas” (p. 15).

4 comentários:

  1. É interesante observar também que normalmente as más atitudes tomam corpo na história, enquanto as boas iniciativas geralmente se perdem no tempo. Porém no tocante a Marie Curie, o que acontece é o contrário. Essa cientista teve tantos feitos brilhantes que outros, aparentemente menos significativos, são esquecidos. Tal como Nietzscie teve grandes decepções com a perda prematura de sua mãe e irmã o que a levou a desacreditar de Deus, mais a sua veia científica manteve-a firme no propósito de melhorar o mundo.
    abraços
    Antonio Jorge

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  2. Limerique

    Grande cientista que sempre fora
    De teses apaixonantes autora
    Agora em doação
    Ouvindo seu coração
    Marie Curie tornou-se professora.

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  3. Ave Chassot,

    rejubilei-me em saber desta maravilha. Apesar da santa inveja que senti dos pupilos mirins da Madame Curie, vi-me comovido ao conhecer os anseios pedagógicos da laureada. Fico querendo ser uma mosquinha para estar naquele laboratório e ouvir o que conversavam, sobre quais assuntos aprendiam e quais eram as piadas que emergiam naquele laboratório... Esta proposta era altamente inovadora para a época, este tipo de alfabetização científica in loco ainda é utópica, mas vem ao encontro da politecnia que plasma em nosso sistema educacional do estado (felizmente).
    Buscarei o livro!
    Abraços

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  4. Professor!!!
    Esse é daqueles que eu não só quero como 'preciso' para minha biblioteca pessoal!
    Juro que não sabia de sua existência!
    o.0
    Vou correndo providenciar um!!
    Um mol de abraços!
    E, muitíssimo obrigada pela dica valiosíssima!!!
    =]

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