segunda-feira, 8 de julho de 2013

08.-ACERCA DA ESCRITA

ANO
7
Livraria virtual em
WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR
EDIÇÃO
2495

Um dos assuntos mais recorrente neste blogue, talvez seja acerca da escrita (acadêmica). Ainda no semestre recém findo, em dois Programas de Pós Graduação em Educação: URI-Frederico Westphalen e Unilasalle, envolvi-me em saborosas oficinas que tinham como escopo buscar ‘a arte de escrever ciência com arte’. Na mesma direção, nesta semana em duas edições extras trago dois artigos do filósofo Antonio Ozaí da Silva, professor da Universidade Estadual de Maringá, publicados no seu blogue:
antoniozai.wordpress.com O texto trazido hoje foi publicado dia 15DEZ2012.
Produtivismo acadêmico – Sobre as dificuldades de escrever! A Profa. Ana Maria Netto Machado, no texto publicado na obra A bússola do escrever: desafios na orientação de teses e dissertações, organizada por ela e o Prof. Lucídio Bianchetti, afirma:
“A observação prática nos mestrados demonstra, de uma maneira inquestionável, que 15 ou mais anos de língua português não desenvolveram, na grande maioria dos adultos, qualquer intimidade com a sua própria escrita, de modo que eles não conseguem escrever com facilidade, nem razoavelmente, nem corretamente, nem sem sofrimento. Isto é válido para autores ávidos, oradores eloquentes e bem-sucedidos, cuja cultura não lhes garante a habilidade para escrever. É fácil constatar essas teses no meio acadêmico entre bons professores”.[1]
Ela conclui que, “salvo raras exceções, podemos insistir, sem equivoco, que 15 anos de língua portuguesa não habilitam para escrever”. [2]
Embora a obra referida tenha sido publicada há 10 anos, o diagnóstico é, no mínimo, preocupante. Será que o quadro geral mudou? Não tenho condições de aferição plena, pois não participo da pós-graduação, mas me parece que a percepção da professora permanece válida. A minha experiência em participação em bancas, enquanto leitor dos trabalhos acadêmicos na graduação e como editor e consultor dos artigos ditos científicos confirma-o. Não é meu intuito desvalorizar nenhum autor, graduando ou pós-graduando, mas apenas constatar um fato que corrobora as palavras da professora.
Espera-se dos pós-graduandos que concluam seus trabalhos e defendam suas teses e dissertações, especialmente se recebem bolsas. São recursos da sociedade e, portanto, há imperativo ético. A responsabilidade social do pós-graduando é imensa e não diz respeito apenas ao orientador, programa e instituição.
Nem sempre a defesa e o título conquistado têm relação estreita com o domínio da escrita e o escrever bem. Aliás, a experiência editorial, especialmente na Revista Urutágua, demonstra que não existe relação de causalidade entre titulação e capacidade de escrever. Já li textos de graduandos melhores escritos do que outros cujos autores são pós-graduandos, mestres e até mesmos doutores.
Se o pós-graduando enfrenta dificuldades para escrever sua dissertação ou tese, por que exigir que escreva artigos para periódicos? Ora, sejamos sensatos, nem todos temos inspiração ou competência inerentes ao bom escritor. Escrever é algo mais do que juntar palavras, organizar citações, apresentar tabelas e quadros que possam impressionar. A escrita por obrigatoriedade produz resultados desanimadores e, muito vezes, o auto-engano. A vaidade é também uma forma de ilusão! No mercado dos bens simbólicos, a publicação de um artigo não oferece certificado de boa escrita, mas apenas a constatação de que se cumpriu a demanda produtivista. Se o pós-graduando se vê pressionado a publicar, por que não antecipar a publicação da dissertação em forma de artigos? Como pode o mestrando/doutorando se dedicar ao seu trabalho final se tem que publicar agora? É preciso muita capacidade para se desdobrar…
Para muitos escrever é quase como uma tortura – não é por acaso que pós-graduandos entram em crise psíquica e, muitas vezes, comprometem a saúde física e as relações pessoais. Deveria ser suficiente esperar que concluam o trabalho de pós-graduação. Há as exceções, os que não têm problemas em produzir, ou seja, lidam com a escrita de forma tranquila – e há também os competidores compulsivos, os quais se alimentam psiquicamente da pressão produtivista. Não obstante, para além das exigências formais e éticas, é mais sensato aceitar o fato de que nem todos gostamos de escrever, que não temos o mesmo domínio da escrita e aptidão. Não é melhor resguardar o direito de quem não quer publicar ou escrever de acordo com a capacidade e condições?
Por que e prá quê publicar? Por que obrigar o pós-graduando a isto? Não é suficiente que conclua a pós-graduação da melhor forma possível? Que ele publique, mas se for capaz e desejar. Da mesma forma, por que exigir do seu orientador a publicação de artigos? Também ele não tem o direito de ser “improdutivo”? As exigências produtivistas nos cegam diante de um simples fato: escrever não é fácil e nem está automaticamente vinculado à titulação. Publicar e escrever bem não são sinônimos. Escrever deveria ser um exercício prazeroso e não um tormento!
[1] MACHADO, Ana Maria Netto. A relação entre autoria e a orientação no processo de elaboração de teses e dissertações. In: BIANCHETTI, Lucídio e MACHADO, Ana Maria Netto (orgs.) (2002) A bússola do escrever: desafios na orientação de teses e dissertações. Florianópolis: Editora da UFSC; São Paulo: Cortez Editora, p. 52,
[2] Id., p. 53.
NOTA de A. Chassot: Na obra antes referenciada escrevi “Orientação virtual uma nova realidade” p. 89-108, onde refiro uma experiência de orientação quase pioneira realizada ainda no tempo de conexão discada e sem Skype.

3 comentários:

  1. Parabéns Professor pelo texto publicado no blogue, as vezes nao consigo publicar meus artigos em eventos Qualis A, os pareceristas fazem tantas exigencias e sugerem também tantas coisas mas já encontrei artigos piores que os meus publicados nos anais com uma redação incompreensivel às vezes. Eu a cada dia procuro melhorar na forma de escrever.

    Um grande abraço

    Saudações matinais.

    Célia Maria Serrão Eleutério
    Profa. Coordenadora Curso de Química
    Centro de Estudos Superiores de Parintins
    Universidade do Estado do Amazonas
    Parintins-AM

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  2. Limerique

    Era uma vez um pós graduado
    Que não queria ser publicado
    Nunca fugia da raia
    Mas não era sua praia
    Preferia ficar acomodado.

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  3. Acredito também haver um determinado ingrediente nesta "iguaria". Seria o elemento errado na praia errada. Hoje constatamos diversos neofitos os quais seguiram a "voz do mercado" e não "a voz do coração". Ai fica muito mais difícil falar daquilo que realmente não se gosta.

    abraços
    Antonio Jorge

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