quarta-feira, 10 de julho de 2013

10.-ACERCA DA ESCRITA bis

10.-ACERCA DA ESCRITA bis
ANO
7
Livraria virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
EDIÇÃO
2496

Esta edição-extra circula na vigília de um dia muito especial. A quinta-feira deve ser um teste à consistência dos ‘protestos juninos’. Acerca disto na edição semanal, amanhã.
Nesta segunda-feira comentava neste blogue que, talvez a escrita (acadêmica) seja um dos assuntos mais recorrentes aqui. Evocava então ações que realizei no semestre que recém encerramos com mestrandos de duas instituições. Na saudade daquelas produções, a recomendação de Clarice na ilustração lateral.
Anunciei, também, então a publicação de duas edições extras, com artigos do filósofo Antonio Ozaí da Silva, da Universidade Estadual de Maringá, publicados em antoniozai.wordpress.com Então publiquei aqui o primeiro dos textos; o de hoje, publicado no mesmo endereço é de 29JUN2013.
Produtivismo acadêmico – Sobre as dificuldades de escrever (2) 06/2013            
Se alguém nota que
estás escrevendo bem,
toma cuidado: é caso de
desconfiares… O crime
perfeito não deixa vestígios.
(Mario Quintana)

Um dos efeitos perversos do produtivismo acadêmico é o atropelo e, muitas vezes, o assassinato da língua de Camões. Na urgência de publicar violenta-se a “última flor do Lácio, inculta e bela”.[1] A pressa é inimiga da perfeição, afirma o dito popular. Nem se trata de exigir o texto perfeito, pois o erro é próprio do humano – o perfeccionismo é a angústia do ser que se eleva à altura dos deuses, mas encontra-se acorrentado à condição humana necessariamente imperfeita.
A precipitação é má conselheira, atropela o bom senso e exige muita paciência dos leitores. Autores encaminham textos sem a adequada revisão gramatical e ortográfica. Alguns nem se dão ao trabalho de utilizar a ferramenta de revisão disponível no editor de textos. Ausência ou excesso de autoconfiança? Preguiça intelectual? O editor do periódico e/ou professor orientador que se virem! Editores, pareceristas e professores que orientam etc., são convertidos em revisores. Muitas vezes, veem-se diante de textos acadêmicos auto-proclamados científicos que exigem muito mais do que a revisão ortográfica e gramatical, ou seja, precisam ser reescritos. Isto é exigir demais, até mesmo dos revisores profissionais. Talvez o professor-orientador, pressionado por prazos e exigências formais se sujeite a este papel — o que, em muitos caos, reforça a pretensão à co-autoria.
Desconhecimento da língua? Dificuldades com a escrita? Provavelmente. Mas o infeliz do candidato a escritor vê-se obrigado a publicar, é pressionado por exigências acadêmicas — especialmente nos programas de pós-graduação. Por que se expor? Por que não tomar as precauções mínimas? Por que não utilizar os recursos tecnológicos à disposição? Por que não solicitar ajuda? Se é necessário, por que não recorrer aos préstimos do revisor profissional? O caminho que parece mais fácil nem sempre é o melhor. Pior é o auto-engodo. O ególatra não vê o óbvio, ressente-se diante da crítica quando deveria agradecer, permanecer alerta e nutrir a humildade.
Não por acaso, periódicos exigem que os textos sejam revisados antes da submissão e que o autor apresente declaração do profissional — há situações em que é exigido aos autores que encaminhem seus trabalhos a revisores indicados pelos periódicos, o que constitui reserva de mercado. Seja como for, há a necessidade de revisão. Isto sugere que os textos que porventura lemos — artigos, dissertações e teses — não expressam, necessariamente, o domínio da língua e da escrita por parte dos autores. As dificuldades neste campo são minimizadas e acobertadas pelo trabalho do profissional que faz a revisão – isto quando é encaminhado antes de passar pelos trâmites formais da academia. Quantos encaminham seus textos à revisão antes das bancas de qualificação e defesa ou mesmo depois? Entre os agradecimentos, geralmente registrados nos trabalhos acadêmicos, deveria constar a referência ao revisor. Como, em geral, esta é uma atividade profissional, o pagamento monetário parece suficiente.
A experiência docente e como editor de revistas tem demonstrado que escrever bem não é sinônimo de titulação acadêmica. O título de doutor ou pós-doutor não indica necessariamente habilidade na escrita ou ausência de dificuldades. O trabalho do revisor permanece necessário, bem como o alerta sobre o auto-engodo e a humildade de reconhecer as próprias limitações. Escrever bem é trabalhoso e exige aprendizado permanente. O tempo da escrita nem sempre se ajusta ao tempo do produtivismo acadêmico!
[1] Soneto do poeta Olavo Bilac. Ele se refere à última língua derivada do latim vulgar falado no Lácio, região italiana, por camponeses e camadas populares. Apesar da sua origem popular, “inculta”, é uma língua “bela”.

2 comentários:

  1. Limerique

    Lá vem o orgulhoso acadêmico
    Seu trabalho sem revisão, anêmico
    Apressado na prática
    Desprezou a gramática
    Apresentou calhamaço polêmico.

    ResponderExcluir
  2. "O escritor curto em idéias e fatos será, naturalmente, um autor de idéias curtas, assim como de um sujeito de escasso miolo na cachola, de uma cabeça de coco velado, não se poderá esperar senão breves análises e cochas tolices". Essa é de Rui Barbosa...

    Abraços

    Antonio Jorge

    ResponderExcluir